Finding a Dream escrita por Loren


Capítulo 13
"Qual é a sua hipótese?"


Notas iniciais do capítulo

haaaai! Notas finais! Importante!



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–-Posso me sentar aqui?

A voz doce e animada da pequena interrompeu os pensamentos de Irina e a mesma se virou para trás no mesmo instante, com os olhos esbugalhados e respirando rápido. A pequena encolheu os ombros mas não deixou de sorrir, apesar de sentir um pouco envergonhada.

–-Desculpa, não queria lhe assustar.- ela murmurou.

–-Ah- a loira coçou a orelha direita-, não me assustou. Eu só estava... distraída.

A pequena riu baixinho por conta do nervosismo da loira. Era engraçado vê-la tão serena e despreocupada em seus pensamentos sozinha e ela corar rapidamente e engasgar com as palavras quando alguém lhe chamava a atenção.

–-Posso me sentar aqui?- a pequena voltou a perguntar.

–-Claro! Desculpe... fique a vontade!- a loira disse envergonhada pela falta de educação.

Lúcia sentou na relva ao lado de Irina e cruzou as pernas como índio. Irina estava ajoelhada sobre as pernas e brincava com as pétalas de uma flor branca. Antes que Irina pudesse formular uma frase ou pergunta para começar uma conversa realmente interessante, Lúcia fora mais rápida.

–-Então... Irina, queria lhe pedir desculpas.- disse a pequena com a cabeça baixa.

–-Pelo o quê?

–-Por não ter acreditado em você. Quando encontramos aquele urso. Não achei que Nárnia tivesse mudado tanto...- ela disse e suspirou.

Irina sentiu os pêlos da nuca e dos braços se eriçarem e um frio percorrer seu interior. Como um choque, ela endireitou suas costas, engoliu em seco, as pétalas da flor se esconderam no aperto de suas mãos.

–-Tudo bem. Não tem problema nenhum.- ela disse com a voz baixa e suave, mas seu lábio inferior tremia.- Nem eu sei muito bem o que esperar deste lugar. Ele é... imprevisível!- ela disse nervosamente e tentando mudar de assunto.

–-Hum.. é. Ele é imprevisível...- disse Lúcia sorrindo de lado mas preocupada com a reação da loira.

Ela descruzou as pernas, se deitou e se espreguiçou gostosamente sentindo os a grama fazer cosquinha em sua pele. Irina relaxou os ombros ao ver que a pequena não disse mais nada. Mas aquilo não significava que a menina ia desistir de tentar descobrir o porquê da reação da loira.

–-Irina?

–-Sim?

–-Você viu o Aslam?- Lúcia perguntou, percebendo que esse era outro assunto que queria conversar com a loira.

Irina somente assentiu com a cabeça, sentindo-se mais relaxada ainda pela troca de assunto e por lembrar dele. O leão. Ah.. era belo! Majestoso, grande e assustador. Ah sim! Assustador. As grandes patas, estavam apoiadas em uma pedra e parecia que iam quebrar o objeto a qualquer momento com todo aquele peso jogado em cima. O olhar era compenetrado e rígido para o grupo. Parecia chateado ou bravo com alguma coisa. Cada fio de sua juba, brilhava com o reflexo do sol e seus movimentos pareciam ser os mesmos das ondas que se quebravam na beira da praia de Cair Paravel. As orelhas se mexiam quando o vento aumentava ou quando, naturalmente, ele ouvia algum barulho lá no fundo. Os olhos piscavam normalmente, mas eram tão complexos e ritmicos que hipnotizaram a loira facilmente. Os bigodes não se mexiam, assim como seu focinho. Mas após alguns segundos, ele olhou para a pequena e Irina podia jurar que um brilho apareceu nos olhos e algo havia se formado na boca do leão. Podia jurar que era um sorriso! Mas leão sorri?, ela se perguntou confusa. Então, ele olhou para a loira. E foi aquilo que mais impressinou a loira. Ele olhou para ela. Olhou e sorriu. Um sorriso amável e em seus olhos tinha um brilho diferente do que olhou para a Lúcia. Era um brilho mais... consolador. Tinha uma alegria, mas não era a mesma para com a pequena Lúcia. Não. Era uma alegria mais... dolorosa? Seria possível alguém sentir felicidade e tristeza ao mesmo tempo? Era algo que confundiu Irina. Porque eram as duas coisas que o leão tinha nos olhos. Tristeza e felicidade. Uma alegria triste. Então, ele se virou e saiu correndo entre as árvores. Por mais que se sentisse assustada e impressionada e confusa, tinha uma ligeira ideia da expressão do seu rosto. Ah... quem não ficaria estupefato se tivesse visto aquele leão? O leão? Mal conseguira formular uma pergunta, uma frase, uma palavra! Ah... mas ela ficou com medo de que ele pulasse o desfiladeiro e a devorasse. Sim. Com certeza, era um leão feroz.

–-Acha que Aslam queria que o seguissemos?- voltou a perguntar Lúcia.

–-Bom... conseguimos atravessar. E logo amanhã já estaremos no... no...- ela apertou os lábios.- No lugar que é para nós chegarmos.- ela disse por fim com um sorriso sem graça.

Lúcia sorriu de volta.

–-Hum... majestade?

–-Irina, acho que não precisa desses modos comigo.- disse Lúcia divertida.

–-Desculpe.- disse Irina acompanhando a risada de Lúcia.- Posso lhe fazer uma pergunta?- a loira perguntou sem graça.

–-Claro! Diga.

–-Acha que... iremos encontrar Helena?

–-Hum... não sei. Talvez, se ela estiver em Nárnia, vamos achá-la. Pode demorar um pouco, mas sei que vamos.

Irina percebeu que Lúcia respondeu não pensou muito para responder e respondeu calmamente. Era como se ela não tivesse nada escondendo. Diferente de Edmundo. O moreno demorou um bom tempo para responder e respondeu vagamente. Era como se ele não quisesse falar naquele assunto. Irina abriu as mãos e viu que a textura das pétalas, antes suaves e delicadas, estavam amassadas e enrugadas. Suspirou.

–-Hum... e você acha que ela está aqui?

Lúcia se sentou e voltou a cruzar as pernas.

–-Sendo sincera, acho que sim. Helena amava Nárnia. Amava de verdade, sei que sim. E Aslam não permitiria que ela ficasse tanto tempo longe daqui. Assim como eu e meus irmãos. Nós voltamos.- ela disse sorrindo e pegou na mão de Irina.- Calma, tudo vai ficar bem. Helena está bem. Ela sabe se cuidar.

–-Sei que sim... é que... na verdade, sou eu que não sei me cuidar sozinha.- Irina disse nervosa.

Lúcia riu.

–-Não se preocupe. Continue conosco.

Irina assentiu. Se sentia mais a vontade para falar com Lúcia. Ela era uma boa ouvinte, mas o melhor era que sabia usar as palavras certas nas horas certas. Em seu rosto sempre tinha a sombra de um sorriso e ela exalava confiança. Era fácil conversar com ela.

–-Lúcia... como foi quando você conheceu Helena?

–-Foi divertido. Jamais esquecerei!- começou a dizer sorrindo e olhando para o céu.- A primeira coisa que fizemos foi gritar.

–-Por quê?!- perguntou Irina assustada.

–-É porque quando eu a vi, ela estava acompanhada de um fauno. E eu nunca havia visto um fauno antes. Depois nós não conversamos muito. Elas tinham que voltar para casa e...

–-Elas?

–-Sim, Helena e Úrsula. Elas tinham dito que precisavam achar uma outra amiga delas.

–-Helena e Úrsula estiveram em Nárnia?

–-Sim, acho que você conheceu Úrsula. Ela e Helena eram muito amigas.

Irina lembrava-se de Úrsula. Era a melhor amiga de sua irmã, mais próxima ainda do que Júlia. Era uma garota alta, tinha o rosto redondo e era mais gorda que sua irmã. O nariz era reto e seus olhos eram castanhos escuros. Os cabelos eram lisos e mal cortado nas pontas. Irina nunca gostou daquela garota. Tinha algo no olhar dela que assustava Irina. Quando pequena, a loira sempre pedia para que a irmã parasse de andar com aquela garota. Dizia que ela não era boa e que algum dia faria um mal muito grande. Mas era estranho porque com a irmã, Úrsula se tornava um pouco mais amável.

–-Helena não havia me dito que uma amiga havia acompanhado ela até aqui.- comentou Irina.

–-Ah mas acompanhou. Ela era um pouco... estranha. Não conversava muito, só com Helena e tinha os olhos inchados.

–-Minha mãe disse que era porque ela chorava muito.

–-Nunca a vi chorar.

–-Na vila ninguém também nunca ninguém viu, mas diziam que ela chorava afastada de todo mundo. No bosque.

Um silêncio tomou conta do local e Irina ficou brava por continuar a falar de Úrsula. Não era aquele o foco da conversa.

–-Mas... e depois? Helena acompanhou vocês até o acampamento de Aslam?

–-Ah sim! Bom... mais ou menos. Mas, ela não te contou?

–-Mais ou menos.- disse Irina encolhendo os ombros.

–-Mas e aquele livro? Eu me lembro que quando fomos para Cair Paravel no fim da guerra contra a Feiticeira Branca, ela começou a escrever um livro. Era para você.

–-Sim, ela escreveu.- a loira suspirou.- Mas não estava completo.

–-Como assim? Faltava alguma página?

–-Não. Mas... ela não estava na história. Ela não aparecia. Ela não se colocou. Como se ela não tivesse feito parte da história.

–-E o que ela escreveu?

–-Escreveu a jornada de vocês. Somente de vocês. Lúcia, será que estou louca? Será que ela escreveu e eu não lembro direito? Afinal, será que tudo aqui é real? Helena e Úrsula estiveram aqui? Eu... estou tão confusa!- disse Irina aumentando a voz e sentindo um desespero pulsar em seu interior.

–-Te garanto que tudo aqui é real. E se não fosse, está tudo bem. Eu também seria louca. Ao menos poderiamos ser loucas juntas.- disse Lúcia e apertou mais forte a mão de Irina, sua expressão ficou um pouco confusa e nervosa quando voltou a falar.- Bom... talvez Helena não quisesse que você... se focasse nela.

–-Como?

–-Não estava escrito mesmo sobre Helena? Nada?

Irina negou com a cabeça. Lúcia fez uma careta, como se estivesse tendo uma discussão com alguém, mas estava discutindo consigo mesma. Por que Helena não escreveu sobre ela? Lúcia lembrava-se que quando ia ver a morena durante a noite no castelo de Cair Paravel, ela estava na varanda, sentada na mesinha de chá. Escrevia em um caderno com capa de couro preta, escrevia todas as noites. Lúcia sempre fazia companhia para Helena quando perdia o sono ou tinha algum pesadelo. Não conversavam. Mas era bom ficar ali. Era bom ouvir o som da pluma rascunhando no papel e das ondas serenas na beira da praia. É, Lúcia sentia falta disso.

–-Lúcia? Está tudo bem?

–-O quê?- murmurou Lúcia e ela viu os grandes olhos verdes claros a fitando preocupados.- Sim, está tudo bem.

–-Mas... você não ia dizer algo sobre Helena?

–-Ahm... bem, é que...

–-Lúcia!

Irina e Lúcia se giraram suas cabeças para trás e viram Susana se aproximando.

–-Lúcia, preciso de sua ajuda. Precisamos achar mais galhos para a fogueira.

–-Se quiser, eu posso ir buscar...- propôs Irina.

–-Não!- disse Susana de súbito e parecendo um pouco pálida.- Não precisa. Eu e Lúcia vamos hoje, você ajudou bastante ontem.

–-Mas eu posso ir, não vejo problema.

–-Não. Você fica. Não se afaste da fogueira, está bem?- mandou Susana com um olhar sério que desconfortou Irina. Susana suspirou.- É que... pode ser perigoso a floresta. Descanse. Vamos Lúcia.

E dito isso, puxou a irmã para dentro do bosque. Irina voltou a olhar para a sua frente e bufou. Escondeu o rosto nas mãos. Por que parece que todos me escondem algo?! Por que parece que todos querem se afastar de mim?! Por que Helena não se colocou na história?! Por que eu não terminei de ler aquele maldito livro naquele mesmo dia?! Por quê?! Por que eu estou aqui?! Por que não consigo achar respostas?! Ganhou uma vontade de despejar tudo o que estava sentindo, mas não sabia como o fazer. Nunca se sentiu tão perdida e sozinha como aquele momento. Sentiu um aperto na garganta, era pior que um nó. Era uma angústia sem fim. Algo estava incomodando seus olhos sob as palpébras, e quando retirou as mãos, a primeira lágrima escapou. E depois dessa, veio mais uma, e mais uma, e mais uma. Quando você começa a chorar, não tem que tentar impedir. Tem que simplesmente deixar. Alivia a dor e a alma. Seus soluços eram baixos e ela apertava o tecido do vestido, fazendo com que os nós dos dedos ficassem brancos.

–-Irina?

Rapidamente, ela passou as mãos pelos olhos e respirou fundo três vezes.

–-Sim?- ela conseguiu dizer.

–-Já estão começando a fazer a carne e acender a fogueira. Não é bom ficar aqui, logo vai escurecer e fazer frio.- ela conseguiu identificar a voz do rei Edmundo.

–-Claro, eu... já estou indo.

–-Vamos, eu lhe acompanho.- disse Edmundo e ela ouviu passos ao seu lado esquerdo. Quando ela levantou os olhos, gostou de ver os olhos castanhos do moreno, mas quando viu sua expressão, corou imediatamente.- Pela juba do leão! Está tudo bem Irina?- ela disse se agachando e colocando uma mão no ombro da garota.

–-Por que a pergunta?

–-Você está com os olhos vermelhos.- ela abaixou a cabeça.

–-Não é nada, deve ser... nada. Digo, não é nada, é só que...

–-Andou chorando?- ele perguntou direto.

–- Acho que devem... estar nos esperando. Não deveríamos...- ela tentou dizer fazendo menção de se levantar.

–-Irina, acalme-se. Não vou lhe fazer nenhum mal, só quero saber porque chorou.- ele disse calmo.- Não quero vê-la assim.

–-Assim como?- ela disse passando os dedos pelo olho esquerdo.

–-Triste. Seu rosto fica melhor com um sorriso.

Ela o olhou corada e ele sorriu corado. Ele se sentou e se apoiou nas mãos na grama. Ela continuou ajoelhada sobre as pernas e com as mãos juntas.

–-Então? Me conte porque parece tão triste.

–-É que me sinto tão sozinha...- ela murmurou.- Só queria saber porque estou aqui e encontrar Helena. E... voltar para casa.

–-Pensei que quando era pequena, quisesse vir para cá.

–-Queria, mas não é como eu... sonhava.

–-Infelizmente, nada é como nós sonhamos.- ele se deitou na grama.- E se fosse, não é assim que os sonhos se realizam.

Ela coçou a orelha direita e se virou para ele. Sorriu automaticamente vendo o moreno com as mãos atrás da cabeça, o rosto sem rugas e os olhos olhando atentamente para o céu.

–-E... como eles se realizam?- ela perguntou saindo do transe.

–-Nós que devemos ir atrás deles.

–-Meu sonho era encontrar Nárnia. E minha irmã disse que Nárnia não se acha. Nárnia acontece.- ela abaixou o olhar.- Eu não fui atrás de Nárnia. Nárnia veio até mim.

Ele se sentou e a encarou. Ela não olhou para ele, somente corou mais ainda por saber que ele a analisava. Ele sorriu de lado ao ver o rosto da garota ficar vermelho. Ah céus! Ela ficava adorável daquele jeito.

–-Bom, confesso que não sei o que dizer. Seu sonho era encontrar Nárnia?

–-Sim. E viver aqui, junto com minha mãe e minha irmã. Mas agora....

–-Agora?- ele a incentivou a falar.

–-Esse sonho parece tão distante...

–-Por quê?

–-Minha mãe não acredita neste mundo e está em casa ainda. Não sei onde está Helena e não sei porque eu estou aqui. E estamos no meio de uma guerra para piorar...- ela disse suspirando.

–-Nada é perfeito.- ele disse dando de ombtos.

–-Não é verdade. Tudo é perfeito. Todos tem uma perfeição. É só que alguns tem uma perfeição ruim e outros tem uma perfeição boa.- ela disse e logo se arrependeu de ter mostrado sua opinião.- Desculpe.

–-Por que?- ela levantou o rosto e viu que ele estava sorrindo.

–-Não devo ficar falando tanto...

–-Mas o que você falou é bonito. Nunca pensei dessa forma.

–-Gostou do que eu disse?- ela perguntou surpresa.

–-Sim, por que não?

–-É que minha mãe disse que mulheres não devem ficar falando pelos cotovelos, é desrespeito perto dos homens.

–-Me diga, em que século você vivia?- ele perguntou sério.

–-Século IV.

–-Nossa... século do feudalismo!- ele disse surpreso e com os olhos arregalados.

–-Por que a surpresa?

–-Sou do século XX.

Ela não disse nada. Seus olhos esbugalhados e seus lábios apertados emitindo som algum já diziam muito. Ele riu baixinho com a expressão da menina.

–-Ahm... muita diferença.- ela comentou por fim.

–-Com certeza.

–-E como é?- ela não resistiu a pergunta.- No seu tempo?

Então, eles começaram a conversar. Conversavam sobre os aviões, as guerras, os avanços da humanidade, a liberdade, os carros e a vida do rei Edmundo em seu tempo. Conversavam sobre os castelos, os feudos, o atraso da humanidade, as injustiças, as guerras e a vida da plebéia Irina em seu tempo. Conversavam animadamente, trocando olhares, sorrisos e faces coradas.

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–-Não acha que Ed e Irina estão demorando?- perguntou Pedro enquanto mexia mais um pouco no fogo.

–-Não acho que deveria se preocupar tanto.- comentou Susana olhando para as chamas.

–-Ed disse a mesma coisa.

–-E ele está certo.

–-Eu também disse a mesma coisa quando...- ele elevou a voz.

–-Pedro, por favor, fale baixo.- disse Susana olhando para a direita e vendo que Lúcia e N.C.A, que estavam buscando maçãs, não escutaram nada, voltou a falar.- Sei o que disse naquela vez.

–-Engraçado, não? Agora trocamos os papéis.- ele disse de forma irônica.

–-Não fale assim, Irina parece ser uma boa pessoa. Como Helena.

Pedro bufou.

–-Só fala isso agora porque Helena salvou sua vida. Você deve um favor para ela.

Susana suspirou.

–-Irina está sozinha. Perdida, totalmente desnorteada e acho que está triste com tudo isso. Não deve ficar julgando ela dessa forma, você nunca foi assim...

–-Não. Quem é assim é você. E tenho certeza que também não confia totalmente nela.

Susana corou nas maças do rosto.

–-Confessa Su.

–-Bom, não totalmente. Afinal, não faz muito tempo que a conhecemos.

Mas ainda assim, não é motivo para querer o mal para ela...

–-Sim, mas hoje na hora de buscar lenha, você a afastou de Lúcia.

Susana corou mais ainda.

–-É que...

–-Susana, sei o que pensa. Você não confia nela, mas sei que está tentando confiar. Não te culpo. Tem motivos.

–-E você também tem!

–-Tenho?- ele perguntou sarcástico.

–-Você, melhor do que ninguém de nós, conhecia Helena. Melhor do que ninguém! Você está rancoroso! Isso sim! Porque voltamos para Nárnia, mas ela não estava aqui te esperando!- disse Susana atacando no ponto certo em Pedro.

Felizmente, Susana não tinha noção da hipótese de Pedro sobre o que acontecera com Helena. Na verdade, ela mal conseguia formular alguma ideia sobre o que acontecera com a morena.

–-Não é verdade. Eu só acho que...

–-Que? Acha o que Pedro?- perguntou Susana enfurecida pelo irmão continuar com a estúpida conversa.- Escute Pedro, vou lhe confessar. É verdade, ainda não confio em Irina. Mas estou tentando! Estou tentando pelo menos! Não sei se é o certo, mas é o que devo fazer. Eu me sinto obrigada a fazer isso. E você também deveria fazê-lo. Mas não é por obrigação.- ela fitou carinhosamente o rosto duro e magoado do irmão que encarava as chamas intensamente.- Mas sim porque Helena iria querer isso.

Susana se levantou e foi atrás de Irina e Edmundo. Lúcia e N.C.A logo voltaram com novas maçãs para o outro dia de viagem. Mesmo conversando bem alto, Pedro não desviou o olhar do fogo. Estava mergulhado em pensamentos.

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–-E então, alguns garotos me prenderam no armário e roubaram o meu lanche!- disse Edmundo rindo de mais uma de suas confusões no colégio interno quando pequeno.

–-Nossa! E eles te machucaram?- perguntou Irina tocando instintivamente no braço do moreno.

–-Não, mas ter ficado preso por horas em um armário não foi muito legal.- ele disse sorrindo.- E de qualquer forma, eu dei o troco.

–-Como?- ela disse retirando a mão, ela nem havia percebido o toque. Estava muito entretida com as histórias do outro mundo de outra época. Mas ele sim.

–-Eu contei para a diretora, a superior do colégio, o que eles haviam feito. E inventem mais algumas coisinhas. Então, três dias depois eles foram expulsos.

–-Ainda bem, conviver com pessoas desse tipo devia ser um tormento!
Edmundo sorriu. Irina era uma perfeita ouvinte, mas não falava muito. Devia ser por causa de sua época. As mulheres daquele tempo não podiam falar muito, somente ouvir. Mas ela tinha opinião. No início da conversa, não se atreveu a dizer coisa alguma, afinal, não sabia se os homens de sua época eram iguais aos da época do rei. Mas se surpreendeu com o que ele falava e não a impedia de dizer o que achava. Era um perfeito cavalheiro! E ela, era encantadora. Quando ele falava alguma coisa trágica, porém cômica, ao invés dela rir, ela se preocupava mesmo que tenha sido no passado. Principalmente com ele. Talvez ele estivesse exagerando, mas gostava da forma como ela arqueava as sobrancelhas e aumentava ainda mais os olhos e o tocava delicadamente. Como pode ser uma plebéia daquele tempo? Mais parece uma princesa, ele pensou em algum momento da conversa.

–-É, era um imenso tormento...- ele comentou.

Ela sorriu sem jeito por causa do olhar penetrante que o rei tinha. Eram olhos cortantes! Cortavam sua alma facilmente, mesmo que o olhar fosse bondoso. Eram olhos tão simples com alguma coisa que os deixava poderosos. Devo estar enlouquecendo, ela pensou, mas sabia que havia algo de especial naqueles olhos. Ela coçou a orelha direita. Ele riu internamente com aquilo. Era estranho, mas engraçado como ela se portava quando ficava nervosa ou confusa.

–-Ah, vejo que já melhorou!- ela disse quando olhou os lábios dele. Por que eu olhei os lábios dele?!. Ele a olhou confuso.- Ah.. eu digo, o.. o corte.- ela disse tocando com o polegar a pequeninissima cicatriz no canto da boca do rapaz.

Só então Irina percebeu o quanto aquele gesto era íntimo. Bom, ao menos em sua época. Edmundo nem pensou com o toque suave dela. Antes que ela retirasse a mão, ele pegou a sua mão e a colocou em seu rosto. Ela corou. Ele também. Ele só queria cavar um buraco para se enfiar, de tanta vergonha! Mas depois da conversa, ela pareceu gostar dele e ele gostava da presença da loira. A sua mão era pequena e gelada. O rosto dele era quente e macio.

–-Sim, o corte já melhorou. Obrigada.- ele sussurrou.

Ela sorriu abertamente, mostrando dentes brancos e pequenos perfeitamente alinhados.

–-Edmundo! Irina! Onde...- o grito fez com que Irina retirasse a mão imediatamente do rosto de Edmundo e abaixasse a cabeça envergonhada.

Edmundo olhou por sobre o ombro e viu a irmã mais velha os fitando curiosa e um pouco pálida. Ele acenou com a mão.

–-Só queria avisar que o jantar está pronto. Vamos! Temos que dormir cedo!- e saiu de volta para a clareira da fogueira.

Edmundo se levantou e estendeu as duas mãos para Irina. Ele a ajudou a se levantar e depois passou as mãos pela calça tirando a grama.

–-Me desculpe.- ela murmurou.

–-Pelo o quê?- ele perguntou surpreso.

–-Acho que sua irmã... bem, pelo...- ela começou a dizer enrolada.

–-Não se preocupe. Não tem nada do que se envergonhar ou preocupar. Susana é legal, diferente de Pedro.

Ela sorriu meio aliviada. Ele voltou a andar, mas ela o deteu novamente parando em sua frente. Ela deu um passo para trás. Antes estavam muito perto.

–-Ahm... majestade.- ela começou a dizer sem saber por onde começar.

–-Não precisa disso Irina.- ele disse divertido.

–-Ok, ahm... Edmundo, se eu lhe fizer uma pergunta, você poderia me responder sinceramente?

Ele deu de ombros.

–-Bem, escute, desconfio que você e os outros estão escondendo algo de mim.- ele endireitou os ombros.- E está tudo bem, afinal não nos conhecemos direito, mas é que o que eu quero saber, vocês parecem não querer me contar.

–-E o que você quer saber?- ele perguntou cauteloso.

–-Quero que me diga o que você realmente acha que aconteceu com Helena e se acha que ela está mesmo aqui em Nárnia.- ela disse decidida, mas ainda meio trêmula por dentro com as palavras ditas. Nunca havia tido tanto auto controle.

Ele relaxou um pouco. Agora, era visível que ela não sabia o que houve com Helena no passado. E o moreno não queria contar e agradeceu imensamente por ela não ter feito a pergunta que temia. Mas percebeu que uma hora ela saberia. E se não fosse ele, quem contaria? De qualquer forma, sabia que não havia escapatória naquele momento e teria que dizer o que achava.

–-Bem, sim, eu acho que Helena voltou para Nárnia. Todos acham, na verdade.- ele começou a dizer e Irina abriu um sorriso enorme. Ele se sentiu mal por saber que logo ele sumiria.- Mas cada um tem sua hipótese.- ele continuou cuidadoso.

–-E qual sua hipótese? E onde você acha que ela pode estar? Não havia algum lugar em especial?- ela perguntou sorrindo.

–-Não acho que ela possa estar em algum... lugar.

–-Como assim?- ela perguntou balançando a cabeça.

–-Você disse que Irina sumiu depois de um ano quando voltou.- ela assentiu.- Bom, ela pode ter voltado para Nárnia sim, mas não agora. Talvez... alguns anos atrás.

–-Quantos?- ela perguntou ainda sorrindo, mas já estava enfraquecendo. Ele não respondeu.- Qual é a sua hipótese?- ela perguntou sem sorriso.

–-A minha hipótese é que talvez Helena esteja...-ele parou.

–-Esteja...?- ela o incentivou mais uma vez.

Ele olhou profundamente para aqueles olhos verdes e sentiu um frio desconfortável na barriga.

–-Morta.
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Notas finais do capítulo

haaai! então, eu recebi poucos coments no último cap. e isso me deixou triste e confusa. afinal, eu sei que pode ser poucos os leitores dessa fic, mas são mais de três, isso eu tenha certeza. afinal, favoritaram, correto? mas agora eu me pergunto: esses que favoritaram, tem lido mesmo a fic? ou não veêm quando ela está atualizada? ou deixaram de gostar e não sabem como desfazer o favorito? e em muitas fics existem os leitores fantasminhas e eu me perguntou se aqui também tem. se tiver, (quem me dera), apareçam! eu sei que tenho demorado a escrever e lhes peço desculpas! mas não pretendo desistir dela! eu realmente estou empolgada com ela, entretanto parece que é somente eu. se for o caso, eu acho que vou excluí-la, por mais que isso não esteja nos meus planos, eu tenho pensado seriamente nisso. mas não dá poxa! :( de que adianta eu escrever, pensar todos os dias em cada detalhe dela, escrever sempre que posso, se ngm quer lê-la? :( uma história só vive se tiver alguém para lê-la. e se tiver alguém que a lê, por favor, se revele! eu não mordo! ;3 não é necessário coments grandes (apesar de serem deliciosos), mas acreditem, um simples "gostei", "amei" ou "continua", ou um simples "oi" ou "eu gosto de coca-cola", não! pera! ok, exagerei. bem vocês entenderam! KKK. pensem com carinho. ou não, né? :(beijos e abraços apertados da Loren