Perfect escrita por KaahEvans


Capítulo 22
Perdida


Notas iniciais do capítulo

Eaeeee :D Esse capítulo está pronto desde sexta, mas meu pen drive se separou de mim e só voltou hoje D: Prometi a mim mesma que deixaria toda autocrítica de lado e escreveria esse capítulo o mais rápido possível. Então se não ficou tão bom quanto deveria, me perdoem. Espero que gostem.



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Dei um pequeno sorriso e me preparei para contar minha trágica história pela primeira vez.

– Não sei bem como tudo começou, acho que já fui normal, me arrisco a dizer que já fui feliz, mas não me lembro. Eu era muito nova quando tudo virou de cabeça pra baixo. Eu era uma criança feliz, saudável, tinha amigos e pais amorosos. Minha mãe era minha melhor amiga, eu a amava tanto... Quando eu tinha seis anos ela se foi, sem se preocupar em dizer para onde ia, sem dizer adeus. Lembro de assistir a briga de meus pais quando Charlie tentou impedir que Renée fosse embora, ela disse coisas horríveis para ele, tenho certeza que aquelas palavras ainda o perturbam.

“Quem mais sofreu com sua partida foi Charlie, depois disso ele nunca mais foi o mesmo. Se tornou uma pessoa fria, o pai carinhoso não existia mais. Acho que ele me culpou por ela ter ido embora. Ele tentou cuidar de mim no começo, ele tentou mesmo. Sempre fui muito perspicaz e sabia quando as pessoas estavam diferentes e meu pai com certeza estava. O velho Charlie havia morrido, ele era como uma casca vazia desde então, sua alma estava destruída, mas mesmo assim ele se esforçava para ser um bom pai. Quando eu tinha uns oito anos ele desistiu. Não se importava mais em tentar ou mesmo em fingir. Se afastou do trabalho e passava horas olhando para um ponto qualquer na parede, se entregou completamente a depressão. Eu tinha que lembrá-lo que ele precisava comer, tomar banho... Então ele começou a beber e aparentemente melhorou muito. Ele parecia estar vivo, até que enlouqueceu. Ele passou a beber com freqüência, e ficou agressivo, ele gritava e quebrava as coisas...”

Edward ouvia tudo com atenção, mal piscava os olhos, como se um simples movimento fosse distrair sua atenção da história. Suspirei, estava chegando a parte que eu não estava disposta a contar, mas contaria. Eu precisava contar. Essa foi a única vez em dez anos que eu tinha ouvidos dispostos a escutar meus problemas. Apenas meus diários e laminas sabiam de tudo que eu havia passado, mas não era a mesma coisa. Laminas não são boas ouvintes, elas parecem rir de você enquanto você sangra.

Duvidas brilhavam nos olhos de Edward, mas ele não fez nenhuma pergunta e eu estava agradecida por isso. Parecia que estava vivenciando cada momento outra vez, minha infância com minha mãe, a primeira vez que Charlie ficou bêbado, a primeira vez que ele me agrediu.

– As primeiras vezes que ele me agrediu foram com palavras. Dizia que Renée tinha ido embora por minha causa, que eu era uma inútil, que eu não deveria ter nascido, que eu deveria morrer por ter feito minha mãe se separar dele. – fechei os olhos diante a dor que aquelas palavras ainda me causavam.

– Desgraçado. – Edward falou sob a respiração.

– Logo depois as agressões passaram a ser físicas. – algo como um rosnado saiu do peito de Edward, eu não olhei para ele, mas podia imaginar sua expressão de ódio – Eu juro a você que aquelas palavras doeram mais que qualquer soco.

– Os hematomas que eu vi... – Edward arfou.

– É. – acenei.

– Por que não me contou? Eu poderia ter te ajudado, eu teria te tirado daqui...

– Eu não podia. – balancei a cabeça de um lado para o outro. – Ele acabaria com nós dois.

– Eu teria protegido você. – Edward disse exasperado. Seus dedos tocaram meu cabelo delicadamente, seus olhos torturados analisavam meu rosto.

Eu sorri docemente para ele.

– Eu sei. – beijei sua bochecha, sinalizando que ele não devia se preocupar.

– Continue. – ele pediu – Não vou mais interromper.

Ele passou seus braços pelos meus ombros, encostei-me em seu peito. Ele beijou minha testa enquanto eu falava.

– Assim que as agressões físicas começaram, eu sabia que ninguém, jamais, poderia saber disso. Charlie nunca precisou me avisar ou ameaçar. Então eu me afastei de todos os poucos amigos que eu tinha. Que por uma bela coincidência do destino, são os mesmos que os seus.

Ele assentiu.

Era difícil acreditar, mas Mike, Jessica, Lauren, Tyler e eu já fomos bons amigos. Éramos crianças, não tínhamos problemas ou preocupações. Não nos importávamos com aparência física ou popularidade, só queríamos nos divertir juntos e gostávamos uns dos outros.

– Não me lembro bem quando eles começaram a me perseguir, eu nunca fiz nada contra eles. Foi do nada. Eu estava sentada na cafeteria da escola quando Lauren começou a me chamar de nomes ridículos enquanto os outros riam. Logo cada um deles havia me dado um apelido. Eu me sentia mal porque eu só queria ser deixada sozinha, mas quanto mais eu me afastava mais perto eles ficavam. Eu virei a piada da escola rapidamente, ninguém me respeitava, eu só queria paz, mas por onde eu andava havia alguém rindo de mim. Eu devia ter uns 10 anos quando isso começou.

“Eu não agüentava mais tanta perseguição. Em casa era meu pai que me agredia e na escola meus colegas me humilhavam. Eu me sentia perdida e vazia, eu estava sozinha, não havia ninguém que eu pudesse contar minhas aflições ou que me dissesse que em breve tudo passaria. Eu me sentia rejeitada e feia e estúpida. Sentia-me o pior ser humano da face da terra. Nem mesmo meu pai era capaz de me amar, as pessoas nem mesmo me conheciam e já me odiavam. Passei a sentir que o mundo seria muito melhor de eu estivesse morta.”

Edward estremeceu.

“Cortei-me pela primeira vez quando tinha 13 anos. Foi uma sensação maravilhosa e ao mesmo tempo aterrorizante. Eu morria de medo de sangue, chegava a desmaiar. Lembro-me de me manter respirando fundo e ritmicamente para afastar a tontura e as náuseas. Pensei que iria morrer porque o sangue não parava de escorrer, bem eu pensava que não. A verdade era que o corte era superficial, eu só estava muito assustada e surpresa por ter coragem de ter feito aquilo. Quando o sangue estancou, eu respirei fundo e fiz de novo. Dessa vez eu fechei meus olhos e aproveitei a entorpecência. A sensação era maravilhosa. Pela primeira vez eu havia encontrado paz. Nunca tinha imaginado que algo tão simples pudesse afastar toda aquela confusão de minha cabeça. Machucar meu braço me mantinha distraída da dor da alma. E isso era bom. Então fiz outra vez e outra e outra e outra, até que virasse rotina e logo depois, um vício.

– Ninguém, nunca, viu meus cortes até hoje. Sempre os mantive muito bem escondidos embaixo de meus casacos. Esse é o lado bom de morar em Forks, nunca precisei me preocupar em como escondê-los sem agasalhos. Os anos foram passando e as coisas piorando. Eu passei a me afogar em minha própria dor. Os pensamentos puritanos sobre os cortes se foram, eles me faziam bem e eu não podia deixá-los. Talvez eu não tivesse resistido tanto tempo se não fosse por eles. Eu nunca pensei em forma melhor para me expressar. Na verdade, não existe forma melhor, qualquer outra coisa é mera ilusão. Por dentro doía, então por fora tinha que doer também.

Edward estremeceu outra vez. Ele me olhava sem piscar, absorvendo cada palavra que eu dizia. Seu rosto não transmitia nenhuma emoção, mas seus olhos pareciam sofrer. Meu coração se apertou, eu só esperava que ele não se rasgasse. Ele havia reagido tão bem com tudo isso, talvez ainda estivesse em choque, assim como eu. Quanto tempo levaria até que eu desabasse a chorar e enterrasse meu rosto no chão pela vergonha de ter sido descoberta?

A intenção era que jamais descobrissem, mesmo que algumas vezes eu me sentisse desesperada para que alguém simplesmente visse e me perguntasse o que era aquilo e então eu explicaria tudo para aquela pessoa e ela me compreenderia. É claro que isso era pura fantasia, ninguém seria capaz de compreender algo que nem eu entendia. Como uma menina pequena e magra como eu conseguia guardar tanto aqui dentro era um mistério.

– Quando você veio para Forks eu tinha quinze anos. Estava acostumada com o Bullying e com os cortes, mas estava muito perdida em minha própria dor. Não sabia fingir estar bem, então eu fugia. Não sentava mais no refeitório ou conversava com as pessoas, me isolava completamente e por mais que me fizesse mal, pensava que era a melhor opção. Havia anos que ninguém falava comigo na escola, exceto para me humilhar, então quando você chegou a minha aula de biologia e sentou do meu lado eu orei para que você simplesmente me deixasse em paz. Mas você falou comigo, de um jeito que ninguém havia falado antes. Como se estivesse interessado no que eu diria. Isso me assustou, então eu fiz o que já estava acostumada, eu fugi. Você tentou outra vez e eu continuava te ignorando. Eu só estava esperando o dia em que você começaria a me tratar como todos os outros. Uma semana depois esse dia chegou, eu estava começando a achar que você era diferente deles quando você riu de mim pela primeira vez. As coisas ficaram piores depois disso.

“As perseguições aumentaram, meu pai bebia todos os dias e eu me cortava todas as noites. Com o tempo a dor passou a ser minha companheira, até que chegou o dia que nem mesmo os cortes eram suficientes para afastá-la. Pouco tempo atrás, Charlie me deu a pior surra que já levei na vida, por sorte passei apenas com algumas fraturas. Foi quando fiquei um mês sem ir à escola e você veio me ver, lembra?”

– Como esquecer? – Edward sorriu de lado.

– Eu me sentia tão perdida e sozinha, como nunca antes. Meus cortes ficaram mais fundos. Não tinha mais o cuidado de não cortar uma veia. Eu não tinha essa intenção, mas não me importaria se acontecesse. Eu refleti bastante nesse tempo. Pensei em tudo o que já havia vivido e se valeria a pena continuar, logicamente a resposta era não. Foi quando eu comecei a pensar no suicídio como uma opção e não somente um “acontecimento”. – suspirei melancolicamente. Meu coração acelerado e minha cabeça a mil, nem eu mesma estava acreditando no que estava fazendo. Revelando os segredos mais profundos de minha alma, derramando tudo para Edward. De alguma forma, eu não tinha medo. Não agora.

Meu maior desejo tinha sido realizado, eu tinha alguém com quem compartilhar meus medos, meus problemas, minhas dores. Meu único pensamento era: o que Edward está pensando agora?

– Então você chegou. Apareceu em minha vida no momento em que eu mais precisava de alguém. Confesso que morri de medo de isso tudo ser uma ilusão, pensei que em breve você iria embora. Tentei me convencer de que não havia problemas se você fosse embora. Eu já estava acostumada com as pessoas me deixando. Mas você me provou que era diferente, Edward. – eu olhei diretamente em seus olhos. Seu rosto marcado com uma expressão pensativa. – Tudo o que eu disse parece besteira, até mesmo aos meus ouvidos, mas cada palavra que citei doeram tanto como um soco no estomago. Os cortes me ajudaram por um bom tempo, mas agora eles não fazem tanto efeito, não é mais por eles que eu tenho lutado. É por você! Você tem me dado mais do que eu sempre sonhei em ter e sei como você está se sentindo mal depois de tudo o que eu te disse. Me perdoe por fazer você se sentir assim.

Lagrimas caiam dos meus olhos e eu as sequei com força. Eu estava tão cansada de chorar.

Edward POV

Minha mente ainda não havia processado todas aquelas informações, eu não sabia o que dizer. Puxei Bella para meus braços e ela enterrou a cabeça em meu pescoço. Dei um demorado beijo no topo de sua cabeça.

– Se eu pudesse, arrancaria toda a sua dor. – sussurrei.

– Mas você não pode. – ela lamentou.

– Eu posso tentar. – rebati – Nós sempre podemos tentar, Bella. Primeiro eu preciso que você entenda que nada do que te disseram é verdade. Você não é esquisita, nem feia, nem inútil. As pessoas têm a mania de julgar aquilo que é diferente delas em vez de procurar entender. Você é uma pessoa gentil, prestativa, é sincera sem nunca ser rude. É uma boa amiga para Alice e uma namorada perfeita para mim. Você é a garota mais linda do mundo, nunca deixe ninguém dizer o contrario.

Seus olhinhos castanhos brilhavam enquanto ela me fitava, então um pequeno sorriso apareceu em seus lábios. Me tranquilizou, depois de tudo o que ouvi me surpreendia que ela ainda conseguisse sorrir.

– Seu pai... – falei lentamente, uma onda de ódio me atingiu, mas não deixei que ela percebesse o quanto isso me afetava. Bella estava quebrada, ela precisava de uma base para se manter e seria eu. Eu tinha que ser forte, em todos os momentos, por ela. – Nada do que ele disse é verdade. Ele tem sorte de ter você, é um louco por não perceber isso. Você não precisa dele, você não precisa de nenhum deles.

Segurei sua mão bem apertada.

– Você vai ser muito feliz. – prometi a ela. E a mim mesmo. Nem que eu precise matar metade da população de Forks para conseguir isso. E com toda certeza, eu começaria por Charlie Swan.


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Notas finais do capítulo

Comentários, sugestões, críticas, recomendações... Tudo é muito bem vindo HAHA Não esqueçam de dizer o que acharam do capítulo e o que deve ser melhorado, isso me ajuda muito. Beijos e até o próximo.