Finding a Dream escrita por Loren


Capítulo 22
Adagas


Notas iniciais do capítulo

haaai



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–-Por favor, majestade, diga-me logo o que quer, que me retiro mais rápido que um guepardo.

–-Por que a pressa, Irina? Para onde você pretendia ir? Ia fugir?

–-Não tenho do que fugir. Apenas queria ir embora.

–-Não tem um porquê para ir embora.

–-Também não tenho um porquê para ficar.

Ele suspirou. Passou a mão pelos cabelos e pousou-a na nuca. Ela não olhava para ele. Observava a campina fria e a neblina de manhã cedo já se dissipava com o passar das horas. A Rainha Gentil treinava os arqueiros na frente da coisa. Do lado destes, os espadachins treinvavam com espadas de gume tão afiado que poderia tranpassar o corpo de um homem sem travar. A loira e o moreno estavam ao lado da coisa, perdidos no mar branco flutuante que rodeava o local.

–-Você me assustou..-ele confessou baixinho.

Ela o fitou com as sobrancelhas franzidas.

–-Por quê?

–-Por um momento, realmente pensei que você ia embora.

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Após o moreno ter organizado os treinos e estudado o castelo junto com o príncipe, procurou os materiais que precisava para treinar a loira, mas quando a encontrou... Estava limpa e usava um novo vestido. Desta vez, verde com detalhes brancos no busto até a cintura e mangas coladas. Combinava com os olhos dela. Arrumava uma trouxa com apenas as roupas sujas e o pão e a água que ofereceram para ela depois do banho.

–-Irina? O que está fazendo?

–-Vou embora.- ela não se virou para ele.

–-Para onde?- ele deixou a sacola que carregava no ombro cair. O barulho de metal ecoou no cômodo.

–-Qualquer lugar.

–-Não pode ir. É perigoso. Estamos em..

–-Em quê? Em guerra?- ela se virou para ele com a mesma expressão que o assustava.- Eu sei, mas não posso fazer nada. Se eu ficar, atrapalharei e morrerei. Mais vale eu tentar sobreviver já que não ajudarei de qualquer maneira.

–-Está sendo egoísta!- ele estava atônito com a ação da loira.

Ela, definitivamente, não devia estar bem da cabeça. Vendo aquela irritação, aquela raiva e aquele rancor incrustados nos olhos dela, ele conseguiu desvendar aquele mistério que rondou sua cabeça, dias atrás. Lembrou-se de uma tarde com o sol escondido sobre as copas das árvores, quando a loira tentava escobrir algo do passado da irmã em Nárnia. Ele não queria contar. Não foi porque não contou por conta de sua preocupação, mas porque havia se distraído com os olhos dela. Percebeu que aqueles olhos, dias atrás, eram parecidos com o da sua irmã mais nova, Lúcia. Ele conseguiu decifrar o que era aquilo no momento em que viu que ela não estava mais ali. Esperança. Irina havia perdido sua esperança de pura criança quando a realidade bateu contra sua alma. Não existe nada mais puro do que o espírito de uma criança, meu caro leitor. Irina foi uma das poucas pessoas neste mundo que conseguiu sustentar as preciosidades desse espírito em sua alma. Porém, sua alma foi roubada pela realidade do mundo, deste mundo grotesco que tem como comparsa a desprezível realidade. Aquela que rouba seus sonhos. Edmundo decidiu que não deixaria isso acontecer. Todos os adultos que conhecia haviam perdido esse previlégio. Ele não perdeu. E não deixaria que ela o perdesse como tantos outros infelizes do mundo.

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–-Não importa mais o que você pretendia fazer antes, agora, o que importa, é o que vou te ensinar agora. Preste atenção.- ele disse se ajoelhando e abrindo a sacola.

Ela tentou espiar, curiosa, mas nada conseguiu identificar. Ela balançou a cabeça negativamente. O que ele queria, afinal? Ela não prestava para nada. Isso era um fato. Nem mesmo para as briguinhas na escola que tinha com meninos e algumas meninas ela conseguia vencer, imagine tentar defender o couro em uma guerra. Ela era sempre a primeira a sumir nas briguinhas. Corria tão rápido quanto um coelhinho fugindo da raposa. Subia as árvores com uma agilidade impressionante, esperava o sol sumir e voltava para casa, dizendo que havia se divertido muito. Na verdade, ela sempre ficava pendurada em galhos lendo livros que ela tinha um desejo interminável que não terminasse jamais.

–-Muito bem- ele disse se levantando e batendo as palmas-, antes de mais nada, vamos deixar claro que..

–-Não é necessário deixar nada claro, majestade! Eu não vou conseguir! Eu desisto de tentar alguma coisa! Eu não quero saber me defender, não vou aprender, morrerei de qualquer forma! Me deixe ir embora! Deixarei muitas pessoas felizes com minha partida!- ela disse irritada e cansada.

–-Irina, temos três dias para o ataque. Não é necessário que você , somente quero que você saiba se defender se a guerra chegar até aqui. Talvez.. eu não esteja aqui para te cuidar.- ele disse abaixando os olhos.

Irina engoliu em seco. Talvez ele não seja sincero, talvez seja realista, ou as duas coisas, ela pensou consigo mesma sobre o moreno. Não que odiasse quando ele fizesse isso, ele era assim. Era do feitio dele. Mas.. doía tanta verdade. Verdades doem. Perfuram como ferroadas de abelha ainda mais as esperanças que tentam sobreviver.

Não. Pediu para eu cuidar de você. Assim que chegasse a Nárnia. Porque...talvez ela não estaria presente para isso.”

As palavras de Susana voaram em sua mente. Abaixou os olhos. Estava sozinha. Novamente. Suspirou. Nascemos sozinhos e morremos do jeito como viemos ao mundo, ela pensou com amargura.

–-Está bem.- ela por fim se rendeu.

Ele arregalou os olhos ansioso para a continuação das palavras dela.

–-Fui infantil, tens razão. Se eu for embora sem saber algo, morrerei. Se eu ficar, morrerei. Ao menos, morrerei tentando.- ela levantou o olhar. Brotou uma determinação na loira, que nem ela imaginava que poderia ter.- Quero fazer algo. Qualquer coisa. Tenho que me defender. Não tenho.. mais ninguém para fazer isso por mim.- ela abaixou o olhar para a sacola.- Não sou mais criança. Há muito tempo.

Ele assentiu. Virou-se e ajoelhou-se. Ela respirou fundo. Sentia a barriga dar cambalhotas e pedras de gelo se revirarem. Ele voltou com as mãos ocupadas por dois estojos pequenos de couro, entretanto compridos.

–-Estas- ele disse estendendo para ela-, serão suas armas. Sua defesa.

Ela pegou um estojo e pegou o cabo, puxando lentamente, por entre a neblina e as nuvens grossas, uma fina luz escapou e brilhou na arma de trinta centímetros. O gume era afiado e fino. Era leve, contudo perigosa. Irina tocou de leve na ponta e sentiu uma leve dor. Pegou pelo cabo de madeira e continuou a observar a arma com curiosidade.

–-Parece uma simples faca, mas o nome correto é adaga.- ele disse e tirou a outra adaga do estojo.- Tome.

Ela deixou o estojo que segurava cair e pegou a outra adaga. Girou as duas armas nas mãos. Gostou da sensação de ter algo com o que se defender e mais ainda por conseguir segurá-las sem deixá-las cair. Mas, ainda assim, não entendia como simples adagas como aquelas poderiam impedir que seu pescoço fosse cortado com um machado ou uma espada.

–-Gostou?- ela assentiu.- Essas são usadas, geralmente, para atirar. Mas no seu caso, são perfeitas para serem usadas em uma luta de corpo a corpo. Em compensação- ele pegou as adagas de voltas e deixou-as em cima de um pano do lado da sacola e revirou até achar outro instrumento–, se prefere algo mais grosso para se defender ou perfurar...

Estendeu para ela, uma adaga maior já sem o estojo. Era mais pesada e o gume mais grosso que os outros.

–-Parecem ser..boas. Mas.. em que isto pode me ajudar? Somente porque é mais leve que a espada, não significa que sei como manejá-la. Não tenho habilidade para isso.- ela disse desviando o olhar da arma no final para encarar as duas orbes castanhas.

–-Na verdade, você tem.- ele discordou.

–-Perdão, majestade?

–-Hoje, de manhã, eu observei tudo, Irina. E, por favor, pare de me chamar de majestade. Me chame de Edmundo, como sempre foi.- ele definiu e ela corou nas maçãs do rosto. Não imaginou que a forma como o chamasse, faria alguma diferença.- Quando você estava com aquele telmarino, eu travei. É verdade. Eu juro, pela juba do leão, que eu ia lhe ajudar. Eu juro. Mas.. foi tudo tão rápido..- ele disse e abaixou a cabeça, como se estivesse vendo tudo de novo.- E aí é que está!

Ela arqueou uma sobrancelha confusa.

–-Foi tudo rápido. Porque você foi rápida. Irina, você tem algo de grande ajuda e que pode salvar sua vida.- ela continuou quieta.- Agilidade. Velocidade. Pensamento rápido. Se você aprender a mexer com elas- ele apontou para as adagas-, poderá sair vitoriosa.- ela abaixou o olhar para o próprio reflexo na adaga. Ele sorriu de lado, ao ver os lábios dela se curvarem para cima e seus olhos brilharem.

Vitoriosa. E viva, ela pensou, esperançosa.

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Notas finais do capítulo

Curtinho, eu sei. Mas espero que tenham gostado. Desculpem pela demora. A partir de agora, tentarei fazer capítulos mais curtos, porém, devem ser postados com mais frequência.Beijos e abraços apertados da Loren



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