Já era três horas da tarde e nem sinal de que o ruivo iria confessar algo para a Haruno. Desde que tinha acordado, Sasuke estava vigiando de longe a rosada, prestando atenção também em cada passo de Gaara enquanto tentava decidir se deveria intervir em qualquer aproximação deste ou se devia permitir que o outro garoto se "declarasse" e levasse um belo chute na bunda da Haruno. Estava no momento observando a Haruno dando mergulhos no mar e se surpreendeu quando alguém pousou a mão em seu ombro.

– Sabe otouto, nunca duvidei da sua inteligência, mas pelo modo com a qual você vem agindo com a Haruno, temo ter que dizer que você está se tornando um verdadeiro idiota. – declarou o mais velho sentando-se ao lado do outro na areia.

– Por que você está me dizendo isso? – indagou Sasuke tentando entender o que o seu irmão lhe dizia. Já estava se arrependendo de ter dito para Itachi sobre o breve relacionamento que teve com a rosada.

– Não precisa se afastar para protegê-la. – disse Itachi. – Ela sabe se cuidar muito bem sozinha, pelo que vi ontem. Além disso, essa atitude altruísta não combina muito com você. – alfinetou. – Você costumava ser mais egoísta, então por que não está agindo assim agora?

– Você só está dizendo isso porque não tem ideia de como é estar nesta situação. – tentou defender-se Sasuke. – Supondo que ela realmente consiga se proteger daquelas garotas loucas e continuássemos juntos, mas não desse certo, o que iríamos fazer? Voltar a agir como antes, como se nada tivesse acontecido? – perguntou com ironia.

– Antes de tudo, lembre-se que é você que está tornando tudo mais complicado. – alertou o mais velho. – Se dará ou não certo você nunca saberá se não tentar. Se der uma chance, independente do que acontecerá, ao menos não irá se arrepender de não ter tentado.

– Dizendo assim parece tão fácil. – declarou Sasuke sarcástico.

– Você está sendo muito cabeça-dura. – Sasuke ia rebater, mas ao ver o olhar que o irmão lhe enviou, optou por manter-se calado. – Deveria dar outra chance, ela não ficará te esperando para sempre, uma hora irá se cansar.

– Hey Itachi, só porque a lanchonete está vazia não quer dizer que você esteja livre. – interrompeu Deidara aproximando-se dos dois Uchiha. – O chefe já deu a sua falta, então é melhor voltar imediatamente, hn.

– Você está trabalhando na Akatsuki? – indagou Sasuke surpreso pelo irmão que, em vez de estar aproveitando as férias da faculdade, estava ajudando na lanchonete que um de seus amigos tinha na praia.

– Vão continuar batendo papo aí? – pressionou o loiro impaciente.

– Só por meio período. – respondeu Itachi limpando a areia de sua roupa após levantar-se. – A gente se vê por aí. – despediu-se dando um leve peteleco na testa no moreno mais novo, como de costume.

A breve conversa que tivera com o seu irmão, fizera com que Sasuke ficasse ainda mais decidido em sua escolha.

Como parte do cronograma organizado por Sakura e Gaara, no fim da tarde e início da noite a turma foi visitar uma feira onde vendiam diversos artigos e alimentos. Logo quando chegaram ao local, os alunos dividiram-se em pequenos grupos e se misturaram em meio à multidão rapidamente, o que fez o Uchiha perder de vista a Haruno.

Sakura estava sozinha olhando algumas pulseiras distraída, notando a presença de Gaara somente quando este se pronunciou, dizendo que precisava conversar com ela urgentemente. Preocupada já imaginando que algo de grave tinha acontecido, deixou-se levar pelo ruivo até uma parte mais afastada da feira, dando mais privacidade aos dois. Sem poder conseguir esperar por mais tempo, a Haruno tomou a iniciativa.

– O que você queria me dizer? – perguntou a rosada.

– Eu gosto de você. – declarou Gaara sem ao menos gaguejar, olhando diretamente nos olhos da garota, que parecia que iria desmaiar a qualquer instante com a resposta inesperada.

Mil perguntas passavam pela mente da Haruno, mas esta não conseguia encontrar a sua voz para poder dizê-las, fazendo com que ela ficasse muda, como se esperasse que o garoto explicasse melhor aquela declaração repentina. Ao se dar conta de que o ruivo se aproximava cada vez mais de si, conseguiu pronunciar-se novamente.

– D-doushite (Por que)? – indagou Sakura, conseguindo parar momentaneamente a aproximação. Antes que pudesse suspirar de alívio, o garoto voltou a andar em sua direção, a encurralando.

– Doushite? Não tenho um motivo certo. – respondeu Gaara. – Simplesmente gosto de você.

– Isso não pode ser possível. – disse a Haruno, procurando corrigir-se em seguida. – Não quero dizer que você seja incapaz de amar alguém, mas é que essa pessoa não pode ser eu.

– Você diz isso por que não sente o mesmo, não é? Ainda sente algo pelo Uchiha. – interrompeu o ruivo sem se abalar, fazendo com que a Haruno admirasse o controle dele ao mesmo tempo em que começava a odiar a inexpressividade do mesmo. Apesar deste pequeno conflito interno, a rosada buscava palavras que pudesse usar sem ter que magoar de alguma forma o garoto.

– Não é isso. – disse Sakura, recebendo um olhar zombador. – Tá, é um pouco disso sim, mas acho que você está confuso com o que está sentindo. Hmmmm... como posso explicar? Eu fui uma das poucas pessoas que ousou te enfrentar, sendo provavelmente a única maluca o suficiente para fazer isso mais de uma vez, então você deve ter ficado surpreso e a partir daí começou a confundir-se. Talvez tenha se sentido ameaçado ou até um pouco inseguro, que é uma sensação bem comum quando se está apaixonado... Hey, poderia se afastar um pouco? – pediu ao ruivo, já que este estava próximo demais.

Gaara não atendeu ao pedido da garota e, com uma rapidez surpreendente, beijou-a; esta, por sua vez, estava mais uma vez sem saber como reagir, não encontrava forças nem para afastá-lo ou sequer correspondê-lo. Ao perceber no que tinha pensando, a Haruno concluiu que só podia estar ficando louca.

O ruivo havia interpretado a não reação da Haruno como uma “aceitação”, assim aprofundando o contato, puxando-a para mais próximo, apoiando no processo uma das mãos nas costas e a outra na cintura da garota, acariciando levemente a região. Tudo isso contribuía para que se tornasse difícil para a rosada resistir a “investida”.

Sakura sentia-se traindo Sasuke e, acima disso, traindo os seus sentimentos por ele, apesar de não estar correspondendo ao beijo do garoto. Com tal pensamento, juntou o que restou das suas forças e empurrou delicadamente o ruivo, torcendo internamente para o garoto não se zangar com a sua atitude.

– Gaara... – murmurou a Haruno, como um pedido para que o ruivo compreende-se como se sentia, queria que entende-se que era difícil correspondê-lo quando não nutria qualquer sentimento por ele que não fosse fruto da atração que recém descobriu, ainda mais quando o seu coração ainda estava preenchido pelo amor que sentia pelo Uchiha.

– Saiba que não desistirei tão fácil assim. – alertou Gaara antes de dar espaço para que a Haruno pudesse se afastar.

– Não torne as coisas tão complicadas. – pediu a rosada. – Eu não consigo gostar de você do mesmo jeito que... Bom, só quero dizer que não posso corresponder aos seus sentimentos, sinto muito.

– Não consegue ou não quer? – indagou o ruivo, fazendo com que a Haruno também se fizesse a mesma pergunta. – Acho que peguei você de surpresa. – comentou corando levemente, o que o deixava fofo na opinião da rosada. – Talvez se nos aproximarmos como amigos, você não comece a sentir alguma coisa? Você ainda não ter me socado só prova que não fui rejeitado totalmente.

Após tal confirmação, Sakura não sabia onde se esconder, nunca tinha sentido tanta vergonha como no momento e também não conseguia elaborar uma frase contradizendo o ruivo.

– Argh! É impossível fazer você desistir? – Gaara apenas acenou confirmando a pergunta que a Haruno havia lhe feito, só para provocá-la ainda mais. – Até podemos tentar ser amigos, mesmo achando difícil depois do que aconteceu hoje, mas não posso te dar garantia nenhuma de que vai acontecer algo além da amizade.

– Já é um bom começo. – comentou o garoto, voltando para a movimentação da feira, deixando Sakura sozinha novamente ou ao menos era isso que a garota pensava. Escondida atrás de algumas caixas, Kin havia escutado toda a "conversa" e, logo após a Haruno ter voltado para a feira, correu em busca do Uchiha, o achando minutos depois.

– Sasuke-kun querido, você não tem ideia do que acabei de descobrir. – disse a garota fazendo suspense tentando chamar a atenção do moreno. – É algo relacionado a sua ex–namorada. Acredita que ela estava se agarrando com o Sabaku? Parece que ela te esqueceu bem rápido, não é? – comentou frisando o ex.

Como é que é? Sasuke sentia o seu sangue borbulhando de raiva ao mesmo tempo em que se sentia enganado. O que a garota a sua frente tinha dito soava como uma mentira descarada, além disso, Kin não possuía muita credibilidade, por isso saiu atrás da Haruno para que pudesse tirar aquela história a limpo.

Quando a encontrou, notou a palidez anormal da garota e olhar que ela tinha lhe dado que estava carregado de culpa.

– Sa-sasuke. – murmurou a garota de forma quase inaudível.

– Você beijou o Gaara? – perguntou Sasuke dizendo o nome do outro com desprezo, indo direto ao ponto que o perturbava.

– Nani? Como você sabe dis... – a Haruno se interrompeu tarde demais ao perceber que havia confessado o que deveria ter sido mantido em segredo. – E-eu não beijei ele, ele que me beijou. – tentava argumentar em sua defesa, complicando ainda mais a situação como pode notar pela expressão cada vez mais irada do moreno. –Ele disse que gosta de mim. – informou tão rápido que o Uchiha duvidava se tinha escutado certo.

– Então é verdade? – indagou, logo respirando fundo para tentar se acalmar e voltar a ter um pouco de controle sobre si mesmo. A Haruno não teve coragem de dizer, mas o simples gesto de ter se “encolhido”, como se estivesse se abraçando já tinha transmitido a resposta que não agradou nenhum pouco o Uchiha.

– Me desculpe Sasuke-kun. – murmurou a garota após alguns minutos em silêncio. – Esqueça sobre o que te disse noutro dia, acho que no final você estava certo... Como você mesmo disse, estarmos juntos foi0 apenas um capricho, mas não seu e sim apenas meu. Posso estar falando isso talvez por estar confusa demais agora, mas creio que nós não tenhamos um futuro juntos.

Ouvindo atentamente cada palavra dita, o Uchiha queria mais do que nunca que a garota se calasse, pois não estava gostando nada daquilo. Tinha uma amarga sensação de que estava a perdendo e que nada do que faria ela mudar de ideia, a não ser... Como um estalo na cabeça, Sasuke não sabia se o que faria a seguir teria uma consequência positiva ou se iria estragar tudo definitivamente, mas como seu irmão tinha lhe aconselhado mais cedo, se não tentasse, iria se arrepender mais tarde de não ter o feito.

– Sakura, eu... – começou Sasuke, sendo interrompido pela Haruno que não parava de falar.

– Já sei, não precisa me dizer. – confessou a rosada, pegando o garoto de surpresa, o fazendo arquear a sobrancelha em estranhamento. Tinha se decidido há poucos segundos atrás que iria se declarar (ou algo do tipo), então como ela poderia já saber da sua intenção? – Você quer manter distância, por isso não ficarei mais atrás de você e falarei somente quando for estritamente necessário com você. Acho que não daria muito certo agirmos como simples amigos, eu não aguentaria. – declarou corando em seguida.

– Como você consegue chegar a estas conclusões tão sem sentido? – indagou Sasuke ainda incrédulo com o raciocínio totalmente estranho da garota a sua frente. ­– Não é nada disso que eu quero te dizer, eu... – e mais uma vez não conseguiu continuar, mas não por culpa da Haruno, mas sim de si mesmo, pois não conseguia dizer que gostava dela, muito menos que a amava, faltava coragem e um pouco de confiança. O sempre indiferente Sasuke estava com medo de ser rejeitado pela garota que sempre lhe dizia amar; tal insegurança vinha crescendo desde que Gaara havia se aproximado da rosada, se agravando ainda mais depois do episódio recente que havia descoberto minutos atrás.

– Se não é isso, então o que é? O que você quer me dizer, Sasuke-kun? – indagou Sakura receosa com o que poderia ouvir, incentivando o moreno a continuar.

– Aishit... – foi interrompido novamente o garoto, dessa vez por causa do grito estridente de uma certa Yamanaka que havia envolvido a Haruno em um abraço sufocador surpresa, quase a derrubando no processo.

– Testuda, onde você estava? Achei umas blusas lindas que combinariam perfeitamente com o tom do seu cabelo. – comentou Ino meio ofegante, parecia que a loira tinha feito uma pequena corrida até encontrar o casal.

– Yamanaka, por que você não vai simplesmente pro inferno? – reclamou o Uchiha já sem paciência pelas intromissões consecutivas de Ino em suas tentativas de “conversar” com a Haruno. O modo rude com o qual o garoto tinha se dirigido assustou as duas amigas e, sem pensar muito, a rosada partiu em defesa da Yamanaka.

– Hey Sasuke-kun, ninguém tem o direito de falar assim com a minha amiga e isso inclui você. – disse Sakura zangada com a explosão do Uchiha, não era só porque amava ele que deixaria a grosseria impune.

– Ora, por favor, não vai me dizer que não percebeu como a sua querida amiga adora se intrometer onde não é chamada, principalmente quando estamos tentando resolver isso? – criticou o moreno sem se conter, já estava cansado de ser interrompido toda hora. O que tinha tido parecia ter atingido de alguma forma a Haruno, já que está havia ficado quieta por alguns segundos, mas não surtiu o efeito desejado, uma vez que ela continuou em defesa da loira.

– Se ela se intromete, é pro meu próprio bem. – disse Sakura sem acreditar muito nisso. – Ela sabe que quando estou perto de você, eu sempre ajo como uma idiota. E quer saber? Vá você pro inferno, não quero mais saber o que queria me dizer.

– Sakura. – chamou o Uchiha, com um tom suplicante. A Haruno nem ousou o encarar, apenas deu as costas e saiu do local o mais rápido que as suas pernas tremulas permitiam. – Satisfeita agora, Ino?

A Yamanaka não sabia o que dizer, estava pasma com o que via no olhar do Uchiha após a outra garota partir, podia identificar com quase 100% de certeza de que os olhos ônix estavam carregados de dor. Ino se perguntava se o que estava fazendo, separando os dois, era o melhor para a Haruno ou se estava pisando na bola e encaminhando não só a rosada, mas o Uchiha também para uma “decepção amorosa” sem cura; vendo a burrada que estava cometendo, a loira já começava a arquitetar um plano para reverter a situação entre Sasuke e Sakura, só torcia para que não fosse tarde demais para reconcilia-los.

Infelizmente, a Yamanaka não conseguia encontrar nenhuma maneira que poderia juntar os dois o mais rápido possível e como resultado, depois da pequena discussão, o restante dos dias da viagem passaram tranquilamente, sem mais nenhum acontecimento anormal, além do fato de Sasuke e de Sakura não terem conversado mais, seja devido ao fato de não terem nenhum momento a sós ou por estarem “ocupados“ demais bravos um com o outro para conseguirem se acertar, o que criava um clima desagradável para quem estive no mesmo cômodo que os dois.

Na viagem de volta a Konoha, novamente os dois se sentaram em lugares distantes, permanecendo quietos em seus cantos, falando apenas quando alguém perguntava algo ou para mandar o Uzumaki calar a boca.