Aurora Boreal escrita por Mr Ferazza


Capítulo 25
XXII. MILÊNIOS DE SUJEIRA CHEGAM AO VENTILADOR


Notas iniciais do capítulo

Perdoem-me pelo nome do capítulo estar tão grande... Acho que ficou meio capítulos-do-Jake-em-amanhecer.



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XXII. MILÊNIOS DE SUJEIRA CHEGAM AO VENTILADOR (E ARO AINDA FINGE QUE NÃO SABE DE NADA)

Fiquei olhando, abismada, a cena que se fazia diante dos olhos de todos ali presentes, e tive de me concentrar para não perder ou deixar brechas em nenhum dos dois escudos que eu sustentava em torno de todos nós, mas isso foi fácil. — Agora que eu podia me concentrar de verdade em mais de uma coisa ao mesmo tempo. Muito simples, na verdade; meu instinto natural de autopreservação cuidava, quase que automaticamente, dessa proteção para mim, enquanto eu tinha somente que me concentrar em quem tinha de cobrir duplamente.

                Os dois vampiros romenos, que estavam na frente — Stefan e Vladimir — pareciam ser uma espécie de núcleo daquela expedição; isso eu notara no memento em que Vladimir derrubara a porta com o estrondo ensurdecedor que mal fora percebido — estavam todos chocados demais para que notassem alguma coisa além da cena incrivelmente impossível que seus olhos viam diante de si.

                Impossível, porque ninguém os “convidara” para aquela reunião, depois, percebendo o contrário — um fato que já seria esperado, mesmo mantendo o sigilo total com relação àquela situação —, eu vi que as notícias, por menos divulgadas que fossem sempre se espalhariam como o fogo em uma mata seca. — com uma rapidez espantosa e aterrorizantemente vertiginosa.

                O que era para ser uma reunião para resolver pendências, agora se tornara um encontro de uma multidão inquieta e feroz, muitos ardendo com a contrariedade da prova que havia muito eu já sabia. — a manipulação das leis imutáveis dos Volturi.

                Dava para ver em seus rostos que eles não queriam acreditar nisso, mas a prova muda estava diante deles. Diante do imenso grupo que fora reunido e trazido até ali.

                Alguns vampiros que estavam ali, eu conhecia. E também desconhecia muitos outros, principalmente.

                Eu não entendi como aquela enorme massa, inertemente acotovelada, caberia no torreão do castelo dos Volturi, mesmo sendo enorme. Mas então eles começaram a entrar, e logo a sala estava cheia, todos postados ao nosso lado, prontos para uma luta. Uma luta que, se acontecesse, seria tremendamente confusa.

                Eu estendi os escudos para a enorme multidão de recém-chegados, protegendo-os comigo, enquanto eles se acomodavam sob o olhar apavorado de Caius, que fora o último a falar, recebendo a resposta às suas palavras. — Aquela multidão, pronta para ajudar, se possível, a queimá-lo.

                Parte da massa alvoroçada eu podia nomear perfeitamente: Logo atrás dos romenos estava o restante do clã egípcio — Kebi, Tia e Amun — Que logo foram se juntar a Benjamin, no meio do círculo formado por nossa família. Os nômades também estavam ali: Charles e Makenna, Peter e Charlotte, Mary e Randall — e, surpreendentemente, até mesmo Alistair. — Os irlandeses, Siobhan, seu parceiro, Liam, e Maggie. As amazonas também estavam conosco; Zafrina, Senna e Kachiri. Havia até mesmo uma vampira que eu nunca vira, mas, pela descrição — cuja eu lembrava-me bem, apesar das memória cheias de lama —, me parecera Maria. a vampira criadora de Jasper, que era incrivelmente linda — comparável a Rosalie, inacreditavelmente —, com a pele em um tom azeitonado, mais baixa do que Alice, os lábios cheios e os cabelos negros como uma noite de lua nova e sem estrelas. Havia outro casal de vampiros, que olhavam para o vampiro louro e alto, que estava atrás de Alec e Jane — aparentemente, seu segurança —, como se o conhecessem de algum lugar, mas não se lembrassem de onde. Que estranho! Edward também teve esse sentimento ao ver aquele vampiro alto, de olhos vermelhos e astutos.

                Os muito outros vampiros que estavam ali eram inomináveis para mim, setenta e três, para ser mais exata, mas talvez, Carlisle os conhecesse de algum lugar. Eu não me importava.

                Os rosnados altos e cautelosos, dos recém-chegados, continuavam enquanto nossa família, já calada, e os Volturi, examinavam os que haviam acabado de chegar.

                Eu consegui observar Caius grunhir e mostrar os dentes; obviamente para os que ainda rosnavam para ele. Depois o odioso vampiro de cabelos brancos estalou os dedos para Jane, e ela se concentrou: Seguiram-se uma pressão após a outra — cinco —, dirigidas a os romenos a as Amazonas. Depois Jane tentou torturar Edward, Carlisle, Jake, Renesmee, Alice, Kate, Garrett, Rose, Eleazar e eu. No total, quinze ataques, sem sucesso algum. Nenhum deles conseguira romper meu escudo, obviamente, Era impossível. No lugar de Jane, eu nem tentaria de novo, mas ela insistia.

                Então eu tratei meu escudo como se ele fosse um espelho, devolvendo a ela todas as quinze investidas de dor que ela tentara infligir a nós, todas seguidas uma da outra e com mais potência do que a anterior.

                Jane novamente estava no chão, experimentando da própria dor.  E eu abri um enorme sorriso para ela, na esperança de que ela visse como era irritante estar sendo torturado enquanto outra pessoa se divertia com isso.

                Repentinamente, a sala da torre ficou quieta, a não ser pelos berros lancinantes que Jane emitia e, do contrário ao que eu acreditava ser fisicamente possível. Lancinante e terrivelmente agudo, como só uma criança ou um soprano poderia vocalizar.

                Ela ainda se contorcia como um peixe fora d’água. E eu começava a desfazer a dor gradualmente, tornando-a menos intensa a cada segundo que passava. E isso funcionava tão bem que ela nem percebia que a dor ficava mais fraca, e, assim, quando acabou — quando já não restava a dor imaginária em sua cabeça —, ela nem percebeu, e continuava gritando. Gritando por causa de uma dor que já nem estava mais ali, e que, na verdade, nunca estivera.

                Jane finalmente se deu conta de que não havia mais dor, então se recompôs e levantou-se do chão frio, olhando para mim com uma expressão de quem diz: “Se você não tivesse dois escudos lhe protegendo, eu arrancaria sua cabeça”.

                E então, de novo, sorri enormemente para ela, mostrando os dentes, também como uma ameaça, dizendo que ela estava coberta de razão.

                Alec também me fitava como se eu tivesse arrancado um braço dele; uma mirada de puro ódio enquanto ele se concentrava para lançar para nós aquela névoa doentia.

                E então eu me preparei para lhe lançar a minha, algumas dezenas de vezes mais poderosa, tendo a ele como único alvo.

                No meio do caminho, as duas névoas se cruzaram, mas era como se não houvesse havido encontro nenhum; uma passou para o lado que era destinada, enquanto a outra fazia o mesmo. Elas não se misturaram e não reagiram de forma alguma ao encontro, como faria qualquer outro material.

                Em alguns instantes, a névoa doentia que Alec conjurara para mim, tocou meu escudo e não encontrou brechas, só pairava por ali e, ao contrário da última vez, não se movia para tentar encontrar algum buraco; estava imóvel e se dissipando lentamente, porque não encontrara alguém para deixar cego.

                Enquanto a fumaça entorpecente de Alec se dissipava, ineficiente, ao redor dos limites de meu escudo, a que eu conjurara para ele fizera mais efeito, e eu pude ver seus olhos vagos, enquanto ele experimentava, pela primeira vez, a cegueira e a total falta de sentidos, que ele já infligira a tantos outros, durante vários milênios.

                Eu notara que ninguém se dera conta do que estava acontecendo, embora Alec parecesse querer falar alguma coisa. Era como se ele não encontrasse o ar que o possibilitava formar as palavras.

                Agora, a névoa em volta dele se dissipava lentamente também, assim como a que ele conjurara para nós estava quase sumindo, como se estivesse perdida no ar, em partículas cada vez menores, eu vi seus olhos voltarem a si, enquanto ele enxergava novamente a cena que, um segundo atrás, ele não podia ver.

                Caius, vendo que sua ordem de ataque, ainda que tivesse sido seguida fielmente, não resultara em nada, olhou para mim com os olhos cheios de ódio também, e com um misto de desespero e violência.

                E antão, senti que era hora de retribuir minimamente o que ele fizera com Irina, alguns anos antes. — O Grand Finale ficaria para Kate ou Tanya.

                Eu me concentrei em infligia a dos na cabeça branca do vampiro nojento que agora eu fitava concentrada. Depois eu sorri, enquanto a dor chagava até ele, como mil facas atravessando seu corpo de pedra.

                Ele se atirara no chão, tamanha era a intensidade da dor que o impedia de aguentá-la imóvel. E eu aumentei a intensidade, triplicando a dor que eu infligira a Jane, instantes antes disso. Agora Caius gritava, e me pareceu estranho que ele não estivesse implorando pela morte — aquela dor, embora fosse irreal, suplantava a dor da transformação. —, e então me dei conta que ele tinha um fã clube anti-Caius muito grande, e talvez temesse em ter seu desejo atendido.

                Eu tinha de admitir que fosse divertido infligir dor a um ser tão nojento e asqueroso quanto o ancião grisalho, mas me limitei àquela intensidade, deixando-a agir nele por mais alguns segundo antes de fazê-la se esvair gradativamente, até que não restava mais dor alguma. Só a agonia pós-agonia.

                Os recém-chegados agora olhavam para todos os lados, com uma curiosidade capaz de corroer o granito de sua pele pétrea, desejando saber quem fazia aquilo, mas não havia tempo para explicações.

                Os romenos, mesmo não sabendo quem conseguira infligir dor aos que antes o faziam, estavam vibrantes de felicidade e de desejo de vingança.

                — Por favor, meus amigos, sejamos pacíficos. — disse Aro, e eu sabia que seu pedido se referia a mim, especificamente. Mas eu estava sendo pacífica; o que eu não iria fazer era perdoar um insulto ou uma afronta. — E, caro Caius, eu não lhe permiti dar ordens à Jane ou a qualquer pessoa da guarda sem o consentimento de todos. Ou da maioria, pelo menos.

                Caius olhou para ele com um ar de incredulidade, e eu sabia que logo viria a ruptura pela qual eu estava esperando quando anulei os laços com que Chelsea os ligara. Não desfiz os laços, somente os anulei... Tudo bem! Era a mesma coisa, mas eu queria ver como seria a coexistência dos anciãos sem o elo que Chelsea proporcionava a eles. Quando eu desfizera as ligações, acredito que ninguém tenha notado, com exceção de Marcus, que tinha o talento de vê-las. Mas Aro ainda não sabia disso, porque não tocara Marcus desde que chegamos, e este não tivera entusiasmo o suficiente para comunicar o acontecido a ele, e com a ruptura que havia acontecido... Ficara muito menor o entusiasmo que ele sentia com relação a toda essa cena.

                O ancião grisalho fitou Aro ainda com mais incredulidade, sua sobrancelha arqueada e a boca entreaberta, enquanto os olhos se arregalavam, reforçava esse sentimento de constrangimento, como uma mãe que olha para o filho pequeno, extremamente sincero que dissera algo idiota na frente de pessoas desconhecidas, algo como: “Não acredito que ele disse isso na frente das visitas”.

                Então, alguns segundos depois, após um imenso silêncio e olhares fixos de tensão e constrangimento alheio.

                —O que... O que você disse? — Perguntou Caius, e, ao invés dos rosnados que àquela altura todos esperavam, sua voz era calma e controlada; controlada ao extremo, como se ele estivesse lutando para não perder o controle. E eu tinha certeza de que esse era exatamente o caso.

                — Eu disse que ninguém o autorizou a ficar dando ordens à guarda sem o consentimento do conselho deliberativo. — repetiu Aro, na esperança de que, dessa vez, tivesse se feito ouvir.  —E suponho que você não vá me fazer repetir isso, não é, irmão?

                Caius o fitou de novo, sua expressão de quem não havia entendido o que fora dito a ele, pela segunda vez, e, depois, virou as costas para nós e, muito lentamente, começou a deixar o local. Será que Aro o ofendera? Claro que sim, eu tinha certeza.

                Aro viu o outro ancião deixando a sala lentamente, e perguntou:

                — Aonde vai?

                Caius se virou e o fitou por um momento antes de responder

                — Vou buscar Athenodora; ao que parece, não tenho mais nada para fazer aqui. Acho que esses milênios junto a você foram inúteis, Aro. Presumo que todos tínhamos igualdades no momento de designar qualquer ordem à nossa guarda, e, no entanto, veja o que você fez! — disse Caius aos sussurros, uma chama de algo que eu não conseguia identificar pairava atrás do tom reprimido e desconfortável do ancião.

                Aro deu de ombros e depois disse:

                — Se é o que deseja, não tenho como impedi-lo; vá em paz, irmão — disse Aro simplesmente.

                Simplesmente.

E, no segundo seguinte, Caius estava mais perto de Aro novamente, com a expressão mais incrédula do que antes, quando ele havia sido desautorizado na frente de todos nós, e eu percebi o que havia em sua voz, antes, quando detectei algo e não consegui nomear. Era drama. Um drama barato. Caius estivera fazendo uma chantagem emocional, e Aro percebera na mesma hora, e, portanto, fizera justamente o contrário do que Caius, o vampiro dramático, esperava, e seu “plano” (que eu tinha certeza que demorara meio segundo para ser arquitetado, e por isso mesmo, não dera muito certo) fora por água abaixo.

Aro mirou Caius com uma expressão perplexa e convenientemente inocente, como se não soubesse o motivo da reação dele.

— O que há com você, irmão? — perguntou Aro, tentando, com um sucesso surpreendente, reprimir um sorriso. E com sua fachada de desentendido imaculadamente perfeita.

— Eu é que pergunto, Aro. O que você bebeu? Sangue aglutinado, por acaso? — Perguntou ele, extremamente sério. — Eu lhe avisei que não faria bem misturar B e AB positivo.

Alguns vampiros que estavam no nosso grupo riram, inclusive eu.

— Componha-se, Caius. Eu apenas quis dizer que não é bom agir de acordo com seus impulsos. Controle-se e ouça o que os recém-chegado têm a dizer, se é que ele vieram dizer alguma coisa. — Disse Aro, num tom pacificador.

Caius assentiu e se recuperou rapidamente do surto de nervosismo.

De repente, um riso histérico e incrédulo irrompeu dos lábios de Edward, que tinha a cabeça tombada para trás, gargalhando freneticamente.

— Eu sempre soube! — dizia ele, como se recebesse uma notícia óbvia mas que nunca fora confirmada. — Não desista tão rápido, Caius; se eu fosse você, iria querer saber mais sobre esse relacionamento pacífico e monótono que você mantém com Aro. As motivações são algo muito forte aqui.

Eu olhei para ele, não sabendo o que ele queria dizer com aquilo, mas logo me lembrei das lembranças que tivera na mente de Aro, quando o toquei, deixando que ele lesse minha mente, e, em consequência, ficara sabendo de absolutamente todas as suas memórias e, inclusive, a de todos os vampiros que ele já tocara em sua longa existência.

Depois eu assenti, sabendo do que ele falava.

Caius estava confuso de novo, olhava para Edward com uma expressão perplexa e não acreditando no que estava ouvindo. Ou não sabendo do que Edward falava.

Eu olhei para o rosto de Aro, e vi que, pelo menos ele, sabia exatamente do que Edward estava falando.

— Motivações? — repetiu Caius. — A que você está se referindo? — perguntou ele, sua voz repentinamente feroz.

— Ora, ora! — começou Edward — Você não pode acreditar que Aro aprecie sua companhia, que, cá entre nós, não é a mais agradável do mundo, somente pela pessoa maravilhosa que você é. — Edward sublinhou a palavra, impregnando-a com todo seu sarcasmo.

Caius rosnou para ele, e depois disse, olhando de Edward para Aro, como se quisesse que ele explicasse o que Edward estava querendo dizer.

— O que quer dizer com isso? De onde tirou essas ideias, essa conversa sobre motivações? — Perguntou ele.

Edward tocou sua têmpora, como se estivesse respondendo a última pergunta de Caius.

Caius olhou para Aro, esperando uma explicação do que estava em sua cabeça.

Aro agitou a mão com desdém.

— Não é nada, irmão. Tenho certeza que o nosso amigo Edward não sabe bem do que está falando.

— Sei exatamente do que estou falando, e tenho tanta certeza disso quanto você ou Bella, que agora também sabe mais sobre você do que qualquer outro, além de você.

— Talvez, então, algum de vocês pudesse se explicar sobro que eu sei, porque juro que não os compreendo. — disse ele, num tom inocente demais para que convencesse alguém.

Edward rosnou em resposta, porque sabia que aquilo era uma mentira. Eu também sabia; não porque lera sua mente, mas porque ficara estampado em sua cara deslavada que ele estava blefando. No fundo do grupo dos recém-chegados, Maggie e Charles rosnaram em sincronia.

— Não se faça de tolo, Aro. Sabe perfeitamente a que me refiro; estou falando de seus sentimentos com relação a esse vampiro que está ao seu lado, e que você, tão descaradamente chama de “irmão”.

Caius e Aro se fitaram por um momento, um tentando decifrar a expressão do outro. Aro teve um pouco mais de sucesso em sua tentativa.

— Meu querido irmão, você não irá acreditar nas bobagens que ele diz, não é? Não existe nada que eu não tenha dito a você, e você sabe disso tanto quanto eu. — disse ele inocentemente de novo.

— É claro que eu não iria acreditar em tamanho delírio; sei que eles só estão querendo abalar nossa aliança. Mas não vão conseguir!

Era incrível como ninguém percebera que o dom de Chelsea, que agia para manter a ordem e a boa convivência, havia desaparecido — Talvez esse tipo de dom não fosse algo que alguém seria capaz de sentir.

Edward fitava Aro com uma expressão de raiva e descrença. Eu me controlava para não fazer o mesmo, sabendo que não adiantaria de nada pressioná-lo mais. Mas Edward sabia jogar, sozinho, muito bem com as palavras que diria, então eu não interferiria.

— Tem certeza que não acredita? — perguntou Edward ironicamente. — Nunca passou por sua cabeça... Você nunca refletiu plenamente como é a personalidade de Aro? Não se engane, Caius; sei que você já se perguntou isso muitas vezes, mas nunca questionou esse fato, mas está na hora de ver a verdade. Você sabe que Aro gosta de ter dons ao seu redor, não sabe? Você nunca questionou o porquê de Aro querer você por perto, mesmo não tendo nenhum dom? Nunca se questionou sobre o que ele pensa de você?

Caius o fitava, Edward, agora, com uma expressão que deixava transparecer sua dúvida. A dúvida que crescera com as palavras de Edward.

— Isso faz sentido. — murmuraram várias vozes juntas, inclusive Caius, que olhou para Aro com uma cara de quem exige explicações.

Então Aro, ao invés de responder a pergunta muda que estava na expressão de Caius, lhe devolveu outra.

— Meu caro irmão, você tem ideia de quem é? Já analisou sua verdadeira personalidade? Não que eu lhe culpe por isso, mas você sempre foi tremendamente obtuso para alguém com mais de três mil anos, que foi transformado com mais de cinquenta! Você se preocupa demais com a carnificina que talvez vá infligir a outros para ver a si mesmo com clareza necessária.

— O que quer dizer com isso? — replicou o outro.

— Quero dizer que o que você não viu em si mesmo durante tanto tempo, eu consegui enxergar em pouquíssimos dias, meu caro! Consegui ver sua maior fraqueza, e, também, sua maior força, que, por acaso, são a mesma coisa, no seu caso. O poder! Por causa dele, você é tremendamente forte, e, no entanto, à medida que você prova sua força, também é incrivelmente vulnerável para alguém com a sua determinação. E há um enorme potencial nisso. Foi isso que me atraiu.

                — Potencial? Que potencial? — perguntou ele, ainda confuso.

                — O potencial de manipulação que encontrei em você; um vampiro mais velho do que eu era, e, no entanto, muito mas moldável do que um recém-criado. Isso não era algo que se via sempre. Você sempre se sentiu sufocado com a ideia de saber que havia pessoas muito mais fortes que você, e isso o apavorava, ainda o apavora, eu consigo ver em seus olhos agora, e nunca foi difícil convencê-lo de minhas ideias. Sempre lhe impus o que eu quis, e você quase sempre aceitou, com a ideia de que isso o fazia mais forte e menos vulnerável... Como eu disse, um grande potencial de manipulação.

                — Mas não entendo porque você fez isso. — disse ele, e era obvio que estava chocado com as revelações repentinas de Aro, que desistira e lhe dissera a verdade com mais rapidez do que qualquer um poderia prever.

                — Porque você era e sempre foi um grande partidário de minha ideias; sempre foi fácil convencer você a aceitá-las. Marcus sempre aceitava meus planos com um pouco mais de relutância, mas era muitíssimo simples dissuadir você. Marcus não conseguia ver sentido em minhas ideias, mas você encontrava nelas muito mais do que eu queria expor, sempre com uma facilidade tremenda, e isso me permitiu, com um voto a meu favor, levar meus planos à execução, embora seu ponto de vista sempre tenha sido a carnificina, e não o conhecimento. E agradeço a você por isso. Muito mais do que possa imaginar. Então, não se deixe abalar com ê essas declarações, porque você sempre será importante, embora, partir de hoje, possa não ver sentido nessa importância.

                Caius assentiu e ficou calado, digerindo o que Aro lhe dissera, até concluir que isso não era exatamente relevante para que ele tivesse atingido seu propósito de sempre. O poder. Que, de fato, ele conseguira. Até esse momento, porque eu podia ver em seus olhos — e Edward em sua mente —, que ele considerava esse poder uma coisa que já era muito ultrapassada, porque um novo conceito de poder estava à sua frente — na verdade, dois —, pronto para atacá-los, assim que houvesse algum sinal de ferocidade do lado deles. Caius agora estava vulnerável, e eu sabia, pelas palavras e pensamentos de Aro, que ele odiava esse sentimento mais do que tudo no mundo.

                Agora, todos estavam voltando suas atenções para Aro, que era o centro da discussão, e todos esperavam que ele dissesse algo sobre os recém-chegados, que ele não tivera tempo de dar boas-vindas ou dizer sumam daqui!

                Sua expressão era pesarosa, e eu sabia que, mentalmente, ele estava suplicando para que Edward, ou qualquer um de nós — provavelmente eu, porque eu era a única, além de Edward que conhecia —, revelasse seu outro segredo. Seu maior segredo, que, em comparação com esse, era ainda mais escandaloso.

                E então a multidão mal organizada à sua frente, teve sua atenção depois de alguns mentos refletindo.

                Eu sabia o que ele estava vendo diante de si nesse momento;. Uma grande quantidade de vampiros que não estava satisfeita com seu “reinado”. Uma multidão que viera até ali para ajudar o mundo vampiro a se livrar do que eles imaginavam que já estava passando dos limites da insanidade. Ele sabia, como todo o tirano sabe, embora eles nem sempre tenham recebido esse lisonjeiro título, que um dia seus “subordinados” se voltariam contra ele, e temia que esse dia chegasse, porque Aro sabia perfeitamente, assim como mais ninguém tinha ideia, que ele, já havia muito, estava usando e abusando da fé e da confiança que o mundo imortal depositara nele. E, o que era pior, estava usando isso em benefício próprio, para que ele estivesse sempre protegido na desculpa do dever que o cumprimento da lei colocava sobre seus ombros falsamente sobrecarregados. 

                Uma união, que era tudo o que ele mais temia; todos os vampiros que ele governava estavam se voltando contra ele. Ou pelo menos, insatisfeitos com essa situação, porque agora todos sabiam das manipulações nada sutis que ele fizera desde sempre.

                No entanto, o que ninguém podia negar era que os Volturi ainda serviam para proteger nosso oculto estilo de vida. — pelo menos os que existiam dessa forma — Isso era verdade, e já bastava para que, pelo menos boa parte de nós, quisesse que esse governo nunca de desfizesse. E muitos agradeciam a eles por protegerem a obscuridade de seu segredo, inclusive eu, se não tivesse tanto ódio da família real italiana.

                Aro ergueu o indicador para recuperar a atenção de alguns vampiros que murmuravam, comentando o que haviam visto.

                — É muito agradável que tantos de vocês tenham vindo prestigiar a nossa pequena reunião, o que acaba de dar a ela novas proporções. — disse ele, num tom de voz agradável e convidativo. — Mas devo lembra-los de que não era necessária uma estrada tão... Tão... Notável. Bastava bater; alguém abriria a porta para vocês.

                Aro estava se fingindo. De novo. Estava fingindo que não sabia o porquê daquela entrada alarmante. É claro que era muito mais do que uma questão de entrar. — com tremenda impaciência, diga-se de passagem — Era uma ameaça. Um aviso que nós estávamos em maior número. O que me fez imaginar porque eles pensavam isso, mas então me dei conta de que alguém deveria ter contado sobre mim. Que ótimo! Eu era, de novo, o centro daquele ataque, pelo menos para eles, um título que eu não queria receber.

                Alguns assentiram para suas palavras, outros rosnaram.

                — Paz, meus amigos. — disse ele, tentando acalmar os que haviam rosnado pra ele. — Por favor, não sejamos precipitados, nem violentos. Temos tempo para esclarecer esse assunto, e creio que muitos de vocês quererão expressar suas opiniões pacificamente. Sejamos civilizados e devidamente racionais! — exclamou ele, com a voz um pouco mais animada.

                — E então, meus queridos, qual o motivo dessa reunião, além do já mencionado por meu amigo Carlisle? — perguntou ele, mirando os recém-chegados, principalmente fitando, ameaçadoramente, os vampiros Romenos, seus eternos inimigos.

                — E você ainda pergunta Aro? — perguntou Caius retoricamente — Já não ficou bastante óbvio que todos eles vieram de tão longe numa clara tentativa de nos destronar? — Caius destacou a palavra, claramente indicando que ele também se referia a nós, que deixamos nossos objetivos com aquela reunião tremendamente claros. Principalmente a nós.

                — Acalme-se, irmão! Deixemos que os nossos amigos recém-chegados digam por si mesmos, eles têm direito a isso. Ouçamos! — disse ele, e ficara claro que aquele breve discurso sobre os direitos era para tentar fazer alguns mudarem de ideia sobre a opinião que tinham sobre eles. — E então, meus caros amigos, o que vocês têm a nos dizer agora?

                Eu não esperava que alguém começasse a falar tão cedo, mas um nômade que eu não conhecia começou a falar de imediato, assim que Aro se calara e dera a chance de alguém se manifestar.

                — O fato é que, há muito, não estamos satisfeitos com seu trabalho. — disse um vampiro alto e moreno, que tinha sua parceira em seu lado. — Principalmente o modo como você conduz as leis que governa. Temos notado que você e esse vampiro nojento que está ao seu lado têm contornado os próprios éditos para conseguirem o que querem.

                — Eu realmente lamento que você nos veja dessa forma, meu amigo, mas é nosso trabalho. E não podemos mudar as leis somente para parecer que não a estamos manipulando. Lamento que você veja, principalmente, nosso trabalho sobre esse ângulo nada agradável. — Aro replicou gentilmente a resposta do vampiro desconhecido.

                — Não é o que consigo ver subjetivamente, Aro. E você sabe como minha visão é objetiva. Sei que estou certo e já comprovei isso há muitíssimo tempo. Ou, presumo eu, que você supõe que eu já esqueci que você e esse nojento aí — ele apontou o dedo indicado pra Caius — destruíram mais da metade de meu clã para levar Corin, dizendo que precisavam averiguar se ela era capaz de guardar o segredo, por conta de sua composição básica não completamente adulta? Acho que já teve bastante tempo para averiguar o caso, não é?

                Corin, Corin?

                Ah, sim. Eu busquei a informação nas lembranças que eu absorvera na mente de Aro, e descobri quem era ela, a vampira de quem ele falava. Ela tinha um dom parecido com o de Jasper, mas muito mais forte do que o dele, porém mais limitado do que o de Chelsea. Ela era um guarda-costas das esposas, ajudava Athenodora, esposa de Caius e Sulpicia, esposa de Aro, a lidar com o tédio da vida de cárcere que os maridos infligiram a elas, sob o argumento da segurança. Ela deixava uma aura de satisfação e alegria quando usava seus dons, mas causava dependência. Exatamente como uma droga.

Eles haviam usado Corin para satisfazer as esposas quando elas ficavam entediadas, em seus longos séculos de encarceramento. E fizeram isso por ambos perceberem que estavam vulneráveis a tragédias como a que acontecera com Marcus, que perdera sua esposa para um assassino oculto, que cometera um crime perfeito e depois se escondera. Marcus nunca conseguira encontrar o assassino, a fim de se vingar, então se tornara o zumbi desanimado que é até hoje.

Diante da declaração do vampiro insatisfeito, Aro calou-se, porque não tinha como argumentar com isso. E, logo de pronto, ficara claro que o vampiro desconhecido estava certo. Aro manipulara sua própria lei super sagrada, de consegui um dom que queria. Com ele sempre fazia como quase todos os dons que tinha. Mas ele não podia reclamar; os maiores dons que ele tinha, conseguira “honestamente” — e só tivera que matar um vilarejo inteiro —, Jane e Alec foram salvos de fogueira por Aro, há várias dezenas de séculos.

O rosto de Aro finalmente se iluminou, e ele começou a falar, enquanto várias expirações pesadas, de impaciência, eram soltas.

— Você deve considerar, meu amigo, que Corin era muito mais útil para mim do que para você; ela mesma me confidenciou isso. — argumentou Aro.

O outro assentiu e falou:

— Nisso eu não tenho como discordar de você, Aro. — concordou ele, dizendo que era verdade o que Aro acabara de falar.  Mas ele devia ter um argumento melhor, do contrário, não teria desistido do original assim tão fácil.— Mas não muda de assunto! — A voz do desconhecido era, de repente, decidida, quase ameaçadora. — Isso não muda o fato principal. E você sabe bem disso, não tente nos distrair ou provar que está certo usando detalhes, que, em comparação com a atual circunstância, não é nem um pouco relevante.

Era engraçado. Aro tentara distrair a todos com o argumento de que Corin era mais útil com ele do que com o outro. Mas o desconhecido rebatera o argumento com uma objetividade tremenda, recusando-se a ser distraído com as palavras de Aro, que, em minha visão, sempre funcionavam muito bem com quem ele as utilizava. Convenciam como uma prova apresentada por uma foto ou um vídeo que era exposto num julgamento de um assassino sanguinário, mas não eram mais válidas ali.

O rosto de Aro, se pudesse corar, teria corado naquele momento, com sua estratégia descoberta assim, tão facilmente, e, além disso, exposta para que todos a vissem.

Então eu me perguntei por que Aro desistira de seu Argumento original assim, tão rápido. E, então, me dei conta — com a ajuda do dom que eu havia recebido de Eleazar — de que o talento daquele vampiro era exatamente esse: Descobrir e conseguir a dos inimigos e armar estratégias mais eficazes, então me perguntei se ele tinha alguma em mente. Era provável que não, já que nada adiantaria contra os Volturi, a não ser meus escudos. E dons mais fortes do que os deles. Mas eles já haviam sido neutralizados por um jogo de palavras antes.

— Você é, realmente, muito perspicaz, meu querido amigo, e teria sido de grande valor para nossa pequena guarda; é claro que eu não pude convencê-lo a deixar sua adorável parceira. — disse Aro, pesaroso, como se estivesse lembrando-se de um passado distante. Tentado várias vezes fazer com que o vampiro desconhecido se juntasse a ele. — mas, quem sabe, esse não é meu dia de sorte! Você não consideraria essa hipótese... — Aro começou com sua pergunta de sempre, mas foi interrompido pelo vampiro ao qual se dirigia.

—Aro, Cale-se, por favor; você vem tentando fazer isso durante os últimos treze séculos, e ainda não desistiu? Sabe que isso seria impossível. Não, obrigado. — disse o incrédulo vampiro, como se estivesse dizendo aquilo, negando o convite, pela milionésima vez; e eu tinha certeza de que era exatamente esse o caso.

Isso também era algo que nós nunca presenciamos (principalmente os vampiros mais antigos do que eu, é claro); algum vampiro de fora do clã Volturi mandar um deles calarem-se. E esse fato, é claro, comprovava a teoria que todos nós já sabíamos; Os Volturi haviam perdido seu posto de realeza assim que surgiram os comentários e as provas de que eles manipulavam suas próprias leis para conseguirem o que desejavam.

E Aro, obviamente, já podia sentir as consequências de seus excessos e massacres em nome do poder a da suprema autoridade que, um dia, ele já obtivera.

— Acalme-se, meu amigo! Foi só um convite; infrutífero, ao que parece, mas você conhece as naturezas desagradáveis que, às vezes, a lei coloca em nossas mãos. — disse ele, esclarecendo seu convite, e dando a impressão de que ala fora forçado àquilo.

— Sim. Eu sei como é isso. E também conheço a natureza do que leva alguém a burlar e manipular a própria lei em benefício próprio. — replicou o outro vampiro desconhecido.

Aro deu um sorrisinho sarcástico e depois disse:

— Me desculpe, mas não o compreendi. — disse ele.

— Aro, não banque o idiota; nós acabamos de falar sobre isso, e você... Bem... Meio que admitiu isso. — disse o outro vampiro, com impaciência.

— Não estou bancando... — disse ele, e, quando se deu conta do que dissera, calou-se rapidamente. — Tudo bem, então, indaguemos aos outros aqui presentes, meu amigo. Veremos o que eles têm a dizer sobre sua acusação... — Aro se perdeu no que estava dizendo, escolhendo algum vampiro para que manifestasse sua opinião — Que tal... Você, encantadora Maria, minha adorável amiga latino-americana.

Ele fitou a linda vampira, na extremidade mais afastada de nosso grupo desorganizado, e alguns olhares seguiram o movimento dos olhos de Aro.

¿Que tal? — Perguntou ele, antes de se iniciarem as formalidades daquela reunião inesperada.

— Estou bem, obrigada. — Respondeu ela, mas não no mesmo idioma que Aro havia feito a pergunta; sua voz me era familiar, de algum modo, mas eu não podia fazer uma comparação perfeita — meus ouvidos humanos eram meio fracos para que eu recordasse com a devida clareza. —; seu tom me lembrava, vagamente, o som da voz de Victoria — como se uma criança estivesse falando. A voz era, também, mesmo que se levasse em conta os séculos que aquela vampira tinha, fortemente sobrecarregada de um sotaque espanhol — muito mais do que Eleazar ou Carmen —, de modo que o bem, que ela falara antes, soou mais como vem.

Aro assentiu, e retomou a expressão deliberativa.

— E, então minha querida, o que você tem a dizer sobre nós? Concorda com seus companheiros, ou só está aqui porque todos os outros estão? — ele perguntou a Maria.

No estoy aquí... , digo, ... Não vim aqui por nenhum motivo, e nem por outro, Aro. Não só porque todos os outros estão. — esclareceu ela, com uma vez meio impaciente, e um pouco entediada. — Eu aceitei vir hasta aquí hoy, porque creo que todo que los otros han hablado sobre ustedes, es verdad. Nada además de la verdad; limpia y sin juegos, o mucho menos cambios en la ley para lograr más poder. — Disse, ela; seu breve discurso, que fora um pouco óbvio, e até mesmo simples, contudo, não dissera mais do que todos os que estavam ao nosso lado estavam esperando ouvir. Eu gostei de seu senso de sinceridade. — O fato é que concordo com tudo lo que han dito. Y es mi ultima palabra sobre eso. — ela terminou sem sutilidade alguma, obviamente não estava gostando de falar, mas havia grande certeza no que ela dizia.

Aro olhou para a vampira com os olhos um pouco tristes, como se ele estivesse decepcionado.

— E, é claro, minha encantadora Maria, posso saber a fonte de suas observações; em que se baseou para fazer tais acusações? — perguntou Aro, como se nunca tivesse feito alguma coisa que merecesse essa culpa.

Ela o mirou como se tivesse achando graça em algo que ele dissera, mas fazendo um enorme esforço para não explodir em gargalhadas altas.

Ele ficou esperando que Maria respondesse sua pergunta, mas a expressão da vampira havia adquirido um tom meio deliberativo. Ela não respondeu.

— E então? — perguntou Aro, quando ficara claro que Maria não responderia tão cedo. — Não vai me responder? O que está esperando? — perguntou ele gentilmente, como somente Aro conseguia fazer; tornar uma pergunta, geralmente bruta, indelicada, em uma interrogação doce e gentil.

E então, depois de alguns instantes, ela o mitrou de novo, com um ar um pouco petulante para uma vampira tão baixinha — Chegava, para Aro, eu tinha certeza, ser um pouco irritante.

Ao meu lado, eu pude ouvir Edward tentando abafar o riso, o que fez com que eu me perguntasse quais seriam os pensamentos de Maria, mas não me dei o trabalho de entrar na mente dela — ou agora, abertas as novas possibilidades, tocar em Edward — para saber o que era.

— ¿Quiere una lista? — Perguntou ela a Aro, também gentilmente, mas, de certa forma, sua pergunta parecia ter um tom mais ríspido. — Posso lhe falar... Déjame ver... Daquela vez em que você mesmo ameaçou nos destruir, se não quiséssemos entregar um vampiro talentoso. Nós aceitamos, e você me deixou ir, mesmo tendo eu criado um exército de mais de oito recém-criados, e não os controlado. Obviamente, isso me deixou viva, mas isso já é uma manipulação da lei.

Aro a fitou como se não estivesse acreditando no que ouvia, e depois perguntou?

— Então você acredita que o que fizemos naquele dia foi errado? — perguntou ele, ceticamente — Você acha mesmo que eu agi com o intuito de manipular minha lei? — Perguntou ele.

Maria o fitou de volta, com o olhar tão incrédulo quanto o dele.

— Não é minha opinião, e sim a exposição de um fato. Um foto verdadeiro. — disse ela, expondo sua lógica. — O que eu acho não é importante; o que conta nessa reunião é a exposição de verdades. — respondeu ela simplesmente, não deixando para Aro a oportunidade ou uma brecha, para que ele pudesse contra argumentar.

Aro somente assentiu, concordando com a lógica de Maria, mas sem, contudo, dar a ela a comprovação da verdade de suas palavras.

E, então, de repente, foi Edward quem falou, mostrando a Aro outra situação na qual ele ainda insistia não existir; eu não sabia do que se tratava, porque o que houve há alguns anos era de conhecimento de todos, a Aro já se pronunciara sobre o caso. Mas, então, ele disse algo que me surpreendeu, porque era de uma época em que eu já existia, e já o conhecia também, mas, de certa maneira, era uma lembrança nebulosa, porque eu não a vira em primeira-mão. Ele vira, como muitas coisas.

Edward pigarreou para chamar a atenção de Aro, que ainda estava em Maria, embora parecesse que ele a fitasse superficialmente — seus olhos pareciam voltados para dentro de si. Aro, alguns segundos depois, voltou sua atenção para Edward, mas ainda parecia estar perdido em suas reflexões.

— Sim, amigo Edward? — disse Aro, atencioso, mas eu sabia que era uma atenção forçada. — Há algo que queira compartilhar conosco? — perguntou ele, seu tom era falsamente interessado, enquanto ele sabia o que estava por vir; outra acusação, Aro tinha certeza, ou talvez não, porque sua expressão se tornou um pouco confusa, quando ele pensava bem no que Edward diria a ele.

— Muito bem, Aro, o que direi agora, talvez seja novo para você. Acredito que você, talvez, não saiba sobre o que é esse assunto, e por isso, enquanto não ouvir sua reação, não vamos culpá-lo pelo que aconteceu. — esclareceu Edward, antes de expor a situação.

— Pois então diga jovem amigo! — exclamou Aro, agora, com um toque de interesse em sua voz agradavelmente doce.

— O.K. — Disse ele, e fitou Aro de ima forma investigativa, como se, ao mencionar alguma palavra, ele pudesse dar um sinal pelo qual Edward procurava. — Certamente você se recorda de alguns anos atrás, quando um exército de recém-criados surgiu em Seattle; esse caso deve ter chamado bastante atenção sua, uma vez que, na verdade, aquilo era um ataque, que visava nossa família — disse Edward, estudando a expressão de Aro, que continuava inalterada. Aro, depois de algum tempo, compreendeu as palavras de Edward, e, embora não fizesse ideia de onde ele queria chegar, assentiu, encorajando-o a continuar. — Vocês souberam da situação e mandaram alguns membros da guarde para “limpar a sujeira” — disse Edward, fitando Aro, e, ao mesmo tempo, Jane, com o canto dos olhos. Mas ela não percebeu.

Estranho. Eu nunca pensei que houvesse mais naquela história do que havia realmente — do que eu, em primeira mão, presenciara. Tantos anos antes —, no entanto, desde que me tornara imortal eu nunca pensara realmente nisso — esse sempre me pareceu um conflito resolvido e enterrado no passado. Porque, na verdade, eu me lembrava de muito pouco que dizia respeito àquela situação. O que poderia haver ali? Que lado da história deixara de ser exposta para todos. O que era que somente Edward tivera conhecimento?

— Certamente que me recordo amigo Edward — disse Aro, com um sorriso amigável no rosto, mostrando seus dentes brilhantes. — Eu mesmo disse à minha guarda que acabasse com aquela baderna. Oh, céus, estava tão perto de vocês! De sua família! Acredito que se demorasse mais algum tempo, vocês mesmos teriam tomado nosso partido e acabado com aquilo. — Edward revirou os olhos.

— Era exatamente aí que eu queria chegar, Aro. — disse Edward, com um sorriso perturbado nos lábios. — E nós tomamos seu partido. Sua guarda chegou a tempo de impedir as atitudes mais devastadoras daquele bando, mas não agiu a tempo.

— Quê — perguntou Aro em um tom indignado.

Eu não sabia a que fato se devia a indignação de Aro. Edward interrompeu meus pensamentos.

— Suponho que você não verifique com frequência a veracidade dos fatos que sua guarda relata a você, não é? — Perguntou Edward.

— É claro que não! — respondeu Aro num tom um pouco ofendido. — Eu confio cegamente em meus companheiros, e não há motivo para que eu desconfie do que eles me dizem.

— Ah, desculpe, Aro. Não era minha intensão ofendê-lo. Mas acredito que isso seria necessário. Pelo menos de vez em quando. E esse fato explica o fato de você não ter ideia do que estou falando.

— E não tenho. Mas você estava dizendo que minha guarda chegou a tempo de evitar estragos maiores, mas não agiu a tempo para fazê-lo?! — Disse Aro, confirmando as palavras de Edward, que assentiu.

— Sim. E não é que eles não agiram a tempo — esclareceu ele. — Receio que Jane não quis agir.


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Notas finais do capítulo

Gente, não tenho previsão de quando postarei o próximo. Assim que for possível eu o disponibilizo. Obrigado.