Faltava dois dias para o Natal. Eu resolvi mostrar para Gwen o banheiro dos monitores-chefes. Ela colocou um maiô branco, e eu, uma bermuda verde. Nós pulamos na piscina-banheira. Gwen jogou água em mim, declarando guerra. Nós ficamos fazendo isso, e mergulhando e nadando (embora estivesse muito frio, e a neve se acumulava a mais de quarenta centímetros lá fora).

Então, de repente, Hermione entrou abruptamente, e se trancou em um dos banheiros. Pelo que vi em dois segundos dela correndo, estava com a aparência normal de volta. Graças a Merlin! Aquelas lentes já estavam me assustando. Mas, percebi que ela estava chorando e soluçando.

Em uma dimensão absurda, eu saí da água, deixando Gwen na piscina, com a sobrancelha erguida, e bati a porta do banheiro de Hermione.

— Hermione, o que aconteceu? Por que está chorando? Abre essa porta! - ela abriu lentamente, deixando à mostra seu rosto inchado, mas pelo menos, ela estava sem as lentes e o penteado idiotas. Antes que eu me desse conta, ela estava me abraçando e chorando no meu peito nu. Acho que ela também percebeu isso, e logo depois se afastou, franzindo o cenho.

— Eu queria ser eu mesma, eu juro pra você. - ela confessou, limpando umas lágrimas. - mas ele não... ele... - Hermione caiu em choro novamente. - ele estava aos beijos com a... Parvati! - e ela cobriu o rosto com as mãos trêmulas.

— Hermione! Se alguém não gosta de você do jeito que você é, você não merece essa pessoa. - segundos depois de proferir essas palavras, senti um aperto no coração. Eram essas palavras que eu estava procurando o tempo todo, eram essas palavras que podiam me consolar, mas eu estava falando-as para Hermione. Me dei conta disso e me senti um idiota.

Olhei para o lado, e Gwen estava recolocando suas vestes.

— Ei, aonde você vai?

— Embora, seu cuzão. Acha que eu vou continuar aqui enquanto vocês dois trocam palavras de afeto? - ela parecia indignada.

— Mas ela... ela - eu tentei dizer, mas Gwen sumira pela porta. Virei-me zangado para Hermione. - Então era isso que você queria? Está feliz agora?

Ela revirou os olhos.

— Eu estou com cara de quem está feliz? - ela perguntou cética.

— Por que eu não posso fazer as minhas próprias escolhas? Você vive estragando tudo!

— Eu? Eu estava tentando ajudar você! Mas você não demonstra um pingo de gratidão, e eu que levo a culpa de todos os seus erros no final das contas!

— Isso não é verdade!

— Então o que você disse agora há pouco? Que eu que espantei a sua namorada pra lá, não foi? - ela cruzou os braços. - eu estou passando por mais problemas do que você! Você não tem o direito, nem moral para me acusar desse jeito! - bufei, peguei minhas vestes e saí do banheiro às pressas.

À noite, nossa encontramos na Sala Precisa. Hermione fazia os relatórios dos meus futuros encontros.

— Por que você ainda está me ajudando? - eu perguntei, ainda zangado. Estava cansado de tudo. - Eu quase consegui quebrar a maldição, e sem a sua ajuda!

— Mas cadê sua amada agora? Beijando Theodoro Nott na biblioteca? - ela perguntou sem olhar para mim.

— Como você sabe?

— Eu vi, ué. - ela disse, terminando de escrever algo na sua prancheta. - Olha, pra depois do Natal, você se encontrará com Astoria Greengrass, ok.

— Astoria? Mas eu já conheço ela! - eu reclamei

— E daí? Vocês são diferentes, e é isso que conta.

— Nós também somos diferentes, e você não colocou o seu próprio nome aí.

— Mas é porque eu sei que nunca daria certo. E, afinal, você nunca vai se importar comigo. - ela parecia estar muito brava, mas não demonstrava.

— Eu me importo com você. - ok, eu menti, mas ela até que era legal, e é isso que vale, não é? Hermione ignorou minha resposta e se adiantou para a porta quando a chamei.

— Hermione, se eu morrer, você ainda se lembrará de mim?

— Provavelmente não, porque como Olivia disse, ninguém se lembrará de você, nem os seus pais. - ela disse friamente, sem olhar para trás. - É como um Obliviatus, entende? - eu assenti, engolindo em seco. Ela saiu e eu fiquei sozinho, me sentindo mínimo e impotente.