Finding a Dream escrita por Loren


Capítulo 10
Selvagem


Notas iniciais do capítulo

haaai



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—-E essa é a história, e foi por isso que Caspian assoprou a trompa. E aqui estão vocês.- o anão disse por fim dando uma mordida com vontade na maçã.

Estavam embaixo de uma árvore no meio do mato, que lhes proporcionava alguma sombra a beira da praia. Séculos passados aquelas árvores e mato não existiam. Eram somente longos campos livres para se passear ou fazer um piquenique com a família ou se encontrar as escondidas sob a luz da lua. Mas com a fuga dos narnianos, não havia mais ninguém para aproveitar aqueles campos e muito menos para cuidá-los. Agora, os Pevensies entendiam perfeitamente o por quê de sua terra parecer tão esquecida e podre. Todos ainda estavam digerindo a notícia lentamente. Pedro tinha a face fechada e preocupada. Pensava em como poderia ajudar os narnianos e pensava no telmarino que dizia querer ajudar. Não confiava nas palavras dele. Susana estava igual a Pedro, mas ao contrário, pouco se importava com o telmarino. Só pensava em quando essa guerra acabaria e poderia voltar a Inglaterra. Lúcia olhava para as árvores tristonha e com uma porção visível de desolamento no olhar. Irina fazia desenhos com o dedo indicador na areia. De fato, não era nada igual ao que sua irmã falava. Lembrava-se que Helena tinha lhe contado sobre uma guerra, mas parecia tudo tão... mágico. Ali, nada era mágico. Ali era igual a sua terra. Poder, posse, sangue. Nada mais. Edmundo desceu da árvore onde estava e seus pensamentos não eram diferentes dos irmãos.

—-Não há vento nenhum. E nenhuma brisa, e com esse sol, o melhor é irmos com o bote. Pedro?- chamou o moreno para saber se o irmão aprovaria a breve ideia.

—-Trumpkin, correto?- perguntou Pedro para o anão e este assentiu.- Disse que Caspian estará nos esperando na Mesa de Pedra, correto?

—-Exatamente, bom, na verdade não é mais assim que o lugar se chama. Mas é lá que ele estará.- confirmou o anão.

O loiro passou as mãos pelos cabelos suspirando nervoso e todos o fitavam curiosos e ansiosos por suas palavras. Ele levantou a vista e acabou olhando para a loira, que abaixou o olhar rapidamente para suas botas. Ele desviou o olhar.

—-Bem, Ed tem razão. O melhor será irmos pelo Espelho D’água com o bote e atravessaremos o rio de Beruna.

—-Ponte de Beruna.- corrigiu o anão.

—-Na nossa época, não havia ponte. E continuaremos o caminho a pé. Durará, no mínimo, dois dias e meio se formos partir agora. Chegaremos na Mesa de Pedra por volta de meio dia.- ele disse e se desencostou do tronco da árvore.

—-E o que iremos comer?- perguntou Lúcia.

—-Por enquanto, maçãs. Irina está levando algumas na bolsa de Edmundo. Vamos ter que comer poucas para durar.- Lúcia abaixou a cabeça preocupada. Pedro se ajoelhou ao seu lado.- Não se preocupe Lúcia. Tudo vai ficar bem.- ele disse e ela se esforçou com um sorriso.

Susana se levantou e colocou o arco nas costas.

—-Então o que estamos esperando? Quanto mais cedo chegarmos, melhor.- ela disse e saiu em direção ao bote.

Pedro ajudou Lúcia a se levantar e foram atrás da irmã mais velha, sendo seguidos pelo anão. Edmundo se aproximou e estendeu a mão para ajudar Irina. Ela aceitou e mesmo ruborizada, levantou-se e passou as mãos pelo vestido para tirar os grãos de areia.

—-Obrigada.- ela disse baixinho e levantou o rosto para o moreno.- Céus! A sua boca!- ela disse com uma mão sobre a sua própia boca e a outra apontando para a dele.

Automaticamente, ele levou dois dedos para o canto da boca, mas ela o deteu.

—-Não toque, pode piorar.- disse soltando sua mão e abrindo a bolsa que carregava.

Por um momento, Edmundo gostou do toque suave e delicado da menina sobre sua mão, mas logo abanou sua cabeça convencendo a si mesmo de que era bobeira. Por um momento, proibiu-se de qualquer outro pensamento que viesse, mas quando sentiu algo macio e felpudo tocar em sua ferida com cautela, esqueceu-se de sua própia ordem. Irina conseguira achar um pequeno lenço dentro da bolsa e agora o passava no machucado de Edmundo. Ela não o olhou durante isso, tinha os olhos fixos apenas para o sangue que já parava de sair. Ele a fitou por longos segundos e só queria que ela levantasse os olhos para ele desvendar o enigma da cor. Verde ou azul. Ela abaixou a cabeça e guardou o lenço.

—-Não é nada grave. Logo, logo irá cicatrizar sozinho, mas ninguém perceberá.- ela disse fechando a bolsa e levou sua mão para coçar a orelha direita.

Ele riu baixinho desconfiando de que ela coçava a orelha quando estaria nervosa ou envergonhada. Ela sentiu-se desconfortável com a risada dele.

—-Bem, os pombinhos poderiam se apressar? Temos um longo caminho pela frente.- disse uma voz dura atrás dos dois.

Quando se viraram, esperavam ver Trumpkin com sua cara carrancuda, seus grossos braços cruzados e seu olhar de quem pouco se importa com sentimentos dos outros, mas se surpreenderam em ver Pedro com a face vermelha e um olhar pior do que o do anão com uma mão sobre a espada e a outra sobre a cintura. Irina abaixou a cabeça, mas não pelo o que o loiro demonstrava, mas sim em perceber que todos estavam a observando, entre eles as irmãs e o anão. Irina se afastou tão rápido que Edmundo mal pode agradecer. Ela passou pelo loiro e este a seguiu, quando chegaram ao bote, ele a ajudou a subir com as duas mãos sobre a cintura fina da garota. O moreno fez cara feia, apertando os lábios e unindo as sobrancelhas. Edmundo foi junto com os outros quando Pedro o chamou com um olhar. Os dois empurraram o bote para a água e pularam dentro do bote.

O anão sentou-se na proa, atrás dele Susana e Lúcia sentaram-se juntas, Pedro ia no meio a comando dos remos, Irina e Edmundo não tiveram outra escolha a não ser se sentarem juntos. Mas nenhum se importou tanto como gostaria. Irina se sentiria desconfortável daquela forma se fosse com qualquer outro garoto ao seu lado e depois, as águas haviam roubado sua atenção. Incrivelmente, as águas eram tão límpidas que refletiam fácil a cor do céu. Irina muitas vezes se perguntou se quando o céu ficava escuro, as águas também ficariam e se ficariam turbulentas como quando o céu tem tormenta. Edmundo tentava ao máximo se concentrar no leme e no olhar que Pedro possuía. Era uma enorme mistura que ele não conseguiu decifrar. Passavam agora por um desfiladeiro, que na opinião de Irina, era belo, mas para os Pevensies, aquilo um dia já fora mais belo e menos morto.

O anão se encontrava perdido em pensamentos, talvez pensando sobre como os Reis e Rainhas podiam ser tão jovens e talvez pensando de onde havia vindo a loira. As irmãs olhavam sem descrição alguma as águas, pedras e árvores do alto do desfiladeiro. Os irmãos já haviam parado de se encarar horas atrás, cada um encarava um ponto qualquer. A loira olhava agora para o ponto alto do desfiladeiro, a principio, somente as árvores, mas em seu intimo interior, desejava que algo aparecesse ali. Ou alguém em especial.  

—-Estão paradas.- comentou Lúcia olhando para as árvores.

O anão seguiu o olhar da pequena rainha e fitou os longos troncos de árvores, alguns finos outros grossos, com galhos igualmente compridos preenchidos nas pontas por folhas amareladas e outras com um verde triste, como se elas estivessem morrendo.

—-São árvores. Você queria o quê?- disse o anão bruto e desviou o olhar para a água.

Todos o olharam incrédulos, inclusive Irina que sabia das árvores dançarinas. Helena lhe contou quando elas tinham perdido o sono durante uma madrugada de um dia de verão.  E ela tinha certeza que sua irmã não mentiria para ela.

—-Elas dançavam!- rebateu Lúcia.

O anão olhou para um ponto qualquer e falou com a voz rouca e baixa, como se relembrasse uma péssima lembrança.

—-Pouco depois que saíram, os Telmarinos invadiram. Os sobreviventes se retiraram para os bosques e as árvores... se retiraram para tão dentro delas que nunca mais as ouvimos falar.

—-Eu não entendo...-disse Lúcia após o triste relato.- Como Aslam permitiu isso?

—-Aslam?- disseram Irina e Trumpkin ao mesmo tempo.

Os olhares se trocavam entre o anão e a loira. Ela abaixou a cabeça e decidiu que não era a hora certa para fazer mais perguntas. O que queria perguntar, era somente se o leão realmente existia e onde poderia encontra-lo, mas decidiu que faria isso depois. Trumpkin suspirou pesadamente.

—-Achei que tivesse nos abandonado junto com vocês.- ele disse rancoroso e desviou o olhar para bem longe.

Lúcia tentou sorrir, para tentar mostrar algo que não conseguia com as palavras, mas o anão não percebeu.

—-Não quisemos abandoná-los.- disse Pedro sincero, mas Trumpkin ignorou.

—-Agora não faz mais diferença.

—-Leve-nos aos narnianos. E fará.- disse Pedro por fim, dando um ponto final na discussão.

Irina olhava tudo aquilo com um sufoco na garganta, assim como os outros. As palavras do anão eram ditas com tanto rancor e um pequeno vestígio de raiva, que não havia como não se sentir culpado. E Irina, oh... por mais que jamais tivesse ido a Nárnia antes, não conhecesse aquele lugar pessoalmente e soubesse tanta pouca coisa, era o suficiente para ela se apegar de longe. Era como um sonho. E sentiu que queria ajudar no que fosse preciso. Mesmo sabendo que sua ajuda ou presença, não faria tanta diferença. Era o que ela achava.

>< 

As próximas horas se passaram em silêncio absoluto. Ninguém disse nada em momento algum. Não houve mais olhares intimidadores sem sentido. Três vezes Edmundo trocou com Pedro para que o irmão mais velho pudesse ter um descanso. Irina sentiu-se desconfortável ao lado de Pedro. Ele não fez nada para ela, mas ela sentia que ele também estava incomodado e sentia seu olhar profundo sobre si, e aquilo a deixava com nervos.  

Tendo trocado pela última vez, Pedro remava com as últimas forças que tinha e chegaram a outra praia, mas esta não era exatamente uma praia de verdade. Ao contrário da outra, árvores rodeavam todo o lugar e só havia o rio que continuava seu caminho para bem longe. Pedras e pedras haviam substituído os grãos de areia. O anão pulou da proa e pegou a corda com uma pequena âncora e a cravou entre as pedras firmemente. Pedro ajudou Susana e Lúcia a desceram. Edmundo desceu do bote e estendeu as duas mãos para Irina que já tinha se levantado. Automaticamente ela corou.

—-Não precisa, eu posso descer sozinha.- ela disse apoiando as duas mãos na borda.

—-Tem certeza?

—-Ahm... claro! Afinal, eu não sou tão desastrada assim!- ela disse rindo um pouco nervosa.- Só um pouco.- ela murmurou para si mesma.

Quando ia levantar uma perna para tentar sair, sentiu a barra do vestido puxá-la de volta.Ela tentou puxar o vestido com delicadeza. Uma... duas...três... Ela bufou para cima espantando um fio de cabelo que estava em seu rosto. Então, com as duas mãos tentou puxar o vestido novamente que estava preso no fundo do bote.

—-Está tudo bem?- ela ouviu ele perguntar.

Ainda estava ali. Ela xingou-se por estar fazendo um belo papel de idiota! Por que isso somente acontecia com ela?!

—-Está! Tudo..- ela tentou puxar, mas não saiu.-...ótimo!

—-O que houve Irina?- ela ouviu uma voz doce e levantou a vista e viu Lúcia do outro lado do bote com os braços cruzados sobre a borda.

—-Um... incidente.- ela murmurou.

Lúcia colocou uma mão na boca para disfarçar o riso. Irina sentiu alguém tocá-la na cintura.

—-Espera! Não faça desse jeito! Tem que...

—-Está... está tudo bem!- ela interrompeu o moreno e se remexeu para que ele tirasse a mão, mas ele não o fez.

—-Mas assim você irá rasgar o vestido.- ele protestou.

—-Irina, acalme-se! É só você puxar assim ó!- disse Lúcia se apoiando na borda e alcançando com a mão a barra do vestido que havia ficado preso em um prego no chão do bote.

—-Não adianta! Tem que puxar e...

Lúcia soltou o vestido na exata hora que Irina o puxou novamente. Infelizmente, ou não, a loira caiu para trás e engoliu o grito que quase escapou. Ao contrário do que esperava, o tombo não doeu tanto como imaginava. Pelo contrário! Parecia até macio demais...

—-Está bem?

Ela arregalou os olhos e sentou-se rapidamente.

—-Ai céus!- ela disse vendo que estava em cima da barriga do moreno e este tinha as duas mãos colocadas firmemente sobre a cintura da loira.

—-Venha cá Irina! Eu lhe ajudo.- disse Susana desviando a atenção dela para o rosto de Edmundo.

Ela afirmou com a cabeça e se levantou com as mãos da Susana, esta tinha um riso divertido no rosto.

—-Obrigada.- Irina sussurrou.

—-Por nada, mas poderia ajudar o Ed? Vou ajudar Pedro.- ela disse divertida e se afastando.

 Irina afirmou com a cabeça novamente, mas sentindo que não era isso que ela queria. Susana virou-se e Irina fez o mesmo para ajudar o moreno que estava sentado nas pedras e passava uma mão nos cabelos. Irina se agachou um pouco e ajudou Edmundo se levantar pelo braço. Ela aproveitou e tirou umas pedrinhas que haviam ficado presas nas costas dele.

—-Pronto, e obrigada... por me segurar.- ela disse fingindo que ainda limpava as costas dele.

—-Por nada.- ele disse e procurou os olhos dela.- Tome cuidado da próxima vez.- ele disse sorrindo para deixa-la a vontade, mas ela só abaixou a cabeça constrangida.

—-Claro! Sem problemas.- ela disse e saiu dali para perto de Susana e Pedro que puxavam pela corda o bote. -Posso ajudar?

—-Não se preocupe, Edmundo vai ajudar. Pode ir procurar Lúcia?- disse Pedro sem olha-la.

Ela assentiu e foi atrás da pequena coçando a orelha direita. Mas que estranho... Helena me disse que ele era exatamente como um rei deveria ser, ela pensou vagamente. Encontrou Lúcia ainda perto do bote e se aproximou dela.

—-Oi Lúcia, o que houve?

—-Olhe.- ela disse apontando para um urso que estava na beira da praia farejando alguma coisa.

—-Devemos nos afastar, é perigoso.- disse Irina com o lábio inferior tremendo e puxando Lúcia pela mão.

—-Não.- Lúcia ficou onde estava.- Ele deve ser algum narniano.

—-O quê?

—-Estamos em Nárnia, Irina. Aposto que ele vai nos ajudar.

Irina nada disse. Olhou para o urso e não acreditou muito que poderia ser um daqueles animais que falavam. O jeito que farejava e andava lhe lembrava os ursos que atacavam sua vila quando era pequena. Uma vez ela quase perdeu o braço por causa de um deles. E ela se lembrou bem dos olhos daquele urso. Sem vida. Negros. Selvagens. Mas como ela poderia garantir que estava certa? Lúcia parecia saber do que falava e Irina não protestou, apenas assentiu com a cabeça para a pequena. Esta sorriu e se virou para o urso dando alguns passos e dizendo com a voz doce.

—-Olá seu urso!- aquilo chamou a atenção dos irmãos.-Tudo bem, somos amigos.

O urso virou-se e olhou atentamente para as duas garotas. Lúcia deu mais alguns passos confiantes e Irina a seguia logo atrás. O urso se pôs de pé para ver melhor e Irina tragou uma grande quantidade de saliva. Os olhos... oh não! Os olhos! A loira parou de andar e disse com a voz cautelosa.

—-Lúcia, por favor, pare.

—-Por quê?- perguntou a pequena sem parar.

Irina a alcançou e segurou pelo ombro com força fazendo as duas se olharem.

—-Não dê mais um passo Lúcia.

—-Do que está falando?!- a pequena parecia estar se assustando com as atitudes da loira.

—-Me escute, é perigoso. Vamos voltar para o bote com calma e...

—-Irina, você nunca esteve em Nárnia! Como pode dizer que é perigoso?!- perguntou Lúcia com um tom de irritação na voz.

O que ela mais detestava, era verem falar mal de Nárnia. Isso, ela não poderia permitir. Ela se soltou da mão de Irina e voltou-se para o urso dando mais alguns passos e sorrindo novamente. O urso abaixou as patas dianteiras e começou a andar em direção a pequena.

—-Lúcia! Pare!- tentou dizer Irina novamente, mas Lúcia estava convicta de que a loira não sabia do que estava falando.

—-Não se mova majestade!- gritou o anão e a pequena virou-se no mesmo instante.

Por que todos pareciam querer pará-la? O que havia de errado? Irina continuou fitando o urso e viu ele começar a apressar o passo. A loira arregalou os olhos e correu para puxar Lúcia de volta. A pequena viu o urso correndo e apertou a mão de Irina. As duas correram e Irina olhava de tempo em tempo para trás e a cada olhada, o coração dela pulava ao ver que o urso estava cada vez mais e mais perto. Sentiu algo embaçar sua visão. O urso corria o quanto podia, desajeitado e rosnando baixo a cada passo.

—-Fique longe delas!- gritou Susana com a flecha e o arco em punho.

Lúcia e Irina continuaram correndo. Susana não se mexeu. Pedro e Edmundo chegaram com as espadas desembainhadas.

—-Ataca ele!- gritou Edmundo.

Lúcia perdeu o controle dos pés e acabou pisando na barra do vestido. Caiu ao chão e soltou a mão de Irina no mesmo instante. A loira parou de correr e viu o urso mais perto do que antes. Lúcia gritou.

—-Susana, ataca ele!- berrou Edmundo.

Irina voltou quase aos tropeços, ajoelhou-se na frente de Lúcia e a abraçou forte. A menina encolheu-se no abraço e Irina fechou os olhos somente ouvindo gritos e um rugido atrás de si, próximo o bastante para os pelos da nuca se arrepiarem facilmente. Ela sentiu uma lágrima quente escorrer pela bochecha esquerda. Então... o rugido do urso acabou e ela ouviu um baque abafado.

Não sentiu nada. Abriu os olhos devagar e com o canto do olho, pode ver o focinho do animal caído sobre as pedras. Ela se afastou de Lúcia, que ainda continuou encostada em seu peito e levantou a vista para os outros. Susana ainda estava com o arco e flecha prontos, mas não parecia ter atirado. Ela viu o olhar de Irina desviar para atrás dela. Ela se virou e viu o anão com o arco já abaixado e andando em direção ao urso.

—-Por que ele não parou?- perguntou Susana com o arco abaixado.

—-Devia estar com fome.- disse o anão bruto.

Pedro e Edmundo olharam para Susana com um olhar que a deixou culpada, apesar do de Pedro ter parecido bem pior. Os dois se afastaram e ela abaixou a cabeça constrangida, mas logo os seguiu. Pedro puxou Lúcia por um braço para perto de si e com a espada apontada para o urso. Edmundo ajudou Irina a se levantar, mas ela se afastou de todos ali para longe abraçando sua cintura com um braço e a outra tinha a mão sobre a boca. Edmundo quis ir atrás dela, mas ficou ao lado de Pedro com a espada em punho.

—-Obrigada.- sussurrou Lúcia para o anão que analisava o animal de perto.

Ele apenas a olhou com o canto do olho e voltou a examinar o animal.

—-Era selvagem.- disse Edmundo.

Irina passou a língua pelos lábios e suspirou baixinho. Ninguém a ouviu. Lúcia se encontrava colada ao peito do irmão mais velho. Pedro tinha braço em volta da irmã, como se aquilo a acalmasse.

—-Acho que ele nem podia falar.- disse Pedro para Edmundo.

—-Seja tratado como um animal burro por muito tempo e é isso que você virá.- o anão disse.

Todos olhavam para o animal com algo estranho e ruim se contorcendo em seus estômagos. Como Nárnia poderia ter se tornado algo desse jeito? Como Nárnia poderia ter ido embora? Não poderia ser verdade! O anão se agachou perto da cabeça do animal e tirou um punhal da cintura.

—-Vão descobrir que Nárnia está mais selvagem do que se lembram.- Trumpkin disse passando a lâmina pelo pescoço do urso.

Aquelas palavras foram pior do que ter visto o anão aproveitar a carne do animal cortando sem piedade ou nojo, apesar de Lúcia ter escondido o rosto no peito do irmão. Irina, surpreendentemente, assistiu tudo de longe com os braços e pescoço arrepiados.


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Notas finais do capítulo

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