Eu, Sakura Haruno, sou a pessoa mais lesada da face da Terra.

Tô pagando pelos meus pecados, porque não é possível.

Vou me lembrar de nunca mais ignorar a Ino. Nunca, nunca, nunca.

Eu saí de casa com a minha mala, quase correndo. Tinha deixado a Kana dormindo, e esqueci de pegar o guarda-chuva, e estava começando a serenar. Eu não queria pegar chuva de jeito nenhum.

Além do mais, a moça do tempo disse que estaria esolarado hoje. Aquela filha duma égua. Parecia que ia cair o maior toró, e eu estava a pé indo pro colégio, porque, adivinha? Perdi o ônibus também. Meu dia estava uma beleza. U-hul.

Quando cheguei no portão da escola, não tinha ninguém. Estranhei, porque, oras. Tinha que ter pelo menos um ônibus parado ali e um monte de adolescente se empurrando pra entrar. Mas estava completamente vazio.

Coloquei a mala ali encostada na parede e esperei um tempo.

No dia anterior, Obito tinha ido de sala em sala avisar sobre o acampamento. Ele disse que não precisávamos pagar nada, mas quem não fosse, teria que ir para o colégio ficar na sala de castigo com Kakashi passando dever de Álgebra. Digamos que Obito foi bem convincente.

Decidi retornar a ligação da Ino. Ela me atendeu aos berros e perguntou, gritando, onde eu estava. Respondi que estava na frente do colégio, e ela (ainda berrando) disse que iam parar o ônibus na praça do centro da cidade, e que iam partir em minutos.

Foi o suficiente. Desliguei na cara da Ino, catei minha mala e saí correndo como uma louca na direção do centro da cidade. Konoha é pequena, mas quando se está correndo, na chuva, e levando uma mala de 15 quilos, o caminho parece se beeem mais longo.

Consegui pegar o ônibus no momento em que ele estava partindo. Subi as escadas como louca, ofegante e molhada. Não estava encharcada, o que amenizava um pouco a situação. Não demorou nada pra todos começarem a me olhar, cochichar e rirem baixinho. Corei e fui procurar um lugar.

O fundão estava cheio, e a maioria dos alunos do Ensino Médio estava lá, cantando, gritando e fazendo bagunça. Estreitei os olhos. Aquela gangue de delinquentes, ou "Akatsuki", como se auto-intitulavam, estavam lá. Inclusive Sasori, Menma, Naruto e Sasuke.

Eu meio que saí correndo procurando um lugar antes que algum deles me vissem. Ino estava com Hinata, e a maioria dos meus amigos chegados estavam com alguém, e eu tive um mini-ataque de desespero.

Foi quando eu vi Suni sentado num banco do canto, sozinha. Olhava pela janela, e as coisas pareciam refletir nos seus olhos azuis e perfeitos. Senti uma pontada no coração. Ela me parecia muito familiar.

Sentei ao lado dela, tentando sorrir.

- Gomen. - falei, arrumando minha mala no canto - Posso ficar aqui?

- Claro, Sakura-san. - ela sorriu, mas eu estranhei. Não era um sorriso verdadeiro, disso eu tinha certeza.

Conversamos por um tempo.

Suni não é Izanami. Ela foi adotada por uma família rica, já que a sra. Izanami não podia ter filhos. Ela me disse outra coisa - que não era a única de sua família biológica. Ela tinha irmãos, mas sua família queria apenas uma filha. E que seus irmãos ficaram sozinhos. Ela era a mais velha.

Depois, ela voltou ao orfanato onde os irmãos estariam. Não encontrou ninguém, estava trancado. Um policial disse que houve um incêndio, e que as crianças foram levadas para outro abrigo. Mas outras, haviam fugido.

Suni encontrou três, de seus quatro irmãos, em famílias. O quarto tinha fugido, e ela não sabia onde procurar. E ela nem sequer se lembrava de seu nome ou se era menino ou menina.

Estava mergulhada demais nos meus próprios pensamentos quando escutei o barulho do ônibus estacionando. Olhei em volta, e, estava sozinha no banco. Alguns adolescentes formavam uma fila para sair do ônibus. Meio grogue, levantei e furei fila, um pouco desesperada.

Mal desci do ônibus, Ino me agarrou.

- TES-TU-DA! - gritou, me abraçando forte. - TÁ MALUCA, GAROTA?! QUASE ME MATOU DE PREOCUPAÇÃO! QUEM MANDOU NÃO ATENDER MINHAS LIGAÇÕES?! BEM FEITO!

- Gomen, Sakura-chan... Ino ficou muito alterada pelo seu atraso... - disse Hinata, com um doce sorriso.

Eu estava prestes a dar um pisão no pé da Ino, pois estava quase roxa e sem ar. Mas aí ela me soltou, e eu pude olhar em volta.

O ônibus havia estacionado do lado de fora do acampamento, mas eu ainda podia ver o que tinha lá dentro. Uma casa grande ao centro, várias cabanas espalhados pelos campos, estábulos, lagos, uma estrutura grande que tinha cara de cantina, mato, árvores, cercas... Era lindo. Eu me senti num filme americano.

Até eu virar a cabeça 90 graus para a esquerda e ver o que parecia um sargento num campo de concentração. E, ao lado dele, uma mulher que parecia uma recreadora infantil, vestida de uma blusa laranja escrito "Camp Half-Blood" e jeans. Segura uma prancheta e mantinha um sorriso no rosto, e seus cabelos eram castanhos, presos num rabo de burro frouxo.

A maioria dos alunos estavam reunidos em semi-círculo ao redor deles, e eu precisei arrastar Ino e Hinata pra lá, e consegui ouvir melhor.

- ... E AS GAROTAS FICARÃO NUMA CABANA... LÁ! - gritava o sargento, apontando para o leste. - E OS GAROTOS EM OUTRA, DAQUELE LADO! - e apontou pra direção contrária.

Vários alunos começaram a protestar, e a moça levantou a mão.

- Eu te pedi pra não se empolgar, Steve. - disse ela, encarando o homem-armário pelo canto do olho. Então, deu um passo à frente e começou a ler sua prancheta. - Bom dia, queridos! O Meu nome é Cindy, e eu sou a diretora desse acampamento. Esse aqui é o meu irmão, o Steve.

- SARGENTO STEVE!

- Cala a boca, Steve. - cortou Cindy. Percebi que ela fez força para continuar sendo gentil, sorrindo torto. Se virou para os alunos, se recompondo. - Vocês terão de formar equipes de cinco pessoas cada, que ficarão em cabanas, ou, mais precisamente, dormitórios. - ela sorriu. - Cada equipe receberá um folheto com as atividades que terão durante a semana. Nós temos banheiros na casa grande, quando precisarem ir tomar banho e afins.

Ao meu lado, Ino respirou pesadamente. Eu já sabia no que ela estava pensando.

- Os horários de refeições virão em outro folheto. Tentem não perder... - prosseguiu Cindy, analisando a prancheta. - Ah, e as gracinhas serão pagas com trabalhos... E as pessoas que denunciem as gracinhas serão recompensadas. - seu sorriso aumentou. - Então, formem as equipes e tragam as malas.

Pisquei uma, duas vezes. Olhei ao redor. Tá, não vou esconder, eu estava procurando por Naruto, problem? Eu queria estar na mesma cabana que ele... Mas não pense em coisas pervertidas, eu só... Tch.

Ele estava num canto, junto com Menma e Karin. Estranhei, e quando ele me viu o encarando, agitou os braços na minha direção. Agarrei a mão da Ino - ou eu pensava que fosse ela - e fui na direção dele.

Mas era Hinata. Ino estava em outro lugar, no meio do tumulto, provavelmente procurando Sasuke.

- Hey, Sakura-chan, Hinata! Querem fazer equipe com a gente? - perguntou Naruto, sorrindo.

Concordei com a cabeça, estranhando um pouco a presença de Karin no grupo. Menma deve ter percebido, porque apontou pra ela e deu uma risadinha.

- A Karin também é Uzumaki, Sakura... Ela é nossa prima.

Karin levantou a cabeça e sorriu na minha direção. Eu sorri torto de volta. Não estava preparada pra isso. Passei a vida toda achando que a Karin era uma putinha. Foi a Ino! Ela encheu minha cabeça!

- Ah, sim... - balbuciei, trocando o peso de um pé pro outro. - Tudo bem.

Silêncio.

Okay, talvez não fosse uma idéia tão boa assim.

Mas era tarde demais. Quando percebi, estava sentada na beliche, com a mala ao canto, encarando a parede.

A cabana 2 - onde estávamos 'hospedados' - era pequena. Tinha duas beliches, uma cômoda e espelho. Era tudo de madeira, e tinha formato de chalé.

- Menma! Eu não vou dormir com você, principalmente aqui em cima! - reclamava Naruto. Ele e Menma estavam discutindo à uns 10 minutos sobre quem vai dormir onde. Que beleza.

Decidimos que Naruto dormiria no chão, Hinata e eu num beliche, Menma e Karin no outro, sendo que Karin e Hinata ficavam na cama de cima. Eu achei bem justo.

Coloquei uma bermuda, camiseta azul e chinelos. Hinata vestiu um vestido amarelo, que ficou uma graça nela. Menma e Naruto estavam de bermudas e camisas de bandas, e Karin também usava um vestido, só que azul. Nós estávamos saindo para almoçar quando Karin agarrou meu braço.

- Yo, Sakura! - disse ela, com um lindo sorriso. Uzumakis, porque tão atraentes?... - Acho que eu nunca falei direito com você...

- Poisé... - respondi, com um sorriso torto.

- Aposto que é a Ino que fala mal de mim! - Karin revirou os olhos, ainda caminhando comigo, segurando meu braço. - Ela não suporta o fato de que eu já fui namorada do Sasuke-kun.

Certo, agora já são revelações demais para uma tarde. Karin já namorou o Sasuke?! Quando, isso? Meu Deus...

A ruiva levantou os olhos e viu que havia uma pessoa a chamando. Ela me deu um abracinho e saiu, mas não antes de falar:

- Gomen, Sakura. Tenho que ir agora. Mais tarde a gente se fala!

Fui, meio tonta, até o refeitório. Sentei ao lado de Ino, que comia ferozmente um hambúrguer.

- Queissu, menina? - perguntei, colocando ketchup na pizza. - O hambúrguer não é a Karin, ficar relax. - disse, já tocando nesse assunto. Ia tirar satisfações! Parece até que eu sou a única que não sabia que ela era a ex do Sasuke.

- Seria bom se fosse! - resmungou Ino - Estaria comendo ela toda!

Virei lentamente o rosto na direção dela, que fez o mesmo.

- Isso soou mal.

- Com certeza. - concordou ela, enquanto colocava o hambúrguer de lado.