A primeira aula, para minha infelicidade era a de geografia, e as provas já vinham na mão da professora, alta e magra. Essa devia ser daquelas que não gosta de perder tempo. Pousou uma folha em cada mesa e depois delimitou quanto tempo tínhamos pra realizar todos os exercícios.

Olhei para a folha que estava na minha frente. Dei umas quantas voltas com ela e num sabia o que responder, por isso a arrumei para um canto.

Fiquei um tempo vendo qual o jeito daquela professora e depois lembrei de uma coisa. Ela num era daquelas que estava sempre com os olhos levantados e a controlar cada movimento nosso. Bem pelo contrário estava fixa no computador e no seu caderninho de anotações. Levei a mão no bolso e tirei meu celular, liguei a internet e fui procurando, pergunta por pergunta as respostas. Quando dei, já tinha a folha toda preenchida.

Olhei em volta da sala. Pouca gente também tinha terminado. A num ser os garotos que na cantina estavam com óculos fundo de garrafa e que o montão de cor de rosa tinha rotulado de nerds.

Diogo não escrevia, apenas brincava com a caneta na mão e passava a mão pelo cabelo. Dava pra entender que não estava relaxado por ter acabado a prova, estava preocupado por não a ter feito.

O sinal tocou entretanto e a professora começou recolhendo as folhas da mesa. Peguei minha mochila e saí.

O resto das aulas foi secante. Como não mostrei que era nova, nem fiz com que os professores notassem minha presença me poupei a apresentações á turma.

Num primeiro dia se sabe muitas coisas, mas não coisas novas, coisas que estamos fartos de saber, mais que são coisas novas, por não sabermos quem são as pessoas que estão envolvidas nas coisas .

O grupo dos do team de futebol estava sempre colado no das galinhas sem cérebro, mais propriamente das lideres de torcida. Era como se fossem sombras uns dos outros, já para não falar que elas quase se jogavam em cima deles, para mostrar o quanto são boas e para se exibirem, mas acho que eles não ligavam muito e ainda gozavam com elas por cima. Diogo também pertencia ao team e tinha a coisa sonsa que falou de manhã para minha pessoa constantemente com a sua boca colada na dele e… Que nojo, hein.

Estava sentada num canto da sala de convívio. Era o lugar onde á noite e mesmo durante o dia, nas alturas em que não havia aulas a galera se juntava, conversando, lendo, jogando, comendo, falando de besteiras.

Brincava com qualquer coisa que me apareceu na frente e admirava tudo o que me rodeava. Uma garota veio até mim. Acho que era da minha turma, tinha a sensação que já a tinha visto antes.

_ Oi!

_ Oi! – falei entre uma risada abafada.

_ Você é nova cá no colégio , né?

_ Sim.

_ E num quer vir se sentar com a gente? – apontou para uma mesa onde havia mais uma garota. Pareciam ser bacanas e não irritantes como as outras.

_ Você deve ser a única pessoa simpática nesse colégio. – ela riu.

_ A gente é um pouco fechada, mais vai ver que daqui a uma semana você já entra na onda e no ritmo e se habitua a esse lugar. Agora venha daí se sentar comigo e com a Silvia. E já agora eu sou Rita.

_ Sophia. – fui com ela até a mesa e ocupei uma das cadeiras.

_ Bem Silvia, essa aqui é a Sophia. È nova no colégio. – Rita me apresentou. E como eu detestava apresentações!!!

_ Oi. – falei meio envergonhada.

_ Bem Rita eu ia adorar ficar aqui falando com vocês mais tenho que ir. Já é tarde depois a gente se fala. – a Silvia se foi, pegou suas coisas e apenas fiquei eu e Rita.

_ Então, você entrou tarde no colégio. Só duas semanas depois. – Rita num estava sendo curiosa acho que foi o único pretexto que arranjou para meter conversa comigo.

_ Meus tios me obrigaram a estudar nesse colégio careta. – ela assentiu.

Diogo desde que mudei de lugar não tirou os olhos de mim e inevitavelmente eu também não conseguia desviar os meus dele.

Rita roubou minha atenção quando falou:

_ Bem. O Diogo continua completamente vidrado em você!

_ O quê?

_ O Diogo. Num sabe quem é?

_ Sei. Infelizmente sei . Você o conhece?

_ Quem num o conhece? È filho de um empresário muito rico e notado. A mãe é cientista. È um tremendo gato, anda sempre rodeado de garotas. E num sei se namora com a Liz, cada dia está com uma nova nas costas dela.

_ Liz? – Perguntei para ela se explicar melhor.

_ A patricinha que está ao lado dele. Mas você falou que infelizmente já sabia de sua existência. Diga aí donde o conhece.

_ Se eu disser você jura que num conta pra ninguém, nem que vai desatar feito perua á risada aqui?

_ Isso num é muito o meu estilo! – ela torceu o nariz de um jeito que me fez a mim quase cair na gargalhada.

_ A gente divide o mesmo quarto!

_ Como é que é?

_ Será que a quem eu conto isso tem sempre essa reação?

_ Você está dividindo o quarto com um garoto?

_ Num é com um garoto Rita, é com o idiota do Diogo.

_ Não sabia que esse colégio era assim. Cada vez me surpreendo mais.

_ Você e eu.

_ E já o viu sem camiseta, ou te lançando olhares…

_ Pode parar, porque eu nunca vi nem nunca quero ver ele sem camiseta, e os únicos olhares que a gente trocou foi de ódio e de morte!

_ Ódio e Morte?

_ Aquele garoto é insuportável você acredita que ele fez um filme por caus…

_ Quem é que é insuportável Sophia? – Diogo pôs seu rosto no meio de mim e Rita interrompendo a conversa. Revirei meus olhos mostrando desprezo.

_ Nunca ninguém ensinou pra você que não se deve ouvir as conversas dos outros?

_ Nunca ninguém ensinou pra você que falar dos outros nas costas é feio? – falou. Tomás e Rita que estavam ao lado riam.

_ Diogo, minha mãe sempre me falou que quando se fala dos outros nas costas é porque os respeitam de frente! – Dessa vez foi o engraçadinho do Tomás que falou.

_ Eu não falei nas costas de ninguém porque pra falar a verdade aí a estaca do seu amigo esteve o tempo todo na minha frente! – respondi a letra do Tomás, recebendo como resposta não palavras suas, mais sim do Diogo.

_ Deixa ver se eu entendi. Você está dizendo que quando estou na sua frente eu incomodo sua vista!

_ Sim, Tou falando isso!

_ Você diz que eu perturbo você, então eu vou aproveitar esse lance mesmo para falar que você é que me incomodou na noite toda, não parou de se mexer naquela cama! – Diogo falou alto demais e toda a sala se voltou pra gente. Todo o mundo parou de fazer o que fazia e parecia que eu e Diogo eramos o centro do mundo. Abanei com a cabeça e fiquei com cara de sei lá o quê.

_ Diogo? Que história é essa de ela se ter mexido toda a noite na cama? – a princesinha da Liz junto com suas damas se levantou e sua voz fininha e histérica se fez ouvir, quase rebentando meu tímpano.

Sorri para Diogo. O feitiço se vira sempre contra o feiticeiro. Ele quis me humilhar mais acabou por se encrencar. Achei que fosse a altura ideal para abrir o bico.

_ Ó Diogo! Não me diga que ainda não falou para a Liz o que rolou ontem á noite entre a gente!

_ Cala a boca! – ele falou franzindo o cenho e tentando limpar a coisa.

_ Não foi nada demais. Não precisa ficar tão enervado.

_ Mais afinal o que rolou? – a galinha falou.

_ Não olhe assim pra mim. Aconteceu. – falei na direção da Liz.

_ Liz, Liz, … - Diogo gritou quando a garota já chorando ou fazendo que chorava ou apenas fingindo mostrar desilusão saiu pela sala de convívio a correr com a mão na boca.

Diogo me olhou medrosamente. Eu encolhi os ombros e levantei a mão segurando o riso.

_ Eu vou acabar com você… - ele desapareceu correndo atrás da outra. Tomás riu da cena e depois ainda lhe gritou pondo as mãos ao lado da boca para o som não se espalhar:

_ Cara, pense pela positiva. Isso até foi bom. Assim já num vai ter que levar com ela pegando no seu pé o tempo todo! - mal disse as seguidores da ave rara olharam Tomás com desdém e ele apenas se limitou a correr também corredor fora enquanto as garotas o seguiram feito tolas, como vinte cães a um osso. Eu Rita ficamos a ver a cena rindo a gargalhada…