_ Eu vou lá em baixo comer alguma coisa, estou morrendo de fome!! – Diogo falou. – Você vem?
_ Não! Estou sem fome! – Na realidade eu estava sem fome, sem sede, sem pais, seu tios, sem advogado, sem paz, sem descanso, sem tranquilidade!!!

Diogo estava vestindo sua camiseta e pegando seu casaco junto com seu celular enquanto eu estava encostada na parede admirando a cena.

Ele se aproximou de mim e passou o polegar por meu rosto acarinhando.

_ Tem certeza que não quer vir?

_ Absoluta! – falei firme. Ele não insistiu mais e saiu, mais antes ainda depositou um leve selinho em minha testa.

Fiquei no quarto sozinha, olhando pró nada. Meu mundo tinha dado um giro de 360º, estava completamente desnorteada e pra ser sincera também não tinha a certeza se sabia a localização do sul.

Minha testa fervia, se bem que meu cérebro já devia estar cozido. Bufei e fui até ao banheiro. ME apoiei na pia e olhei o espelho na minha frente, abri a água e a deixei escorrer por uns segundos, depois lá arrisquei em por o dedo debaixo dela. E depois do dedo, afundei as mãos. Fiz uma concha com elas e as enchi de água. Levei com jeitinho elas a meu rosto, fazendo o possível por perder menos água. E depois as larguei. Meu rosto se inundou e molhou e eu me aliviei. Como sabia bem molhar a cara em água. Pequei na toalha e limpei minha face, pois gotas grossas começaram caindo de meu queixo com aterragem marcada no chão.

Quando destapei o rosto algo me chamou atenção. Me vidrei naquilo e mil e um pensamentos passaram por minha cabeça.

 Será que resulta mesmo? Qual será a sensação? Muitos falam que nos leva na lua!

Pousei a tolha no penduro e peguei a lâmina que estava pousada. A examinei e pensei bem no que ia fazer. A vontade de experimentar era mais forte do que e não deu pra resistir. Primeiro a pousei no braço, perto do pulso. Termia um pouco pois mais uma vez as inseguranças estavam tomando conta de mim. Desconfiava seriamente que elas me perseguiam. Fiquei um tempo parada apenas olhando para aquela imagem da lâmina pousada em minha pele.

Não gostei do lugar onde supostamente a ia espetar e por isso mudei a sua geografia para uns centímetros mais acima.

Lá ganhei coragem e a fiz deslizar, mordi meu lábio inferior e fechei meus olhos com força, pois uma sensação bem estranha me percorreu o corpo. Abri o olho e vi uma linha perfeita, vermelha traçada em meu braço. Um pingo de sangue ameaçou cair e na realidade caiu mesmo, seguido de pois de vários pingos de sangue.

A sensação foi boa. Foi libertadora. Era como se alguma coisa que a muito tempo estava presa dentro de mim finalmente tinha recebido a merecida liberdade.

Depois de um corte experimentei fazer outro mais e depois parei. Apertei com força a mão e ainda mais sangue saiu e escorrei por meu braço. Pousei a lâmina no seu canto e passei, dessa vez o braço por baixo da água corrente. Passando um tempo o sague acabou por estancar. Limpei de leve o local onde deu os golpes e o resto do braço. Passei a toalha pelo chão, para não desconfiarem do que eu fiz e depois voltei a quarto.

Me deitei na cama e apreciei o que tinha feito. Quem falou que aquilo ajudava a controlar as emoções tinha razão. Na realidade aquilo ajudava, ajudava bastante. Relaxava nosso corpo por uns segundos e nos levava a lua. Passei a mão por cima do “ferido” , a cicatriz estava bem visível e não era pequenina não. Na pele uma diferença de relevo se notava também.

Gostei daquela sensação e tinha a certeza, ou melhor dizendo quase certeza que voltaria a repetir aquilo.

Alguém levou a mão no puxador da porta a fazendo abrir e num gesto involuntário, instintivo e rápido eu baixei as mangas da blusa que vestia, tentando passar de despercebida.

Diogo apareceu pra lá da porta com uma bandeja na mão. Quase a deixando cair e todo desajeitado fechou a porta e depois parou em frente de minha cama, onde eu estava muito bem instalada.

_ O café da manhã chegou! – todo sorridente ele pousou o tabuleiro na cama.

_ Não era preciso. Pra falar verdade eu não tenho fome nenhuma.

_ Mais você precisa comer! Aí eu pensei que como você não quis ir ter com a comida lá na cantina, talvez se a comida viesse até você, você comeria e fazia o mundo todo muito feliz.

_ Eu estou falando sério Diogo!

_ Porque diz isso? Acha que eu estou brincando? – ele estava sendo irónico e diria eu que todo esse seu teatrinho era pra eu comer.

_ Estou sem fome! Não quero comer.

_ Você não quer, mais você tem que comer e aqui quem dita as ordens sou isso por isso trate de engolir tudo isso antes que… - ela não sabia o que falar depois daquele antes que por isso se limitou a coçar a cabeça e a fazer expressão de confuso! – Faça um esforço vai! Coma um pouquinho!! – ele fez beicinho de leve e depois umas quantas caretas feias e engraçadas ao mesmo tempo, mais uma vez batalhando pra eu rir.

_ Eu não vou rir! Escusa de tentar!

_ Faça um esforço, vai! – ele hoje só estava pedindo esforços, hein!!

_ Cê hoje não acha que tá pedindo esforços demais??

_ Não, porque depois do esforço, você consegue tudo o que quer!! – sua frase foi profunda. Acho que ela tinha muito que se diga e mais do que dizer tinha muito que me fazer pensar. – A gente faz assim, você come esse lado aqui e eu como esse, tá bom? – Diogo parecia criança discutindo por comida!

_ Você não vai desistir pois não? – me deu como derrotada. Não tinha jeito de eu me impor mais.

_ Nunca. – abri um sorriso leve, gostei do jeito como ele falou nunca. Sexy, arrebatador, decidido, brincalhão,…

_ Viu, minha persistência tá dando resultado. Um sorriso eu já te cravei.

_ Tá bom, você venceu!!!

_ Isso quer dizer que vai comer?

_ Sim. Vou comer, vou fazer tudo. – agarrei seu rosto e roubei um beijo dele. Verdade falemos que ele me conseguiu por a sorrir!!!

Ele me deu a comida na boca e quando demos por nós estávamos comendo do mesmo e roubando pedacinhos de pão e de biscoito um ao outro. Sorrindo e brincando.

…

Tinha passado o dia no quarto com Diogo, não tínhamos saído nem sequer pra comer. Quer dizer ele saiu eu fiquei e ele me trouxe a comida. Passamos a tarde sentados no chão do quarto jogando consola e comendo chocolate. Bebendo coca cola e em constante troca de carinhos se é que me entendem.

Estava deitada agora. A hora de dormir chegou. A noite caiu e o silencioso ruido da noite encantou o lugar. Diogo dormia ao meu lado. Ao menos ele conseguiu! Porque eu. Eu sinceramente nem o olho conseguia fechar. Apesar de ele me estar tentando fazer esquecer dos problemas a real é que eu não parava de pensar no que ia fazer de minha vida. Porque sinceramente entre encontrar um familiar pra me guardar e ir pra um orfanato a segunda opção era a mais certa sem sombra pra duvidas.

Era estupido mas ao mesmo tempo realista imaginar como seria minha vida se fosse pra um orfanato. Esquecer esse colégio, esquecer essas loucuras, esquecer esse amigo, esquecer, não vou dizer esse, mais sim O DIOGO!!!

Olhei pro lado ele dormia que nem um anjo. Não dormia no mesmo travesseiro que eu mas mesmo assim estava bem perto de mim. Sorri boba. Ele foi a melhor coisa que no meio de tanta desgraça me aconteceu. Mas mesmo assim apesar de falarem que as coisas boas tapam as más, nesse caso o ditado não se aplica pois comigo as coisas más tapam sempre as coisas boas.

Passei a mão por seu rosto e apreciei aquele playboyzinho gostoso, marrento e pegador que vive com meio colégio se jogando nos seus pés.  Senti meus olhos se marejarem e uma raiva dentro de mim nascer. Detestava quando ameaçava que ia chorar, detestava ter que controlar o choro, mais não queria dar parte fraca perante meus sentimentos por isso tinha mesmo que o conter.

Me levantei da cama e fui até ao banheiro, só havia uma forma de controlar minhas emoções e sensações e se da primeira vez resultou, porque não tentar uma segunda…

POV DIOGO.

Senti que alguma coisa se tinha mexido. Abri o olho e olhei em volta, Sophia não estava mais de meu lado. Um feixe de luz, que passava pela porta do banheiro, rasgava o escuro do quarto, definitivamente ele estava lá. Achei isso estranho, Sophia não era muito de se enfiar no banheiro ás tantas da madrugada. Será que tinha rolado alguma coisa? Será que ela estava bem?

Me levantei e fui até ao banheiro ainda que apalpando tudo o que me aparecia na frente pois a vontade de dormir era maior que a de estar acordado. Passei na frincha da porta e cocei o olho que levou um choque quando se misturou com tanta luz.

Olhei o chão que estava colorido de pontinhos vermelhos. Calquei um deles e o engraçado era que era liquido. Como meu cérebro ainda não estava totalmente funcionando, efeito do sono, não pensei logo no que aquilo podia ser e quando dei conta da realidade me assustei a séria. Varri aquele lugar com os olhos e encontrei Sophia encostada na parede com uns quantos cortes distribuídos pelos braços. Tinha o cabelo desarrumado e as mãos estendidas, como que descansando. Uma lâmina estava também pousada na chão ao lado da mão dele e seus olhos estavam fechados. Estava chorando pois os fios de cabelo colavam em seu rosto.

Fiz barulho de propósito para a acordar e se fazer aperceber que eu estava lá. Ela virou o rosto e me encarou séria, assustada, em pânico, não por me ver mais por se ter apercebido que eu topei o que estava falando.

_ Diogo? – sua admiração foi transmitida pela boca que entre um grunhido rouco e baixo fez  aclarar meu nome.

_ O que você tá fazendo? – não era uma pergunta pra ser respondida mais sim de retórica.

_ Ainda não percebeu? Quer que eu faça um desenho? – e do rouco e baixo tom de voz ela passou a ser fria e rude….