Eu abri os olhos para uma manhã muito nublada e levantei não reconhecendo onde eu estava. Ah, é claro. Quarto da Gina. A realidade me atingiu cedo demais para o meu gosto. Notei que Gina ainda dormia, mas já estava na hora de me arrumar então fui para o banheiro tomar banho e acordei ela quando terminei.

 Vesti uma calça de couro preta, uma blusa que dizia “The Band Is With Me”, um coturno e uma jaqueta jeans leve. Fiz uma escova rápida no cabelo, e desci para comer algo.

 Os gêmeos Weasley já estavam na cozinha preparando algo e sorriram para mim e Gina.

 – Bom dia senhoritas! – Disse o que reconheci como Fred. – Vai ser bacon e ovos ou ovos e bacon?

 Eu sorri para piada de Fred, eu não como fritura no café da manhã. Mas aceitei por educação.

 – Oi gente – Disse Rony chegando a cozinha. – Achei que você não gostava de fritura no café Mione.

 Sra. Weasley me olhou como quem se desculpa e se levantou para pegar outra coisa.

 – Não precisa fazer isso Sra. Weasley, eu não tenho costume mesmo, mas não vejo problemas! Está tudo muito bom! – Falei e lancei um olhar de raiva para o Rony, que ficou vermelho.

 Passamos o resto do café em silêncio e Fred nos deu uma carona para a escola.

 – Ainda temos um trato? – Rony perguntou, enquanto íamos para sala.

 – Eu cumpro meus acordos Weasley – Falei com um sorriso irônico.

 Ele só deu de ombros e me olhou com cara de sapeca.

 – Agora que você está lá em casa vamos ter muito tempo para cumprir o acordo – Ele me lançou uma piscadela e foi falar com Melanie, que só se afastou dele e foi para sala.

 Fiquei curiosa, mas isso não me prendeu por muito tempo. Vitor Krum vinha na minha direção sorrindo.

 – Onde você esteve a semana toda Hermione? – Perguntou ele caloroso.

 – No hospital – Respondi calmamente.

 – O quê houve Mione? – Ele pareceu assustado.

 Suspirei ao contar a história para ele, eu já cansei de contar essa história. Ele cerrou os punhos ao ouvir aquilo e virou de costas para mim andando ferozmente. Ah, ele acha que eu ficar com o Draco é uma ofensa? Eu não sou nada dele!

 Mas de repente eu notei a direção que ele estava tomando: Draco Malfoy.

 Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ele já havia dado um soco na caro do Malfoy, que tentava revidar, mas Krum era muito mais forte que Malfoy. Ele distribuía socos na barriga dele. E as pessoas começavam a gritar briga repetidamente, abri o caminho até a briga e olhei o Malfoy, que não conseguia falar.

 – Krum! Para – Gritei. – Para Vitor, por favor!

 Tentei me meter no meio, mas Rony me segurou, e disse que era para eu ficar ali. Ele e Harry tentaram separar a briga, mas Vitor estava furioso e não os notou. Vi ele dar um soco em Rony e não me controlei.

 – Dá para vocês pararem? – Gritei mais alto que todos, e as pessoas olharam na minha direção. – Vitor, obrigada e tudo... Mas eu não preciso que me defenda ok?

 Ajudei Rony a se levantar do chão e pedi para Harry levar o Draco à enfermaria.

 – Me desculpe Mione – Vitor pediu.

 – Tudo bem, eu te ligo mais tarde ok? – Eu falei ainda apoiando o Rony.

 Levei o Rony até a cantina e pedi gelo para colocar no olho dele.

 – Ai – Rony protestou.

 Revirei os olhos e o encarei.

 – Você podia parar de reclamar, Rony! Ia ajudar muito – Falei impaciente.

 – Mas isso dói – Ele gemeu quando eu coloquei o gelo de novo.

 – Isso não aconteceria que não saísse interrompendo brigas por aí! – Exclamei.

 – Se eu não fosse você iria – Rony esclareceu com uma careta de dor.

  – Vitor não iria me bater – Revirei os olhos.

 – Ele nem estava vendo quem ele acertava Mione! O cara é maluco! – Rony exclamou.

 – O Vitor é legal! Só meio alterado – Respondi pressionando mais o gelo, o que provocou uma careta do Rony.

 – O cara é um animal Mione! Eu me preocupo com você! – Rony exclamou.

 – Você não precisa! Você tem a Melanie ok? Você tem seus pais, você tem seus amigos... E eu... Eu só tenho a Gina, o Simas e o Harry – Falei inexpressiva.

 – Você tem a mim também – Ele sussurrou.

 – Não tem sido assim ultimamente – Eu falei com lágrimas nos olhos, mas sem chorar.

 – Por que você não quer! Você me empurra para fora sempre que eu tento me aproximar Mione! – Ele falou e eu baixei o gelo.

 – Já pensou que talvez tenha um motivo para isso Rony? – Eu perguntei irritada.

 – Ah, e qual? – Ele perguntou me olhando.

 – Sua namoradinha! – Respondi sem pensar e logo me calei.

 – Você também ficou com o Simas lembra? E você que disse que só me queria como amigo, e aí quando eu falei da Melanie... Você me beijou – Ele falou com uma careta, por que eu recoloquei o gelo.

 – Eu... Eu notei que gostava de você aquele dia Rony, por isso eu estava indo para sua casa, satisfeito? – Falei.

 – Não foi pelo Simas? – Ele perguntou com os olhos brilhando.

 – Não, não foi pelo Simas – Respondi.

 Rony sorriu e segurou minha mão com o gelo no ar, me impedindo de recolocar o gelo e se aproximou.

 – E agora o quê você sente por mim? – Ele perguntou.

 – Eu... – Balbuciei.

 Ele colocou a outra mão na minha cintura e se aproximou até ficar com a testa colada na minha.

 – Eu preciso ir – Falei me afastando e indo embora dali, a Melanie vai contar tudo se souber daquela cena, além disso, o Rony precisa terminar com ela antes de se aproximar de mim de novo.

 Pedi licença ao professor, e entrei. Achei um milagre eu entrar atrasada, mas acho que ele soube que eu estava no hospital e ficou como pena. Pena, todo mundo está sentindo isso agora?

 Passei o resto da aula esperando o Rony aparecer, mas ele não o fez. O sinal tocou e eu comecei a caminhar desanimada para o intervalo. E se a Melanie não existisse? Talvez eu não tivesse esses curativos e estaria em minha própria casa, provavelmente com o Rony.

 Me larguei em um banco qualquer, e fechei os olhos. Deus! Acho que já estou exausta.

 – Posso falar com você agora? – Perguntou uma voz feminina conhecida, abri os olhos e Melanie estava na minha frente.

 Levantei as sobrancelhas e cruzei os braços, esperando.

 – Olha Mione, eu não tenho orgulho do que eu fiz ok? – Ele falou com lágrimas nos olhos. – Eu queria poder voltar atrás, mas não posso! O que eu posso fazer é te liberar! Você pode fazer o quê quiser com o Rony ok? Eu desisto dele. Eu não vou contar tá bom? Esse é meu passe livre. Vou terminar essa tarde.

 Grossas lágrimas rolavam no rosto de Melanie a essa altura.

 – Por que essa mudança? – Perguntei impassível.

 – Digamos que a vida me ensinou, que o amor às vezes... Pode doer se tirado de nós... E você e Rony se gostam – Ela esclareceu entre lágrimas.

 – Como assim? – Perguntei ainda de braços cruzados.

 – Minha mãe... – Melanie começou a soluçar entre lágrimas e não conseguiu concluir.

 A menina saiu andando e tentando secar as lágrimas, que desciam em um fluxo muito grande desta vez.

 Eu pensei em ir atrás dela, mas desisti. Eu não tenho por que ter pena dessa garota, ela não teve.

 O resto das aulas se arrastaram como uma tortura, e pela primeira vez na minha vida não respondi nenhuma pergunta dos professores. Todos pareceram associar minha falta de vontade pelas aulas ao meu recente período no hospital, o que me manteve livre de perguntas embaraçosas.

 Vitor Krum estava parado na saída da minha sala de aula.

 – Não vai querer ter essa conversa agora – Falei enquanto ele me seguia até o estacionamento.

 – Mione! Eu fiquei furioso está bem? Eu não vi em quem eu acertei! – Ele falou suplicante.

 – Não é para mim que você tem que pedir desculpas – Respondi com simplicidade.

 – Eu sei que é para o Rony! – Ele falou irritado.

 – É – Falei encarando o chão.

 – Mione? – Ele balbuciou.

 – Eu só preciso de um tempo sozinha, longe de todo mundo. Isso não era para acontecer, sinto muito – Falei continuando a andar para o estacionamento.

 – Como assim? – Ouvi ele gritar lá atrás, mas só continuei andando.

 Eu não devia ter deixado o Vitor se aproximar, foi um erro, eu sei. Mas o fato é que... Agora eu e Rony podemos ser o que bem entendermos!

 Corri para o carro dos gêmeos, que tinham ido nos buscar na escola. Rony já estava lá dentro.

 – E então vamos começar? – Ele falou vendo se eu estava com raiva por ele ter tentado me beijar.

 Como explicar que eu queria que ele tentasse de novo? Bom, eu vou ter que esperar Melanie terminar com ele primeiro.

 – Por onde quer começar? – Sorri de orelha a orelha.

 – Em casa fazemos isso – Ele falou. – Não vai querer Fred e Jorge sabendo seus segredos.

 – É uma honra saber que confia tanto em nós irmãozinho! – Respondeu Fred.

 Eu ri com Gina durante todo o caminho com as pequenas discussões de Rony com os gêmeos.

 Cheguei a casa Weasley correndo para tomar um banho rápido e completo, assim logo eu desceria. Coloquei jeans surrados e uma blusa xadrez. Desci enfiando o tênis no pé, ainda empolgada com o fato de saber sobre o Rony.

 – Correspondência para você Mione! – Ouvi Fred gritar.

 Franzi o cenho, como a diabos a minha correspondência estava parando na casa dos Weasley? Peguei mesmo assim, era o resultado dos exames. Comecei a abrir, mas Rony me puxou para subir as escadas, larguei-os em uma mesinha e subi com ele.

 – Então o quê quer saber? – Ele perguntou sorrindo.