Perfect escrita por KaahEvans


Capítulo 20
Manchados com sangue


Notas iniciais do capítulo

Oi, galera. Desculpem pela demora, eu estava sem criatividade, mas já voltei com um capítulo novinho, introdução de um novo personagem e surpresinha no final. Espero que gostem. (Menos a Mailene Silva, espero q vc odeie o capítulo. ahsuhaus mentira)



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Edward POV

Era cerca de três da manhã quando eu desisti de dormir. Eu me sentia exausto e ao mesmo tempo sem o menor indicio de sono. Por enquanto me manter deitado na cama, olhando para o teto e tentando organizar meus pensamentos bastava.

Em algum momento me senti tão perdido que não me lembrava porque estava tão confuso ou nervoso ou ansioso. Pensei ter ficado louco, mas então me lembrei do motivo de minha angustia.

Era Bella. Minha garota estava me deixando louco nessas poucas horas que a deixei sozinha em sua casa. Será que ela estava bem? Será que já estava dormindo? Será que ela tinha alguma ideia de como eu estava desesperado para vê-la? Será que eu tinha condições de vê-la agora?

Ela não ligou como prometeu que faria se precisasse de algo. Tentei me tranquilizar dizendo a mim mesmo que ela estava bem, mas algo insistia em me cutucar, lembrando-me do que vi segundos antes de dirigir pela estrada.

Eu vi linhas finas, rosadas espalhadas até onde a manga do agasalho tinha descido. Estavam frescas, eu tinha certeza disso apesar de tê-las visto por apenas um segundo ou dois. Mas, ah, se fosse apenas isso... Ah, se fosse apenas preocupação com minha desastrada Bella que tropeava em seus próprios pés. Não. Minha preocupação era que ela mesma tenha feito aqueles cortes em seu pulso.

Já havia reprimido esse pensamento uma dezena de vezes devido a dor que me causava apenas imaginar que Bella pudesse ser capaz de prejudicar a si mesma. Ela era tão doce, tão pura. Eu não podia ver o que levaria alguém como Bella a fazer isso consigo mesma. Era até mesmo um absurdo cogitar essa hipótese. Ela é saudável, bonita, leva uma vida estável, não há motivos... Eu não consigo ver nenhum motivo que pudesse levá-la a isso. Mas quanto mais eu negava, mais convencido eu estava.

Porque era claro como cristal que Bella era diferente de todas as outras garotas que eu já conheci. Ela sempre é tão reservada e quieta, sentimental, mas não gosta de partilhar seus sentimentos. Aquele rosto de porcelana, perfeito e pálido como o de uma boneca, congelado naquela expressão branca e vazia não podiam fazer nada para impedir que seus olhos dissessem a verdade. “Os olhos são espelhos para a alma”. Após conhecer Bella nunca mais ouvi nada tão verdadeiro.

Aqueles olhos castanhos e grandes, tão profundos e confusos como o oceano em dias de tempestade revelavam mais do que eu poderia arrancar dela. Eles me falavam coisas que ela não me diria. Mostravam-me coisas que eu não conseguia ver. Nenhuma palavra tinha mais força do que seu olhar intenso. E seus olhos me mostravam segredos. Segredos talvez tão grandes que não pudessem ser ditos como a própria Bella já me alertara uma vez. Isso não me afetava tanto quanto devia. Segredos não devem ser contados e sim descobertos.

Minha maior certeza no momento era que se eu desvendasse esse mistério desvendaria Bella por completo. Esse segredo é a chave para tudo o que eu não entendo sobre ela. Inclusive essa melancolia que eu descobri faz tempo ser uma parte de sua personalidade. Agora eu já não tinha tanta certeza se queria desvendá-la.

Vamos lá! Eu nem sei se minhas suposições estão certas, isso pode ser uma tremenda bobagem e eu estou aqui, quebrando a cabeça à toa. Pensei.

Ficar deitado pensando no que poderia ser feito, no que deveria ser dito não me levaria a nada. Eu não sabia o que poderia me ajudar agora, então tive uma ideia óbvia, talvez até estúpida, mas era o único meio que eu via.

Cortes nos pulsos”. Apertei a tecla enter e em um piscar de olhos várias páginas se abriram. Passei os olhos rapidamente, procurando algum titulo que me chamasse atenção a ponto de eu abrir a pagina, mas o que me chamou atenção realmente foram as imagens. Com outro clique a tela de meu notebook estava cheia de imagens de cortes, a maioria com sangue manchando a pele. Alguns frescos, outros tão antigos que só restava a sombra das cicatrizes, outros eram cicatrizes tão grossas que via-se de longe que era um corte bem profundo.

Senti um arrepio e estremeci, respirei fundo. Era como se eu pudesse ver o sangue escorrendo pelo braço de Bella, o rastro de sangue descendo por sua mão, sujando seus dedos até pingar no chão. Fechei a aba com as fotos. Eu me senti um pouco doente depois disso.

Abri a pagina outra vez após alguns minutos, abaixei a página até todas as imagens sumirem e abri todos os resultados da pesquisa.

O primeiro era um site psiquiátrico com uma longa matéria sobre depressão. Li até a metade, depois desisti devido aos termos médicos complexos.

Após a leitura senti minha cabeça latejar e pensei em tentar dormir novamente, mas minha curiosidade me venceu e eu abri outra página.

Dessa vez era um site pessoal. De acordo com a descrição se tratava de um garoto com um caso grave de bipolaridade e depressão. Estava sobre o pseudônimo de JW.

Li as postagens com a mesma atenção que eu lia as partituras do piano. Estava fascinado pela triste historia do garoto. Ele contava como eram seus dias e suas noites. Queria partilhar com alguém o sofrimento que nem seus pais entendiam.

“13 de janeiro. Era meu aniversario de 18 anos. Minha mãe bateu na porta de meu quarto ás oito da manhã, quando não obteve resposta girou a maçaneta apenas para constatar que a porta estava trancada. Ela chamou meu nome baixinho, mas eu pude ouvi-la porque tinha passado a noite com a cabeça encostada na porta. Ela gaguejou um ‘por favor’ e segundos depois ouvi seus soluços. Chorei junto com ela. Não queria que sofresse por minha causa, mas não conseguia perdoá-la por todas as vezes que precisei dela e ela não estava aqui. Escutei sua voz entrecortada me pedindo para abrir a porta, isso me lembrou do dia em que ela trouxe uma psiquiatra há dois meses. Eu não abri a porta para ela, mas respondi suas perguntas. Ela me deu um diagnostico sem nem dar uma olhada em mim. Meus pais sabiam que ela faria isso, por isso a chamaram. Isso só me deixou mais angustiado, nervoso, ansioso, triste... Não conseguia separar os sentimentos ou colocá-los em seus devidos lugares. Papai disse que os remédios me ajudariam a controlar isso, mas eu não confiava nele.”

“20 de fevereiro. Fiquei olhando para o teto pelo que pareceram horas. Cerrei os punhos para sentir a dor dos cortes recém feitos e soltei uma risada, feliz por sentir a dor acalmar o resto das emoções. Eu não agüentava mais sentir tantas emoções, todas ao mesmo tempo. Cortar alguma parte de meu corpo estava ajudando, eu sentia que isso se tornaria um hábito. Era meio patético, pois eu costumava menosprezar quem fazia isso. Pensava que era um sinal de fraqueza, um meio de fuga que só te levaria para o mesmo lugar. Mas não é assim. O que prevalece não é a dor. O que prevalece é a sensação de vitória quando você percebe que finalmente está no controle de si mesmo, de seu corpo, de suas emoções. Eu nunca estive no controle e aproveitaria ao máximo essa sensação.”

Quanto mais eu lia, mais me solidarizava com JW. Pude sentir sua dor quando estava sobrecarregado com as emoções e não tinha ninguém com quem contar. Seus pais viviam trabalhando e ele não tinha amigos. Quanto mais eu lia, mais o comparava com Bella. Não tinha como não compará-los. Eles tinham tantas coisas em comum. Acolheram a solidão, mas não queriam ficar sozinhos.

Faltava pouco tempo para amanhecer quando meus olhos começaram a pesar, decidi tomar um banho quente e depois tentaria dormir. Com uma toalha enrolada na cintura, peguei minhas roupas do chão do banheiro. Foi quando uma folha de papel caiu do bolso de minha calça.

Recolhi-o e lembrei-me que aquele papel havia caído do livro de Bella ontem à tarde. Desdobrei-o e logo notei que algumas palavras estavam manchadas, a folha enrugada como se estivesse molhada. Logo que comecei a ler, tudo começou a se encaixar. Cada duvida se transformou em certeza e minha curiosidade em medo.

"O pesadelo de uma bela cor cintilante
o prazer opaco e pontiagudo.
O mórbido querer que o mundo esconde,
a hipocrisia dos mais sórdidos,
a liberdade como um vicio,
o vicio chamado de doença
a doença que ninguém escolhe,
a escolha que todos condenam,
o condenado que pede ajuda,
a ajuda que vem de um prazer
opaco e pontiagudo.
No pesadelo de uma bela cor cintilante..."

As laminas na gaveta de Bella, a melancolia sempre tão presente em seus olhos, o segredo que ela não podia dizer nem para mim, tudo passou a fazer sentido.

Assim como ontem, entrei em um estado em que não me dava conta de meus próprios movimentos, acho que despertei quando me peguei dirigindo meu carro com apenas uma calça jeans e uma camiseta. Estacionei em frente à pequena casa branca de Bella, mas não saí do carro. Era tão cedo, ainda estava escuro. Ela provavelmente estava dormindo.

Fechei meus olhos e deixei minha cabeça tombar contra o volante. Eu me sentia tão perdido. Como eu diria a Bella que descobri a verdade? Como eu pediria que ela me contasse seus medos e suas angustias. Parecia tão mais fácil dar a volta e tentar dormir novamente. Mas eu não podia adiar isso para sempre. Um dia eu teria que enfrentá-la e ela teria que saber o que eu sei. Isso já foi adiado por tempo demais.

O dia foi clareando lentamente, eram 6:15 quando saí do carro. Meus passos lentos e inseguros, meus pensamentos duvidosos. Em vez de bater a porta, girei a maçaneta, com imensa surpresa notei que estava destrancada. Dei uma olhada na sala e na cozinha, mas não havia sinal que Bella já estivesse acordada.

– Bella? – chamei subindo as escadas. Não obtive resposta.

A porta de seu quarto estava aberta, coloquei minha cabeça para dentro, mas ela não estava lá também.

– Bella? – chamei de novo, dessa vez mais alto.

Estava prestes a descer novamente quando ouvi um som, era como um grito sufocado, cheio de dor. Eu jamais escutara um som como aquele. Um arrepio na espinha me fez estremecer.

Meus passos agora eram rápidos e altos, eu queria ser notado. Conforme eu andava o som ficava mais alto e mais freqüente, hesitei um segundo na porta do banheiro antes de abri-la totalmente.

Lá estava ela. De um jeito que eu jamais gostaria de vê-la.

O som vinha de Bella. Observei como ele saia de sua boca, parecendo rasgá-la por dentro. Minhas mãos se apertaram. Lágrimas caiam uma atrás da outra. Trinquei os dentes. Ela abriu os olhos.

Um silencio perturbador se fez ali. Os soluços de Bella estavam presos, seus olhos arregalados me olhavam apavorados. Um tilintar quebrou o silencio. Desviei meus olhos dela para ver a lâmina brilhando no chão manchado. Manchado de vermelho.

A boca de Bella se abriu, percebi que ela tentava falar algo, mas não conseguia. Eu também não conseguia dizer nada. Seus braços estavam manchados assim como o chão. Manchados com seu próprio sangue.


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Notas finais do capítulo

Então, como foi? Não me matem se não gostaram, faz parte. AHUSAUSUAHS Deixem seus reviews, eles me dão bastante incentivo para escrever. Assim que tiver um tempo vou responder os reviews q restam. Obrigada por tudo galera. Até o próximo.