Fiquei em silencio e ela continuou me olhando com raiva, eu queria que ela parasse de me olhar desse jeito, queria que eu pudesse abraçar ela e dizer o quanto senti sua falta e pedir desculpas por todas as coisas idiotas que eu fiz.

- Seu irmão veio junto, né? - falei sem saber o que mais poderia dizer nessa situação.

- Incrível... Você nem pensou em mim, né? Só sabe pensar em você mesma! Sabe o que isso me custou? Minha felicidade, minha inocência, minha infância. Você destruiu o que todas as pessoas deveriam ter o direito de aproveitar! Eu nunca pude ser uma criança de verdade e a culpa é sua!

- Anna... Eu sinto muito! - disse sem saber o que falar e quase não conseguindo mais segurar as lágrimas. – Isso não trara aqueles tempos de volta. - ela disse e saiu andando me deixando sozinha e me odiando mais do que já me odeio.

Corri para o quarto e deitei na minha cama, desejando só estar em casa, abraçando meu travesseiro, até as pessoas que aparentam ser mais fortes tem sentimentos.

– Kat? - ouvi a voz do Alan e desejaria tudo pra fazer ele sumir e me deixar sozinha.

– Vai embora! - gritei com a voz abafada no travesseiro.

– O que aconteceu? - ele se aproximou e sentou ao meu lado.

– Alan, eu sei que você me odeia, mas por favor, só me deixa sozinha. - depois disso só ouvi o som dele caminhando pra fora do quarto e dos meus soluços abafados pelo travesseiro, depois de um tempo acabei pegando no sono.

(...)

O meu despertador tocou alguma música do Avengend Sevenfold e eu sonolenta levantei da minha cama, me olhei no espelho e vi minha maquiagem preta borrada e meus olhos agora já não mais vermelhos por causa do choro.

Olhei no relógio e vi que dava tempo para tomar um banho e fui pra baixo do chuveiro, lembrando dos acontecimentos do dia anterior e me segurando para não começar a chorar... Por que ela tinha que me odiar tanto?! Não é como se eu tivesse feito aquilo de propósito! Eu era uma criança também na época!

Coloquei uma calça verde musgo rasgada e uma blusa preta com o simbolo dos Rolling Stones, e o meu all star preto que usava o tempo todo, fiz minha maquiagem mais preta do que o normal, talvez isso afastasse as pessoas de mim, e escovei o meu cabelo. O Alan ainda dormia e nem me importei em acorda-lo, isso só levaria a perguntas sobre ontem e eu não queria isso. Corri até a minha primeira aula, espanhol, e sentei na ultima fileira evitando todo mundo.

– Bom dia alunos. - a professora entrou na sala com um sorriso de bochecha a bochecha, eu não entendo como as pessoas podem estar tão alegres as oito da manha

- Antes de começar a aula, temos um aluno novo, espero que ele seja bem recebido por todos você. - e então a ultima pessoa que eu pensava estar na minha turma entrou na sala.

- Diga seu nome pra classe. - a professora disse ainda nos tratando como alunos da quarta serie.

– Jeremy. - tremi ao ouvir a sua voz depois de tanto tempo e mesmo tentando me esconder entre os cadernos, notei seu olhar pousado em mim.

– Sinta se a vontade Jeremy e espero que goste da nossa escola. - a professora que eu ainda não sei o nome falou.

Vi que o garoto se aproximava de mim, nossos olhares eram firmes um no outro, e parecia que a turma inteira tinha notado a tensão entre nós, de uma hora pra outra era como se estivesse 40 graus aqui na sala, seus olhos negros como sempre me fitavam sem expressão, ele estava mais bonito desde a ultima vez que o vi, seu cabelo preto caia pro lado agora com uma franja, ele havia ganhado mais musculo e os exibia com uma blusa preta e seus jeans um pouco apertados davam vontade de ver o que tinha por dentro deles, mas eram justos o suficiente para ver a bainha da cueca dele aparecendo... Agora eu me lembro porque me apaixonei por ele.

Sim, a garota sem sentimentos se apaixonou... Irônico, não?

– Oi. - ele disse se sentando ao meu lado. Um meio sorriso em sua boca. Tentei me concentrar mas tudo o que tenho evitado pensar nesses ultimos anos voltaram quando vi seu rosto ontem.

– Oi. – Quem diria Kat... nós dois juntos de novo? - ele riu, eu sabia que ele estava fazendo isso pra me provocar, porque no fundo ele me odiava, assim como todo mundo.

– Repitiu de ano de novo, Jer? - disse cinica, voltando ao meu lado durona e tentando esquecer todos os sentimentos que estavam envolvidos entre nós dois.

– Duas vezes. - ele deu de ombros

- O que posso fazer se tem uma moreninha de mechas azuis sempre na minha cabeça. - ele estava fazendo de propósito! Fazendo eu me apaixonar por ele de novo! Só pra me destruir como fez da ultima vez.

- Vi que continua com as roupas pretas.

– O que voce quer? - virei pra ele irritada.

– Como assim? - ele deu um sorriso cinico pra mim.

– Por que esta falando comigo?! Voce me odeia!

– Não é questão de te odiar ou não Kat, você destruiu a vida da minha irmã, agora eu vou me vingar por ela. - ele piscou pra mim.

– E como pretende fazer isso?

– O simples fato de eu estar aqui, falando contigo, já é uma boa vingança, porque eu sei que voce nunca me esqueceu, Kat. É só uma questão de tempo até voce explodir que nem da ultima vez, é só uma questão de tempo até voce se auto destruir, porque a garota sem sentimentos não aguenta a agonia de se apaixonar. - ele disse e se virou pra frente e começou a anotar algumas coisas que a professora falava.

Ele tinha razão, é só uma questão de tempo até eu me apaixonar por ele de novo, na verdade, eu nunca o esqueci, por mais que ele tinha me torturado, logo esses sentimentos que eu guardei tão fundo vão voltar e eu não vou aguentar... Que nem da ultima vez. Espanhol tinha acabado, eu peguei minha mochila e estava caminhando para fora da sala, eu nao aguentava ficar aqui, eu precisava ficar sozinha. Quando finalmente alcançava a maçaneta da porta alguém me segurou, olhei pra trás e me arrependi ao ver quem era.

– Aonde vai tão apressadinha? - ele riu.

– Me deixa em paz, Jeremy. - isso só fez ele segurar ainda mais o meu pulso.

– Nos vemos mais tarde?

– Não. - puxei o meu braço com toda a força que tinha e me soltei, logo sai correndo para fora e indo em direçao ao meu quarto.

Eu precisava ficar sozinha. Por sorte o Alan deveria estar na aula ainda por isso o quarto estava vazio, e eu podia fazer o que sempre fazia quando coisas assim aconteciam. Não, não é me cortar, não é me machucar de qualquer forma fisicamente, eu já fiz isso uma vez, não vou mentir, mas no fim a dor que eu sentia era ainda maior, me sentia culpada pelo que eu fiz e ainda não resolvia problema algum, por isso eu só fiz isso uma vez, nada contra quem faz, eu não sei como eles devem se sentir, mas me lembro como me senti na fez que eu fiz, era como se nada mais importasse e a vontade de viver tivesse acabado. (n/a: eu sei, ficou muito deprimido, mas eu queria fazer uma homenagem as pessoas que já passaram por auto-mutilaçao ou ainda fazem).

Eu não sou que nem as outras garotas dos livros e filmes que sempre tem um talento e pra se sentirem melhor o exercem quando estao tristes, não, eu não sei tocar piano, andar de skate não me faz me sentir melhor e tocar guitarra muito menos. Quando eu estou triste eu simplesmente deito na minha cama, fecho os olhos e descanso, a alma e o coraçao, eu nao choro, eu nao emito som, eu só deito, não penso em nada, porque é isso que eu faço a maioria das vezes né? Nada.

(...)

– ACORDA!

– PUTA QUE PARIU! - gritei e vi o Alan em cima de mim, bem, não maliciem, ele estava em pé, pulando na cama. - SÓ PORQUE RESOLVEU FAZER JUS A SUAS ORIGENS PRIMATAS NAO PRECISA ME ACORDAR!

– Cala a boca Kat! - ele sentou do meu lado.

– Por que me acordou? - olhei pra ele irritada.

– Preciso de um favor teu.

– O que? - tomei um gole da água que estava na minha cabeceira.

– Quer ser minha namorada? - e foi assim que eu cuspi toda a água e encharquei minha cama.