Bem, Mrs. Goode não estava séria de verdade. Ela estava é tentando esconder sua animação. 

-E então, Charlotte? Você aceita? -Ela pergunta e eu quero vomitar. Estamos na aula dela, na aula de inglês, reunidos no fundo da sala. Quando digo "reunidos" eu quero dizer eu, Mrs. Goode, Ray, Becky (a do namorado traidor) e Patch Kevinson. Os escritores do jornal. Bem, tem mais vinte pessoas se você contar as vinte pessoas tentando escutar nossa conversa ao invés de fazer o trabalho de Oscar Wilde que eu aposto que Mrs. Goode já passou. Ela acabou de pedir para eu escrever um artigo sobre os fogos, na visão da garota que vive ajudando o corpo estudantil da Rixon High School - Madim. Madim está se tornando mais famosa e requisitada que eu, e ela não tem nem sobrenome. Não sei se a ideia me deixa furiosa ou se eu choro. É tão confuso. Eu sou Madim, mas ela não é eu. Acho que as coisas estão girando. 

-Hart? -Patch pergunta. 

-Eu só dou conselhos, não sei escrever um artigo. -Tento desviar da proposta. 

-Consegue sim, mostro para todas as minhas turmas suas redações do primeiro ano. 

-É verdade. -Patch diz.

-Ok. -Só quando eles suspiram que eu percebo que o quanto esperavam que eu fizesse isso. Talvez não seja tão ruim.

-Vou precisar de ajuda. Não sei se estou preparada para tanta coisa. 

-Vocês três. Quero que ajudem Charlotte, entenderam? -Mrs. Goode manda, completamente séria, que nem na aula de economia doméstica. Não ouso olhar para eles, só olho para minhas mãos, na mesa. 

-Charlie, que tal você almoçar comigo hoje? -Becky propõe. 

-É, e nós podemos conversar enquanto a gente faz o trabalho de física amanhã. -Patch diz. 

-E nós podemos ficar até mais tarde na redação. -Ray sugere. Meu coração começa a bater. Quer dizer, começa a bater bem mais forte. Acho que as coisas estão girando mais ainda. No que diabos eu fui me meter? 

-Ok. -Digo, depois de um tempo, acrescento: -Porque vocês querem que eu faça isso?

-Porque você escreve bem. -Alguém deles responde, mas eu estou tão enjoada que não consigo diferenciar as vozes. Eles querem que eu escreva, algo de verdade. Algo grande, que vai aparecer no jornal. Eu não faço coisas grandes. 

-Acho que vou vomitar. -Eu digo, antes de sair correndo para o banheiro. Os três até tentam vir atrás de mim. Mas só Becky tem coragem de entrar no banheiro feminino, porque, bem, ela é uma garota. 

Eu fecho a porta enquanto ela me chama hesitante. Só não entrou porque eu estou vomitando, eca. Nem eu queria estar aqui agora. Eu saio de lá e lavo minha boca umas quinhentas mil vezes. 

Acho que ficamos lá o resto da manhã inteiro, conversando. Ela é uma amiga legal, mesmo que nós não somos amigas, mas se fossemos, ia ser legal ter ela por perto. Quando ela me pergunta sobre meus pais, eu tento responder com o mínimo de emoção possível, e chamo ela de Becky. O que surpreeende bastante ela. Acho que ela não sabe que, se você tem um apelido e fica famosa, todo mundo vai começar a te chamar com o apelido. Mas eu acho que na verdade, ela só está contente por ser chamada assim. Eu pergunto sobre os gaarotos e ela me conta que é apaixonada por Connor Brown. Você ouviu bem, irmão mais novo de Samantha. O engraçado é que ele é totalmente o contrário dela - legal, carismático e correto. Um pouquinho menos bonitinho é verdade, mas quando se é legal, você é bonito. Quando ela me pergunta de quem eu gosto, eu falo a verdade. Eu gosto do Ray. 

Ela quase engasga e parece realmente muito chocada. 

-Desde quando?

-Provavelmente desde o final do ano passado...

-Nossa, Charlie!

-Pois é.

-Ele sabe?

-Não. Por que você está tão chocada? 

-Porque sempre achei que você gostasse do Jay. -Ok. Minha vez de ficar realmente muito chocada. 

-Becky, Jay é gay. 

É a vez dela de ficar realmente muito chocada de novo. 

-Nossa! Ele é assumido?

-Não, quer dizer, acho que ele não precisa... não acredito que você não sabia! Puxa, Becky, vocês não fizeram trabalho de matemática juntos semana passada?

-Sim, mas ele parece tão hétero...

Eu rio.

-É, eu sei.

-Temos que ir, não posso perder mais aulas. Está melhor? 

-Claro. -A gente se levanta e vamos para a aula de matemática. Quando ela vê Jay vindo pra nossa direção, começamos a rir. Acho que vamos ser amigas. Ela vai para sua mesa, enquanto eu vou para o lado de Jay e Audrey, contando sobre o que vou fazer.

-Filha da... 

-Audrey! 

-Mãe! Você vai fazer? 

-Vou escrever. -Eu respondo e então o professor entra na sala de aula. Saco o celular com a mesma rapidez que um espião sacaria uma arma. Escondo o celular por trás do caderno. Eu vou copiar os exercícios de Jay depois. Pelo menos eu espero que ele deixe. 

Dúvidas e questões sobre relacionamentos? Pergunte à Madim!

Todos os nomes são protegidos para manter o anonimato dos autores.

Essa coluna pertence à Rixon High School

Querida Madim,
Eu estou apaixonada. Até aí tudo bem, eu sei, mas acontece que não é pelo meu namorado. Eu o amo muito, muito mesmo meu namorado. Nós temos algo realmente incrivel e eu não quero perder isso... Mas eu tenho esse meu amigo (O melhor de todos) e... Ele é incrivel! Estou completamente apaixonada por ele e tem algo nos olhos dele que me diz que ele também sente algo. Estou perdida! O que eu faço?

Querida amiga, 

Acho que primeiro você tem que ter certeza que aquele sentimento nos olhos dele é amor, e que é amor por você. Depois você tem que escolher quem ama mais. Acho que por mim eu terminaria com seu namorado. Porque você não teria se apaixonado pelo seu amigo se não estivesse faltando algo no seu relacionamento com seu namorado. Acho que o namorado também merece uma explicação, então eu não sei. Os sentimentos são seus, mas cuidado para não perder os dois, achando que eles sentem coisas que não sentem ou algo assim. Ou se afaste do seu amigo. Tente entender seu coração! Boa aula e tente não dormir.

Com amor, Madim. 

Os e-mails estão cheios de perguntas sobre o baile. Um baile que eu não vou. Mas também não quero ir. É algumas semanas depois dos fogos e eu não conheço ninguém do último ano, então seria chato, muito chato. Às vezes eu olho para Becky (com Connor!)  e ela sorri para mim. Eu sorrio para ela de novo, depois olho para frente.

Ray está me encarando. Eu fico séria, lembrando do beijo dele sexta. 

-Algum problema?

Ele para de olhar, mas responde:

-Você está bem? 

Você não pode estar preocupado comigo, Ray, porque você beijou Samantha!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

-Sim. 

-Ei, escute, a redação está fechada hoje, então eu pensei, que você poderia ir à minha casa hoje, para falarmos sobre o artigo. Eu também vou escrever um.

Ah, sacanagem.

-Tudo bem. -Ele me dá seu endereço e eu prefiro passar o resto da vida lendo sobre casais do que ficar com Ray em sua casa sabendo que Samantha beijou ele na sexta feira, bem na minha cara. 

-Vejo você mais tarde. 

-Sim, sim. -Eu não olho para ele, mas eu continuo nervosa. Se Samantha descobrir, acho que estou ferrada. 

-Tem certeza que está bem? 

Eu não o respondo, porque Jay me chama, olhando para Ray com uma expressão de "Cafajestes têm que morrer e você é um cafajeste". Ray encolhe os ombros enquanto Jay passa os braços ao redor dos meus. 

Tenho um encontro com Ray. Acho que vou vomitar. De novo.