Viagem No Tempo HIATUS escrita por Borracha


Capítulo 2
Capitulo 1 - Um Conto Egípcio


Notas iniciais do capítulo

«Pelas tuas mãos medi o mundo

E na balança pura dos teus ombros

Pesei o ouro do Sol e a palidez da Lua.»

"Poema de Amor de António e Cleópatra" de Sophia de Mello Breyner Andresen



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– Como souberam, pela nossa central de comando, foi recentemente descoberta uma brecha que nos permite passar a outra época. A máquina foi orientada para essa brecha. Esperemos uma viagemrápida e sem contra - tempos. Estes poderão surgir uma vez que esta é a primeira viagem experimental realizada pela AVT. Todos aqui se voluntariaram, tendo como missão secreta a permanência numa das épocas consideradas pela agência como "Épocas Históricas De Importância Máxima". É de ressaltar que não devem, sobre qualquer tipo de pretexto, incluindo perigo de vida, interferir na história. A vossa missão assim como as informações necessárias,encontram - se debaixo do vosso assento. Estas, deverão ser lidas no interior do veículo e e não devem ser retiradas para o exterior.

– E as roupas? - Perguntou um dos voluntários - Se vamos passear para outra época assim vestidos, perseguem-nos...

O comandante no entanto, respondeu prontamente: 

– Tudo o que necessitam encontra - se debaixo dos vossos assentos.

A nave que até ali tinha permanecido numa velocidade constante,começou a acelerar e todos tiveram a sensação de serem transportados a uma velocidade muito para além da velocidade da luz. 

Com a cabeça andar à roda e a sensação peculiar de que o corpo se lhes desfazia em mil partículas, fecharam os olhos e abandonaram - se à sua sorte. 

Subitamente, porém, tudo cessou. 

Atordoados, tentaram de imediato tomar consciência do que os rodeava, embora soubessem que depois de uma viagem era preciso deixar estabilizar o corpo e o espírito. 

– O primeiro destino - falou o comandante - e também o mais antigo é o Egipto. Para um de vós a viagem termina aqui, a AVT agradece e deseja - lhe a maior sorte. Não será uma tarefa fácil, mas estamos certos de que fizemos a escolha certa. Deverá trocar a roupa aqui e deixar todas as suas posses no interior da nave. Uma vez que é do conhecimento geral a existência de piolhos no Egipto é lhe aconselhado que rape o cabelo. 

Analuppe Valentiny dirigiu - se a uma cabine e vestiu rapidamente a roupa - ou a falta dela - e no meio de lágrimas e soluços rapou os seus cabelos loiros e lisos que lhe escorriam pelo pescoço de encontro aos ombros e dirigiu - se ao exterior. 

Estava calor mas isso não a impediu de se sentir nua e exposta. Ela tentou recordar – se daquilo que a tinha levado ali. Decidiu entrar para a AVT, depois de ter um sonho revolucionário de que poderia mudar a história do mundo. Ah, sim, eles tinham – na proibido de alterar a história, mas ela ia se certificar de deixar o seu nome na história na primeira oportunidade. 

Usava uma camisa muito fina e sobre ela um vestido branco, plissado e transparente. O vestido unia-se sobre o seio esquerdo, descobria o seio direito, abria abaixo da cintura e descia até aos pés. As mangas eram enfeitadas com franjas e deixavam os antebraços descobertos. Os pulsos exibiam pulseiras formadas por duas placas de ouro trabalhado unidas por duas charneiras. Também usava anéis. A peruca, cobria as costas e as espáduas. Na cabeça usava um diadema de lápis-lazúli.

Costumava usar uns óculos quadrado com armação branca, era a sua marca pessoal, sentia – se estranha sem eles e levou algum tempo a habituar – se ao sol egípcio.

A sua missão era simples. Deveria ir até ao palácio e tentar uma vida de servs, o mais perto possivel do ser singular, o faraó. A partir daí era só tentar ter uma vida simples... bem, simplesmente egipcia.

Quando estava próxima o bastante do palácio viu chegar alguns sacerdotes de Amon.

– Você não devia andar por aqui, é proibido. Se fosse a si ía embora o mais rapidamente possivel e resava para que nenhum dos guardas a apanhasse. Vamos, criança, ajoelhe – se perante o sumo sacerdote de Amon ou mando açoita – la.

Analuppe baixou – se, colocando os joelhos no chão, e as mãos ao seu lado tocando com a testa o chão. Não se devia olhar um um sacerdote nos olhos.

– Meu senhor, grande representante de Amon, os meus pais trabalhavam nas cozinhas, no harém do bom deus. Peço – lhe humildemente que me deixe seguir – lhe as pisadas.

– Talvez pudesse ser uma bailarina. – seugeriu um dos sacerdotes, o mais magro de entre todos.

– Nunca poderá ser uma bailarina, é demasiado magra.

Ninguém diria. Se as barbies da minha época ouvissem isso! – ela pensou de si para consigo. Os egipcios tinham um gosto excepcional por curvas.

–Mas olhe bem para os olhos dela...- o sacerdote magro voltou a intervir – são de uma beleza rara.

– Olhos ocres, sim, talvez consigas sobreviver por aqui. – disse o sumo sacerdote dirigindo – se a ela.

– Ipuky, leve a pequena até Nozme.

– Vamos. – um criado, que estava perto dos sacerdotes pegou – lhe um dos braços e levantou – a do chão, conduzindo – a por um grande corredor até uma pequena sala onde uma mulher escrevinhava uns papiros com um ar cansado. Após trocarem algumas palavras, ambos sairam e deixaram Analuppe sozinha na sala.

A mulher voltou com uma rapariga mais jovem, mas claramente de uma posição mais alta. A mais jovem, constatou Analuppe, cuja tez era rozado e os olhos muito escuros aparentava ser pouco mais velha que ela.

– Como te chamas? – ela perguntou encarando – a com uma expressão entre a indifernça e o despreço.

– Analuppe.

– Analuppe, senhora.

Ela encarou a jovem com uma cara confusa. A outra respondeu de imediato.

– De hoje em diante deves – te dirigir a mim por senhora.

– Sim... senhora.

Ela andou um pouco ao redor dela, tocando – lhe o corpo de vez em quando, como se ela fosse um touro e estivesse sendo preparada para o abate.

Segue – me. – disse finalmente.

Os corredores estavam vazios. As suas passadas e as da jovem que a acompanhava ecoavam tristemente enquanto o atravessavam. Elas atravessaram o corredor para a ala das mulheres. Continuou até onde o corredor se bifurcava dobrando à direita, por onde ao fim de alguns momentos entraram numa sala, muito maior e muito mais iluminada do que a anterior. E também mais adornada, é claro.

– O meu nome é Merena. A partir de agora irás viver aqui. Deves acordar todos os dias assim que o sol nascer. Deves raspar o corpo e a cabeça e nunca, nunca deverás deixar um único cabelo no teu corpo. Deves lavar – te o número suficiente de vezes por dia. Não demais, para não secares a pele, nem de menos para deixares o suor escorrer pelo teu corpo. Não deves vestir nada além de linho branco e deves escovar as tuas cabeleiras e adornares – te sempre. Deves ungir o corpo com óleo de ambrette e passar Aloe Vera na pele e nos cabelos.

Assim se passaram os dias, com Analuppe acordando com os primeiros raios de sol e adormecendo com os últimos, cansada mas feliz pela sua ascensão. Lembrando – se rotineiramente de Nozme e de como em apenas um dia subiu mais alto do que ela alguma vez subiria na sua vida. Com o tempo descobriu que Merena não era assim tão antipática e conseguiram tornar – se boas amigas e deixaram o “senhora” de lado. Descobriu como lavar o rosto com um creme de limpeza feito à base de petróleo e giz e como limpar o corpo com uma pasta feita de natrão e água. Descobriu como aplicar correctamente ao redor dos olhos o “kohl” preto ou a malaquita verde ou como realçar as pálpebras e sobrancelhas com kohl umedecido em pó. Além disso, também gostava de destacar os lábios e as bochechas com um gel feito a partir de ocre vermelho e gordura. E descobriu como pintar as unhas e as superfícies do corpo com folhas de henna.

Os guardas simpatizavam com ela e ofereciam – lhe perfumes feitos de iris, lótus, incenso, sândalo, canela ou mignonette além de inúmeros pentes de marfim, delicadamente esculpidos.

E aprendeu a dançar e a satisfazer os desejos dos homens. Merena era a administradoras das dançarinas reais e liderava o khener, do qual ela um dia iria fazer parte.

Quando finalmente chegou o grande dia, o dia em que ela iria dançar para um grande público pela primeira vez, Merena ajudou – a a vestir – se e a colorir o corpo.

– E se eu não estiver preparada? E se eu for horrível e ninguém gostar?

– Relaxa, tu estás mais que preparada. Todos vão adorar. Agora vamos, antes que a barca real parta sem nós.

Analuppe, ainda não tinha conhecido nem um terço do palácio e das terras que dele faziam parte. A propriedade em si compreendia muitos hectares de jardins e santuários, casas de verão e estábulos, celeiros e alas de criados, e, é claro, a parte principal do palácio em si, com os seus amplos salões para recepções e jantares, e os seus pórticos e corredores ladeados por pilares muito coloridos e calçados com imagens de peixes e aves, caçadores e caças, e plantas. O conjunto chegava até o limite do templo, com os seus pilonos sombrios e muitas estátuas gigantescas do filho do deus.

No rio flutuava a barca real, delicadamente esculpida em ouro e prata e madeiras preciosas, amarrada aos pés dos largos degraus que subiam da água até um pátio amplo e calçado, cercado por árvores altas.

Foi aí que ela viu o rei, Tutankhamon, pela primeira vez. Era mais novo que ela, mas ninguém diria, olhando para o seu aspecto. Parecia que carregava nos ombros todo o peso do mundo.

Estava a falar com a sua esposa real. Pareciam mais pessoas conhecidas, que marido e mulher. Não pareciam dar – se mal… ou bem. Simplesmente não pareciam dar – se.

— Ainda não lhe perguntei se gostou da biga.

— Foi a única que não perguntou. Bem, gostei bastante. Organizarei uma caçada em breve.

– Oh, que excelente ideia.

Se ela realmente achasse uma boa ideia, não o diria como se estivesse assistindo à mais maçadora das aulas de matemática, pensou Analuppe.

Depois, ninguém estava prestando atenção à forma como dançava. Argh! Aquilo era, simplesmente, detestável. Mas em certo momento, Tut pareceu vê – la e após a sua preformasse um dos criados convidou – a a juntar – se ao rei.

Ela recordou – se de quando tinha embarcado na sua missão. Não fazia ideia do que a esperava. E agora tinha ido logo parar ao tempo do tão afamado Tutankhamon. O rei, que ninguém sabia ao certo quando é que tinha nascido ou morrido. A única coisa que toda a gente sabia era que tinha sido há muito tempo atrás. E era essa a única certeza que ela tinha sobre a sua história: que se passou há mesmo muito tempo atrás.

– Awn, pequena Ana, ele gostou de ti! – cantarolou Merena animadamente.

Ela foi acompanhada pelos guardas reais até aos aposentos de Tut. Este estava recostado numa espécie de “trono real” com a cara descaída sobre a mão direita. Quando a viu chegar endireitou – se um pouco e perguntou – lhe:

–Qual é o tu nome?

–Analuppe, senhor.

– Quantos anos tens?

– 25.

– És muito bela.

– Oh, muito obrigado, senhor.

– Podes dançar para mim.

Analuppe estava com medo de errar mas sabia que nunca poderia dizer não numa situação como aquelas.

– Claro.

Uma música começou então a ser entoada por alguns músico e ela rapidamente entrou em movimento, executando algumas acrobacias mal ensaiadas mas que correram bastante bem.

A partir dessa altura e durante as semanas seguintes, ela ia dançar para o faraó.

Certo dia porém, a música cessou e os seus executores retiraram – se. Nesse momento iniciou – se um jogo de perseguição no qual ela era a presa e no qual “não”, não era uma resposta possível.

– Sabes, ultimamente tenho – me sentido extremamente bem. Coisa que não acontecia há muito tempo. – ela permaneceu calada e ele continuou – Antigamente eu era simplesmente Tutankhamon «Estudante» de todas as coisas à face da Terra! Agora as coisas são diferente, tornei – me Rei Tutankhamon «Governante» de todas as coisas à face da Terra! Por estranho que pareça eu acordo e vivo o dia para que, todas as noites possa chegar aos meus aposentos e te possa ver dançar para mim.

Enquanto ele ia falando, aproximava – se perigosamente dela e começou a ofegar e a sussurrar – lhe aos ouvido. A verdade é que a misteriosidade daquela altiva figura lhe tinha vindo a dar a volta à cabeça há já algum tempo.

Ele aproximou – se dela e beijou – lhe carinhosamente a testa e o pescoço, alongando – se um pouco aí e sugando – lhe a pele, com prazer e doçura. Ela deixou – se levar pelo cheiro inebriante do seu rei, mesmo sabendo que aquela atitude não seria aprovada. Mesmo sabendo que teria consequências.

Beijou – lhe depois os lábios com desejo e urgência. E então, o corpo dele desabou sobre ela num choro compulsivo como se fosse uma criança a precisar de colo.

Ela não aguentou o peso e as suas pernas cederam ficando os dois no chão. Ela não sabia como reagir e limitou – se a afagar – lhe os ombros e a beijar – lhe as faces.

Nos dias que se seguiram ele tratou de a evitar e nunca mais a mandou chamar para dançar. Ela gostava de ir lá e repreende-lo pela sua atitude, mas ela sabia que não podia. Não quando ele era o seu rei. Subitamente um dia, ele mandou chama – la.

– Hoje sinto – me triste e com dores. – ele declarou - Triste porque sinto a tua falta, mesmo já passado tanto tempo e mal te conhecendo. Sinto dores porque a minha coxa, partida durante o acidente de caça, ainda não está melhor. Os médicos reais fizeram tudo o que podiam, enrolando – a em carne crua, ungido – a com óleo e mel e cantando os seu feitiços, mas, passado quase um ano, ainda me dói.

– Lamento senhor, se ao menos eu pudesse fazer algo por vós. – ela disse esforçando por conter as lágrimas, sabia que em breve, pelas dores ou assassinado ele iria sucumbir.

– Mas tu podes. Tu podes fazer algo por mim.

Ele inclinou – se e beijou – a. Sugou – lhe os mamilos com a boca e penetrou – a dolorosa e prazerosamente.

Foi essa a derradeira despedida entre os dois amantes.

O Egito daquela estação produzia uma música poderosa, a música da fecundidade e da vida abundante. Mas bem lá dentro da Casa dos Mortos, as bochechas de Tut haviam sido preenchidas para ela parecer estar apenas dormindo, e finalmente uma tira de linho tampou os seus olhos para sempre.

Algumas vezes, Merena saía sozinha, atraída pela vida nocturna, mas para Analuppe o único homem que ela queria era aquele que ela jamais poderia voltar a ter. Não tinha tempo para descobrir a sexualidade nem mesmo muita inclinação para isso. À noite, ficava sentada sozinha no seu quarto pensando, "Eu, Analuppe, fiz isso" e sentindo – se culpada pela sua morte.

Um tempo depois, porém um alto surgiu na sua barriga. Uma vida desenvolvia – se agora dentro dela e seria a sua missão protegê-la e cuidar dela. Seria a sua missão fazer com ela o qe não havia conseguido fazer com o seu amado Tutankhamon.


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Notas finais do capítulo

Okay, demorou mas penso que a demora compensou. Espero que todos gostem. Deu um trabalhão, por isso vou querer muitos comentários! Dêem a opinião!

Ainda há três vagas, por isso inscrevam - se.

Beijos a todos ♥