Aurora Boreal escrita por Mr Ferazza


Capítulo 28
XXV. MUDANÇAS


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpas por algum eventual erro. Não tive tempo de revisar. obrigado pela compreensão.



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XXV. MUDANÇAS


Eu já havia dado adeus a Charlie. No entanto, parecia inevitável que eu tivesse de reviver aquela tortura novamente. Como sua filha, eu não deveria ser capaz de viver tudo isso com um sentimento de impotência. No entanto, era necessário. A lei era a lei e não podia, em hipótese alguma, ser desrespeitada — principalmente agora. Os Volturi, no sentido de uma organização que rege a lei do mundo vampiro, já não existiam. No entanto, isso só reforçava ainda mais a necessidade que a lei tinha de ser mantida e respeitada.


Charlie já havia sido avisado de suas opções; ele poderia se juntar a nós, como um vampiro ou... Eu não conseguia pensar na segunda opção; era dolorosa demais. No entanto, esse fora exatamente seu desejo. Ele se recusara veementemente a sair do lado de Sue. Se recusara a fazer parte desse mundo conosco. Agora, portanto, só havia uma única opção. Eu já havia, há muito, me acostumado — pelo menos tido um tempo para assimilar essa hipótese — com a ideia de que meu pai poderia se recusar a isso... E, então, seria o fim. Bem, não necessariamente o fim, porque poderia haver mais para ele. Eu sabia que sim.



Renesmee havia chorado e ficado muito triste com a situação... Só não se agitara demais por causa do bebê — sua gravidez estava se encaminhando para o fim. Em poucos dias conheceríamos o novo, ou nova, membro da família. Renesmee e Jake haviam dito a Carlisle que não queria saber o sexo da criança. Eu ficara curiosa, mas não havia insistido nesse ponto; a vontade dos pais prevaleceria. Edward, é claro, sabia interpretar uma ultrassonografia muito bem; ele já sabia o que o bebê seria.


— Não sei se vou conseguir viver sem vê-la por muito tempo, menina — dissera Charlie na noite em que me despedi dele de novo; eu havia tentado manter a cabeça erguida, com dignidade, e não abraça-lo loucamente — tentando com sucesso não quebrar sua caixa torácica — dizendo o quanto também sentiria falta dele.

Eu suspirei e disse a ele, de modo que conseguisse passar confiança para meu pai amado:

— Não exagere pai. Só vamos ir morar no Alasca... Carlisle tem alguns conhecidos lá e... — eu me interrompera, fazendo uma cara de que quem não estava prestes a desistir de tudo e ficar morando aqui. Para sempre. No entanto, aquilo era necessário e a lei reclamava em nossa partida. Eu precisava ser forte e saber que esse dever tinha de ser posto acima de muitas coisas.

Charlie me olhou com o canto dos olhos e depois os revirou. Ele suspirou pesadamente e depois disse:

— Tudo certo, garota — ele disse, sua mão quente e macia afagando meus cabelos envoltos pela bruma pegajosa dos chuviscos frios — Só me prometa que vai mandar algumas cartas de vez em quando... Sabe que eu não sou muito bom com toda essa tecnologia. Sem e-mails, por favor.

Eu sorri e assenti uma vez, beijando sua testa quente e molhada com a chuva.

— E me mande uma foto do... — ele hesitou à menção da palavra; para Charlie era tão difícil aceitar a ideia de ser bisavô quanto era, para mim, a de ser avó. — Bebê.

Eu sorri, me afastando de seus braços quentes, macios e ternos.

— Pode deixar pai. Vou mandar uma foto de seu bisneto assim que ele nascer. — eu disse e ele meio que se encolheu e sorriu quando eu disse sobre seu parentesco com a criança. — Talvez nós o visitemos em alguns meses.

Charlie assentiu de novo, limpou as lágrimas e abraçou Nessie com cuidado.

— Até logo, minha Nessie — ele disse quando Renesmee enterrou o rosto em seu peito.

Renesmee também enxugou as lágrimas e disse e Charlie em uma voz embargada:

— Nos vemos, vovô. — ela disse e beijou Charlie na testa. Ele corou e, por cima do ombro de Charlie, Renesmee deu um último sorriso para Sue.

Jake estava com sua matilha, despedindo-se deles. A distância, nesse caso, não seria um impasse; a alcateia podia ouvi-lo de qualquer canto do mundo.

Nessie e eu adentramos no carro prata que esperava por nós junto ao meio-fio de Charlie, lhe dirigimos um último sorriso e acenamos juntamente com Edward, no banco do motorista. Depois Edward pisou no acelerador e nós partimos, deixando Forks para trás.

Eu sabia que era uma obrigação. No entanto, não conseguia me conformar com ela. Aquela era a cidade em que toda minha vida havia começado. Apesar das lembranças obscuras, eu podia me lembrar perfeitamente de todos os meus dias aqui; os bons e os de minha época de zumbi... Parecia que tudo havia acontecido, literalmente, em outra vida. A primeira lembrança de primeira vez em que ele havia falado comigo veio à minha mente de uma forma estranha; A lembrança era cheia de uma nostalgia que eu não compreendia totalmente — não era como quando alguém escuta uma música e lembra, inconscientemente, de uma época. Era mais forte e mais espontânea do que isso.

Então eu senti que, se meu corpo ainda pudesse produzir lágrimas, eu estaria me acabando nelas. O lugar ia deixar saudade... Mesmo sabendo que eu viria visitar meu pai, a lembrança me fez ficar imóvel. Porque eu tinha, no máximo, trinta anos para vir para cá antes que não pudesse voltar jamais. Pelo menos não até que todos os que aqui viviam estivessem mortos. E isso incluía Charlie... Cum um nó na garganta, percebi que isso não era muito tempo. No entanto, era tempo mais do que suficiente para que eu morresse de saudades desse lugar. Obriguei-me a não pensar no ciclo interminável da vida e da morte, do qual que não fazia mais parte. Obviamente, eu estava radiante com minha vida, mas gente que eu amava iria partir. Logo. No entanto, me conformei com aquelas que ainda teriam muito tempo. Renesmee e minha família. Agora, também, meu neto ou neta...

Charlie dera meu futuro endereço a Reneé e, então, ela iria me visitar de vez em quando. A primeira vez que ela havia me visto fora há uns 8 anos. A mudança a havia alarmado, mas ela não fizera muita questão de saber o que havia acontecido comigo. Eu estava feliz e isso, para ela, era o bastante. Assim como, para mim, o fato de ela e Phil continuarem felizes, era o suficiente.

— Está tudo bem? — perguntou Edward, pousando sua mão na minha. Até aquele momento, eu não sabia que ele estava prestando atenção em mim.

Eu suspirei alto e disse:

— Está sim... Só estava pensando... — eu hesitei —... Que, apesar de nosso futuro estar estendido infinitamente diante de nós, eu não vou conseguir deixar para lá as lembranças que tenho desse lugar... Foi onde minha vida começou e... — eu não terminei porque ele me interrompeu.

— Ninguém disse que tem que deixar para trás... Bella, amor, aqui também foi onde a minha vida começou. Não vou esquecer jamais esse lugar maravilhoso. Mas nós vamos voltar. Sempre voltamos.

Eu suspirei.

— É verdade. Estou sendo uma boba, não é? — eu disse, tentando me lembrar de não soar mais tão idiota.

— Eu a julgaria uma se não estivesse agindo assim.

— Será que dá pra vocês calarem a boca? — perguntou Nessie, de brincadeira, do banco de trás. — Ou eu vou me desmanchar em lágrimas.

Nós assentimos no mesmo instante e sorrimos para ela.

Edward sorriu de novo. Seus olhos calorosos. Depois tirou sua mão da minha e, mesmo não precisando disso, colocou as duas mãos no volante.

Fiquei algum tempo calada, absorvendo a notícia. Quando o mirei de novo, Edward ainda sorria ou pouco — parecia, como eu, de alguma forma, vazio por deixa Forks para trás.

Atrás de nós, as florestas frias e, agora, pacatas e sem mistério algum, diminuíam à medida que o carro avançava. Mas eu não me senti vazia. Não mais. Pelo contrário, eu tinha o sentimento, bem lá no fundo, de que essa história sempre marcaria esse lugar. Significativo para mim e para Edward como não seria para mais ninguém, eu tinha certeza.

Mentalmente, eu contava o tempo que levaríamos para voltar a esse lugar. Eu estava sendo boba, é claro; Nem Forks, nem as florestas frias, a enorme casa branca ou e minha pequena casa saída dos contos iriam desaparecer. E nós voltaríamos.

Já sentindo saudades, consegui parar de pensar nisso e seguir meu “destino” (sentindo-me idiota por usar essa palavra). Meu “felizes para sempre”. E ele estava junto com Edward.


Meses depois...



— As contrações já não cessam mais — Disse-me Carlisle, colocando as Luvas cirúrgicas. A máscara também estava bem posicionada em sua boca; ele sabia que isso não era necessário, no entanto, o protocolo e os séculos de experiência e costume falavam mais alto nessa hora. — A bolsa amniótica já se rompeu e eu posso ouvir os ossos da cintura pélvica se abrindo. Os músculos das paredes uterinas já estão dilatados o bastante — disse enquanto colocava a outra luva, na mão esquerda.



Eu olhava para Renesmee com um misto de felicidade e espanto... Ela não parecia sentir dor. No entanto, as contrações deveriam estar incomodando.

— Precisarei pedir que saia, Bella... — disse Carlisle, sua voz não parecia conter nenhum milésimo do pânico que eu e Jake, eu podia apostar, sentíamos.

Eu assenti e, de constas, saí da sala. Dando um sorriso meio encorajador para Nessie — que também parecia não sentir nada além de felicidade —, eu saí de seu campo de visão. Carlisle fechou a porta do escritório que ficava do fim do corredor da casa de Tanya e pôs-se a trabalhar no parto de Nessie.

— E então, Bella — perguntou Jake, com os nervos à flor da pele. Levantando-se de repente, ele foi até mim e quase chacoalhou meus ombros como os familiares de alguém hospitalizado fazem na TV.

Eu demorei um segundo para entender que Jake falava comigo e mais um segundo para responder.

— Acalme-se, Jake — eu disse. Era muito fácil falar para manter a calma. Já eu mesma fazer isso...

Ele suspirou pesadamente e sentou-se na cadeira ne novo. Eu me coloquei rapidamente ao lado de Edward, que se sentava em um sofá distante, dividindo-o com Carmen, Eleazar e Tanya. Eu pousei a mão em seu ombro; Edward a pegou e a beijou de leve. Seu sorriso despreocupado demonstrava que Jake e eu estávamos sendo exagerados. Eu tentei me acalmar para que pudesse passar a mesma tranquilidade que ele parecia sentir.

— Relaxe, Bella — ele me disse quando minha corrente elétrica pinicou sua pele através da roupa. — Vai ficar tudo bem; Alice viu isso e ouço os pensamentos de Carlisle. Está quase acabando.

Eu assenti, tentando acatar sua solicitação. Não era fácil; o fato de Edward não ter podido ler a mente do bebê me preocupou, mas ele, obviamente, tinha uma explicação para isso. Ele me dissera:


Eu fiquei espantado com isso. No entanto, é completamente compreensível. Eu conseguia ouvir Renesmee porque sua mente já era completamente formada e amadurecida. O bebê, provavelmente, terá a capacidade mental normal para uma criança com sua idade.” Depois ele dera um sorriso para tranquilizar a mim a Renesmee.


Depois de alguns minutos, Edward sorriu e eu pude — todos podemos — ouvir o choro agudo da criança que acabara de nascer.




— Espere — disse Edward a mim quando eu começava a me levantar a seguir para a sala do parto. — O lugar está um pouco... Sujo de sangue e... — ele não terminou porque eu revirei os olhos, sorri para ele e segui até lá como se ele não me tivesse advertido.




Ele suspirou pesadamente e seguiu atrás de mim, com as suas mãos nas minhas. Jake também vinha atrás de nós, seguido por uma procissão de vampiros curiosos.


Quando eu entrei na sala, o cheiro do sangue foi a primeira coisa que notei; atingiu em cheio minhas narinas como um murro de chamas calorosas e doces. No entanto, era surpreendentemente fácil ignorar. Eu continuei respirando normalmente sem o menor desconforto.

Depois sido, não pude deixar de notar Renesmee; mesmo com uma aparência não muito gloriosa, ela era surpreendentemente linda. Seu cabelo estava desgrenhado e, sua testa, coberta de suor. Ele sorriu quando nos viu e Jake correu para seu lado, beijando sua testa pegajosa e, depois, suas mãos, até que deu um beijo de leve em seus lábios.

— Sente-se bem? — perguntou ele, colocando a mão em sua testa, como se quisesse verificar se ela estava com febre.

Renesmee só assentiu para ele. Depois, ele se voltou para Edward e para mim e também sorriu de modo encantador. Parecia que uma chama branca queimava por trás de sua pele. Renesmee estava em êxtase.

Pelo canto do olho, vi Carlisle siar de uma pequena mesa, coberta com um lençol branco — agora manchado de vermelho escuro — e de superfície forrada com tecidos esterilizados rigorosamente, em seus braços repousava uma figura mínima, do tamanho de... Bem, do tamanho de um recém-nascido. O bebê se debatia levemente e ainda choramingava um pouco. Carlisle deixou de lado uma tesoura esterilizada — que, obviamente, havia sido utilizada para cortar o cordão umbilical — e veio em nossa direção. Depois ele entregou, delicadamente, o bebê a Renesmee.

— Parabéns, mamãe — ele a congratulou. — É um lindo garoto.

Renesmee sorriu lindamente e estendeu os braços para o bebê. O corpo da criança parecia ter sido feito para que Renesmee pudesse aninhá-lo confortavelmente.

O sangue do rosto da criança já havia sido removido e eu pude ver sua linda e maravilhosa pele: Ele tinha a cor da pele de Jake, assim como os olhos, escuros como a meia-noite, pareciam ser uma mistura perfeita da cor dos olhos de Nessie e Jake; ao redor da pupila, a cor escura dava lugar a um verde incrivelmente lido e discreto. A cor de uma esmeralda. Parecia que todos tínhamos algo nosso para encontrar naquela linda criança. Os cabelos eram de um tom castanho muito familiar, lisos, parecendo mais um penugem, eles lembravam muito os tom de meus cabelos. Eles se transformavam, perto da raiz, em um tom acobreado perfeito e muito familiar também.

— Você é lindo — disse Renesmee, acariciando a face do bebê. Jake limpou um lágrima no canto dos olhos de Nessie e depois, quando percebeu que ele mesmo chorava, deu uma risada baixa e rouca. Depois ele assentiu, concordando com Renesmee.

Repentinamente, o bebê começou a chorar; um som agudo e meio estressado. Os olhos de Edward se iluminaram de uma forma que eu não conseguia desvendar o motivo.

— Já pensou em um nome para o bebê? — perguntou ele de repente. Eu soube que ele estava tentando distrair, para que ninguém percebesse sua reação.

Renesmee o mirou, dividindo a atenção entre ele e o bebê. Depois ela assentiu de leve, tomando cuidado para não sobressaltar a criança.

— Já pensei, sim... Como se você não soubesse — sua voz era um pouco sarcástica no final. — Se fosse menina, se chamaria Sarah, como a mãe de Jake — ela sorriu para ele e o beijou nos lábios, se esticando da maca de uma forma delicada. — Mas, como esse não é o caso, ele vai se chamar... — ela olhou para nós como quem faz mistério. Depois de algum tempo, como se estivesse esperando um rufar de tambores, disse: — Edward William.

Jake sorriu e lhe beijou de novo. Ele murmurou em seu ouvido: “Obrigado”. Renesmee também sorriu.

Eu ergui uma sobrancelha.

— O que significa o “William” — perguntei confusa.

— William é o nome de meu pai, Bells — explicou Jake.

Eu murmurei um “ah” e depois me senti idiota. Obviamente, Billy deveria ser um apelido. No entanto, eu sempre conhecera Billy somente como Billy, e nunca havia pensado que era um apelido. Eu sorri comigo mesma e revirei os olhos.

Depois Renesmee tocou Edward William e ele sorriu. Seu “eu te amo” Foi silencioso. No entanto, todos pudemos imaginar que fora isso que ela transmitira a seu bebê.

— Não acha que esse é um nome muito grande, Nessie? — perguntou Jake, franzindo as sobrancelhas.

Renesmee revirou os olhos para ele e disse:

— Existem apelidos — disse ela simplesmente. — Que tal o chamar de “Williee”

Era um apelido comum. Nós assentimos. No entanto, antes que pudéssemos ter tempo de falar mais alguma coisa, Carlisle agitou as mãos em um gesto pouco característico dele: Ansiedade.

— Tudo bem. Este tudo muito divertido, mas temos que fazer seus curativos, Nessie — ele disse de uma forma agradável; seus olhos âmbar nos miravam com simpatia e ele sorria enquanto apontava a cabeça em direção às portas duplas, brancas feito a neve que era tão comum por aqui.

Jake o mirou com confusão e depois perguntou, parecendo um verdadeiro retardado:

— Você vai ver Nessie nua? — perguntou ele, os olhos cheios de uma interrogação frustrada; não com raiva, mas como se não soubesse (ou não tivesse imaginado isso antes) o que estava acontecendo de fato.

Carlisle deu um sorriso que poderia ter iluminado o ambiente inteiro se não fosse um pouco constrangido.

— Já vi... — ele disse e deixou seu comentário perder-se no silêncio de seu constrangimento. Mas ele era profissional, obviamente. E Jake, eu podia jurar, só estava um pouco nervoso com a paternidade.

Ele assentiu um pouco desnorteado, virou-se e saiu. Seu rosto, é claro, não estava com um expressão que eu conhecesse inteiramente. Mas a novidade era grande, e ele, mesmo com cinco meses para conseguir assimilar isso, claramente precisava de um tempo.

Os outros já haviam deixado a sala que parecia muito um verdadeira instalação médica. Carlisle sabia mesmo levar o trabalho para a “casa”.

— Deixe o bebê conosco, Carlisle — eu disse e estendi os braços para Williee.

Ele me entregou meu... Bem, meu neto e imediatamente eu pude sentir a temperatura de sua pele, mesmo através do grosso lençol branco que o envolvia e também através de minhas roupas. Era um pouco fria — não para mim, é claro — e imaginei que Renesmee tivesse sentido. Obviamente não parecia ser feita de um pedra fria como a de um vampiro, mas era algo em torno de 22° C, o que era bem abaixo da temperatura humana, porém não chegava aos dois graus positivos da minha.

Eu sorri para Renesmee e depois lhe dei um beijo na testa. Ela acariciou a face do bebê e murmurou um “até logo”.

Edward e eu saímos da sala com nosso neto; Edward passou as mão gélidas levemente na face da criança; ele mirou Edward da mesma maneira eu me lembrava de Renesmee me olhando em nosso primeiro encontro — uma maneira inteligente e adulta; não o olhar de um recém-nascido. Eu arfei e depois olhei para Edward, que tinha sua expressão uma cópia da minha: espantada e um pouco maravilhada também.

— Mas... — ele começou a falar. No entanto, além de eu já saber o que diria, foi interrompido por um brilho do lado de fora da grande janela que ficava no corredor.

Aquele brilho, além de me pegar de surpresa, fez com que tanto Edward quanto o bebê — que, eu tinha certeza, tinha a mesma inteligência de Renesmee quando nasceu — desviassem o rosto de mim. Williee, que sorria para mim com seus olhos distintos e inteligentes, virou a minúscula cabeça para a janela enorme (incrível como esse recém-nascido podia ter tanta coordenação em seus movimentos).

Lá fora, sobre e neve branca — em janeiro escurecida pelo inverno que aqui durava mais de três meses —, no céu azul escuro, a aurora boreal fazia com que a noite tomasse novas e surpreendentes cores. As ondas verde azuladas se moviam de uma forma caótica no céu. Era lindo e também espantoso. A atmosfera havia dissipado as ondas de uma tempestade solar e, agora, o céu tinha cores incrivelmente lindas. As ondas caóticas e frias (por causa das cores geladas) iluminavam a neve e davam a ela uma coloração fascinante, assim como refletia em nossos rostos — com brilho discreto e da cor daquele fenômeno — e nos deixava com um aspecto engraçado. Olhei para Edward. Seu rosto, iluminado (pelo reflexo da luz no vidro, não por estar cintilando com a luz evanescente da aurora), sorria e mirava o fenômeno com olhos especuladores.

— Maravilhoso — ele murmurou baixinho. — Isso me faz lembrar você — ele disse, desviando os olhos da aurora e os pousando sobre mim.

Eu mirei de uma forma confusa. Edward e suas comparações. Ele percebeu meu ceticismo e explicou.

— O mundo, de toda forma, é lindo... No entanto, por ter um escudo que o protege, consegue, com algo que não seria muito agradável de se presenciar, transformar isso em algo incrivelmente maravilhoso... Consegue dar a esse lugar, que fica mergulhado nas sombras durante muito tempo, alguma luz de vez em quando. E consegue fazer com que, ao contrário do que se esperaria para um lugar onde a maior parte do ano é noite, esse lugar seja incrivelmente surpreendente, não acha? — perguntou ele, o sorriso perfeito se espalhando por seu rosto e chegando até os olhos calorosos.

Eu revirei os olhos para sua comparação, fingindo que não havia acabado de ouvi-lo me comparar com uma aurora boreal. No entanto, pensando melhor, para quem tem um raciocínio incrivelmente criativo, aquilo poderia parecer semelhante... Mas eu não estava a fim de pensar em nada disso. Não queria ter de relembrar tudo o que tive de fazer — matar, torturar, pegar emprestado o que não é meu — para devolver a segurança à minha família. Aquilo se fora. Ficara para trás.

— Por falar em dons... — eu disse; ele não estava, de fato, falando em dons. No entanto, era, de qualquer modo, o que sua comparação queria dizer. —... Sente isso?

Mesmo sabendo que ele teria alguma dificuldade para saber do que eu falava, perguntei. Era algo que eu só agora percebera; com toda aquela conversa sobre dons, se remexeram dentro de mim... Principalmente um que, eu tinha certeza, eu nunca achara que fosse muito útil. Eleazar me havia “presenteado” com seu talento alguns anos antes. Agora, no entanto, eu podia sentir que algo emanava da criança miraculosa que estava em meus braços.

Eu tinha me esquecido que Edward não havia respondido minha pergunta; ele revirou os olhos e deu de ombros, sem se dar ao trabalho de perguntar o que era.

— O bebê — eu disse, roçando meus lábios na testa do recém-nascido.

Edward sorriu para Williee e, depois, me mirou com confusão.

— Ele tem um dom — eu disse, ainda mirando o rostinho perfeito da criança. Depois peguei sua mãozinha rechonchuda e afaguei de leve, mesmo sabendo que ele não era tão frágil quanto uma criança normal da mesma idade.

Edward me olhou com espanto. No entanto, antes que ele pudesse perguntar alguma coisa, eu disse de repente:

— Aliás, são dois... — Eu falei e Edward me fitou como se eu estivesse falando grego ou aramaico.

Incrível era a capacidade dessa criança. Obviamente, ela era mais humana do que vampira. No entanto, sua mente parecia ser tão desenvolvida quanto a de Renesmee — o olhar inteligente comprovava isso —, e Renesmee tinha um dom; era capaz disso porque sua mente era poderosa para presenteá-la com um dom. Seus aspectos já eram tão desenvolvidos na forma semi-humana, que ela não precisava ser mordida para que o talento fosse aprimorado. Era um dom nato — Renesmee havia recebido os dons de mim e de Edward e os virado do avesso. O mesmo parecia ter acontecido com Williee, que, nesse momento, estava sorrindo como se eu fosse a coisa mais interessante do mundo. Ele também parecia ter pego os dons de Renesmee e os virado do avesso, transformando-os, assim, em sua forma original.

Eu estava especulando. Contudo, o dom que eu havia pego e Eleazar me avisava que era isso mesmo. O bebê tinha o dom de Edward e o meu. Juntos. Revertera, virara do avesso o talento de sua mãe, até que ele se manifestasse em sua forma primária; um leitor de pensamentos e um escudo.

Edward parecia estar entendendo minha linha de raciocínio sem eu nem mesmo precisar verbalizar. Seu rosto era um pouco espantado e, outra vez, maravilhado demais para expressar algo além disso.

A compreensão se instalou em entre nós e ficamos ali, parados e perfeitamente imóveis por alguns momentos, absorvendo o que havíamos constatado.

Lá fora, na noite “fria” e iluminada de verde azulado, a aurora boreal ainda mostrava suas cores fascinantes, como se fosse eterna; ela enchia meus olhos com uma emoção que eu não sabia explicar de onde vinha. A luz azulada e verde toldou minha visão por algum tempo e eu sequer percebi quando Jake chegou e retirou a criança de meus braços frios.

Com um sobressalto, percebi que estivera imóvel junto de Edward por tempo demais. Depois de algumas horas, Renesmee saiu da sala com uma roupa inteiramente nova.

— Não me vá dizer que quer que eu fique de quarentena, Carlisle — ela disse; nem ela e nem Carlisle ficavam muito à vontade chamando e sendo chamado de vovô com um aparência de 23 anos.

— Seu corpo é forte, querida. — ele disse e fechou a porta branca atrás de si. Conhecendo-o, a bagunça já estava arrumada e nada estaria fora de lugar. O ambiente estaria impecável como sempre havia sido. O cheiro volátil do álcool me disse que minhas conjecturas estavam certas.

— Onde está meu filho? — perguntou ela, se movendo devagar em nossa direção.

Edward e eu nos entreolhamos e sorrimos ao mesmo tempo.

— Está com Jake — eu disse.

Ela caminhou apressadamente na direção da sala de estar onde a família de Tanya e parte de nossa estava esperando pela mãe de Williee; desapareceu rapidamente no corredor bem decorado e bem iluminado. Edward e eu seguimos atrás dela. Carlisle à nossas costas.

Edward segurou minha mão e nós nos beijamos rapidamente. Naquele instante um pouco tenso — por causa das novidades —, eu tiver certeza de só um coisa: Nada mais atrapalharia a paz de nossa família. O principal era que Edward e eu estaríamos juntos e em paz. Ameaças haviam deixado de existir em um momento tão fugaz que se tornara irônico o tempo que havia levado para que fossem construídas.

O para sempre já era uma realidade palpável para todos nós. Assim como a paz que, cruzava os dedos, estaria permanentemente inabalável.


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Notas finais do capítulo

Gente, aqui eu me despeço dessa fic. Obrigado a todos que a acompanharam e me fizeram sentir que essa era a história que preencheria o vazio que o "fim" na última página de Amanhecer. Não ouso, em nenhum momento, dizer que preencheu, mas, para mim, escrevê-la foi um modo de, ainda que de um forma incrivelmente tênue, superar a carência que tinha desses personagens maravilhosos.

P.S: Ainda estou com uma dúvida que me incomoda um pouco: Epílogo: fazê-lo ou não fazê-lo; eis a questão. Se eu decidir pelo "sim, postarei aqui. Se não, finalizo a história, dando-a por "terminada". Obrigado novamente.