29/12/06

“Passou bastante tempo. Muito tempo. Eu não estava muito bem para voltar a escrever. Além de que minha mãe passa ocupando todo o meu tempo. Ela me tirou da escola depois que Helena sumiu. Eu tentei pedir para ela não fazer isso, mas não adiantou muita coisa. Eu nunca tive muita voz para alguém me ouvir. Só a minha irmã conseguia fazer isso. Sinto muita falta dela. Muita mesmo. Mamãe e toda a vila desconfia que ela tenha fugido, mas ninguém sabe para onde. Eu também acho que ela fugiu, mas tenho um lugar em mente. Apesar de não ter contado a ninguém. Ontem visitei uma velha amiga da minha irmã. Júlia. Ela estava bem. Casada, com dois filhos e uma bela casa. Na verdade, eu estava fugindo de minha mãe. Ela está pensando em me casar e disse que tem alguns duques ou marques atrás de uma esposa. Francamente, eu tenho 14 anos! Por que eu tinha que viver nesta época maldita e hipócrita? Malditos feudos! Tinha ouvido a conversa de manhã cedo de uma tia minha e minha mãe. “Fernanda, agradeça-me irmã! Ouvi dizer que um dos duques procura uma esposa e adivinha? Consegui fazer com que Irina esteja como uma das opções! Oh querida irmã, é agora que nossa família sairá da lama!” Minha mãe nada disse. Somente assentiu com a cabeça sem emoção no rosto. Ouvi também que um dos duques iria para lá de tarde. Fugi para ele ir embora. Eu sabia que uma hora teria que encara-lo, mas eu só...fugi. Acabei parando na casa de Júlia. Ela e minha irmã nunca foram muito intimas. Minha irmã era mais amiga de Úrsula. Não sei o que houve com esta também. Sumiu junto com minha irmã e não voltou nunca mais. Eu não gostava muito dela, mas ela era importante para minha irmã. Não gostávamos de falar disso, acabávamos brigando. Mas sinceramente, preferia tê-la todos os dias brigando ao meu lado do que este buraco que está em mim agora. De fato, foram poucos anos juntas, não sei bem explicar, mas...ah eu a amava! Minha irmã! A única que me entendia! A única coisa valiosa que eu tinha! Minha mãe? Eu já a perdi! Não é mais a mesma. Ela só trabalha e trabalha para colocar comida na mesa e me manda fazer as tarefas de casa. Depois de ter conversa sobre banalidades com Júlia (ela não ousou tocar no assunto de minha irmã), voltei para casa. Minha mãe correu e me abraçou quando me viu. Ela estava chorando. “Nunca mais faça isso Irina! Nunca mais! Agora, vá para o quarto!” Por um momento, achei que ela fosse me abraçar e iríamos passar um momento juntas. Eu fui para o quarto e não bati a porta. Eu ainda a amava e para ser franca, ela ainda não superou a perda de Helena. Deitei na cama e imaginei onde ela estaria. Uma lágrima escorreu quando eu pensei que poderia estar junto a ela em Nárnia. Sim. Acho que minha irmã está em Nárnia. Tenho certeza na verdade. Naquele dia, na floresta, tenho certeza, que Nárnia buscou minha irmã de volta.”

30/12/06

“Acho que esqueci de explicar. Como eu te encontrei, querido diário? Nunca te perdi para começar. Só havia te deixado em uma gaveta. Havia perdido toda vontade de escrever e ler com o sumiço da minha irmã. Além de que minha mãe proibiu os livros. Nem sei porque estou escrevendo de novo. Acho que para não perder o costume da escrita ou para superar todo esse drama. Ah sim! Eu quase li o livro. Quase. Consegui pegar ele do armário da minha mãe. Li até a parte que o menino Pedro e as meninas Susana e Lúcia chegaram no acampamento de Aslam. Assim que Aslam apareceu, minha mãe arrombou o quarto, pegou o livro e o queimou no quintal. Agora, eu só peço todos os dias para que Aslam me leve para Nárnia e eu possa encontrar minha irmã. Mas infelizmente, acho que isso só será mais um mero sonho meu.”