Peguin escrita por liljer


Capítulo 1
Penguin




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Ela escolheu as frutas, inalando desejosamente o cheiro que as feiras tinham; aromas cítricos, aromas doces, fortes... Tais como ela tanto adorava.

Assim que passou as frutas no caixa, pagou a cesta lotada delas, depositou a sacola no fundo de sua bicicleta, dentro do cesto, amarrando-a com uma corda elástica, daquelas que sabia que se soltasse naquele momento acertaria em seu rosto e faria um belo estrago. Ela montou sobre a bicicleta, pedalando ladeira acima, tentando ser cuidadosa, o máximo que podia, para que não caísse e assim, não perdesse as compras. Acenando para os vizinhos que passavam pela rua e a cumprimentavam.

Assim que virou a esquina, pode ver então o a fumaça vinda do apartamento ao qual residia junto ao marido. Correu para dentro, subindo as escadas o mais rápido que conseguiu, com as sacolas de frutas nos braços, sentido-se amedrontada, receosa de que outra vez, Adrian tivesse queimado alguma outra maldita coisa. Assim que alcançou a porta, abriu-a sendo engolida pela fumaça. Ela correu até a cozinha, onde havia deixado a carne no forno, e havia pedido insistentemente para que Adrian mantive-se seus olhos no forno.

Ele agora estava de pé, jogando água sobre a forma de vidro que surpreendentemente não havia se quebrado, tentando não deixar o lugar com o cheiro ainda mais evidente de fumaça. Ele sorriu envergonhadamente assim que a encontrou encarando-o, incrédula.

– Oh, por Deus... – resmungou Rosemarie. – O que diabos você estava fazendo para deixar o assado queimar?!

Ela estava irritada. Muito irritada. O tipo de evidência que fazia Adrian repensar se não deveria ter mantido seus olhos sobre o forno e se arrepender profundamente.

– Você colocou Deus e o diabos na mesma frase... – ele sorriu para ela, de forma que fazia o canto dos seus olhos se enrugaram. Rose achou aquilo fofo, e teria admitido, se não fosse pelo fato de deixá-lo totalmente a vontade para ignorar e ludibriar o sermão que sabia que ela daria.

– Não comece – resmungou ela. – Eu pedi para você ficar de olho no forno. Não é pedir demais...

– É pedir demais para mim – ele encolheu-se.

Rose emudeceu, sabendo que argumentar sobre isso apenas a faria perder ainda mais a paciência, que não tinha. Paciência que era algo muito conhecido em sua família por não tê-la. Com um suspiro pesado, ela deixou as sacolas de papel cheias de frutas sobre a mesa de madeira rústica da cozinha, e caminhou até o quarto, tirando seu casaco de lã e seus sapatos. Quando criança, sempre odiara quando as pessoas lhe diziam sobre como era errado ficar descalça, mas bem... Ela não ligava. Não era algo que ela tenha dado importância.

– Você trouxe pêssegos? – perguntou Adrian, que agora, estava sentado de volta a sua escrivaninha, digitando furiosamente rápido contra o teclado de seu computador portátil. Rose apenas o assistiu, que ainda não havia notado a mulher no mesmo cômodo que ele. Ela livrou-se da camisa de mangas compridas que usava, ficando apenas com uma camiseta branca e seus jeans velhos.

– Eles não estavam tão maduros assim... Então, preferi não trazê-los. – admitiu ela, fazendo o rapaz virar-se para então dar-se conta da sua presença, sorrindo alegremente ao vê-la. Parecia que não havia mais uma discussão à caminho como antes. Ainda sentia-se culpado por não ter olhado o forno, mas era algo que acontecia com frequência, e que Rose se acostumara. Ela caminhou até a cadeira macia na qual Adrian estava sentado, em uma postura que sabia que daria dor nas costas mais tarde, e sentou-se no colo do rapaz, abraçando-o pelo pescoço, encarando-o com tal veneração. – O que tanto escreve aí?

Adrian sorriu preguiçosamente, enlaçando seus braços ao redor da cintura da esposa, não permitindo que ela caísse.

– Relatórios, infelizes... – sussurrou ele, numa voz rouca. Ele se inclinou, para que assim, alcançasse os lábios da morena, colando os seus aos dela, que o recebeu de bom grado. Seus dedos se entrelaçando no cabelo um pouco crescido dele. Suas bocas dando passagem para um beijo mais profundo e cheio de paixão. As mãos começando a tomarem seus caminhos atrevidamente, traçando caminhos da cintura, onde outrora esteve, para sob a camisa, à caminho das costelas, pairando seus dedos ali, um pouco abaixo onde podia-se sentir a borda do sutiã, tamborilando a carne confortavelmente, sentindo os ossos da morena, assim como a pele se arrepiar. Seus dedos voltaram à um percurso, chegando até o meio de suas costas, abrindo com um pouco de dificuldade o fecho do sutiã. Assim que sentiu a peça aberta e um pouco mais solta, voltou sua mão para frente, para que assim, pudesse massagear a pele quente e arrepiada ali. Esfregando seu polegar no ponto sensível, enquanto a outra mão segurava a nuca da mulher, entrelaçando seus dedos no cabelo dela.

Rose quebrou o beijo primeiro, respirando com um pouco de dificuldade.

– Qual o prazo que você recebeu? – murmurou ela, desviando dos olhos de Adrian para os lábios. Não sabendo qual olhar. Adrian sorriu, ao perceber isso, mas se calou, assim que deu-se conta da resposta que daria.

– Amanhã. – ele gemeu, tristonho. Rose sorriu, como se se desculpasse e beijou levemente os lábios dele, mordiscando o inferior e puxando-o para si, e logo, saiu de cima dele, dando-se ao trabalho de fechar seu sutiã, assistindo-o a observar. Havia tantas coisas ali. Tão silenciosas e significativas. – Hey, você escutou o noticiário hoje?

– Não...

– É o fim do mundo. – soltou uma risadinha pelo nariz.

– Hum? – Rose fez uma careta. – Tipo... O mundo acabando totalmente?

– Sim... – ele balançou a cabeça solenemente. – Tal como todo o universo pegando fogo e todos morrendo.

Rose riu. – É sério... – ele insistiu.

– Eu acredito – mentiu ela, abrindo seus jeans e se desfazendo deles. Adrian acompanhou seus movimentos. – Não me olhe assim... Eu não quero ter que atrapalhar seu trabalho...

– Não está. Acredite. – ele piscou para ela, que agora, vestia um short de tecido leve... Do lado de fora fazia alguns malditos vinte graus, mas naquele apartamento onde o aquecedor vivia desligado — e por sua vez, queimado — parecia ser uma maldita amostra grátis do inferno, assim como Rose costumava pensar.

Podia-se ver o sol atravessando as janelas, fazendo aquelas pequenas poeiras serem observadas. O cheiro do sol no chão, deixava naquele lugar era incrível. Algo que soava como manhã de natal. Pelo menos, para Rose.

– O mundo vai acabar... Eu preciso de um descanso. Eu não me importaria de mandar meu chefe para o inferno e viver enfurnado dentro de casa com você numa cama, assistindo a reapresentação de Silent Night Deadly Night. – argumentou Adrian, se levantando e caminhando até onde Rose permanecia de pé, encarando-o com os braços cruzados.

– Mas... Se o mundo não acabar, você tem que lembrar que ficará desempregado, cheio de dívidas e descansado o suficiente para ficar entediado. – ele colocou uma mão a cada lado do quadril da mulher, sorrindo abobalhado enquanto olhava para baixo, para vê-la encarando-o com aquela velha expressão que a fazia parecer um pequeno felino irritado, na tentativa de mostrar-se ser uma tigresa.

– Valeria a pena. – ele piscou.

– Não... – ela colocou uma mão em cada lado do peito dele, tentando afastá-lo, sem muito sucesso.

– Por um lado... Você tem razão. – disse ele, fingindo uma careta pensativa. – Se eu ficar desempregado, como eu pagaria a faculdade das cinco crianças.

– Wow! – exclamou ela. – Eu não sabia que você tinha outra mulher disposta a ter cinco crianças com você. A não ser você possa engravidar sozinho e dar a luz, e eu não saiba...

Adrian riu, se inclinando um pouco para beijá-la. Após um longo calmo beijo, eles se afastaram, ainda quentes, ele a caminho da sua escrivaninha, para terminar o seu maldito relatório e ela para a cozinha, tentar fazer um jantar decente, após ele ter deixado o assado queimar.

[...]

– Você acredita mesmo no fim do mundo? – perguntou Rose, abraçada a ele. Ambos assistiam a um filme sobre alienígenas.

– Talvez zumbis. – Adrian murmurou contra o cabelo dela. Ela riu baixinho, se aconchegando mais a ele. – O mundo não precisa de muita coisa para acabar, e do jeito que as coisas vão... Eu não duvidaria que realmente acabasse. Afinal, ele acabou.

Rose fez um sim com a cabeça, e voltando a se afundar no peito quente do marido.

– Talvez devêssemos ter um bebê. – murmurou ela após um longo instante. Não era mentira, ela havia pensado nisso nos últimos dias. Em como a vida deles poderia ser melhor com uma nova vida. Um bebê era uma benção para um relacionamento. Ela sabia disso. Muitas vezes, havia se pegado em frente ao espelho, de lado, imaginando como sua barriga ficaria caso houvesse uma criança ali. E então, imaginar sobre o fim do mundo, ou sobre como poderia vir a morrer, a fez pensar novamente sobre aquilo, dessa vez, em voz alta.

– Você está paranoica. – resmungou Adrian, ainda que houvesse um sorriso em seus lábios e voz.

– Talvez... – concordou ela. – De qualquer forma, você ainda deixou a carne queimar.

Adrian revirou os olhos ao notar que ela ainda se lembrava daquilo. Era horrível ter de escutar Rose resmungar pelo resto da semana sobre como ele havia estragado o almoço deles. Com um suspiro pesado, ele se levantou, sendo seguidos pelos olhos de Rose.

– Hey, para onde está indo? – perguntou ela, ao notá-lo vestir seu casaco.

– Comprar um frango. – disse ele. – É uma semana difícil e eu não quero que você me mate pelo simples fato de eu ter queimado o assado. Eu sinto muito e-

– Eu não estou lhe repreendendo por isso. – ela o interrompeu.

– Eu sei. – ele balançou a cabeça. – Eu só não quero isso... E sem falar que eu prefiro frango à carne.

Rose se levantou, dizendo prontamente que iria com ele. Ela caminhou até o quarto no cômodo ao lado, e agarrou seus jeans velhos. Ela o vestiu e pegou um casaco fino, correndo até Adrian e pegando as chaves na parede. Apesar dele ter dito que não precisava que ela fosse com ele, ela havia feito questão, alegando querer ver um pouco da rua — com ele.

O sol já havia se posto, passava um pouco mais das sete da noite, e algumas pessoas caminhavam livre e distraidamente pela rua. Muitos que poderiam ser considerados casais aproveitando o que alguns chamavam de “o fim do mundo”. Rose sorriu para Adrian, enquanto apertava sua mão e o puxava até uma pequena barraquinha de sorvetes. Eles compraram dois, o dela vinha a ser de chocolate e o dele, alguma coisa que mais parecia ser uma mistura nova de champanhe. Os dois se sentaram num banco junto a uma árvore. Adrian manteve seu braço ao redor dos ombros de Rose, enquanto conversavam coisas simples e bobas. Então, um homem passou por eles, ele vestia uma camisa com uma estampa de pinguim. Aquilo pareceu chamar atenção de Adrian, que acompanhou o homem com os olhos atentos e um tanto sérios.

– O que? – murmurou Rose, cutucando-o levemente nas costelas.

– Sabe o que eu gosto dos pinguins? – perguntou Adrian, Rose apenas balançou a cabeça, para que ele continuasse, e ele o fez. – Eles passam todas as suas vidas apenas com um parceiro. Se eles perdem os seus, bem, eles não procuram por outros... Eles apenas vivem suas vidas, sozinhos... São como almas gêmeas.

Rose observou o rosto do marido, enquanto ele falava. Seus olhos tão cheios de uma ternura única. Poucas haviam sido as vezes que vira aquilo nos olhos dele. E bem... Agora, estava lá.

– Você é o meu pinguim... – Rose murmurou, enlaçando-o pelo pescoço e o abraçando fortemente. Havia uma sensação estranha ali, pairando sobre eles.

– Isso é uma forma de dizer que me ama e que sou sua alma gêmea? – brincou ele, beijando o topo da cabeça dela.

– De certa forma... – concordou ela.

– Você é tudo o que me resta... Acho que a única coisa que eu realmente lutaria e morreria se perdesse. – ele apertou-a em seus braços, sua voz rouca e dolorosa.

– Você está falando besteira! – resmungou ela. Havia algo ali... Algo que Rose não conseguia alcançar.

– Não... Não estou. – seu tom brincalhão fora embora com tamanha facilidade. Não havia rastros de que outrora havia sido uma brincadeira. A seriedade em seu tom apenas deixava Rose aflita. Ela nunca fora sensitiva, e bem... Nem precisava, para sentir o que sentiu naquele instante, que se intensificou com as palavras seguintes dele. – Se eu morresse... O que você faria?

Ela ponderou, pensando no tipo estúpido de brincadeira que ele estava fazendo.

– Eu não sei. – admitiu ela, após alguns longos instantes pensando. – Eu não penso nessas coisas. Se eu morresse... Eu voltaria para cuidar de você, mas se você morresse... Eu acho que eu morreria também.

Adrian riu baixinho, enquanto apertava a morena ainda mais, em um abraço quase esmagador.

– Parece que estamos prestes a morrer. – brincou ela.

– Sim. – sua voz não era tão séria como antes, mas também não era totalmente divertida. – Eu amo você. Você sabe, não?

– É claro que sim. – murmurou ela, se levantando e estendendo uma mão para ele, que pegou prontamente, se levantando e colocando um braço sobre o ombro da mulher em um meio abraço. Uma diferença de altura gigantesca, mas bastante convidativa.

– Podíamos ir à praia. – sugeriu ele, enquanto caminhavam pela rua, de volta ao apartamento.

– Não hoje. – disse ela. – Estou cansada... Tudo o que eu quero é dormir um pouco, e você... Bem... Terminar seu trabalho para amanhã.

Adrian revirou os olhos, ainda sorrindo. Eles subiram a ladeira até o prédio onde moravam, a rua deserta, a lua no topo do céu, marcando uma noite agradável. Foi quando alguma coisa se mexeu na visão periférica dos dois, pulando do escuro para frente deles. Era um assalto.

Poucas vezes foram encontrados assaltos naquela parte do bairro. Não era uma parte rica, não havia muitas pessoas perambulando por ali àquela hora. Pelo menos, não normalmente. Mas aquela havia sido uma exceção.

– Passem o dinheiro! – o homem deu voz de assalto. Rose sentiu-se estática demais para se mexer ou fazer qualquer outra coisa.

– Calma... – Adrian pediu, enquanto levava sua mão até o bolso traseiro e tirava sua carteira, passando para o homem, que a pegou em uma rapidez tão ávida, que quase derrubou. Ele parecia nervoso, tanto que suas mãos tremiam, assim como as de Rose. Ela por sua vez, levou suas mãos ao bolso, retirando um maço de algumas notas de dez dólares e passou para o homem com mão tremula.

– O colar também! – exclamou o homem ao notar a joia. Rose, por sua vez, pareceu receosa. Ela não queria passar a única coisa que lhe restara de lembrança de sua melhor amiga, hoje, morta em um acidente de carro com seus pais e irmão. Por um pouco, Rose não havia estado naquele carro também, se não fosse pela insistência de sua mãe em passarem mais tempo juntas.

– É uma lembrança... Mais sentimental do que qualquer coisa... – chorou ela. O homem armado balançou a arma em direção a ela, impaciente.

– Anda! Eu não tenho a noite inteira.

Adrian segurou o braço da mulher, de forma significativa, ele abaixou os lábios até a orelha dela e sussurrou. – Entregue a ele e vamos para casa, querida.

Ela apenas assentiu, emudecida, tentando tirar o colar do pescoço, mas que ficara preso em seu cabelo enquanto o tirava. O homem armado, impaciente demais, levou sua mão até os cabelos dela, puxando-o junto com o colar. Adrian irou-se com o ato. Aquilo estava machucando Rose.

– Pare! – ordenou ele. O homem armado virou-se para ele, com uma expressão fria.

– O que disse? – testou.

– Eu mandei você soltar ela. – repetiu, sua voz encolerizada. O homem a soltou, levantando a arma até Adrian.

– Mande-me parar agora. – ele puxou o cabelo da mulher para baixo, testando o homem ao lado dela. Rose mordeu os lábios por dentro, tentando não gritar. O que soou como um gruído de dor. Adrian não pensou duas vezes e lançou-se sobre o homem, socando-o. Os dois se embolaram no chão, enquanto Adrian acertava alguns socos sobre o homem, assim como o homem acertava-o.

– Rose! Corra! – Adrian ordenou, mas alguma coisa nela a fez parar, não conseguindo mover-se. Alguma coisa a puxou para baixo, como se a estivesse congelando. Então, agachada, ela tateou o chão atrás da arma do homem, que havia soltado quando a briga começara. Ela a pegou, apontando para os homens ali, procurando por uma boa mira.

Em espaços de segundos, a briga cessou, e Rose apertou o gatilho, em sua melhor mira possível, acertando o homem no ombro e assistindo-o cair no chão e gruir de dor, deixando alguma coisa que soou como uma faca, cair no chão junto a ele. Mas quando seus sentidos se deram conta, notou que havia tanto sangue. Ela agachou-se junto a Adrian, que tinha um rosto pálido e o corpo coberto de sangue. Sangue do homem, pensou ela. Mas assim que os olhos de Adrian a fitaram, ela notou que não. Tateou o peito do marido, à procura do ferimento e o encontrou, junto ao quadril, do lado esquerdo, sangue pintava todo o asfalto de vermelho.

– Oh meu Deus! – exclamou ela, tirando seu casaco prontamente e pressionando contra o ferimento. – Não durma...

– Eu não vou... – balbuciou ele, estendendo uma mão para enxugar as lágrimas que começavam a escorrer no rosto da mulher desesperada. Ela segurou sua mão, enquanto lutava contra as lágrimas. Rose gritou por socorro, notando então que o bandido havia fugido.

– Vai ficar tudo bem, ok? – prometeu ela. – Nós vamos à praia. Vamos comer frango no almoço amanhã. Vai dar tudo certo. Você vai ver.

– Não... – ele sorriu, de uma forma que ela então pode ver o sangue em sua boca, manchando seus dentes em um vermelho. – Você sabe... Sobre o que eu falei mais cedo.

– Sobre os pinguins? – completou ela. Ele apenas acenou imperceptivelmente. – Não precisa... Eu sei. Você sempre será meu pinguim... Nós vamos criar nossos filhos... Nós vamos trabalhar para pagar a faculdade deles. Apenas... Não feche os olhos, ok?

– Eu amo você. – balbuciou ele. – Mesmo que eu... Não fique com você. Mesmo que você encontre outro pinguim para você...

– Nós vamos. Não fale besteira. – ela chorou. Adrian sentia seus olhos pesados, e tentou fechá-los, mas ele sabia... Sabia que se o fizesse, muito provavelmente não os abriria novamente. Nunca mais. Pelo menos, não para ver aquele rosto ao qual tanto amava ver sempre que abria seus olhos após um pesadelo. – Não durma.

– Está frio, Rose...

– Eu sei. Vai ficar tudo bem. A ajuda está vindo. – ela o assegurou.

– Não vai chegar a tempo. – ele sorriu debilmente. – Eu... Eu quero que você seja feliz...

– Shh. – ela colocou um dedo sobre os lábios dele, se abaixando em seguida para dar um pequeno beijo nele. Um sorriso preguiçoso e débil tomaram as feições dele, seus olhos se fechando. Alguma luz soou ao longe, assim como uma sirene. Rose olhou para a luz, agradecendo internamente, e voltou seus olhos para baixo. – Vê? A ajuda chegou. Vai dar tudo cert-

Suas palavras morreram ao olhar para Adrian. Seu rosto pálido, seus olhos fechados. Ela balançou sua cabeça freneticamente, enquanto sacudia levemente os ombros dele.

– Acorde. Adrian! Por favor... Não faça isso comigo! – implorou, sentindo mãos puxá-la para longe. – Não! Faça a porra de alguma coisa! Vocês precisam trazê-lo de volta! Ele não pode morrer!

– Senhora... Está tudo bem... – alguém disse, ainda segurando-a enquanto os paramédicos começavam a colocar o corpo de Adrian em uma maca.

– Não! Não está! Façam alguma coisa... – as palavras foram gradativamente desaparecendo. Ela agarrou-se à camisa do homem que a segurava, agora, virando-se para o peito dele enquanto deixava as lágrimas saírem. Tornando-se gritos e lamúrias.

– Shh... – Disse o homem. – Vai ficar tudo bem...

Mas Rose sabia que não. Não iria. Havia uma parte nela que havia desaparecido, destruído em milhares de pedaços em segundos, como se tudo que algum dia acreditara fosse destruído. Como se seu coração inchasse tanto, tornando difícil respirar ou fazer qualquer outra coisa. Alguém dera ordens de tirá-la dali, alegando chamar a família dela, ou qualquer outra pessoa. Ela não tinha mais ninguém. Não parecia que havia qualquer outra pessoa que pudesse ajudá-la. Reclusa em seu mundo, Rose então percebeu que mesmo que o mundo não acabasse aquela noite, como Adrian outrora havia dito que poderia vir a acontecer, as coisas haviam definitivamente acabado para ela. O tipo de sentimento que a acompanharia para sempre. Tudo o que parecia para ela, era que o mundo — o seu mundo — havia acabado.

– Meu pinguim... – murmurou para ela mesma, deixando um pequeno flash de um sorriso triste soar em seus lábios, enquanto voltava a desmoronar-se em lágrimas.

— fim —


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