Dois dias se passaram desde que eu comecei a minha missão na companhia de Hinata, por alguma razão — e eu ainda não sei qual — escolheram a menina de olhos perolados para fazer dupla comigo. Eu realmente não conseguia entender isso. Mas também não me importava. Nossa situação era a mesma, sem conversa de um lado, sem conversa do outro, ela apenas me falava o necessário e eu escutava com meu olhar indiferente voltado para um canto qualquer. Mais uma vez tive que acordar por volta das sete da manhã, ou melhor, exatamente às sete da manhã. Não demorei muito para me arrumar — como sempre —, tomei um rápido café da manhã, na verdade, eu apenas comi uma maçã, e, em seguida. fui direto para a Arena.

Como o habitual, a menina de cabelos negros já estava lá, mas é claro, ela sempre chegava mais cedo, tinha aquele senso de responsabilidade, aquele que eu me negava a ter, eu era apenas pontual, e também era pontual apenas quando necessário. Não demorou para ela se aproximar de mim — também como em todas as manhãs — e me entregar um pergaminho com algumas espécies de ordens escritas, provavelmente haviam sido escritas por Tsunade, ou por algum superior. Não me importava. O tempo passou rápido, não demorou para Hinata se aproximar e me avisar que já estava na hora do almoço — como ela tem feito nos ultimos dias —, e como eu tenho almoçado junto com ela, fui com a Hyuuga até o mesmo restaurante que temos ido, o que Kiba nos levou no outro dia.

No caminho de ida nenhum de nós puxou assunto, mas aquilo era apenas nossa rotina sendo seguida. Ela, como sempre, tímida de mais para puxar assunto e eu muito impaciente para conversar, na verdade, não gostava nem um pouco de conversas, quem diria das longas. Finalmente chegamos ao restaurante, não demoramos a avistar um garoto loiro e escandaloso, juntamente de uma menina de cabelos rosas, Naruto e Sakura, então eles tinham voltado da missão. Foi quando percebi que o rosto de Hinata estava completamente vermelho, eu não entendia muito bem.

— Ei, Sasuke. — Ele vociferou, ainda escandaloso, isso me dava nos nervos, deveria ser calmo pelo menos algumas vezes. — Hinata-chan! — O rosto dela tornou a ficar ainda mais ruborizado. — Sentem-se conosco!

— Tsc... — Mais uma vez proferi o mesmo som estranho e habitual.

— É, venham, Sasuke-kun, Hinata-chan. — Sakura insistiu, eu tinha certeza que Hinata não negaria, afinal era um pedido de seus amigos, e negar algo que Sakura considerava importante para ela — considerando o tempo que ela não me via — seria o mesmo que pedir para levar um soco.

— H-Ha-Hai! — Hinata demorou a dizer, sentou-se ao lado de Naruto por falta de opção, afinal, por alguma razão — provavelmente irritante — Sakura me arrastou para sentar ao lado dela.

— Então, como está a missão de vocês? — Naruto tentou puxar assunto, seu sorriso animado ainda estava em seu rosto. — Aposto que Hinata está fazendo tudo direito, mas Sasuke já não tenho certeza.

— Na-Naruto-kun... — Era tudo o que Hinata conseguia dizer enquanto carregava um sorriso tímido em seu rosto, com seus olhos perolados sendo desviados para o lado enquanto ela brincava com seus dois dedos indicadores das mãos batendo um no outro. Também percebi que o rosto da menina estava vermelho. Mas não entendia porque raios ela sempre ficava assim e começava a gaguejar quando estava perto de Naruto ou quando o assunto era o mesmo.

— Tsc. — O som saiu de novo da minha boca enquanto eu esperava para que eu mesmo pudesse pensar em uma resposta melhor. — Eu ainda sei fazer missões.

— Ah! Naruto como sempre falando besteira. — Sakura falou fazendo uma cara ameaçadora. Pelo visto ela continuava com aquela perseguição doentia dela por mim, eu realmente não entendia, era muito irritante.

— Ma-Mas... — A menina de cabelos negros tentou falar algo, mas sua voz não saiu por um tempo, provocando uma pausa enquanto todos a encaravam, eu, por minha vez desviei o olhar, não queria que parecesse que eu estava prestando atenção. — ... A-Acho que o N-Naruto-kun só estava tentando puxar um assunto legal... — Seu rosto estava ainda mais corado, ela desviava seu olhar dando umas rápidas olhadas para Naruto.

— Pode até ser, mas Sasuke-kun ficou incomodado. — Sakura falou em seu tom de voz irritado, como sempre.

— Viram? Hinata-chan me entende! — Mais uma vez falando mais alto que o necessário enquanto envolvia Hinata em seus braços e a puxava como se fosse dar um abraço, mas do jeito exagerado que só ele tinha. Mas não chegou a realmente abraçá-la, ele apenas a puxou de forma escandalosa.

— Na-Naruto-kun... — Gaguejou com o rosto ainda mais vermelho que antes. Se eu a conhecesse bem, diria que iria desmaiar ali mesmo.

— Já estou indo. — Levantei-me rapidamente, já havia conversado o suficiente por um dia, havia chegado ao meu limite. Queria voltar para a Arena, que nesse dia seria meu cantinho de paz e silêncio.

— Sasuke-san, me espere. — Ela se levantou e parou ao meu lado, mas olhou para trás por um momento, seu rosto ainda estava vermelho. — T-Tchau. — A Hyuuga proferiu, mas seu rosto permanecia vermelho e a gagueira era evidente.

Começamos a caminhar para fora do restaurante, Hinata brincava com seus dedos enquanto mantinha seu olhar fixo a eles sem nada dizer. Não demorou para voltarmos para a Arena, foi quando ela se deparou com o seu primo logo na entrada, ele tinha um pequeno olhar de desaprovação sobre mim, mas eu ignorei, resolvi que seria melhor assim. Foi como se o primo super protetor não quisesse ver sua querida prima com o grande traidor de Konoha, na verdade, era exatamente isso, ou por aí, mas eu não tinha nada com aquela garota mesmo.

— Kō! — Parou de brincar com seus dedos e esboçou um pequeno, porém doce sorriso. — O que faz por aqui?

— Hinata-sama, no momento estou indo embora. Nos vemos depois. — Fez sinal de despedida e saiu. Eu já estava entrando um pouco antes dele se despedir.

— Sasuke-san! — Proferiu, o tom era alto o suficiente para que eu pudesse escutar, a ouvi correr até mim e em seguida ouvi sua respiração acelerada. — Queria pedir desculpas por como eu agi no restaurante. Eu deveria tê-lo defendido quando Naruto-kun falou de como achava que era seu desempenho na missão.

— Tch... — Emiti um som qualquer sem me importar muito primeiramente. — Eu não ligo para isso. Mas se quer um conselho, acho que não deveria ficar tão vulnerável perto dele. — Meu tom indiferente e frio era claro. — E quem é esse projeto de Neji?

— Vulnerável...? — Indagou confusa. — E-Está dizendo que eu fico... — E num instante ela começou a gaguejar, era só falar nele. — E não é projeto de Neji, é Kō, até porque o Neji-nii-san... — Foi o suficiente para ela não terminar a frase e fazer uma cara de choro. Estava prestes a chorar.

— Então você entendeu. Isso é meio ridículo. — Foi aí que lembrei de ouvir algo sobre ela ter se declarado para ele, entendi parcialmente a razão do nervosismo dela.

— N-Nã-Não... — Provavelmente ela estava repetindo a cena do restaurante inúmeras vezes em sua mente, e não demorou para que ela desmaiasse. Então eu tinha razão, ela queria desmaiar no restaurante, mas conseguiu se conter.

Por sorte eu consegui pegá-la antes que ela pudesse cair no chão, se não fosse o caso, teria batido sua cabeça no chão em cheio. A carreguei até um banco que havia próximo a onde eu estava trabalhando. Demorou cerca de quarenta minutos para que ela acordasse. Seus olhos se abriam com calma e devagar enquanto se acostumava com a iluminação do lugar calmamente. Levantava-se lentamente e enquanto ela realizava essas ações eu desviava meu olhar para que não parecesse que eu estava preocupado. E eu não estava, pelo menos era disso que eu mesmo me convencia.

— Finalmente acordou, Bela Adormecida. — Não perdi a oportunidade de zombar da garota, afinal, esse era meu jeito. — É dessa vulnerabilidade que eu estou falando. — Conclui, achei que ela poderia entender com somente essas palavras e eu não precisaria dizer mais nada, ou seja, não conversar. Eu estava enganado.

— Sasuke-san... você me trouxe até aqui? — Fiz sinal negativo com a cabeça como se não me importasse muito com esse fato. — Obrigada. — Não hesitou em responder. — Bem... quanto ao Naruto-kun, eu simplesmente me sinto assim quando estou com ele, eu começo a gaguejar e... acho que você já sabe a razão disso.

— Você se torna indefesa perto dele, não seria nem mesmo capaz de defendê-lo caso alguém o ameaçasse se continuasse com toda essa vulnerabilidade. Não sei como conseguiu lutar contra os Pains e tentar defendê-lo. — Isso era o que eu achava, mas por alguma razão vi os olhos de Hinata lacrimejarem. Não, aquilo não era ilusão, os olhos da ninja estavam mesmo cheios de lágrimas que ela teimava em não deixar serem derramadas.

— Sabe... talvez... talvez você esteja certo. — Ela forçou um sorriso, eu não conseguia acreditar que depois do que eu disse — e que eu considerava verdade — ela ainda conseguia me mostrar um sorriso. E aquele ainda era o primeiro sorriso que ela me mostrava, por mais contraditório que fosse, o primeiro sorriso direcionado a mim e por alguma razão pensei ter sentido um pequeno aperto no coração, mas só pensei, afinal, não tinha razão para sentí-lo. — Eu vou embora... Não estou me sentindo muito bem. — Ela nem mesmo me deu chance de dizer algo, mas eu também não diria. Simplesmente saíu correndo e eu nem mesmo tentei alcançá-la, mas enquanto ela corria, conseguir ouvir soluços e consegui ver, mesmo que por um momento, as lágrimas escorrendo pelos olhos dela e por alguma razão, me senti culpado.

Sentir culpa. Eu não esperava sentir culpa, o que eu estava pensando quando me senti assim? Eu não era um cara que costumava sentir culpa de algo, mas resolvi ignorar esse meu estranho sentimento que eu não entendia. Por um tempo deu certo. Finalmente já estava na hora de eu ir para casa, eu segui meu caminho cotidiano quando cheguei a parte do caminho em que eu e Hinata nos separávamos para ir para nossas devidas casas. Quando reparei que eu esperava por algo, mas ela não estava lá para dizê-lo. Ela não estava lá para dizer o seu costumeiro "Adeus". E me senti um idiota por ter esperado ela dizer aquilo. Talvez fizesse parte do sentimento de culpa que eu estava sentindo e resolvi ignorar, então ignorei isso também.

Cheguei em casa, fui até o banheiro, tomei um banho, coloquei um calça preta e larga, em seguida sentei-me na minha cama e peguei um dos livros que se encontravam na escrivaninha ao lado da minha cama, o móvel consistia em ter a mesma cor que a cama — tabaco. Após alguns minutos fui dormir, não demorou muito para que eu pegasse no sono, havia sido um dia cansativo. Acho que eu já estava desacostumado com Naruto e Sakura gastanto minhas energias.

ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤHinata's POV

Eu já estava deitada na minha cama por um tempo, por algum motivo — que particularmente eu não entendia — as palavras de Sasuke haviam me tocado. Talvez porque eu tivesse considerado aquilo uma verdade. Talvez eu realmente fosse incapaz de proteger Naruto-kun e ficasse realmente vulnerável na presença dele. Minhas lágrimas haviam cessado, mas os pensamentos ainda invadiam minha mente, e, eu não entendo o porquê de me importar tanto com as palavras do Uchiha. Ele era apenas aquele cara frio com quem eu trocava poucas palavras por dia. Talvez eu estivesse me tornando amiga dele, mas acho que da parte dele seria impossível alguém como eu me tornar amiga dele, mesmo que eu já estudasse com ele desde criança.

Eu me sentia realmente triste após escutar aquele comentário do moreno, e o comentário insistia em ecoar pela minha mente, era realmente insuportável, eu não podia negar isso. Mas se ecoavam em minha mente, era porque as palavras tinham realmente me tocado, de verdade. Eu realmente ficava esquisita na presença de Naruto, e sentia, até mesmo vontade de desmaiar, mas conseguia tentar parecer forte, e conseguia não desmaiar em sua frente. Mas foi só Sasuke falar do loiro, que eu acabei desmaiando. Foi lembrando da cena do restaurante — pela milésima vez — que voltei a chorar. E foi de tanto chorar que eu acabei adormecendo. Ali mesmo, na mesma posição que eu estava, eu adormeci feito uma criança.

Mas não era só sobre o Naruto que me incomodava. Sasuke não deveria ter falado do Neji, ele sabia que o Neji-nii-san estava morto, ou seja, provavelmente queria me provocar ou algo do gênero. Ele deveria entender como é perder alguém especial, dói, é horrível, Neji-nii-san era como um irmão para mim e essa provocação do Sasuke não me agradou tanto, porém decidi ignorar, mas isso realmente não me agradou.

ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤSasuke's POV

No dia seguinte acordei sete horas, já não precisava mais do despertador para me acordar, mas deixava-o tocar por precaução. Coloquei uma roupa do clã Uchiha, uma camisa marrom, de um tom tão escuro que quase resultava em um preto, minha calça tinha um tom cinza bastante fechado, os símbolos do clã encontravam-se na ponta das duas mangas da camisa. Segui para o local de minha missão rapidamente, como sempre chegando lá oito horas em ponto. Hinata não estava lá. Eu realmente estranhei não encontrar a presença dos olhos perolados naquele local. Ela sempre chegava antes de mim, e eu tinha certeza de que não havia chegado cedo.

Algumas horas se passaram e nenhum sinal de Hinata, confesso que nunca achei que a Hyuuga fosse capaz de faltar um dia de sua missão. Aquilo me chamou a atenção e quando percebi, já queria saber o motivo dela não ter ido. Mas era apenas curiosidade, nada mais. Claro que não seria pelo que eu havia dito ontem, não poderia ser, com certeza não, eu não tinha todo esse potencial de fazê-la faltar um dia de missão. E mais uma vez o sentimento de culpa prevaleceu.

Pelo fato de ela não ter me avisado que era hora do almoço, como todos os dias fazia, eu me atrasei para ir almoçar, mas não hesitei em seguir até o mesmo restaurante que íamos todos os dias. Mas por mais que ela sempre fosse quieta, sua presença me fez um pouco de falta, afinal, se ela tivesse lá, eu não teria me atrasado, era assim que eu pensava. Almocei rapidamente e voltei logo para a Arena, foi quando voltei que tive a total certeza de que Hinata não viria para a missão. Senti certa angústia por isso, convenci-me de que sentia assim porque teria que realizar todo o trabalho do dia sozinho.

O tempo passou mais lento do que nos outros dias, mas finalmente já era hora de ir embora. Foi quando segui para casa, e, mais uma vez, quando nossos caminhos deveriam supostamente se separarem, ela não estava lá, mais uma vez não estava lá para me dizer "Adeus". E novamente eu me senti um idiota por esperar que ela dissesse aquela palavra que insistia em dizer todos os dias, mesmo que eu não respondesse e meu orgulho falasse mais alto não permitindo que eu respondesse. Mas aquilo ainda era a culpa que eu havia decidido ignorar no dia anterior, por isso esqueceria disso mais uma vez. Confesso que talvez eu sentisse um pouco de falta de não responder essa mínima palavra que ela insistia em me dizer. E foi ali que acabei encontrando Hinata, ela havia corrido bastante para chegar até ali, por isso seu rosto encontrava-se um pouco vermelho e ela respirava de forma rápida.

— Sa-su-ke-san. — As particulas eram divididas devido a sua falta de ar, mas eu ignorei isso. — Eu achei que eu não iria te encontrar. — Ela deu um sorriso quase que imperceptível. — Desculpe-me por não aparecer hoje. — Proferiu em tom alto suficiente para que eu escutasse.

— E você veio aqui só para me dizer isso? — Não pareci surpreso, mas estava, só não queria demonstrar.

— É... afinal, não é certo faltar um dia de missão. — Ela concluiu, parecia meio confusa com meu olhar de desaprovação

— Poderia me dizer amanhã. — Mas dei de ombros, afinal ela já estava lá. — Me deu um trabalhão fazer aquilo tudo sozinho, sabia? — Suspirei cansado.

— Uh... Gomen! — Falou meio sem jeito fazendo uma pequena reverência. — Tive uma discussão sobre o clã. — Me senti meio aliviado por saber que aquilo não era minha culpa. E foi aí que voltei a pensar, eu não tinha essa bola toda para fazê-la faltar uma missão, não precisava me sentir culpado, mas também me lembrei das coisas horríveis que havia dito para ela no dia anterior e tentei ignorar meus pensamentos.

— Tudo bem. — Dei de ombros, como sempre lancei meu olhar indiferente, mas dessa vez, meu olhar teimava em fitá-la. — Você deve ter corrido muito para chegar até aqui, parece exausta.

— Confesso que corri um pouco. — Mas era óbvio demais o fato dela ter corrido, mas não entendi por que raios eu estava tentando puxar assunto. — Já estou indo, Sasuke-san. Tenho que voltar, o pessoal do clã ainda me aguarda. — Pausou enquanto eu olhava indiferente para ela. — Adeus.

— Adeus. — Falei alto o suficiente para que ela pudesse escutar e dei um sorriso de lado, por alguma razão decidi deixar meu orgulho de lado por um tempo para respondê-la. Fez uma cara surpresa inicialmente, em seguida ela virou o rosto e lançou um sorriso direcionado a mim. Sim, um sorriso, ela sorriu para Uchiha Sasuke, o traidor. E confesso que me senti um pouco bem com isso.

Ela virou-se novamente e foi caminhando em direção a casa dela enquanto fazia sinal de despedida com a mão direita. Eu me virei e prossegui meu caminho para a minha casa, não demorei tanto a chegar, assim que cheguei me troquei e fui direto para a minha cama. Havia sido um dia cansativo, trabalho em dobro no lugar de Hinata realmente havia me deixado cansado, nunca imaginei que essa missão me deixaria cansado assim, claro que já havia ficado mais cansado, mas para uma missão desse porte, nunca imaginei que chegaria a esse estado. Dormi rapidamente depois que deitei.