Natsuki estava em sua aula de piano, como sempre fazia todos os dias letivos. Tudo estava bem, porém tinha alguma coisa errada na classe aquele dia, e essa coisa era que seu melhor amigo e companheiro de quarto Syo, havia faltado.

“Bem, quando eu saí do quarto ele estava dormindo, achei que fosse acordar logo. Ah, aquele Syo, deve ter perdido a hora de novo.”

A aula acabou e Natsuki foi direto para o quarto acordar o amigo, não queria que ele perdesse as aulas da tarde também. Embora parecesse meio irritante, aquele era o modo com que ele demonstrava sua preocupação com Syo. Na verdade, ele não diria que era bem uma “preocupação”, era algo mais, mais significativo, mais profundo do que só preocupação, talvez fosse... amor.

“O que? Haha, não, eu não posso estar “amando” o Syo, ele é um garoto assim como eu, não é possível. E além do mais, namoros são proibidos aqui no colégio! Mas espera, quem falou em namoro? Ah Natsuki, pelo amor de Deus, pare de se contrariar em seus próprios pensamentos!”

Chegando perto do quarto, Natsuki conseguiu ouvir uns soluços baixos e tristes. Alguém estava chorando, mas por quê?

Ao se aproximar da porta, viu que o choro vinha do quarto. Era Syo, mas Natsuki não entendia. Porque ele estaria chorando?

–S-Syo? Posso entrar?

–Vai embora! Não quero que ninguém me veja assim!

Desobedecendo ao amigo, o maior entrou no quarto e viu que Syo estava deitado na cama, abraçando o travesseiro e tentando disfarçar o choro. Mas aquilo foi em vão, Natsuki já havia ouvido, e agora queria saber o porquê daquilo estar acontecendo com o menor. Sentou-se na cama e esperou o outro enxugar as lágrimas e diminuir o choro.

–S-Syo, o que aconteceu?

–Não é da sua conta, idiota!

–Por favor, eu quero te ajudar. Me diz o que aconteceu? – dizendo isso, Natsuki pousou a mão no ombro do menor, que havia sentado ao seu lado e encarava o chão com raiva.

Porém a expressão do rosto de Syo mudou ao sentir a mão do amigo em seu ombro, ele se sentiu frágil, fraco, e começou a chorar de novo, colocando as mãos nos olhos para não ter que olhar para Natsuki na situação em que estava.

–Syo...

–N-Natsuki, m-me diz... Qual o problema comigo? Porque eu sou assim?

–Como assim? Que problema? Eu não estou vendo nenhum problema em você, Syo.

–P-porque eu sou assim? Ridículo? Todos os meninos são altos, fortes e bonitos, e eu sou essa coisa pequena e fraquinha! – a essa altura, Syo estava quase gritando as palavras, e Natsuki parecia sentir a dor do amigo, não sabia como, mas ele o entendia.

–Syo... por favor, não diga uma coisa dessas de si mesmo...

Natsuki saiu do lado do amigo e se ajoelhou no chão, na frente dele, que continuava com as mãos nos olhos, que já deviam estar vermelhos e inchados depois de tantas lágrimas. O maior pegou levemente nas mãos de Syo e as abaixou. O menino se assustou quando sentiu o calor das mãos de Natsuki, pois não sabia que ele estava tão perto, e corou violentamente.

–N-Natsuki... – murmurou entre o resto de choro que tinha.

–Sabe Syo, eu discordo do que você disse sobre sua aparência. Se você quer saber, eu te acho lindo, lindo mesmo!

–S-Sério? – ao ouvir aquelas palavras, o menor corou mais ainda, mas parecia ter ficado mais alegre.

–É claro! Eu não sei de onde você tirou essa ideia de ficar se rebaixando perto dos outros meninos só porque eles são maiores ou mais fortes. Isso não importa, sabia? O que importa é que você tem uma personalidade incrível, e eu amo isso!

Natsuki se aproximou do menino e delicadamente encostou os lábios nos dele, enquanto ambos seguravam as mãos, um sentindo o calor do toque do outro. Syo estranhou, mas o amigo fora tão calmo e delicado que ele acabou cedendo ao beijo que, mesmo que ele não soubesse, era o que mais precisava naquele momento.

Natsuki se afastou e viu que o menor estava corado e envergonhado, mas já não chorava e parecia estar mais tranquilo, o que diminuiu sua preocupação.

–Syo, eu... m-me desculpe por isso, tá?

–N-não precisa se desculpar, Natsuki, t-tudo bem.

–Você... realmente está bem com isso? Quer dizer, eu sou um garoto e te beijei.

–Mas, é você. Então eu estou bem, você me ajudou muito quando eu precisava, eu gosto de você, Natsuki.

Ah, aquelas palavras vindas de Syo eram coisas que o maior achava impossível de serem ouvidas, ele estava muito feliz. Feliz demais pra pensar nas regras da escola, feliz demais pra considerar o fato de que os dois eram garotos, feliz demais para pensar em qualquer coisa que atrapalhasse os dois.

–Ah Syo, eu te amo!

Natsuki abraçou o pequeno, que correspondeu e abraçou o amigo, segurando sua camisa com todas as forças, como se nunca mais fosse soltar. Não, ele não queria soltar, queria ficar lá para sempre e sentir o calor e o cheiro de Natsuki, queria-o só para ele, para sempre.

–Syo, eu sei que às vezes eu sou bem irritante, mas é a minha maneira de demonstrar o que eu sinto por você, me desculpe se eu te deixo nervoso.

Syo acariciou os cabelos do maior, confortando-o.

–Tudo bem, tudo bem. Você não me incomoda, eu gosto muito de você, Natsuki.

Naquele abraço, Syo sentia que os corações dos dois estavam, de alguma maneira, conectados. E ele amava essa sensação, era uma coisa que nunca havia sentido antes, com ninguém. Só com Natsuki, e era com ele que Syo queria passar o resto de sua vida.

–N-Natsuki, fique aqui, comigo. Para sempre.

–Como quiser, Syo.