Confesso que só parei de bater no Naruto quando o Kiba disse algo sobre cadeia.

Enfim, depois da Educação Física, eu fui me encontrar com o meu pai, numa cafeteria que fica dentro de um shopping. Logo eu o vi, sentado numa mesa. Assim que ele me viu chegando, se levantou pra me receber e deu um largo sorriso.

- Oi, minha querida! - disse ele, me abraçando

- Oi, pai. - respondi com frieza. Não queria estar ali.

- Vamos tomar alguma coisa? - chamou ele

Ele pediu um expresso normal e eu pedi um frapuccino de chocolate branco. Se tem uma coisa que o meu pai sabe fazer bem, é dinheiro. Ele é dono de uma empresa que exporta petróleo, e é muito bem-sucedida. Deve ser por isso que teve tantas mulheres. Uma vez minha mãe me disse que ela foi a única mulher que realmente o amou. Eles se apaixonaram na faculdade, quando meu pai ainda não era rico. 

Mas mesmo assim ele a deixou pra ficar com uma vadia qualquer. Lembrar dessas coisas me fez sentir muita raiva e eu queria dar um tiro no meio da cara do meu pai naquele momento, mas lembrei de novo do Kiba falando sobre cadeia e me contive.

- Como está a escola? - perguntou ele, me fazendo voltar a realidade

- Bem.

- E os namoradinhos?

- Não tenho, pai.

- Aaah... Tirando boas notas?

- Sim.

A gente continuou nesse papo por um tempo, talvez uns 15 minutos. Então eu não me contive e perguntei:

- Por que você deixou a mamãe?

Ele me olhou assustado, e seus olhos tremiam, mas depois ele bebeu um pouco de seu café, e me olhou, sério.

- É um pouco complicado, Sakura...

- Então explique. - respondi no mesmo segundo, e ele me encarou com um olhar triste.

- Você é muito nova pra...

Me levantei tão depressa que a cadeira quase caiu. Algumas pessoas que estavam ao nosso redor ficaram me olhando, mas eu não liguei. Eu estava chorando. Queria parar, queria ser forte, mas eu não conseguia.

- COMO VOCÊ PODE DEIXÁ-LA? ME DEIXAR? EU ERA SÓ UM BEBÊ, SEU DESGRAÇADO!

Sim, eu gritei isso no meio do shopping. Mas me dá um desconto, vai. Eu estava passando por uma crise emocional e não conseguia conter minha inner. As pessoas me olhavam como se eu fosse louca, e provavelmente tinha alguém ligando pra polícia. Eu chorei mais forte ainda enquanto meu pai se levantava e tentava tocar meu rosto. Eu balancei a cabeça e saí dali andando em passos largos.

Mas o meu pai veio atrás de mim e segurou meu braço. Eu me virei e o olhei com toda a raiva que eu sentia. Ele se assustou, mas não me soltou.

- ME LARGA, SEU FILHO DUMA ÉGUA!

O.K., agora eu tava xingando minha avó, que eu nem conhecia. Ele afrouxou a mão, mas não me soltou, eu puxei meu braço com toda a força que ele quase caiu no chão. Seria bom se caísse. Assim eu teria uma desculpa pra poder pisar na cara dele. Dessa vez eu saí correndo, ainda chorando. Cheguei na rua e me sentei no chão. Apoiei os cotovelos nos joelhos e chorei ali.

Fiquei assim por um bom tempo.

- Moça bonita, por que está chorando?

Levantei a cabeça rapidamente, e havia uma menina, de uns 6 ou 7 anos, na minha frente, me olhando. Ela era bonita, com cabelos longos na cintura pretos e olhos azuis como os de Naruto. Mas ela também estava usando uma blusa maior que ela, marrom e suja, e uma calça de moletom preta e rasgada. Ela trazia consigo um cobertor azul escuro todo sujo, que arrastava no chão. Quando a olhei, fiquei com pena e chorei ainda mais forte.

- Você deve ficar mais bonita sorrindo. - disse ela

Eu enxuguei minhas lágrimas e dei um sorriso torto.

- Bem melhor! - comemorou ela - Qual o seu nome?

- S-Sakura... - respondi, com voz fraca. Pigarreei e perguntei: - E o seu?

- Prazer Sakura-chan, eu sou a Kana! - disse ela animada, estendendo a mão.

Eu peguei a mãozinha suja e áspera dela. Como alguém pode abandonar uma criança sozinha na rua?

- Kana, você... Vive sozinha? - perguntei

Ela suspirou e se sentou ao meu lado.

- Eu tinha uma mãe... - ela não me olhava enquanto falava - Mas ela... Sumiu.

- Como assim?

- Ela foi embora e não voltou mais. Aí eu tenho que me virar sem ela.

Eu a olhei e a vi derrubar uma lágrima. Não queria vê-la chorar, já estava me sentindo mal o bastante. A gente começou a conversar, e eu lhe contei sobre Ino, Hinata, Naruto, Sasuke, Kiba e até da Vakarin. Contei da minha mãe, do meu pai, e de como eu o odeio. Contei sobre o que gosto, o que não gosto. Tudo. Havia se passado 1h e 30 min que eu estava com ela, e nem vi o tempo passar. Olhei no relógio e eram 16:00. Tinha que ir embora.

- Kana. - chamei. Ela me olhou sorridente - Você quer vir pra casa comigo?

Os olhos dela brilharam.

- C-como assim Sakura-chan?

- Eu estou te perguntando... - respirei fundo - Se você quer ser... Minha irmã.

Ela sorriu. Um sorriso enorme. Ela pulou em cima de mim, me abraçando, chorando e agradecendo. Eu também comecei a chorar e sorrir. Me levantei, com ela no meu colo, joguei a mochila no ombro e fui pra casa.

Não faço a menor idéia do que vou dizer a minha mãe. " Oi, mãe, eu xinguei meu pai e deixei ele no vácuo, conheci uma menininha na rua e trouxe ela pra ser minha irmã e morar conosco ".