A História De Sally Jackson escrita por Kori Hime


Capítulo 7
Capítulo 7 – As tarefas de um deus




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O mar naquele dia não estava apropriado para o banho. Rude e com ondas violentas, havia diversas bandeiras vermelhas espalhadas pela praia informando o perigo.

Assim que deixou Sally dormindo em sua cama no chalé, Poseidon entrou no carro onde Calyse o aguardava sentada no banco do motorista. Ele deu a volta no veículo e antes de abrir a porta, olhou um última vez para a fileira de chalés. O deus dos mares estava com o cenho franzido e seu habitual sorriso, conhecido pela jovem mortal, desaparecera. No lugar, uma fina linha de expressão surgiu.

Após alguns minutos em silêncio dirigindo, finalmente Calyse abriu a boca, pintada com um batom vermelho:

— Se me permite dizer, senhor dos mares, acho que não é mais conveniente os encontros com a mortal. — Sua voz era aveludada, sem o desejo de parecer intrometida, mas já sendo.

— Eu permito que você diga muitas coisas, Calyse, meu bem. — respondeu Poseidon, com a cabeça apoiada na mão, olhando a paisagem pela janela do carro. — Mas não posso acatar todos os seus desejos. O que ando sentindo é mais forte do que eu.

— O que é tão forte, senhor? — Ela fez uma curva leve para a direita, com a atenção no trânsito, mesmo que nas ruas não houvesse muitos carros. — O que aconteceu essa manhã não foi nada normal. A mortal poderia ter morrido, ela é um alvo fácil. O senhor viu o que...

— Eu estava lá, docinho. — Poseidon olhou para a loira, usando um tom de voz mais alto, fazendo-a calar-se completamente. Não era sua intenção magoá-la, mas não houve outra forma.

Aquela manhã, algo completamente estranho aconteceu. Um monstro marinho apareceu e, quase, por pouco, não afundou o barco que estavam.

Ceteus estava descontrolado. Claro que Poseidon, ágil, percebeu o que acontecia e rapidamente tirou Sally do perigo eminente. Mas agora, ele desejava saber quem brincava com o animal marinho, que, em toda sua vida, fora dócil e jamais atacou um humano sequer. Muito menos um acompanhado de um deus. De seu deus.

— Alguém está por trás disso, e eu acredito que esse mesmo alguém vem sendo responsável pelo desaparecimento das mulheres na praia.

— Senhor...

— Calyse, eu sei o que você vai dizer. — Poseidon ligou o rádio do carro, mas não suportava muito as músicas atuais, sentia falta de quando os mortais eram talentosos ao ponto de criar melodias tão agradáveis para os ouvidos utilizando apenas algumas notas no piano.

— Vai me alertar que sou um deus, que tenho obrigações a cumprir, claro que esse é o seu trabalho como minha secretária particular e minha...

— Não, senhor, eu não quero...

— Deixe-me terminar. — Ele ergueu a mão e continuou falando, sem olhar para ela. — No último mês eu fiz exatamente o que você, rigorosamente, sugeriu. Vim até aqui para descobrir mais informações sobre as denúncias de desaparecimentos na praia. Claro que pode ser um problema resolvido pela polícia local, mas como algumas pessoas alegaram ver coisas estranhas, acho que estava com razão. Ok? Então, eu assumo que você estava certa. Mas o que posso eu fazer? Desde que vi a senhorita Jackson pela primeira vez, caminhando solitária pela praia, meu coração se encheu de desejo. Confesso que não foi um desejo muito bonito de minha parte — ele tagarelava, enquanto Calyse tentava alertá-lo de algo. — Mas depois de conhecê-la melhor, o meu coração tratou de me pregar uma peça. Sabe, faz tempo, você é testemunha de que há muitos anos meu coração não se abre para tal sentimento, que até mesmo eu tenho medo de proferir em voz alta o nome dele.

— Senhor Poseidon...

Mas ele continuava divagando. Como se estivesse no divã de um psicólogo.

— E agora, eu coloquei a vida dela em perigo, por estar junto a mim. De alguma forma devem ter rastreado meu poder próximo a ela. O que faço agora? Não estou pronto para dizer adeus a Sally Jackson, não antes de provar seu doce beijo e de levá-la até o...

— Poseidon, olhe! — Calyse freou o carro abruptamente, fazendo Poseidon bater a cabeça com força no vidro do carro, ela havia alertado diversas vezes para que ele utilizasse o cinto de segurança, mas como era teimoso, não a ouvia. — Uma Horda. Veja!

— Não seja tola. — disse ele alisando a cabeça batida. — O que uma horda faria aqui...

As palavras sumiram da boca de Poseidon quando olhou para a Horda de Orcs caminhando em direção à praia.

— Eles não estão agindo corretamente, parecem todos hipnotizados. — Calyse tentou sair do carro, mas Poseidon não deixou.

— O que está acontecendo nesse lugar? — eles estavam em uma boa distancia para que nenhum dos Orcs grandalhões os visse. — Vamos segui-los.

Calyse deu partida no carro e com cuidado seguiu os Orcs até a praia sem que eles notassem o automóvel. A cidade não estava muito movimentada, graças a um show ao ar livre que acontecia naquele momento na praça central. Pelo menos quase todos estavam lá para ver uma banda famosa tocar, graças a ajuda de um certo dono de sorveteria que cobrava uma leve dívida com um famoso cantor.

Assim que chegaram à praia, Poseidon saiu do carro. Ele poderia facilmente destruir a Horda, mas por enquanto, desejava conhecer o mestre dos Orcs hipnotizados. E principalmente, para que esse tal mestre queria tantos Orcs reunidos.

As roupas de Poseidon e Calyse mudaram para a forma normal.

O deus do mar estava agora usando sua habitual armadura, incluindo o tridente na mão direita. Calyse, que antes vestia um terninho preto, trocou por suas roupas de batalha, movendo com habilidade duas adagas de gelo em suas mãos.

Mais alguns minutos, escondidos atrás de uma grande lixeira, que ainda não havia sido limpa pelos coletores de lixo local, Poseidon finalmente pode ver o rosto de quem estava comandando os Orcs. E seus olhos esverdeados arregalaram-se para a mulher que desceu de uma limusine, caminhando descalça na areia, na direção dos Orcs.

— Quem é ela? — Perguntou Calyse.

— Tenho um palpite, mas é muita loucura para ser verdade.

A secretária olhou séria para o deus, como se os dois estarem atrás de uma lixeira fedorenta para não serem reconhecidos pelos Orcs, não fosse loucura o suficiente naquele dia. De repente, a loira crispou os lábios vermelhos e olhou na calçada da praia.

— Senhor. Péssimas notícias. Ela apontou. — Lá na calçada vinha caminhando Sally e outra mortal a qual Calyse já vira algumas vezes no restaurante que frequentavam ultimamente.

— Droga! Agora não. — ele proferiu algumas palavras em grego antigo, fazendo Calyse girar os olhos. — Terei que ir lá tirá-las do caminho. Ou senão...

— Espere senhor. Pode ser que elas não os veja ali. São humanas, não podem ver isso.

— É, pode ser, mas e se virem?

— Daí eu deixo o senhor bancar o herói e salvar sua donzela. — Ela pigarreou algo, sugerindo que nos dias atuais uma donzela era muito difícil de ser encontrada, mas Poseidon fez que não ouviu nada.

— Estão se aproximando. — ele ficou em alerta. Quando Sally e a outra humana passou pela Horda, sem notar sua presença ali, o deus dos mares aliviou-se.

Mas foi breve.

Os gritos das duas mulheres se alastraram pela praia. Calyse, rápida com as adagas, atirou-as na direção de dois Orcs que aproximavam-se de Sally e sua amiga. Poseidon partiu para a praia na mesma velocidade impressionante, chamando a atenção dos Orcs. Eles ficaram confusos com a presença de um deus ali, mas não se afastaram, continuaram atacando.

Poseidon quis olhar para trás, para ter certeza de que Sally estava em segurança, mas ele confiava cegamente em Calyse. Atacou a Horda com jatos de água, levando-os para as profundezas do mar. A mulher misteriosa desapareceu em meio a uma nuvem cinzenta. A limusine também não estava mais estacionada próxima a praia.

Quando deu por si, Poseidon virou-se para Calyse, que segurava a humana desmaiada no colo.

— Onde está Sally? — ele esquadrinhou a areia em busca de Sally Jackson.

Calyse balançou a cabeça, seus cabelos seguiram o movimento, ela não sabia o que aconteceu. Sally simplesmente desapareceu numa nuvem cinza embaixo de seu nariz.

Poseidon bravejou, fechando a mão em volta do tridente, com ferocidade, ele gritou.

O mar rebelou-se e uma onda gigante invadiu a praia.


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Notas finais do capítulo

Finalmente ação e diversão
Beijos