Aurora Boreal escrita por Mr Ferazza


Capítulo 27
XXIV. DESTRUIÇÃO


Notas iniciais do capítulo

Eu estava meio sem ideia no final desse capítulo, portanto, não pude descrever com muita precisão (e como já estava demorando muito para postar...), mas acho que deu perceber como vai ser, daqui para frente, a "vida" dos vampiros.



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XXIV. DESTRUIÇÃO

Antes que eu pudesse me entorpecer com a ideia de que Edward estava morto, descabeçado na minha frente, - seu corpo ainda estava de pé, se mexendo sem rumo algum - meus pensamentos entraram em ebulição e eu pude sentir que minha mente trabalhava na velocidade da luz — uma situação em que não existe tempo. Só o infinito, os segundos tampouco significavam alguma coisa. Não ali. Não naquele instante que me daria náuseas, se eu ainda fosse humana.

Eu também sentia que, se não fosse por esse fato — minha mente estar trabalhando tão vertiginosamente rápido —, eu desmoronaria.

Todos viam o que havia acontecido. No entanto, no nosso grupo, ninguém expressou reação alguma. Nem eu. Já no grupo de nossos inimigos, eu pude sentir e ver que alguns se mexiam rapidamente, procurando isqueiros e fósforos para acabar com Edward. Alguns murmúrios de prazer vinham do fundo.

Eu me senti furiosa naquele momento — podia sentir que se tivesse oportunidade, atearia fogo a todos os vampiros daquele grupo odioso. A raiva — que era como uma chama violenta — ardia rapidamente e estava se extinguindo à medida que queimava em seu ritmo frenético e descontrolado. Eu a obriguei a ficar comigo, a chama ardendo furiosamente louca dentro de mim.

No entanto, esse não era o único sentimento. Havia, também, um espeço interminável para o pânico, a dor e o ódio. Principalmente o ódio. Esse era diferente; como era muito mais forte e mais perene — duradouro, eterno — do que a raiva, não era como uma chama rápida, fugaz e louca. Era mais controlado. Era frio, calculista, calmo e intenso. Muito mais intenso. Era como a lava de um vulcão que espera éons para implodir. Eu podia sentir isso agora. Podia sentir que esse era o momento da erupção.

Eu não deixaria Edward ser queimado. Não deixaria que o mundo fosse privado de sua maravilhosa brilhante existência. Era o momento de agir. Está na hora de ficar... Selvagem. Pensei comigo mesma. E o tempo começou a passar de forma regular de novo. Meus pensamentos já estavam numa velocidade normal.

Estendi meu escudo físico até seu corpo, que continuava a tentar lutar. Nesse momento, alguns guardas se aproximaram da cabeça de Edward - inerte e insensível no chão de pedras frias.

Com um movimento de meus dedos, eu lancei minha corrente elétrica até eles, com sua voltagem máxima multiplicada por mil. Os guardas oportunistas explodiram em cinzas, o que me deixou um pouco mais calma...

Mas eu não podia me dar ao luxo de sentir isso; enquanto eles explodiam, outro grupo já estava em ação. Eles entraram em cena e eu agi rapidamente: com um movimento rápido e bem calculado, chutei a cabeça de um dos quatro guardas que vinham ao ataque. A cabeça se desprendeu do corpo e eu, com outro movimento forte, a atirei de lado, em direção aos outros guardas que avançavam em uma formação rígida e em uma linha de frente, enfileirados. A cabeça do guarda serviu como um bola de boliche, e os outros foram decapitados em um segundo. Eu invoquei minha corrente elétrica e as desfiz, também, em cinzas. Depois me virei e fiz o mesmo com os corpos infelizes.

O corpo de Edward continuava a se debater, a tentar lutar contra algo que ele não podia ver — estando ele decapitado. Sua cabeça estava no mesmo canto de antes, protegida com meus dois escudos... Eu tinha, primeiro, que eliminar as ameaças que queriam queimá-la.

Outros oito guardas avançaram em direção à cabeça. Dois vieram em minha direção.

Eu desintegrei aqueles que se dirigiam até a cabeça incorpórea de Edward. Minha corrente conseguiu sua voltagem máxima e eu envolvi meu escudo com ela, de modo que tudo o que tocasse em minha proteção cairia, decomposto em cinzas. Os guardas atingiram o escudo e de decompuseram — exatamente como eu previra.

Era algo interessante observar aquilo; o escudo não havia ficado cheio de faíscas zuis arroxeadas, como acontece nos desenhos animados (não sei porque eu seria tão retardada por pensar que seria assim). Era invisível até mesmo aos meus olhos. No entanto, eu podia sentir a corrente em volta dos escudos; ela pulsava, violenta e silenciosamente, pronta para desfazer qualquer um es estivesse de fora dela e dos escudos em cinzas. Fiquei grata por saber que meu plano recém-elaborado funcionara.

Antes que eu tivesse tempo para fazer mais alguma coisa, os dois outros guardas já estavam em cima de mim, forçando. Tentavam, também, me decapitar. Eu simplesmente estendi minha corrente para todo meu corpo. Ela pulsava e irradiava para todos os lados, como se estivesse viva. Os dois guardas caíram no chão, se debatendo devido à alta voltagem.

Eu os observei pelo mais fugaz espaço de tempo. Depois pisei em suas cabeças, reduzindo-as a pó de pedra branca e cristalina. Eu apliquei o choque ele elas viraram cinzas.

Outros cinco correram até a cabeça, e eu os reduzi a pó antes que pudessem sequer chagar perto do escudo.

Depois envolvi, novamente, o escudo com a corrente elétrica, para me certificar de que ninguém o ultrapassaria. Eu fui rapidamente até a cabeça e a peguei em minhas mãos, sem ter coragem de mirá-la realmente. Deixei que o veneno em minha boca escorresse até a parte da cabeças que deveria estar grudada no pescoço. Quando me certifiquei que o veneno havia se espalhado, eu a coloquei no lugar, sobre o pescoço.

Alguns guardas fortes dos Volturi tentaram impedir que eu fizesse quilo. No entanto, quando saíam da linha de formação, eu os desmanchava em cinzas antes que se aproximassem.

Edward se recompunha agora. No entanto, eu ainda não estava controlada. A lava vulcânica se agitava dentro de mim e eu não queria parar. Queria, sim, era massacrar todos ali... Com um estalo quase de um click, eu percebi que o vampiro que havia decapitado Edward ainda estava vivo... Mas eu mudaria essa condição.

Eu o fitei com uma expressão de ódio. Mostrei os dentes e rosnei para ele. Depois ele estava no chão, contorcendo-se de dor. Mas ainda não era o bastante para mim. Eu aumentei a voltagem de uma forma progressiva; parecia que isso não atrapalhava minha concentração — eu podia muito bem manter os dois escudos, a corrente que envolvia o escudo físico e ainda ter espaço de sobra para torturar o vampiro. Ele sentiu muita dor. Quando chegou à metade do processo, ele começou a implorar pela morte... Eu não atenderia a esse pedido. Não tinha compaixão suficiente para permitir que alguém o fizesse. De alguma forma, consegui quintuplicar o a dor que infligira a Jane.

Depois que ele implorou o suficiente, eu atendi a seu desejo — com uma careta de desgosto deformando meu rosto já deformado pelo ódio, eu lancei a corrente elétrica e o fulminei em menos de um milésimo de segundo.

Alguns dos Volturi ma fitavam como se estivessem vendo um fantasma. Eu sorri para alguns e dei as costas para eles.

Virei-me, devagar, para Edward e a lava vulcânica que borbulhava dentro de mim pareceu atenuar a intensidade com que queimava; ele estava inteiro de novo, e me mirava com a mesma expressão atordoada dos outros. Eu não me importava, ele compreendia. Quando me concentrei mais ainda em seu rosto — estava, graças aos céus, perfeito com sempre e sem cicatriz ou alguma marca do que acontecera a ele —, senti que o a raiva me deixara completamente; as chamas cruéis já não ardiam dentro de mim como antes. Estavam completamente extinguidas. No entanto, o ódio, ainda que um pouco mais fraco, borbulhava. E eu seria capaz de destruí-los. Ainda me sentia enfurecida demais para deixar de pensar nessa possibilidade.

Alguns ruídos de desagrado ecoaram da linha de formação dos Volturi; alguns guardas estavam rosnando. Alguns não expressavam sentimento ou reação algum — como Jane e Alec — e continuaram a fitarem-se uns aos outros, somente procurando por respostas para o que acabara de acontecer. A julgar por suas expressões frustradas, não encontraram nada.

Edward afagou minha face. Ainda com os olhos arregalados de espanto, ele me disse?

— Bella, querida, o que aconteceu? — perguntou ele, sua voz aveludada e aconchegante como sempre. Parecia não ter acontecido absolutamente nada. Eu pude ver que ele não se lembrava do que havia acontecido. — Pode me dizer o porquê de você estar acabando com os guardas?

Não havia reprovação em sua voz, somente um espanto e confusão por não saber o que estava acontecendo.

— O guarda que saltou para cima de você... — eu disse hesitante — Ele o de... O decapitou — disse eu e engoli em seco depois. Minha garganta parecia estar se fechando quando eu falei sobre isso. A raiva, a chama lenta e cruel de destruição, quis voltar mim. Eu reprimi, sabendo das consequências devastadoras quando eu perdia o controle dessa forma, rapidamente.

Ele assentiu e colocou as duas mãos no pescoço, como se estivesse com sede. Depois, muito lentamente, ele as retirou e colocou as duas em meu rosto, aninhando-o entre suas mãos.

— Obrigado — disse ele, e depois me beijou ternamente. — Não sei o que faria sem você, minha Bella.

Eu olhei para ele de novo; dessa vez havia um brilho de devoção em seu olhar que eu não reconheci... Tudo bem, eu havia reconhecido, mas não me sentia confortável com isso. Apesar de ser tremendamente poderosa, eu não gostava de ser tratada Bella-a-toda-poderosa. Eu só queria, na verdade, acabar com isso e ir para casa. Onde eu deveria estar. No entanto, isso não era possível, e assuntos um pouco mais desagradáveis esperavam para ser discutidos.

Aro já sabia que que matara Demetri — sabia, mas não dissera nada, obviamente —, presenciara o meu ataque de fúria e me vira destruindo uns vinte guardas seus. Agora a guarda Volturi era estava reduzida seriamente — somente Alec, Jane, Chelsea, Renata e Corin haviam permanecido incólumes. O suficiente para que Aro não se desesperasse, já que os dons mentais eram tudo o que ele valorizava.

Edward apertou minha mão cm um pouco mais de força quando viu que minha raiva voltava — sabe-se lá por que —, advertindo-me. Ele havia perdido muito de meu ataque de fúria, mas sabia que eu havia causado um grande estrago em meu acesso para que eu arriscasse perder a cabeça de novo e destruir o que restara da guarda, assim como Aro. Um Aro que, em comparação (para quem havia acabado de perder metade da guarda e um “irmão”), estava mais calmo do que eu julgaria ser capaz.

Aro levantou a mão em seu gesto costumeiro — pedindo paz e, ao mesmo tempo, ordem — seus olhos estavam vidrados em algo além de nós... Só então percebi que ele deliberava consigo mesmo e observava uma cena de seus pensamentos. Eu não tinha certeza do que era — não entrei em sua mente para saber —, mas tive uma vaga ideia assim que Edward grunhiu baixinho. Talvez, então, Aro estivesse pensando em como alguns novos acréscimos a sua guarda ficariam bons. Aquele assunto de sempre.

— Se me permite dizer, encantadora Bella — disse ele, seu tom agradavelmente doce, agudo e caloroso enchendo as palavras de gentileza (que eu sabia que eram genuínas; Aro era, por natureza, um ser gentil. Gentil e ambicioso). —, seus dons recém-adquiridos parecem tão naturais em você que chaga a dar inveja a qualquer um de nossa espécie.

Eu não sabia se aquilo era um elogio — provavelmente sim —, porque a inveja nunca é algo muito bom. Talvez, contudo, ele estivesse falando de uma “inveja branca” (algo que não fazia mal para quem tivesse o sentimento ou para quem fosse o alvo dele.) No entanto, a pontada de rancor e desejo feroz em sua voz me fez perceber que não era àquele tipo de inveja do bem que ele se referia.

— Obrigada — murmurei baixinho, mais por educação do que por verdadeira gratidão. O tem de cobiça em sua voz, na verdade camuflava tudo o que era elogio. Fiquei esperando que ele me convidasse, como era esperado, a me juntar à guarda. Ele não o fez; era bom que, depois de tantos séculos, ele tivesse aprendido alguma coisa.

Aro me fitou com a expressão curiosa por alguns momentos, depois ergueu uma sobrancelha e parecia que sua pele era um papel que ficara vincado por muitos anos, esquecido em uma gaveta — parecia que ficaria vincada por muito tempo mais. Depois estudou Edward dessa mesma maneira; a sobrancelha direita erguida e a expressão pragmática e deliberativa. Alguns segundos depois ele passou os olhar sobre todas as pessoas que estavam ali. Quando seus olhos pousaram em Alice e, depois, Benjamin, sua boca se curvou em um sorriso amarelo de decepção; um pouco de raiva também, eu podia arriscar. Raiva por não tê-los. No entanto, era mais justo não tê-los do que fazê-los de escravos pelo resto da eternidade.

Ele, agora, devia estar desesperado par ter o que mais queria. No entanto, não havia maneira de conseguir. Uma chama negra de frustração pareceu, por um segundo, arder sob seus olhos rosados.

Depois Aro suspirou, resignado, e disse:

— Carlisle — disse ele depois de engolir em seco; provavelmente para obrigar as palavras a saírem. — Quero, formalmente, lhe pedir desculpas pelo que fiz com você e sua família...

Carlisle o estudou por um segundo, provavelmente concluindo que, se não eram palavras verdadeiras, Aro se esforçaria para que elas fossem genuínas. Era o que eu sentia, pelo menos. Depois Carlisle assentiu, os olhos dourados cheios de um sentimento que só podia ser descrito como cordialidade. Eu senti que, se algum dia Carlisle confiara em Aro, isso já não existia, e Aro levaria séculos para fazer com que Carlisle confiasse nele novamente.

— Tranquilize-se, Aro — disse Carlisle em um tom pacífico e cordial — Não é de meu feitio guardar mágoas. É claro que sei que você estava pensando na segurança de sua guarda e de nosso mundo — disse ele, como se não soubesse das reais intenções de Aro. — Mas não confio mais em você. Não como quando éramos amigos.

Com as palavras de Carlisle, eu senti que Aro poderia muito bem ter virado a cara para os dois lados. Era como se as palavras gentis de meu sogro fossem tapas. E poderiam ser. Para Aro, pelo menos. Eu tinha certeza de que o verbo no passado havia frisado o que Carlisle sentia. Ele poderia até ser cordial, mas não havia mais amizade ali. Somente o nada. Sem amizade, mas, também, sem ressentimentos.

— Sinto muito — disse Aro, abaixando a cabeça como um cachorro que leva uma bronca de seu dono.

Mas isso durou pouco, porque, depois, ele voltou seu olhar torturado para Amun e disse:

— Sinto muito, meu caro Amun — disse ele, e em sua voz havia, verdadeiramente, uma nota de arrependimento. Será que Aro havia mesmo se arrependido ou aquilo era outro truque para que ele atacasse de novo no futuro?

Com um estalo, percebi que sua estratégias estavam, todas, esgotadas. Ele não tinha mais artifícios. Não tinha mais nenhuma carta na manga. Não tinha muitos peões para promover. Não tinha rainhas nem torres. Só o que lhe havia sobrado eram dois bispos e dois cavalos. Ele ainda teria uma possibilidade de vencer, mas a parte oposta do tabuleiro estava superlotada e com peças mais fortes do que as dele.

Jane, Alec, Chelsea, Renta, Corin e o outro guarda — o guarda dos irmãos — não tinham chances. Não se seus poderes estavam anulados permanentemente.

— Sinto muito pelos dois. — disse ele, e então me dei conta, por meio das lembranças de Aro que eu havia tomado conhecimento, de já era a segunda vez que ele havia feito aquilo com Aum. Primeiro com Demetri e depois com Benjamin. Era por isso que Amun tinha tanto medo de que Aro tomasse conhecimento de Benjamin. Ele já havia passado por aquilo antes. Muitos séculos atrás.

Amun assentiu calado.

Aro estudou os olhares que agora recaíam sobre ele. Ele não mostrava desconforto com os olhos que pareciam julgá-lo severamente. Pode ser que eu também o tenha feito. Ele virou a cabeça para sua guarda, atrás dele, e se dirigiu a Corin.

— Está livre para ir, se quiser, minha querida. — disse ele, estendendo a mão para o seu antigo clã. O vampiro, que estava em algum lugar por ali, olhou para Aro com espanto.

A vampira, Corin, pareceu deliberar um pouco. Depois disse:

— Estou melhor aqui, mestre — disse ela, e Aro a fitou diretamente nos olhos, uma chama de felicidade ardendo por trás de sua face enrijecida pelo desgosto e pela culpa.

— Por favor, minha querida, gostaria que não me chamasse mais assim; se você vai ficar, acho que faremos parte de um clã sem hierarquia. Seremos uma família de iguais, se agora em diante. Quem quiser ficar, não será mais um subordinado. — ele disse, dando a notícia como se fosse o final de uma novela dramática. “O galã se casou com a mocinha, o vilão foi preso ou ficou louco”. Mas eu pude perceber que, na mente de Aro, era mais ou menos assim. Pelo menos para ele, não havia mais necessidade de rancor, mágoas ou julgamentos, já que ele havia “aprendido a lição”. Mas aquela lição ninguém havia ensinado a ele. Ela havia caído sozinho e provocara aquilo.

Corin assentiu para ele e depois sorriu.

— Por favor, meus queridos, sintam-se livres para partir. Se quiserem, é claro.

Alguns membros da guarda partiram imediatamente, outros ficaram. Inclusive o vampiro louro e forte que eu identificara como o guarda de Jane e Alec.

— Fred? — disse Aro, voltando-se para vampiro que tinha o poder de repelir fisicamente uma pessoa. Não com um escudo; era como se ele se tornasse invisível para alguém, impedindo a pessoa de olhar em sua direção ou pensar nele. Era um talento defensivo muito eficiente; eu sabia por que ele tinha um lugar na guarda. Aquele vampiro era bem talentoso.

Edward suspirou ao meu lado, como se tivesse uma pergunta respondida. — uma daquelas questões que ficam em nós, martelando insistentemente até que consigamos lembrar a resposta, ou até que a encontremos de alguma forma. Será que ele conhecia aquele vampiro? Era provável; com seu talento, Edward podia conhecer alguém por meio dos pensamentos de outra pessoa.

— O conhece? — perguntei, tentando sondar sua expressão sem ter de ler sua mente.

Ele me fitou por um momento e depois deu de ombros.

— Mais ou menos — disse. Em sua voz havia um vestígio de sorriso. — Longa história.

Eu assenti e me voltei para ouvir o que Aro falava.

— E então, caro amigo? — perguntou ele. — Não vai partir? Está livre para ir, se quiser.

Fred o fitou com confusão nos olhos vermelhos escuros e depois disse:

— Acho que vou ficar; não tenho um motivo real para ir... — ele disse, sua voz era mais grave do que eu pensava; ela ressoou, mesmo em um volume baixo, pelas paredes de pedra.

Aro assentiu, agradecendo.

Do nosso lado da linha, os romenos começaram a fazer ruídos de enojados e de desagrado. Eles não estavam contentes com essa situação. Para eles era como se Aro estivesse pedindo para morrer e os membros de sua guarda não quisessem atende-lo. E saber que o dom de Chelsea estava anulado, que ele já não agia sobre as mentes deles, piorou muito a situação. Vladimir começou a grunhir e a rosnar. Stefan o imitou e depois mostrou os dentes.

Aro mal percebeu. Só depois, quando os grunhidos ficaram mais altos e bestiais, Aro se deu conta de que eles rosnavam de desagrado.

— Vocês têm algo a acrescentar? — perguntou ele em um tom frio. Percebi que ele não usou adjetivos para qualificar os dois vampiros baixinhos, como era seu costume “Meus queridos, meus caros e etc...”. No entanto, o tom de Aro não era hostil. Só friamente educado, sem aquela cadência gentil que todos estávamos acostumados.

Vladimir rosnou mais uma vez e eu fiquei um pouco irritada. Com certeza ele estava tentando encontrar uma maneira de recomeçar a luta e, embora eu soubesse que não haveria perigo para nós, não podia deixar de lado o meu mais recente acesso de fúria. É claro que eu não estava arrependida pelo que fizer, mas estava — não literalmente — cansada da tensão que parecia emanar de todos os lados; como se, em algum momento, algo fosse explodir. Perguntei-me como estaria o clima emocional por ali. Jasper tinha respostas muito mais precisas do que as minhas, mas eu tinha uma vaga ideia de que não era tão agradável.

— Quero saber, já que parece estar renunciando a sua guarda, se você vai deixar de tentar “impor a lei” — disse Vladimir; seu tom gotejava a sarcasmo e ódio. Ele ainda guardava muita amargura e queria vingança.

Aro o fitou com uma curiosidade genuína nos olhos. Será que ele achava absurdo demais que alguém pedisse isso? Eu tinha de admitir que, até mesmo para mim, isso soava estranho. Sem mais leis? Sem nenhum Volturi? Sim, eu os odiava. Odiava com todas as forças de meu ser. Mas era, no mínimo, estranho não haver mais alguém para punir os infratores... Eu ainda não sabia a resposta de Aro

— Certamente que sim — disse ele, assentindo para si mesmo. — Não iremos mais impor a ninguém nenhuma lei e... — ele disse, mas foi interrompido por vários murmúrios.

Muitos começavam a discutir, alarmados, o que haviam acabado de escutar da boca de Aro. Sem mais leis? Isso não iria dar certo. O.K, muitos de nós não precisavam de leis para que nos mantivéssemos em segredo. No entanto, alguns precisavam desse tipo de incentivo. E isso seria uma catástrofe. O que aconteceria se o mundo inteiro soubesse sobre vampiros? Por um segundo, o discurso que Aro fizera alguns anos antes veio à tona em minha mente e eu percebi com precisão o que aconteceria.

“... No entanto, à medida que nos tornamos cada vez mais desinibidos por sua descrença (dos humanos) no sobrenatural, eles se tornem tão fortes em suas tecnologias que, se desejassem, poderiam realmente representar uma ameaça para nós, até destruir alguns de nós...”.

A lembrança veio da mesma forma que se foi; em um sopro fugaz de intuição e compreensão. Naquele dia eu estava apavorada e com raiva demais para reconhecer as palavras de Aro. Não havia enxergado a questão por esse ângulo porque a possibilidade de que fôssemos expostos era menor do que remota. No entanto, agora a situação era outra e havia mudado drasticamente. Ma Aro também sabia que não era necessário chegar a esse extremo.

Em algum lugar à minha esquerda — atrás de mim e de Edward —, eu ouvi e vi Alice arfar. Edward, no mesmo segundo, tinha os olhos vidrados em algum lugar à sua frente. Eu sabia que ele estava, junto com Alice, de olho no futuro que viera.

Com um estalo, eu também arfei. Percebi o eu causara essa visão repentina: A decisão de Aro. Eu me concentrei nos pensamentos de Alice e pude ver o que ela via. Não era em cores, mas, ainda assim, em animação. As figuras de sua visão se moviam. Era em preto e branco, mas estava bem definido.

Em algum noticiário da manhã, ela, Edward, eu, Rose e Carlisle víamos o que estava na TV: A figura de um belo homem de olhos cor de rubi. Abaixo de sua foto, era possível ler: Vampiros existem... A lista, depois, foi aumentando no canto da tela — como os créditos no final de um filme. Nossas características todas expostas para o planeta. As autoridades competentes ainda não sabem o que fazer. Cogita-se a ideia de uma bomba atômica para destruí-los, disse a voz grave do apresentador do noticiário.

— Não — eu disse, minha voz saindo como se eu estivesse engasgada. — Aro, isso não pode acontecer. A lei tem de continuar valendo... Não podemos nos dar ao luxo de tolerar sermos expostos. Pergunte a Alice. É o que ela acaba de ver. Pense por um momento no que a falta da lei faria com o mundo. Vampiros, principalmente os ferozes recém-criados, caçando sem o mínimo pudor. Sem, depois, dar um destino discreto a corpos drenados. As pessoas não vão acreditar em Ataque de animal... — eu começava a tagarelar. Dos dois lados da linha, os vampiros começavam a assentir em concordância.

Todos podiam ver, sem as visões de Alice, o quanto a situação seria crítica. Muitos não sentiriam a necessidade de cautela. A ideia, é verdade, era bem ridícula. No entanto, poderia acontecer algo terrível.

Aro assentiu, a realidade e o bom senso o tocaram novamente.

— Certo, minha querida, e o que você sugira que façamos? — perguntou ele, a voz educada e cadenciadamente calorosa.

A resposta não veio de mim, mas de Carlisle.

— Eu sugiro que todos nós tenhamos o bem senso de nos manter desconhecidos aos humanos. Concordo que não podemos nos mostrar... Para falar a verdade, a ideia da lei ainda continua a ser um pouco ridícula. Quero dizer... Basta ter o mínimo de consciência. Cada um aqui tem condições de ser cauteloso. É o mínimo...

— Meu caro amigo... O fato de estarmos aqui até hoje, exercendo a lei, prova que nem todos são assim. De tempos em tempos, há algum incidente que nos obriga a agir. Você sabe disso.

Carlisle assentiu e seus olhos começaram a arder em uma chama se esperança. O que quer que ele tenha pensado seria uma solução inteligente para esse impasse.

— Mas então porque deixar a lei nas mãos de umas poucas pessoas? Porque tentar aprisionar dons, quando, a favor da lei, podemos ter todos os possíveis e imagináveis? — disse ele e parecia que ele falava grego.

Alguns os fitaram com confusão. Outros o ignoraram completamente, não tendo entendido onde ele queria chegar.

— Acho que não o compreendi — disse Aro com a cabeça inclinada, como se tentasse enxergar algo que, de um ângulo normal, não pudesse.

Os olhos de Aro estudaram Carlisle por um segundo, ele ainda tentando compreender onde Carlisle queria chagar com aquilo.

Carlisle explicou para Aro sua ideia, que foi bem-recebida. Pelo menos era a melhor que teríamos. E era eficiente. Muito mais eficiente do que um único clã cuidando das regras no planeta inteiro.

— Essa é uma excelente ideia, meu caro amigo. — disse Aro, congratulando Carlisle por haver pensado nessa opção. — Então todos concordam com isso? — perguntou Aro, os olhos em cada um dos vampiros que estava ali.

Quase todos os vampiros levantaram o braço; do nosso grupo e dos Volturi. Marcus ergueu o dedo mínimo, concordado.

— Muito bem... A partir da agora, todos são mutuamente responsáveis pela lei. E todos são responsáveis por punir atos imprudentes ou indiscretos. Sei que a justiça e a lei podem ser aplicadas de uma forma mais eficaz... Se todos agirmos com imparcialidade. — Aro disse e deus olhos imediatamente pousaram em mim. Eu fiquei sem entender aquele olhar, até que a realidade me tocou.

Charlie.

— Ah, claro — eu disse feito uma idiota, me dando conta do que Aro queria dizer. — Não é necessário se preocupar, Aro... Charlie não dirá a ninguém. Ele ainda cogita a opção de ser transformado — Aquelas últimas palavras me feriram de uma maneira pouco comum. E, com um click, percebi que aquela nunca seria uma escolha de Charlie.

Aro assentiu de um modo delicado e compreensivo. Ele tinha certeza de que não havia perigo.

— E então, como uma mediada de segurança, eu peço a vocês que destruam todos os documentos que citam, de alguma forma, a existência de nossa espécie. Ou estou enganado ao supor que seu pai leu tudo isso em um caderno de anotações?

Eu assenti para Aro.

— Tem minha palavra de que aquilo será destruído. — eu disse e depois dei um sorriso de canto. Era melhor tentar fazer com que essa situação se encerrasse da forma mais amigável possível, já que seríamos algo como uma enorme entidade punitiva de atos irresponsáveis para com a nossa “espécie”.

Jake, na extremidade de nosso grupo, deixou escapar um ruído de desagrado; eu tinha certeza de que ele não achava legal destruir todas as anotações pelo meio das quais os integrantes da tribo tomavam conhecimento das lendas. No entanto, não havia outra maneira. A lei era a lei. E agora todos tínhamos o dever de fazê-la valer.

Eu olhei para Jake como quem diz: Cale a boca. O que ele estava pensando? Não seria mais prudente destruir um bloco de anotações do que destruir o mundo anônimo que conhecemos?

Aro assentiu para mim de uma forma pacífica e, de certa forma, vazia. Vazia porque ele não pensava que tudo isso tomaria um rumo assim. Quem na história dos vampiros pensaria que os Volturi terminariam assim, de uma hora para a outra? Do dia para a noite? Não havia sido necessária uma guerra declarada. Não foram necessárias que muitas cabeças rolassem — Talvez só umas 20.

— Sendo assim, não creio que tenhamos mais assuntos para discutir... Essa organização, no sentido formal do termo, está desfeita. Meus colegas continuarão comigo, porque assim ficou decidido por eles; Chelsea somente se utilizará de seus dons se quiser e, ainda assim, para nos ajudar a coexistir em paz...

Eu não podia acreditar no que estava ouvindo; Aro tornara “oficial” a não existência de um clã que pune os demais. Todos seríamos seres iguais nesse mundo. Existiríamos da mesma forma. No entanto, embora eu pudesse sentir a atmosfera mudando — talvez tanto quanto Jasper —, havia alguém que não estava muito feliz. Na verdade, eram duas pessoas.

Vladimir e Stefan encaravam a maioria dos outros vampiros ali, a cara de ambos era fechada e com uma expressão de quem bebeu e não gostou. Pareciam mais resignados do que qualquer outra coisa. Eu sabia que eles estavam incrivelmente ansiosos para voltar à vida de exposição que tinham antes, sendo idolatrados como deuses. Sua amargura parecia estar voltada mais para fato de saberem que Aro tinha razão do que por saberem que isso não seria mais possível.


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Notas finais do capítulo

Acho que vou demorar um pouco para postar o próximo capitulo. Por favor, tenham paciência. Obrigado.