Eu não me lembro da última vez que passei tanto tempo em um hospital. Se eu pensar direito, talvez tenha algum, mas eu não estou nem me importando com isso agora. Respira fundo Hermione!

 – Por que diabos eu não posso ir para casa se estou perfeitamente bem? – Encarei a enfermeira ruiva, da qual, até agora eu não sabia o nome.

 – Srta. Granger, depois dos exames é sempre importante a observação do estado do paciente, querida – Ela me respondeu anotando alguma coisa na prancheta.

Deus! Eles têm que anotar cada segundo naquela maldita prancheta?

 – O estado atual da paciente é irritada, e com vontade de ir para casa – Falei me sentindo uma criança mimada. Bem, faz uma semana que eu estou aqui, já era hora de me estressar!

– Sinto muito, mas isso só vai ser possível quando notarmos que suas reações estão se normalizando – Ela respondeu.

 – Eu só caí em cima de um maldito copo de vidro! – Respondi irritada.

 Cruzei os braços e peguei um doce de uma das cestas que estavam ali, eram várias pois todo mundo trazia balões, doces e ursinhos. Deus! Isso é um hospital! Não um maldito aniversário!

 É meu humor não estava dos melhores desde a visita da Melanie que não havia falado nada, só ouvido e assentido, com lágrimas nos olhos. Como se ela fosse a vitima!

 A enfermeira tirou calmamente o doce das minhas mãos e disse que eu não poderia comer nada por enquanto. Céus! Eles querem me matar de fome? Meu sangue ferveu e me levantei da cama, arrancando o que me conectava ao monitor de batimentos. Ela tentou me conter, mas eu apenas fugi dela.

 Continuei me esquivando até que pelo último corredor, e vi a Melanie sentada em uma cadeira. Ela parece abatida e parece ter passado noites em claro.

 – Melanie? – Perguntei, o que a fez levantar a cabeça.

 – Mione? – Ela perguntou secando o rosto. – Por que está com essas roupas de paciente?

 – Ah, não importa – Eu falei dando de ombros. – Por que estava chorando?

 – Eu não estava chorando, e eu tenho que ir – Ela falou se apressando para saída.

 – Eu vou com você – Eu falei.

 – Vestida assim? – Ela arqueou as sobrancelhas.

 Dei de ombros e a segui, mas a recepcionista não me deixou sair, e os seguranças também impediram minha saída. Merda.

 Voltei para meu quarto, vigiada pelo segurança. E a Sra. Weasley me esperava com uma expressão decepcionada na porta.

 Eu comecei um pedido de desculpas, mas ele ficou entalado quando eu vi o Rony, com mais dois ruivos gêmeos segurando minhas malas. Rony parecia estar se controlando para não rir da minha cara, e os outros dois apenas me olharam sorrindo como cópias.

 – Olá Hermione! É um prazer conhecer a “linda menina de olhos castanhos, com um leve traço de verde” de que Rony fala tanto! – Estava claro que ele estava repetindo algo que Rony disse para ele.

 – Cala boca Fred! – Rony grunhiu. – Eu te falei também da nossa briga

 – Ah aquela briga, pela qual você chorou quando chegou em casa? – Disse o outro “inocentemente”. Eu sabia que ele estava sacaneado o Rony.

 – Eu não chorei Jorge! – Exclamou Rony.

 – Choveu nos seus olhos irmãozinho? – Provocou Fred.

 Rony pareceu que ia xingar, mas eu interrompi.

 – Vocês são irmãos? – Perguntei confusa.

 – Somos sim, o Rony não te contou? – Perguntou Fred.

 – Não, eu não sabia que ele tinha irmãos além da Gina – Falei admirada.

 – Tem muito que você não sabe sobre mim – Rony falou com ferocidade.

 O olhar dele foi de raiva, Rony nunca olhou para mim assim. Meus olhos encheram de lágrimas, mas fingi não me importar.

 – Prefiro nem saber sobre você Weasley – Respondi com o mesmo nível de ferocidade dele.

 Jorge me olhou como se soubesse que eu ia chorar, e aquele olhar realmente fez as lágrimas caírem. Rony me olhou com medo, e pareceu querer se aproximar, mas Fred o deteve e indicou a porta. Eles levaram minhas malas. Pra onde diabos eles levaram minhas malas?

 A Sra. Weasley voltou e mais uma vez secou minhas lágrimas.

 – Querida, você vai ficar em nossa casa por alguns dias, seus pais me pediram. – Ela falou como se soubesse que eu ia implorar para não ir e foi exatamente o que eu fiz.

 Ela apenas me disse que os meus pais, queriam que ela tomasse conta de mim até o fim do ano letivo. Então é isso? Eles simplesmente me largam por um ano na casa de pessoas que eles nem conhecem direito?

 Eu sentei no bando traseiro do carro de Jorge, ainda chorando muito. Eu não vou mais ver meus pais pelo resto do ano.

 – Mione me desculpa – Rony falou.

 – Eu estou assim – Falei apontando a minha cara. – Pelos idiotas dos meus pais, não por você Rony.

 Fred e Jorge fingiram não escutar.

 E eu só encostei a cabeça no vidro. Eu vou ter que morar na casa de Rony.

 – Então Hermione, tem um lado bom de morar sem pais, certo? Aproveite! – Disse Jorge depois de um tempo.

 – Ah, claro o lado bom com certeza é ficar sempre sozinha e ter crescido criada por vizinhos e... – Minhas lágrimas me impediram de continuar.

 –... E festas em que pode beber todas e acabar com os braços enfaixados – Completou Fred rindo.

 Ei tive que rir dessa, mas o som era entrecortado e instável. Como se eu tivesse entrado em choque. Rony me olhou com medo e eu apenas mostrei o dedo do meio. Cansei de suportar o Rony.

 – Nossa, Rony, você fez tanta merda que perdeu essa aí – Fred riu. – Como era mesmo Jorge?

 – “A Mione é a garota mais incrível que eu já conheci” – Eles falaram em coro, claramente repetindo algo que Rony disse antes. Antes. Antes dessa bagunça toda.

 – Isso foi no passado – Rony murmurou.

 – Ah, claro! Noite passada realmente faz muito tempo – Jorge riu.

 Eu apenas olhei para Rony com uma cara de quem pedia para ele contar tudo de uma vez.

 – Hermione, não me olhe desse jeito! Você não tem o direito de me olhar assim depois de tudo que você falou – Rony explodiu.

 – Tudo bem então – Murmurei.

 – Rony, eu te juro que você parece uma garota falando – Gritou Fred.

 Seguimos o resto do caminho com eu, Fred e Jorge cantando em plenos pulmões Welcome To My Life do Simple Plan. Rony embora parecesse conhecer a música, se recusava a cantar comigo.

 Fred disse que tinha certeza que aquela música era tudo que eu sentia, e eu concordei com ele. Eu gostei muito dos irmãos de Rony.

 Cheguei e eles me falaram que eu dividiria o quarto com a Gina. Espero que ela não se importe. Fechei os olhos ao lembrar que Gina era a única que entende o que eu sinto em relação aos meus pais. A mudança seria boa se não houvesse Rony.

 Eu me despedi dizendo que não queria jantar e Gina subiu comigo. Eu comecei a arrumar minhas coisas em uma cômoda de pinho, e graças a Deus Gina tinha o próprio banheiro.

 Tomei um banho e vesti minha camisola branca que continha um único e grande sorriso na frente, espero que isso espante os pesadelos. Continuei penteando meus cabelos por muito tempo, e fiz um trança.

 Deitei calmamente, e tentei dormir. Eu me revirei pela cama toda por um longo tempo, e notei que Gina já estava dormindo. Me levantei agoniada, a fim de ir a cozinha beber água.

 Peguei um copo de água gelada e me sentei no sofá da sala, acendendo a luz é claro. Eu ouvi passos, mas devia ser só minha imaginação ou o vento nas folhas.

 – Acordada? – Rony perguntou segurando um copo de leite e um pote de biscoitos.

 – Imagino que eu não seja sonâmbula – Respondi bebendo a minha água.

 – Não está com fome? Você não jantou... Vou pegar alguma coisa para você – Ele disse. – Não devia ficar sem comer, acabou de sair do hospital!

 E antes que eu pudesse protestar ele já estava na cozinha fazendo alguma coisa, eu só pude sorrir para preocupação do Rony, mas disfarcei bem rápido quando ele voltou.

 Rony colocou um prato com um sanduiche de patê, queijo, presunto e azeitonas na minha frente. E foi pegar um suco de Laranja. Revirei os olhos para ele.

 – Pareço prestes a desmaiar? – Perguntei.

 – Eu preferia não comentar, mas parece – Alfinetou ele, para logo completar: – É sério coma, não vai querer voltar para o hospital ou algo assim.

 – Suponho que não – Falei. – Mas por que toda essa preocupação? Afinal eu não sei nada sobre você

 – Hermione, você tem que admitir que não sabemos muito um sobre o outro – Ele disse revirando os olhos.

– Me conte sobre você, que te conto sobre minha vida – Eu falei ironizando.

 Rony fez uma expressão de raiva com minha ironia, mas logo se suavizou.

 – Então, eu vou ignorar a sua ironia e temos um trato? – Ele perguntou sorrindo.

 – Como assim um trato? – Perguntei sem entender.

 – Começamos amanhã, você me conta tudo e eu te conto tudo – Ele sorriu – Mas agora estou com sono, e realmente quero ir para a cama.

 Rony começou a subir as escadas.

 – Rony! – Eu falei. – Não pense que isso muda as coisas que eu te disse.

 Para minha surpresa ele apenas riu.

 – Não esperei que mudasse Granger – Ele falou com uma piscadela e subiu.

Deus! Nós dois somos bipolares, tenho certeza! Mesmo com os pensamentos negativos, eu sorri, a expectativa de saber mais sobre Rony, era maravilhosa.

  Continuei comendo e decidi ir dormir, subi para o quarto e tinha uma mensagem no meu telefone.

MENSAGEM

Mione, preciso falar com você.

Xoxo

-Melanie

 Arqueei as sobrancelhas e apaguei a mensagem, a Melanie já esqueceu que eu é que tinha chamado ela para uma conversa? E eu não serei nada razoável desta vez.