Estou na biblioteca agora. Fazendo o trabalho sobre Oscar Wilde. Dá para acreditar? Meu professor passou o mesmo trabalho que eu tive que fazer ano passado. Já é quinta feira e os dias se passaram sem nada de interessante. Quando digo isso quero dizer: nenhuma notícia sobre Ray e Samantha, Becky e Connor ou sobre mim e Ray. Ele está ocupado demais com o jornal e a festa da praia que Tommy e ele estão organizando para os secundários. Samantha foi junto com o time de basquete para as Nacionais na terça, porque ela é a líder das líderes de torcida. Acho que nunca tinha pensado em como tudo isso é clichê... Ela e Ray. A líder de torcida fica com o inteligente. Só achei que Ray fosse mais esperto para não ficar com ela! 

Becky me mandou uma mensagem hoje mais cedo dizendo que Connor está falando mais com ela agora e ela está superfeliz em saber que ele também não gosta da irmã. 

Então eu estou aqui, tentando ignorar meus pensamentos, principalmente os que me informam que Samantha volta hoje. Eu estou pensando demais nela. Mais do que eu gostaria. Eca. Ok. Oscar Wilde. Isso que é importante. 

Escrevo alguns parágrafos, no computador da escola, e pego umas imagens também. Acho que isso é o bastante. O idiota do professor, nem vai notar quando ver que meu trabalho está 99% igual ao do ano anterior. Acho que pode até me dar um 10. Mando o trabalho para o site da Ala de Impressão da escola, junto minhas coisas e vou correndo pegar os papéis - que eu espero que já estejam impressos. 

Os corredores da escola estão sempre vazios à tarde. Porque nenhum trouxa vai ficar mais tempo do que necessário na escola. Só os que pegam detenção ou  têm trabalho (como eu!) ficam aqui, e quando se está em detenção não pode sair por aí andando pelos corredores, então só tem eu mesma aqui. Sinto meu celular vibrar e vejo o nome de Audrey na tela. 

-Hey. -Eu digo.

-Hey, babe. Escute... -Ah não, nunca confie quando alguém começa a falar com 'escute...' -Meus pais vão viajar para a Califórnia esse final de semana e eu vou ter que ir junto, mas acontece que, eu vou odiar cada minuto. 

-Nossa, que chato.  -Não posso vê-la, mas sinto que está revirando os olhos e ouço ela bufar. 

-Quer vir junto ou não? 

-A, eu adoraria, mas não tenho grana. -Ouço ela bufar outra vez. 

-Qual é, esqueceu que meus pais comem dinheiro?

-Você já falou com eles?

-Óbvio. Estou começando a achar que você não confia nas minhas habilidades de planejar uma viagem. E aí?

-Tá. Vou falar com os meus pais, tenho que ir!

-Adios, querida! -Ela diz cantando e eu desligo, entrando na Ala de Impressão.

Então eu vejo Samantha e Ray, juntos, perto das cópias do jornal. De novo não.

DE NOVO, NÃO.  

Já chega, não vou sair correndo que nem eu fiz semana passada. Eu recolho toda a dignidade e coragem que me restam e vou até eles. Quando Ray me vê, fica surpreso, mas sorri nervoso. Quando Samantha me vê, fica com a clássica cara de vou-vomitar-virgula-você-aqui-de-novo-?. 

-Oi! -Eu digo, falsamente animada para os dois. 

-O que você quer?

-O que você está fazendo aqui? -Eu replico para Samantha. 

-Estou aqui para visitar meu namorado. -Meu mundo acabou.

-Quem, Ray? -A C A B O U.

-Quem mais seria? -E abraça Ray, que desvia o olhar do meu mas não a abraça de volta. Ele deve ter se tocado que eu amo ele e que ela é uma megera. Fico esperando que ele diga alguma coisa, mas ele não diz nada. Ele só encara o chão enquanto Samantha olha para mim com desdém. Ela que olhe. Dou de ombros, mas por dentro estou acabada. Que nem a gente fica quando o melhor personagem da história morre no nosso livro preferido. É como... não tenho palavras para explicar. Isso dói. Vou chorar, vou chorar, vou chorar, vou chorar, vou chorar. 

-Moça, você está aqui para pegar o trabalho de inglês avançado? -Graças à Deus, o cara que trabalha aqui me chama, e eu finalmente tenho alguém para encarar. Faço um sim com a cabeça, mas por dentro eu quero dizer: PEGUE SUA CANETA E ENFIE NOS OLHOS DESSA IDIOTA!!!!!!!!!!!!!!!!

Ele me entrega as folhas e eu me viro para os dois:

-Tchau. 

E então eu vou para casa, com minha bicicleta chorando montes e mais montes, como se fosse meu coração saindo junto com as lágrimas.  Eu nunca tive tanta vontade de chorar, e nem sei porque isso me surpreende, quer dizer, eu vi eles se beijando na lanchonete, eu devia estar preparada para isso. Mas é claro que não. Eu sou uma droga. Um lixo. Um nada. Acho que nunca fiquei tão triste. Quando eu chego em casa, está vazia. Acho que minha mãe está  no orfanato e meu pai trabalhando. São só Pepper, Cappuccino e eu. Ver eles me deixa um pouquinho melhor, mas comparado ao abismo que eu estou, isso não significa nada. 

Dúvidas e questões sobre relacionamentos? Pergunte à Madim!

Todos os nomes são protegidos para manter o anonimato dos autores.

Essa coluna pertence à Rixon High School.

Querida Madim, 

Você acha que pílulas do dia seguinte funcionam? 

Querida, 

Não sei, nunca tomei. Mas isso quer dizer que alguém fez algo errado por aí. Não está pensando que está grávida não é? Procure no Google, mas eu não acho muito confiável. Boa aula e tente não dormir. 

Com amor, Madim. 

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Essa coluna pertence à Rixon High School.

Querida Madim, 

Como você sabe que está namorando? Estou ficando com esse garoto há alguns meses, mas nenhum de nós apresenta o outro para a família ou amigos como "namorado e namorada", devíamos fazer isso? Depois de alguns meses, a coisa é oficialmente séria? Nunca passei por isso antes e não sei o que fazer!

Querida Indecisa, 

Pergunte à ele. Mas vou logo avisando, se ele se confundir todo, gaguejar ou algo assim, então, bye-bye, ele não quer nada sério com você. Você quer algo sério? Acho que sim, depois de meses, a coisa tem que evoluir, mas os dois estão prontos? Talvez ele esteja com medo de ser rejeitado. Converse com ele. 

Com amor, Madim. 

Assim que termino de escrever eu sei exatamente do que eu preciso melhorar. Disco um número.

-Audrey? Hey, sou eu. Ainda tem um lugar para mim no avião?