Aurora Boreal escrita por Mr Ferazza


Capítulo 26
XXIII. TORTURA


Notas iniciais do capítulo

Adiantei um pouco esse capítulo. Espero que gostem.



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XXIII. TORTURA

Isso me pegou de surpresa, porque era óbvio, agora, que havia mais naquela história do que todos ficaram sabendo. E me espantou, porque era muita idiotice minha acreditar que Edward não vira nada na mente de Jane que a pudesse incriminar. Mas é claro que ela não podia esconder as coisas que estavam em sua mente. E Edward ficara sabendo de tudo. — o que eu não entendia era porque ele nunca falara disso.

Aro o fitou confuso.

— Desculpe-me, meu amigo, mas não creio que Jane fizesse algo além daquilo que foi solicitado a ela. — disse ele, agora quase sorrindo, como se a ideia de Jane fazendo algo por conta própria — sem ser ordenada — o divertisse.

— Receio que eu esteja certo, Aro. Eu tenho a confirmação, e a recebi de duas fontes. Uma delas é Jane. E a outra é de uma vampira recém-criada, que foi executada logo depois da chagada de sua guarda.

“Aquele bando de recém-criados visavam destruir nossa família, por culpa de ressentimentos que Victória um dia tivera com relação à Bella, quando ela ainda era humana. Então resolvamos intercepta-los no caminho, porque não queríamos que os recém-criados chegassem perto demais da cidade.”

“No entanto, nós conseguimos lidar facilmente com os inábeis recém-criados. Nós não. Quero dizer o restante de minha família. Eu lidei com a criadora e com o outro vampiro que se dizia parceiro dela. Nós agimos com a ajuda dos lobos, e então foi mais simples fazer isso.”

“Quando pensamos que o conflito havia acabado, uma recém-criada havia se rendido, e assim ficado viva; nós não vimos necessidade de destruí-la, tendo ela parado de nos atacar. Mas a vampira foi executada depois, por ordem de Jane, e não posso dizer que Jane agiu errado — a recém-criada foi punida por atos imprudentes, mas antes de morrer, Bree me passou algumas informações, que eu confirmei posteriormente na mente de Jane.”

— Que tipo de informações? — Aro quis saber.

Eu também queria; não poderia, jamais, ter imaginado que aquela vampira jovem, que havia muito estava morta, sabia mais do que aparentava saber, porque eu tinha uma vaga ideia de que todos aqueles recém-criados eram peões de Victoria. Jamais poderia saber que aquela menina que eu um dia confrontara profundamente, analisando-a como um espelho de meu futuro, soubesse que havia sujeira no mundo que ela deixara tão rapidamente. Eu não conseguia me lembrar de seu rosto, não era capaz de me lembrar dela através de minhas memórias humanas e fracas, mas sabia que não encontrara beleza em suas feições distorcidas pelo desejo do sangue que eu ainda possuía.

— Bree me disse, mentalmente, que Jane já havia encontrado Victória antes, e não a puniu por criar vampiros novos e não controlá-los. E isso, que eu saiba, é contra a lei, mesmo que depois isso tenha sido feito. — Não por quem era encarregado disso, mas tínhamos de defender nosso anonimato. Sei que pode entender.

Aro o olhava, com um ar de “Por que eu sou o último a saber?”. E eu sabia que ele não tinha conhecimento de absolutamente nada. E, quando digo nada, era nada mesmo. — A não ser, é claro, a saída de uma pequena expedição de punição; uma expedição que não fora cumprida.

— Sim. Sim. Eu entendo perfeitamente, e vocês não agiram mal. Eu peço desculpas a vocês, em nome de todo o clã, inclusive a guarda. Eu investigarei o motivo que a levou a cometer esse ato imprudente. — Assegurou-nos Aro, e, depois, voltou-se para Jane, que estava imóvel e com os olhos vidrados em algum ponto diante de si — ela não parecia ouvir as acusações que eram disparadas contra ela. Ou talvez soubesse, mas não tivesse subterfúgios para escapar da situação delicada na qual fora colocada (na qual ela mesma se colocara.) — Jane?! — Chamou Aro, e, no mesmo instante, Jane voltou-se para seu mestre, com uma expressão dissimulada. — Pode me dizer, por favor, o motivo dessa revelação, que só agora eu soube? Por que você não seguiu o procedimento normal? Eu lhe disse que não devia haver espera!

— Sinto muito, mestre, isso não se repetirá novamente. Assumo as responsabilidades pelo que fiz. — Disse Jane, com uma cara de falso arrependimento, que mesmo uma criança reconheceria.

Aro assentiu, olhando sugestivamente para ela, como quem dizia “conversamos depois”.

E então Caius se intrometeu.

— Você não tem que assumir responsabilidades por nada, Jane. Mas, se é o que quer... Desde já, digo que você tem liberdade para fazer o que bem entender, desde que isso não prejudique o anonimato de nossa civilização.

Então, do outro lado da linha imaginária que divida os dois grupos — Do nosso lado, — Kate ladrou um grito brusco, repentino e feroz — Um berro de desafio.

— Como assim, Caius? — perguntou ela, sarcasticamente, colocando em sua voz o máximo de ironia, muito mais do que eu diria ser fisicamente possível. — Era como se suas cordas vocais estivessem gotejando ácido, e Kate, por sua vez, punha-o para fora, por meio de sua voz, tornando seu tom sombrio e ameaçador.

— Ela não assumiu a total responsabilidade por seus atos. — Rosnou ela, como se quisesse falar; eu tinha certeza de que esse era realmente o caso, no entanto, sua fúria não a deixava usar um tom mais ameno que esse. Seus dentes já estavam exposto, e sua postura, semi agachada. Ela estava pronta para pular sobre ele — eu tinha certeza que que, se ela tentasse, nada poderia detê-la. Seu subconsciente estava impregnado de ódio.

— Não vai queimá-la? Não fará como fez com Irina?  Acredito que esse seja um procedimento normal, não? — perguntou ela, ironizando de novo (a ironia, o sarcasmo e o ódio jamais deixavam sua voz). E, por mais que ela tentasse se controlar, não conseguia; era como uma locomotiva descendo uma ladeira íngreme — Não pararia até encontrar um obstáculo, porque toda a ação que estava em movimento, tendia a continuar em movimento. Era a lei da física.

E então, muitos se deram conta do que estava em curso, e muito agiram rapidamente — Não que temêssemos por nosso lado, mas Kate podia se machucar.

— Jasper! — Disse Edward. — Por favor, contenha-a. Ela não vai gostar se fizer alguma coisa equivocada; pode se arrepender depois.

E, repentinamente, todos — principalmente Kate, — sentiram uma aura de tranquilidade e calmaria, que se instalava ao redor de nosso grupo. Logo, Kate relaxou de sua postura semi agachada, que sugeria um futuro ataque — Ela endireitou o tronco, e colocou os braços paralelos ao corpo. —, mas seus dentes continuavam expostos, e, por entre eles, saiu outro rosnado ameaçador, que ecoou pelas paredes de pedra fria. Depois percebi que Tanya a imitava, mas por entre seus dentes nada saía; ela estava mais controlada que a irmã, e isso ajudava Kate a se recompor, pouco a pouco, tanto quanto a aura tranquilizadora de Jazz. Obviamente, ninguém em nosso grupo era avesso à ideia que Kate e Tanya tinham de vingança, mas desejávamos que ela pudessem esperar pela oportunidade certa, para que as deliberações não fossem afetadas por esse ato.

Kate se acalmou, mas continuou com os dentes expostos, prontos para rasgar quando lhe dessem uma chance — Era óbvio que as palavras de Caius a inflamara muito mais do que ao resto de nós, porque nenhum de nós havia perdido uma irmã por causa de assumir a responsabilidade por seus atos. Mas isso era diferente, porque Irina realmente se equivocara em seus atos, mas Jane sabia exatamente o que estava fazendo, porque tivera tempo suficiente para pensar em seus atos; não que isso fosse mudar as coisas a assa altura dos acontecimentos — o que acontecera já ficara no passado (Um passado distante, do qual eu nem era capaz de me lembrar com clareza), esquecido, obscurecido e subjugado. Mas isso não mudava o fato de que realmente acontecera. E agora Aro sabia disso.

— E então, antes de continuarmos... — Aro começou, mas não conseguira ir adiante com seu raciocínio, porque ele foi interrompido por um grito — Um único e breve grito, porém muito mais agudo do que deveria ser. O grito era de perfurar os tímpanos. — lancinante de dor e agonia, e tudo aconteceu muito rápido.

A princípio, pensei que Jane estivesse atacando alguém, com seu dom terrivelmente macabro e torturante, mas então me dei conta que o grito viera do grupo deles, e não do nosso. O que era um alívio. — Saber que, mesmo sem concentração máxima, meus escudos continuavam a proteger a todos, mas isso era óbvio. — O processo repentino teve de ser refeito, porque ninguém vira o que realmente acontecera; eu só me dei conta quando estava acabado.

Eu vira a maior parte em minha visão periférica, por isso podia saber o que acontecera.

No exato momento em que Aro começava a falar, todos voltaram a atenção para ele, deixando os conflitos anteriores de lado para serem resolvidos depois. Mas a atenção que suas palavras recebiam não era total, porque havia alguém que não estava centrado totalmente em Aro.

Kate, após todos terem começado a dar atenção ao que Aro falava, saltou uns incríveis cinquenta metros com uma agilidade incrível e terrivelmente silenciosa, e, em meio milésimo de segundo, estava ao lado de Caius, que só notara a presença dela quando um brilho prateado atraíra sua atenção. Kate abrira o objeto cromado — que parecia um a pirâmide minúscula, entalhada com vários desenhos. —, apertando um botão na base dorsal do objeto, que se revelou como a abertura de uma flor feita de aço. As quatro partes que fechavam a pirâmide de metal, saíam da base, e agora pendiam para baixo, enquanto Kate as unia, formando outra peça quase idêntica do lado oposto ao que estava anteriormente. Agora o outo lado da base tinha uma pequena abertura, que, com o movimento que Kate fizera, ateou fogo para onde ele estava direcionado. E a cabeça de Caius explodiu em chamas quando o fogo o tocou, e no mesmo segundo, o resto de Caius pegara fogo, deixando, onde antes havia um odioso vampiro de cabelos brancos, apenas as cinzas de um dos anciãos da força dos Volturi. Mas não havia o cheiro doce e denso de vampiro queimado. Havia somente as cinzas, e sequer a fumaça nos deu as caras por aqui, porque Caius não havia sido queimado — Ele havia sido incinerado.

E, no segundo seguinte, os guardas dos Volturi avançaram para Kate. Até aquele momento ela estava imóvel junto às cinzas de Caius. Partiram para cima da vampira que acabara de executar um de seus mestres, mas Kate estava preparada, e todos vimos quando Santiago e Felix desabaram, primeiro, de joelhos, e, depois, caindo deitados, a cabeça estalando contra a rocha do chão da torre. O choque que ambos receberam fora tão forte que conseguiu derrubá-los, e Kate voltou para dentro de minha proteção dupla, onde estaria segura novamente.

Depois, quarenta e nove golpes latejantes atingiram meu escudo, como a pressão feita pela ponta afiada de um lápis na pele fraca de um humano. — Não perfurou o escudo, obviamente, mas não fora agradável. Os ataques, quase todos, eram dirigidos à Kate, que, é claro, continuava incólume, com seu sorriso imperturbável no rosto; a satisfação de sua vingança, que finalmente estava cumprida. E alguma parte desses ataques cheios de pressão eram dirigidos a mim e, inacreditavelmente, a Alice. Mas nenhuma de nós três sentia nada. E depois todos os guardas Volturi — Até mesmo aqueles que não eram lutadores fortes — avançaram para nosso grupo, e eu sabia que, se não houvesse o escudo físico também protegendo a todos, a luta começaria naquele segundo, mas os integrantes da guarda bateram contra uma parede. E não era como se eles mudassem de lado — como se mudassem de ideia a voltassem para onde vieram —, era como se o escudo fosse um enorme elástico, que os tivesse atirado de volta para onde vieram, com a mesma intensidade e violência com que eles nos atacaram. E nesse escudo não houve pressão — Nem mesmo a mínima. E eu não sabia por que, mas talvez isso se devesse ao fato de que eu não tinha tanta consciência desse escudo, quanto eu tinha do que era meu por direito.

E então, novamente, os soldados Volturi investiram contra nós. Era de se esperar que eles desistissem, que soubessem, na mesma hora, que havia um escudo em volta de todos. Mas isso não aconteceu, e a investida foi feita com muito mais força do que antes, e eles, literalmente, foram arremessados para o outro lado da torre, e, por muito pouco, não atravessaram a parede contra a qual haviam se chocado. E, quando eu pesara que houvesse acabado, absolutamente toda a guarda dos Volturi investiu contra nós, não surtindo efeito algum, a não ser a frustração do ataque feito por eles. Em meio àquela confusão de guardas dos Volturi, ataques desconfortavelmente latejantes — mas não dolorosos — surgiam contra meu escudo elástico, mas não perfuravam nada.

De repente, aparentemente, apenas naquele momento, Aro se deu conta de sua guarda, que estava indisciplinada e barulhenta, atacando pessoas que permaneciam incólumes ao ataque. Ele estalou os dedos, para que a fúria homicida de sua guarda fosse contida a tempo de eles também virarem pó — porque muitos de nosso grupo se preparavam para atacar —, mas nada aconteceu com eles; era como se Aro não tivesse se manifestado.

Talvez eu tenha exagerado um pouco na parte de “romper os laços”, porque nenhum dos guardas escutava ou sentia o desejo de Aro, para que eles parassem com aquele ataque inútil.

E depois eu senti. Um vento, tão forte que seria capaz de arrastar todos nós dali, jogava os guardas dos Volturi de encontro a outro lugar, para trás, a fim de mantê-los longe. Certamente, Benjamin também sabia que tamanha proximidade seria muito perigosa para nosso autocontrole, porque todos ali tinham motivos suficientes para matar um deles. O vento poderoso cessou, e os guardas avançaram imediatamente para nós, a fim de checar se poderiam, agora, nos causar algum dano. Mas isso não aconteceu; todos continuavam pairando inúteis contra os limites do escudo físico que eu conjurava à volta de todos.

Após mais de meia dúzia de novas investidas infrutíferas, eu me cansei daquele luta que já estava perdida, e resolvi agir; imaginei que, talvez, se eles estivessem cegos, deixariam de tentar fazer algo sem o sentido da visão. — ou sem nenhum deles, além do sentido de desorientação.

E a névoa enjoativamente doce estava em ação; ela partiu de onde eu estava, se arrastando lentamente em direção aos soldados Volturi, que estavam tão concentrados em seu ataque e nada perceberam; me decepcionou um pouco, porque eu esperava que pelo menos Alec se desse conta do que estava acontecendo, já que seu próprio dom, que agora partia de mim, o iria cegar em instantes. Mas ele não percebeu, e, quando a névoa doentia os tocou, eu assisti a todos ficarem com olhar vago, como se estivessem olhando para dentro de si mesmos. Mas sequer isso eles podiam fazer.

Ao contrário do que eu esperava, eles não paravam de lutar — ou de tentar lutar, melhor dizendo — havia, sim, alguns arquejos e rosnados de “devolva minha visão”, mas era só. E, na tentativa falha de tentarem nos acertar com qualquer golpe, aconteceu o que eu não previra. Um membro da guarda, desorientado, tentou encontrar nosso grupo, com os dentes à mostra, pronto para cravá-los na primeira coisa que ele encontrasse. Então, repentinamente, eu me lembrei do que Edward me dissera alguns anos antes, quando eu tentava obter mais informações sobre os talentos ofensivos do Volturi — Tão desesperada que estava, porque acreditava que todos íamos morrer.

... Ah, podemos tentar lutar, mas é mais provável que nos machuquemos uns aos outros do que atinjamos alguns deles...”

E foi dito e feito, mas dessa vez não havia um nós no contexto dessa “luta”. Meio segundo depois que todos haviam perdido a visão, Felix saltou desordenadamente para um lado aleatório, com os dentes à mostra, procurando alguém em quem pudesse enterrá-los. Sua busca foi recompensada, mas o alvo foi alguém do grupo deles, uma vez que eles não podiam nos tocar.

Em um movimento rápido, Felix cravou os dentes no pescoço do outro guarda. — Santiago —, que perdeu a cabeça imediatamente, e o tronco descabeçado continuou a lutar, até que as mãos do corpo sem cabeça encontraram Felix, que não sentia absolutamente nada. E, então, devido à insensibilidade que pairava sobre seu corpo, ele não sentiu quando o corpo mutilado arrancava seus membros, que foram atirados com uma enorme força, de encontro à cabeça do outro guarda, Afton, companheiro de Chelsea, partindo-a ao meio, de forma que o lado direito se separou imediatamente do esquerdo; uma rachadura com a maior e mais perfeita simetria que o acaso poderia produzir.

O estampido produzido pelo choque entre os vampiros foi longo e agudo, de modo que todos puderam sentir a vibração das paredes, resultado do som da explosão.

E então, depois que os guardas fortes pararam de lutar — de tentar lutar, pelo menos —, eu removi a névoa entorpecente que pairava sobre eles, e então eles puderam ver e sentir os danos infligidos a si mesmos, de maneira que, muito deles, boquiabriram-se quando percebiam que eles próprios haviam se digladiado.

Depois, rapidamente, o único guarda que restara incólume — Porque todos os outros haviam perdido, literalmente, a cabeça; os que não estavam descabeçados, haviam perdido boa parte dos membros superiores. — começou a juntar os pedaços de todos os que haviam sido aleijados. Ele espalhava seu próprio veneno no na parte que fora perdida, e depois a unia à parte original.

O processo de reconstrução do primeiro vampiro — O mais gravemente amputado; Afton — levou muito mais tempo do que eu sempre imaginara que levaria a reconstrução de um vampiro, porque todos os órgãos da cabeça teriam que ser retirados e repostos, para que lhe fosse assegurado o bom funcionamento.

E então, nesse meio tempo — enquanto o outro guarda recompunha Afton —, Vladimir percebeu o que estava sendo feito, e, muito sorrateiramente, pegou, quase que imperceptivelmente, o isqueiro de seu bolso; ele o abriu e manteve a chama acesa por algum tempo. E depois, com muita calma, como se estivesse avançando imperceptivelmente — sem realmente ter a consciência do que estava fazendo —, ele chegou perto dos membros dos guardas, que jaziam arrancados e amontoados num canto, e atirou o isqueiro com a chama acesa. Os membros pegaram fogo imediatamente, por causa do veneno inflamável.

O outro vampiro, o que estivera reconstruindo Afton, saltou rapidamente para longe das chamas. Mais do que ele já estava. E, com seu longo salto, evitou que as chamas se alastrassem até ele. E também até Afton, que já estava consciente e reconstruído. Os dois, então, imediatamente após escaparem das chamas, repuseram-se na linha de formação da guarda Volturi que agora estava estarrecida, assistindo os membros dos vampiros queimarem.

Os dois vampiros que estavam tendo seus membros queimados demoraram um pouco para perceber que parte deles era incinerada — Porque uma dessas partes era a cabeça de outro guarda. —, e, então, quando perceberam, atiraram-se sobre o fogo, numa tentativa desesperada e inútil de recuperar o que faltava de seus corpos. Mas era tarde, porque o que estivera queimando já estava em cinzas. E, irreversivelmente perto do fogo, eles também começaram a arder na fogueira; o resto dos corpos que haviam perdido os membros.

Somente o vampiro que estava sem cabeça conseguiu escapar, porque ele não fora capaz de rastrear o calor do fogo corretamente, então seguira em direção paralela à fogueira, que agora já se apagava, deixando o cheiro espesso, oleoso e doce de vampiro queimado no ar. A fumaça púrpura agora procurava um lugar por onde escapar; saturava a sala com aquela cor doentia, enquanto tentava encontrar uma saída. A fumaça espiralava no ar, e parecia enormes dedos de algum monstro insubstancial se preparando para atacar, até que encontrou a saída nas fendas estreitas que ficavam no teto.

Todo aquele tempo, ninguém tivera a oportunidade de dizer nada — desde a incineração de Caius, Aro tentava acalmar sua guarda, que atacava inutilmente nosso grupo. Mas ele era silenciado pelos rosnados de desafio que irrompiam de toda a parte de linha Volturi. Aro estava visivelmente dividido entre a obrigação de fazer sua guarda feroz se acalmar e o pesar de ver as cinzas do seu irmão que jaziam esquecidas e fumegantes no chão, ao lado dele. Mas isso era só o que restava do odioso vampiro de cabelos brancos. As cinzas e as lembranças de que, algum dia, após aquilo tudo, eu deveria agradecer Kate.

Rosnados e grunhidos de desafio continuavam enquanto Aro tentava bradar ordens de silêncio e respeito, mas parecia que nenhum de seus guardas queriam ouvi-lo, porque eles só tinham olhos para nosso grupo, na esperança de que nos fitando com seus olhares homicidas, eles conseguissem romper a proteção que meus escudos proporcionavam apara minha família e nossos aliados.

Os golpes quase perfurantes e desagradáveis de Jane continuavam tentando romper a proteção infalível do escudo enquanto a névoa de Alec inspecionava a impenetrabilidade, verificando possíveis pontos abertos que jamais iriam existir, na esperança débil de que pudessem nos atacar ou conseguir nos ferir.

Como eles não desistiam? Por que ainda pensavam que poderia haver esperança? Aquela luta já estava perdida — para o lado deles, é claro. Nosso lado permanecia incólume enquanto o lado deles já havia tido grandes baixas... Eles estavam sem poder nos atacar diretamente, sem poder nos atacar mentalmente, e, ainda por cima, os laços que os ligavam deixaram de existir.

Não que eles, de alguma forma soubessem dessa última parte, mas que esperanças eles tinham? Nenhuma — isso quase me fez sentir pena deles. No entanto, antes que esse sentimento pudesse ganhar força, Jane rosnou: um som furioso que parecia ter vindo diretamente do inferno; eu sabia que ela estava me desafiando a deixar o escudo de lado para apostarmos uma luta sem dons... Ou algo dramático no qual ela pensar — eu não queria saber.

Tinha certeza que esse seria um de seus truques; rosnei de volta, meus lábios repuxados dobre os dentes, em uma careta ameaçadora. — ela não se abalou, é claro. E então, mais quinze golpes desagradáveis — porém infrutíferos — atingiram meu escudo mental, direcionados somente a mim.

Aro estava, a todo o momento, tentando falar a, sem sucesso algum, apartar a luta que ocorria por ali; os soldados dos Volturi já não tentavam mais avançar meu escudo físico, e Aro sabia o que estava acontecendo — eu lhe mostrara meus pensamentos, e agora ele tinha pleno acesso ao interior de minha mente.

A névoa de Alec continuava a contornar os limites de meu escudo, sem encontrar sequer um local aberto para que pudesse atacar. Ele rosnou quando se deu conta que não havia brechas... Mas algo estava errado; não era um som de desafio, como Jane havia feito, e também não era frustração, como eu pensava que seria.

Alec se inclinou para Jane e sussurrou algo em seu ouvido — eu não pude ouvir, já que havia vários rosnados cortando o silêncio; as palavras de Alec fizeram-se ininteligíveis para mim.

De repente, ao meu lado, Edward ofegou; eu pensei que Jane o estivesse atacando, já que ela olhava para um ponto próximo ao dele e sorria... Mas não era isso; eu sabia que o escudo não teria aquele tipo de falhas.

Então, quase no mesmo instante que Edward ofegou sem palavras, ouvi algo parecido com um cachorro chorando... Ou se contorcendo de dor. Sim, Alec havia encontrado uma falha no meu escudo. Surpreendente era que eu não havia ouvido nada. Nenhum grunhido ou som que me avisasse que Jake tivesse perdido a visão ou todos os sentidos.

E eu me esquecera de envolvê-los no escudo... O momento em que os vampiros que não tinham sido convidados chegaram. Provavelmente havia sido isso. Eles estavam em um canto — eu sabia que eles haviam, por reflexo, se afastado do cheiro de uns 30 vampiros juntos... E eu, idiota, me esquecera de envolvê-los.

Leah, Seth, Jake e Victor de contorciam no chão — era como se um caminhão de dez toneladas tivesse acabado de passar sobre a pata de um cachorro que andava pela rua. —, em agonia.

Jane sorriu mais ainda, e eu soube que ela estava aumentando a intensidade da dor — eu sabia disso porque podia fazer igual... Mas não precisava sorrir.

Minha fúria suplantou tudo o que eu já havia sentido hoje; eu me preparei para saltar sobre aquela vampira maldita — ninguém machuca meus amigos, meu melhor amigo... Eu rosnei de novo, o som rasgou o ambiente e subjugou os outros rosnados que preenchiam a atmosfera hostil.

Todos os outros ficaram em silêncio e seus olhares se voltaram pra mim; Os soldados fortes dos Volturi tentaram, no mesmo momento, atacar os lobos que se retorciam no chão. Eles bateram contra a parede e voltaram para o lugar — Jake e os outros ainda se contorciam.

Eu olhei para Jane e rosnei; sabia que não iria adiantar tentar pará-la com um grunhido, mas chamou sua atenção — infelizmente, não o suficiente para que ela desviasse o olhar de Jake, que, tendo que suportar a dor em sua mente, infligia-a, involuntariamente, também a seus parceiros de alcateia. Eu tinha quase certeza de que Quil e Embry, que haviam ficado em Forks, também podia sentir a mesma coisa, já que, pelo que Jake dissera, ele podia ouvir as mentes deles aqui da Europa.

Eu sorri para Jane, e ela se encolheu, colocando os braços na frente do rosto para sua proteção, como se isso adiantasse alguma coisa — no mesmo instante em que ela perdeu a concentração, os lobos pararam de se contorcer de dor. — Mas a onda de ódio por Jane ter infligido dor a Jake e seus amigos não havia passado; ao contrário, agora ela fervia dentro de mim muito mais lentamente, como o fogo bruxuleando em uma lareira.

Eu mostrei os dentes de novo e grunhi mais uma vez. Depois Jane estava no chão, os braços que não adiantaram muita coisa, agora estavam flácidos — tão flácidos como um vampiro pode ser — a seu lado. Ela quase uivou de dor. Eu sorria a cada vez que aumentava a intensidade da dor.

Depois, com toda concentração que me restava — eu a usava para manter os dois escudos no lugar e para, agora, proteger Jake e seus companheiros —, eu consegui aumentar a potência dar dor insuportável (eu tinha uma vaga ideia do que ela sentia agora). Jane gritou de novo, e eu sabia que, se houvesse algum humano por ali, os tímpanos deles já teriam estourado.

Ela agora gritava de uma maneira ininterrupta. Cada segundo, eu tinha certeza, deveria estar sendo algo interminável para ela — como se o tempo não existisse, na verdade. Eu tinha a lembrança muito clara de minha transformação e, por isso, poderia comparar bem as duas dores. No entanto, algo em minha mente me disse que a dor que Jane estava sentindo era mil vezes maior. Sim, ela deveria, em pensamento, estar implorando pela morte; só não havia falado ainda porque tinha certeza de que havia gente muito afoita ali, naquela sala, a atender esse pedido.

Com uma concentração que tirei sei lá de onde, eu dupliquei a dor insuportável. Depois dupliquei de novo. Dupliquei mais uma vez... Agora a concentração para fazem muitas coisas ao mesmo tempo não me vinha com dificuldade, e era surpreendentemente fácil encontrar motivos para duplicar a dor mais uma vez... Ah, processo era lento e eu, definitivamente, para passar pelos intermediários do máximo da dor que eu podia infligir a Jane, elevei a dor ao quadrado, depois ao cubo... Por fim ela chegou ao máximo que eu podia extrair de mim mesma sem me esgotar minimamente. E a dor chegou a um ponto que eu teria de escrever por quantas vezes eu a multiplicara como uma notação científica. Algo como 1,36*10²¹. Era um número inominável. Uma grandeza astronômica.

Por fim, eu consegui o que queria: Jane agora gritava, a plenos pulmões, implorando pela morte. Eu bem que gostaria de atendê-la, mas, então, fui baixando a intensidade. Pouco a pouco, de modo que ela não percebeu — com seus sentidos aguçados — que a dor diminuía progressivamente. Quando retornei à metade da dor que eu podia infligir a ela, Jane ainda implorava pela morte; não havia percebido que a dor estava diminuindo. Eu mantive o ritmo, desfazendo a intensidade. Quando eu acabei com aquilo, desviei o olhar para saber eu mesma que havia acabado. Jane, pelo contrário, não percebeu e continuou a gritar.

Todos a olhavam, abismados e imaginando quanta dor ela estava sentindo para que ela pudesse chegar àquilo. Aro percebera o que acontecia e agora e olhava com um misto de súplica, admiração e fúria.

Ele percebeu que eu desviei o olhar e ajudou Jane a se levantar. Pela primeira vez suas palavras soavam claras e todos puderam ouvir. Agora sem as interrupções dos grunhidos a rosnados de desafio.

— Jane, minha querida — disse ele, com a mão estendida para Jane, ajudando-a a se levantar; ela devia estar tão atordoada pela dor que eu não duvidei que ela precisasse de ajuda.

Vi Aro se retrair quando, ao toque de Jane, ele sentiu, por meio de seus pensamentos, a intensidade da dor.

Edward rosnou, ao meu lado, quando leu o que estava na mente de Aro. Provavelmente Aro pensava em mim: Junte-se a nós, Bella. Eu grunhi baixinho.

Aro ergueu as sobrancelhas interrogativamente para Edward. Eu sabia que ele estava se perguntando se Edward sabia do que eu era capaz. Agora ele sabe, pesei.

Edward assentiu para Aro e deu uma risada maliciosa.

— Por favor... — começou Aro; agora ele havia, de novo, recuperado a atenção de todos. Depois de realmente muito tempo. — Queiramos nos aclamar, sim? Não há necessidade de violência. Vamos resolver tudo isso de uma forma pacífica.

Eu reprimi um rosnado de desafio. Quando eles estavam sendo atacados e perdendo, de alguma forma, não havia necessidade de violência. Eu tinha certeza de que se nós estivéssemos perdendo, Aro não se importaria.

Vladimir, na extremidade esquerda daquele caos e massa acotovelada, fez o que eu queria ter feito. Seu riso e seu rosnado genuinamente sombrios de humor negro não continham nada além do mais verdadeiro prazer que ele estava sentindo ao admirar a cena diante de si. Uma chama branca de felicidade parecia arder por trás de seus olhos encarnados que eu observava com minha visão periférica.

Stefan o imitou e rosnou ainda mais alto para ele. Renata se retraiu por ver alguém ameaçando seu mestre e Jane, já recuperada e com o cabelo for do lugar — como se tivesse rolado no chão (o que era exatamente o caso) —, tentou alcança-los dentro de minha proteção.

Aro colocou a mão no ombro de Jane, tocando seu manto escuro.

— Acalme-se, minha querida. Vamos resolver isso de uma forma pacífica — disse ele em um tom reconfortante e amigável.

E então algo que eu pensava que jamais aconteceria, aconteceu. Jane rosnou para Aro e eu soube exatamente o que havia acontecido: Os laços de união falsa que eu havia desfeito surtiram efeito naquela hora, e tudo fez sentido.

Jane já não obedecia a Aro ou a qualquer outro. Era essa a oportunidade.

Eu puxei Edward para mim e sussurrei em seu ouvido o que havia acontecido. Ele assentiu recompôs a postura. Eu o havia escolhido porque, além de saber o que os outros pensavam, ele sabia colocar muito bem as palavras a serem ditas.

Aro, no mesmo instante, saltou para trás em um gesto defensivo. Depois me fitou com uma expressão que só podia ser descrita como ódio puro.

Eu sorri para ele.

Não precisava ler os pensamentos de Jana para saber o que ela pensava. O que todos os membros da guarda pensavam agora que Jane se rebelara; estavam começando a se questionar. Por que diabos eles tinham de obedecer a alguém quando eram indestrutivelmente capazes de seguir suas vidas sozinhos?

Edward, ao meu lado, sorriu. Depois limpou a garganta e disse:

— Exatamente isso, Jane. — disse ele, sua voz tão encantadora como a de alguém que trabalha com hipnotismo. — Você já se questionou o porquê de sua posição inferior nessa organização? Você sabe que é muito mais poderosa do que Aro. Sabe que você e seu irmão, juntos, são mais próximo do indestrutível que alguém pode chegar... Por que obedecer a um senhor, quando você pode fazer tudo o que quer sem uma represália sequer? Pense nisso... A gratidão não significa que você tem de ser escrava de alguém pelo resto de sua existência.

Edward deixou suas palavras pairarem por ali enquanto Jane absorvia o que ele dizia; eu podia sentir que Alec também estava levemente interessado nas palavras dele.

As palavras de Edward pareciam tocá-la e seus olhos ficaram confusos, como se ela tivesse de resolver um problema matemático, já tivesse visto aquele conteúdo na escola e, mesmo assim, não soubesse por onde começar o cálculo.

— Gratidão? — repetiu ela, confusa, falando pela primeira vez, sem estar rosnando, a voz límpida e clara como um cristal. — Não é... Que eu faça por estar agradecida — disse ela, sua voz genuinamente parecia-me algo mais suave do que um anjo caminhando nas nuvens macias e aconchegantes — Na verdade, pensando melhor, isso sempre me pareceu o certo a fazer. Sempre achei que era esse o caminho que eu tinha de seguir; manter a ordem sempre foi o que eu fiz e nunca me questionei sobre isso.

Os outros membros da guarda assentiram. Aro permaneceu calado, olhando, perplexo, para cada membro da sua guarda. Marcus olhou também, mas parecia alguém que via um peixe nadando em círculos num pequeno aquário, como se tivesse passado o dia todo fazendo isso só por não ter nada para fazer — completamente entediado.

Edward assentiu para si mesmo. Eu sabia que ele captara o que precisava pra fazer seu jogo de palavras e, talvez, convencê-los de que não precisavam seguir ninguém.

Edward lhes falou sobre isso. Depois de algum tempo, eu pude ver alguns olhares hesitantes, menos os de Chelsea e Renata, que pareciam ser inabalavelmente fiéis. Chelsea parecia a ponto de explodir — e não era para menos; seu companheiro havia acabado de morrer, e ela não podia colocar a culpa em ninguém. Bem... Talvez pudesse culpa a mim por haver cegado os guardas, mas ela não demonstrava.

Edward, com sua voz que escorria persuasão, caminhava para mais perto da guarda, quase de frente para mim. Enquanto falava, parecia que ele as aproximava inconscientemente; Eu tentei adverti-lo, mas ele ergueu a mão, a palma voltada para mim — pedia um momento.

À medida que falava, ele se aproximava mais, para olhar nos olhos da guarda que aparecia estar atordoada com suas palavras.

Mas era só isso. Aparência — pelo menos para alguns.

Antes que eu percebesse que Edward tinha ultrapassado o limite de meu escudo físico (ele continuava sob a proteção do mental), um guarda focalizou-o, os olhos com uma esperança repentina e voraz.

Ele saltou sobre Edward, atacando-o de frente. Perguntei-me se Edward não tinha lido seus pensamentos para saber sua intenção, mas então me dei conta de que havia muitas vozes em sua cabeça, misturadas, e ele jamais havia pensado que um ataque seria viável naquele momento.

O guarda alto e Edward se debatiam enquanto eu tentava estender meu escudo até ele. No entanto, antes que eu pudesse agir com rapidez o suficiente, já estava acabado.

O vampiro forte voltou para dentro da caótica linha de formação dos Volturi a eu via a cabeça de Edward rolar para mais perto de um dos guardas que esperava na extremidade esquerda da linha que separava nossos grupos.


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Notas finais do capítulo

Posteei o próximo assim que tiver acabado da escrevê-lo. Obrigado.