Finding a Dream escrita por Loren


Capítulo 9
Os Grandes Reis e Rainhas




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Dois soldados estavam em um bote. Um remava sobre a água calma e límpida e o outro segurava um arco e flechas de um estilo mais avançado. Os dois estavam com os pelos da nuca eriçados e os nervos a flor da pele. Não era nada amistoso para os telmarinos irem para perto das ruínas de Cair Paravel. Nas florestas fechadas e apertadas que muitos anos atrás eram somente campos e praias para se poder passear ou fazer um piquenique, diziam que ali viviam fantasmas narnianos do passado. O soldado da arma tinha os olhos pregados em cada canto da praia a frente e a floresta do lado. O soldado dos remos quase se esquecia dos remos se suas mãos não estivessem fazendo seu trabalho automaticamente.

–-Ele não para de encarar.- ele disse olhando para o pequeno ser com as mãos amarradas nos pulsos, a boca amarrada com outro pano apertando a pele áspera e pequeninas manchinhas de sangue no rosto.

Tinha um olhar duro e poderia até dizer, assustador. Como se a qualquer momento, fosse rasgar aqueles panos e pulasse em cima dos soldados.

–-Então não olha.- disse o outro soldado.

–-Aqui já está bem longe.- disse o outro soldado após um silêncio.

Os dois soldados soltaram o que tinham em mãos e se puseram de pé no bote e pegavam o pequeno ser pelos pés e braços. Quando estavam prestes a jogá-lo na água, algo atingiu a madeira com total força. Os três olharam para a praia e viram o que parecia cinco pessoas. Uma estava de pé com outra flecha pronta para soltá-la.

–-Larguem ele!- ela gritou enquanto dois tiravam suas espadas.

Os soldados trocaram um olhar e largaram o anão como se fosse um simples objeto na água. Um soldado pegou sua arma, mas não teve tempo para usá-la. Outra flecha o atingia no peito e ele caiu na água. O outro soldado o seguiu e fugiram desesperados para a floresta, acreditando que os mitos de fantasmas fossem reais. Pedro saltou na água e nadou até o fundo para ajudar o anão que descia cada vez mais e mais por conta do peso que tinha nos pés. O pegou com um braço e deu impulso com os pés no chão de pedras. Enquanto o levava para a areia, Edmundo voltava trazendo o bote para a beira da praia. Pedro deixou o anão no chão e Lúcia se ajoelhou com o punhal em mão e cortou as amarras das mãos grandes. O anão cuspiu água enquanto voltava a respirar normal. Susana tinha um sorriso orgulhoso de si mesma e por ver que o anão ainda estava vivo, assim como os outros. Assim que o anão se pôs de pé, tinha uma expressão mais desagradável ainda e jogou as cordas com raiva no chão.

–-Larguem ele?! Foi o melhor que pensou em dizer?- ele disse com um tom de desgosto na voz.

–-Um simples “obrigada” já seria o bastante.

–-Estava me afogando muito bem sem sua ajuda.- ele disse apontando para o rio.

–-Devíamos ter deixado.- disse Pedro e o anão abaixou um pouco a cabeça, mas não deixou de ver a espada que ia para a mão daquele que falou.

O anão arregalou os olhos e deixou a boca pender em um “o” de surpresa. A espada tinha o cabo de ouro com a cabeça de um leão.

–-Só pode ser brincadeira.- ele murmurou.- São vocês? Os Reis e Rainhas do passado?

Pedro se adiantou com a mão estendida e a voz um tanto orgulhosa.

–-Sou o Grande Rei Pedro, O Magnífico.

–-Podia ter omitido a última parte.- disse Susana causando risos para todos, mas o anão não riu.

Observava algo por trás das duas meninas e dos dois meninos que tinha se mantido em silêncio os últimos minutos. Não conseguiu encarar o anão de volta, mas este observava cada vez com mais intensidade e mais raiva. Até que ele se virou e começou a andar para longe.

–-Ei! Espera! Aonde vai?- perguntou Lúcia.

O anão parou de andar e virou-se para eles mostrando a face avermelhada por entre os fios da barba e os olhos faiscando.

–-Para bem longe de mentirosos!- ele gritou.

–-Mentirosos? Por que seríamos mentirosos?- perguntou Edmundo arqueando uma sobrancelha.

–-Reis e Rainhas do passado? Impossível!

–-Por que...

–-Ela!- ele apontou para Irina e interrompendo Susana.- Expliquem-me porque nunca ouvi antes de uma menina loira nas histórias?

Todos se viraram para a loira que tinha o rosto vermelho e apertava as mãos com força. Tinha os olhos arregalados e os lábios secos. Olhou para cada rosto antes de fazer qualquer coisa. Susana a olhava como se ela tivesse a culpa, Lúcia olhava para Susana ou Pedro, esperando que os irmãos mais velhos explicassem para o anão a verdade. Pedro e Edmundo a encaravam de um jeito que ela não podia explicar, mas era como se os dois estivessem perdidos em pensamentos e Susana os olhou com reprovação total. Vendo que ninguém parecia disposto a dizer algo e que o anão estava próximo a ir embora dali, ela se adiantou e falou com a voz baixa.

–-Senhor...

–-Eu não a ouço.- ele disse rude.

–-Senhor!- ela disse mais alto agora e limpou a garganta antes de falar.- Eu não os conheço.

–-Como?- ele arqueou uma sobrancelha.

–-Quer dizer, eu não os conhecia até as últimas horas... Eu... eu nunca havia vindo aqui antes!

–-Primeira vez em Nárnia? Também é uma filha de Eva? Ou uma telmarina?- ele perguntou curioso.

–-Telmarina?- perguntou Edmundo voltando de seus pensamentos.

–-E telmarinos.

–-Em Nárnia?

–-Onde estiveram os últimos cem anos.

–-Isso é uma longa história.- comentou Lúcia e o anão abanou a cabeça em reprovação.

Pedro observou o anão espremer algumas partes das roupas tirando a água ignorando-os desta vez.

–-Ainda não acredita, verdade?

O anão levantou a cabeça olhando atentamente para o rosto jovem do loiro. Apenas deu de ombros. Não. Ele não acreditava. Eram jovens demais e as armas poderiam ser réplicas bem feitas. Mas o que fazia o anão desconfiar, era a loira. Ouviu as histórias dos grandes Reis e Rainhas e lembra-se de uma garota tê-los acompanhado. Mas a garota tinha cabelos igual a noite, aquela a sua frente, tinha cabelos igual ao sol. Pedro retirou a espada da bainha fazendo a lâmina deslizar com suavidade.

–-Melhor tirarmos isso a limpo.

–-Pode se arrepender rapaz.- advertiu o anão.

–-Eu não. Ele.- disse apontando com a cabeça para o irmão.

Edmundo pareceu sorrir por um momento. Parecia satisfeito ou até mesmo feliz pela oportunidade de demonstrar sua força. Seu título fora O Justo, mas isso não significava que teria menos força. Mas, ironicamente, parecia ser sempre tratado inferiormente. Pedro emprestou sua espada para o anão e Edmundo retirou a sua e a segurou com as duas mãos. Irina não entendia o que iria acontecer, até Lúcia a puxá-la para perto de si. O anão engoliu em seco e segurou a espada com receio, o peso da arma a fez cair ao chão e as costas do anão se encurvarem. Pedro deu dois passos para trás e Edmundo olhou divertido para o irmão. O anão abaixou a cabeça, como se estivesse com medo ou nervoso, mas do contrário, levantou a espada com total facilidade e as lâminas se chocaram fazendo um barulho agudo.

O susto fora inevitável, afinal, até então parecia que o anão era fraco demais e pequeno demais para um duelo de espadas. Mas o que os Pevensies não se lembravam e Irina não sabia, era que mesmo que os anões fossem tão pequenos, fraqueza era algo que eles não possuíam. O anão atacou com a espada em horizontal, mas o moreno se abaixou a tempo. Mas o anão fora mais rápido e batera em seu rosto com o cabo da espada.

–-Edmundo!- gritou Lúcia assustada. Irina engoliu o grito.

–-Você está bem?- perguntou o anão irônico enquanto o moreno se recompunha.

O anão atacou novamente em horizontal, mas o moreno desviou e bateu nas costas do anão com a lâmina, mas sem machuca-lo muito. O anão quase caiu para frente, mas conseguiu se segurar. O moreno já estava pronto para o próximo ato, olhou para os irmãos e sorriu de leve para demonstrar que estava bem. Lúcia riu baixinho, mais aliviada ao ver que o irmão estava bem e ver o anão um pouco desajeitado. O moreno tinha somente um pequeno corte no canto da boca, aproveitou e arriscou um olhar para loira sem saber por quê, mas não se arrependeu. Ela sorriu mas logo abaixou o olhar totalmente envergonhada, e deu graças aos céus por ele ter que voltar a sua luta, assim ele não veria suas bochechas queimadas. Aquilo não passou despercebido para alguém.

O anão voltou a atacar por cima e o moreno defendeu-se, empurrando a lâmina do anão para trás e fazendo com a sua uma volta pela cabeça. Logo o anão atacou por baixo, mas o moreno pulou na hora certa. Rapidamente, o anão tentou atacar por cima, mas inutilmente, atacou por baixo, inutilmente. O moreno fez com que as duas lâminas se enroscassem por alguns segundos e isso distraiu um pouco o anão. As espadas começaram a se chocar cada vez mais e cada vez com mais frequência. Em cima e embaixo, em cima e embaixo, em cima e embaixo e então...

Com um último golpe certeiro, a espada do anão caiu para longe de seu alcance e agora ele estava indefeso aos pés do Rei Edmundo, o Justo. Em sua face, nada mais que a surpresa e descrença do que estava acontecendo aos seus olhos. Como poderia um garoto, um garoto fedelho, manejar uma espada como um guerreiro? Por um momento, quando viu a espada do loiro pensou que fosse os Grandes Reis e Rainhas, mas depois de ter visto a menina, e pensar um pouco mais, viu que era besteira. Mas ao ter a espada do loiro em suas mãos, percebeu que era real e o talento do jovem... oh céus! Não podia ser mera coincidência. O anão caiu de joelhos.

–-Com trinta diabos!- ele olhou para os outros.- Não é que a trompa funciona mesmo?- ele disse mais para si do que para os outros, mas alto o suficiente.

–-Que trompa?- perguntou Susana, enquanto Edmundo abaixava a espada.

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O velho voltava para sua sala um pouco receoso de qualquer um que respirasse o mesmo ar que ele. Ninguém era confiável. Levava alguns papéis em seu braço esquerdo e por trás das lentes em formato de lua cheia dos pequenos óculos, viu a porta do seu escritório entreaberta. Seu coração palpitou um pouco mais rápido do que o normal, mas ele seguiu em frente e entrou com toda a calma que tinha que ter naquele momento. Ali, viu um homem alto e que talvez, no passado, fora bastante forte. Ali já se via que os anos tinham se passado bastante, os músculos pareciam escondidos e a barriga já parecia começar a crescer. O homem virou sobre os pés e a luz mostrou o rosto arrogante e pretensioso.

–-É uma biblioteca enorme, doutor.- ele disse segurando um livro.

O velho engoliu em seco, mas andou até sua mesa e deixou os papéis.

–-Procura algum livro em especial, senhor?

O homem desceu os poucos degraus que levavam para a biblioteca e se pôs em frente a mesa.

–-Acho que já encontrei o que queria.- ele fez um ato rápido e tirou uma flecha longa com penas vermelhas e a cravou em cima de uma página de um livro.- Em um dos soldados.

O velho tirou os óculos de lua cheia e olhou com atenção para aquelas penas um tanto familiares em sua imaginação. Instantaneamente, seus olhos desceram pela longa flecha e encontraram um desenho antigo de dois homens e duas mulheres cavalgando. Uma das mulheres tinha uma trompa. O velho olhou para o homem com um canto da boca levantada. O homem sentou-se na mesa e pôs os pés na mesa muito a vontade.

–-O que sabe, sobre a trompa, da Rainha Susana?

–-Dizem que ela era mágica.

–-Mágica?- repetiu o homem incrédulo, mas sem demonstrar isso.

–-Os narnianos acreditavam que podiam chamar seus Reis e Rainhas do passado. Pelo menos, era essa a superstição.

O homem levantou-se bastante rápido e aparentemente nervoso.

–-E o que Caspian sabe sobre essa superstição?

–-Milorde, o senhor me proibiu de mencionar lendas antigas.- disse o velho com um tom divertido na voz. O homem riu brevemente.

–-Eu proibi mesmo.- disse o homem e atrás deles, outros homens apareceram com a expressão nada agradável. O velho voltou-se para o homem.

–-Eu digo o seguinte, se Caspian conhecer sobre a magia profunda, meu senhor tem bons motivos para ficar nervoso.- avisou o velho com um sorriso escondido entre a barba emaranhada.


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Notas finais do capítulo

haaai! Nossa véi! Muito tempo que não atualizo esta fanfic! É porque, realmente, eu estava sem criatividade e umas coisas me deixaram para baixo nos últimos dias, maaaas, a inspiração parece estar voltando e estou disposta a tentar voltar.Espero que tenham gostado ><
Beijos e abraços apertados da Loren



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