- Esse é o novo dormitório de vocês. - a diretora entrou nos mostrando um quarto. Era exatamente igual ao que eu dividia com a BPR. - Não se matem. - ela disse saindo.

- Não prometo nada. - gritei em sua direção.

- Diretora louca. - Alan disse e eu dei de ombros.

- Eu acho que nós devemos ter algumas regras por aqui. Tais como: nada de falar comigo, encostar em mim ou olhar pra mim. Não comer o meu cereal de chocolate ou tomar a minha fanta de maracuja, nada de mexer nas minhas coisas, e se tocar no Chester, você morre.

- Quem é Chester? - ele arqueou uma das sobrancelhas.

- O vocalista do Linkin Park. E o meu gato. - dei de ombros.

- Mas... É proibido animais. - quando ele disse isso Chester pulou da minha bolsa, já que eu sempre deixava ele ali dentro escondido, pra ninguem vê-lo.

- TIRA ESSA BOLA DE PELOS DE PERTO DE MIM! - ele gritou e eu tapei a sua boca com a mão.

- Cala a boca! Vai que a diretora ouve? 

- Eu não vou morar com um rato!

- Ele é um gato!

- Mas parece um rato.

- Nada haver!

Ficamos exatos vinte e cinco minutos discutindo sobre Chester, até que eu disse a frase "O Chester fica ou voce morre." e ele se calou. Acho que ele tinha um pouco de medo de mim. Ótimo.

- Quem toma fanta de maracuja? - EU ESTAVA OLHANDO "FAMILY GUY" E ELE OUSA ME ATRAPALHAR? Idiota.

- Estou vendo tv.

- Não, mas sério, eu nem sabia que isso existia.

- Por que estamos conversando? - arqueei as sobrancelhas. 

- Nossa. - ele disse simplesmente. 

- Eu vou dormir.

- Er... Como a gente troca de roupa com esse negocio? E como a gente toma banho? E...

- Cala a boca, por favor. - dei um tapa na sua cabeça - Voce ta achando mesmo, que eu vou ficar cinco dias presa a você?

- Bem... Sim.

- Eu conheço uns caras, que conhecem uns caras, que podem soltar a gente. 

- Voce é da máfia? - revirei os olhos e puxei ele pra deitar na cama... Sem pensamentos impuros, aonde eu ia, infelizmente, ele ia junto. - Eu não quero dormir agora.

- Problema é seu. - fechei os olhos e dormi. Esse seria um longo ano. 

- Katinia... - ouvi alguém falando meu nome - Katinia... AAAAAAAAAAAHH!!! - acordei num piscar de olhos, quem estava gritando?! 

- ALAN?! - ele estava com a mão no nariz e seus olhos lacrimejavam.

- O que aconteceu?! 

- Eu estava tentando de acordar e voce me deu um soco! - comecei a gargalhar. Quem mandou ele tentar me acordar? Nem minha mãe ousa me acordar. - PARA DE RIR! EU ACHO QUE QUEBROU!

- Deixa de ser criança. 

- É sério! 

Levantei da cama e consequentemente ele foi também, estava com a mesma roupa de ontem, que era a calça jeans preta e uma blusa do Guns. 

- Senta ai. - apontei pra pia. 

- O que?

- Senta, porra! - gritei. Eu já tava me enchendo o saco com esse idiota, afinal porque ele me acordou as quatro da manha?

Ele sentou, e eu fiz ele tirar a mão do rosto, pra poder examinar a droga do nariz dele. Não, não tinha quebrado, ele que era muito fiasquento mesmo. Só tinha deslocado. Bem, isso ia doer, e eu tava apreciando cada momento.

Sem nem ao menos avisa-lo, empurrei seu nariz pro lado, colocando-o no lugar, ele deu o maior berro da minha vida, e eu comecei a rir, sim, eu curto a dor dos outros. Sou fria e insensível. 

- PORRA! CACETE! - ele xingava os céus e mares e eu continuava rindo.

- Vê se cresce. - disse e dei de ombros, e quando estava saindo do banheiro algo me segurou, e por algo, eu quero dizer o Alan. -  O que foi? 

- Eu te acordei as quatro da manha... Por que... Bem... Eu precisava ir no banheiro. - engoli em seco. Por que, meu deus? Por que ele precisava ir no banheiro? Por que a mãe dele ficou gravida dele? Por que ele existe?

- Vai logo. Não vou apreciar esse momento. - virei de costas. - Voce... Não precisa... Das duas mãos, né? 

- Não. - notei que ele estava mais vermelho que eu e essa situação estava igualmente embaraçosa pra nós dois. 

Virei de costas e tentei pensar que não tinha um garoto idiota fazendo xixi do meu lado, era meio difícil com o barulho da aguá, mas desviei meus pensamentos pra outras coisas. 

- Deu. 

- Não precisa me comunicar que a sua bexiga esvaziou. 

- Voce tem um mau humor irritante, sabia? - não me dei ao trabalho de responder. O problema é que agora eu já tinha perdido o sono. Alan saia do banheiro quando o segurei e o olhei irritada. 

- O que foi? - ele virou.

- Não vai lavar as mãos? - arqueei as sobrancelhas. Ele revirou os olhos e foi até a piá. 

- Não estou mais com sono. - disse sentando na cama.

- Problema é seu. 

- Não, problema é seu! Se eu não dormir provavelmente vou fazer alguma coisa ruim com voce. Tipo, arrancar suas unhas, ou furar seus olhos. - tudo bem, não é pra tanto. Mas deixou ele assustado. 

- O que quer fazer? - puxei ele até a cozinha e servi meu cereal de chocolate com leite. 

- Posso comer também?

- Se tocar no meu cereal, morre. - disse dando de ombros. Voltei pra cama e sentei na mesma comendo o cereal.

- Me diz uma coisa sobre voce, qualquer coisa.

- Por que faria isso? - disse com a boca cheia.

- Porque eu estou curioso. Não sei nada sobre voce. - revirei os olhos. Pessoas simpaticas me deixam enjoada.

- Eu tenho quatro tatuagens. - disse a primeira coisa que me veio na cabeça.

- Mas... Como assim?! Eu não vi nenhuma até agora. - virei de costas e levantei um pouco o meu cabelo revelando um pequeno cadaver no meu pescoço. Depois levantei a bainha da minha calça mostrando no meu tornozelo uma cruz, eu nao sou religiosa nem nada, mas achei bonita a tatuagem, mostrei em meu braço a frase que tatuei quando tinha quinze anos "the hell is empty all the devils are here". - Deu.

- Falta uma. 

- Essa voce nunca vai ver. - era impressão minha ou ele deu um sorriso malicioso na minha direção? Garoto é tudo igual. 

- Onde fica? - ele me olhava ainda com um sorriso pervertido no rosto. 

- Não interessa. Tira esse sorriso safado do rosto, eu sei que eu sou gostosa. - sim, eu sou direta e não tenho vergonha de nada. Ele ficou vermelho. - Sua vez. Uma coisa sobre voce... Que ninguém saiba. 

- Por que eu contaria a voce? 

- Porque eu te contei das minhas tatuagens. 

- Grande coisa. - revirei os olhos e o encarei irritada - Eu tenho... Medo... Do escuro. - eu acho que nunca ri tanto na minha vida. 

- Vem, nós temos que fazer uma coisa, antes que peguem a chave que eu tenho do meu antigo dormitório.

- Mas...

- Sem mas, vamos. - peguei sua mão e o puxei, logo notei esse meu ato involuntário de "pegar sua mão" e a soltei, limpando minha mão na minha roupa... Vai saber por onde anda a mão dele? 

Entrei devagarzinho no quarto, BPR ainda não tinha uma nova colega de quarto, o idiota do Alan ficava fazendo barulho pra andar pelo quarto, parecia um elefante pisando no chão, tirei uma tesoura de dentro da minha mochila.

- O que vai fazer?! - ele sussurrou assustado.

- Cala a boca.

- Não posso deixar voce matar a garota, Katinia!

- Se me chamar de Katinia, quem morre aqui é você! - BPR (admito que eu chamo ela de BPR porque não sei seu verdadeiro nome) se mexeu na cama e eu dei um tapa na cabeça de Alan por estar falando tão alto, eu ainda enfio essa tesoura no pé dele... Qual é, eu não sou assassina. 

Peguei uma mexa do cabelo de BPR e o cortei, logo fui cortando todas as outras partes do cabelo dela, Alan me olhava assustado e ficava tremendo de medo do meu lado, é um idiota mesmo... Terminei de cortar todo o cabelo loiro dessa idiotinha, o cabelo que antes ia até a cintura, agora não chegava nem em seus ombros, eu quero muito ver a cara dela quando acordar e ver isso! Puxei Alan para sairmos daquele quarto antes que a BPR acordasse (até já esqueci o que significava BPR) e fechei a porta do mesmo. 

Voltamos para o nosso quarto, já eram cinco da manha, deitei na cama, fechei os olhos e dormi em menos de cinco segundos. Mas não antes de ver que a mão do ser imprestável ao meu lado, estava na minha cintura... E eu estava gostando.