A semana estava passando bem, tranquila, até demais. As meninas me falavam que eu parecia mais pálida e estava rindo menos, mas eu não reparei isso em nenhum momento. Pra mim, estava só bem por estar sem aquele ladrão fora da minha vida.

Era quinta-feira quando eu desci pro Starbucks e vi Remus ali. Um alívio se instalou em mim e eu não consegui saber por que, afinal, ele sabia que eu descia todo dia nesse horário pra tomar o meu café da manhã. Fui andando sorridente até ele, que me abraçou antes de me dar um bom dia. Disse que já tinha pedido, então nós só pegamos e fomos pra uma mesa.

–O que te fez vim até a ruiva de pijamas? – disse sorrindo, e ele mostrou a língua.

–Acho que senti saudades de você, só isso! – eu levantei a sobrancelha – Okay, não é só isso... Mas antes eu quero saber como está sua vida desde que o James te deixou em paz.

–Ótima. E ele, como está? – respondi rápido até demais, fazendo com que Rem fizesse a maior cara de espanto, ainda maior que a minha. Eu hesitei antes de continuar – Digo, ele não planeja roubar meu celular de novo, certo?

–Não, – ele falou prendendo o riso, mas tenho certeza que não foi pela última frase – Ele, na verdade, falou de você mais algumas vezes, mas ontem eu nem o vi fora da faculdade porque ia sair com uma menina.

–Hum, e o que ele falou de mim? – não vou mentir: não gostei de saber que ele sair com uma vadiazinha dessas. Por que na segunda-feira ele quer me pegar e na quarta já tem um encontro?! Eu sou melhor que isso, por favor! E Remus ainda continha o sorriso.

–Nada de mais, Lil... Falou que você era linda e que era diferente das outras meninas que ele já tinha ficado ou coisa assim – fiz um “hmm” e ele revirou os olhos antes de continuar – Mas e a sua vida? As suas, han, amigas?

–Ah, a Lene tá saindo com um cara desde segunda-feira, ele cursa filosofia e tem uma banda qualquer aí, do jeito que ela gosta e... – Como eu sou idiota! Ele quer saber da Dorcas! – E a Dorcas... – ele deu um sorriso tímido, a coisa mais fofa – Não está com ninguém, que eu saiba, mas um carinha amigo do nosso amigo Frank, que cursa Economia, estava conversando com ela ontem. Mas, caso você queira saber, ela continua falando de você.

Ele sorriu e eu comecei a formar na minha mente milhares de formas de juntar os dois, mas na maioria das vezes, James estava no meio do plano. E eu não queria mais ver o Potter na minha frente, nunca mais.

–Lily... Se eu a chamar pra sair, ela topa? – eu assenti sorrindo – Então vai se arrumar que eu vou te dar uma carona até a faculdade!

Subi enquanto via-o indo em direção a um carro, já bem desgastado, mas legal. Vesti uma calça preta, uma camisa de caveira e um casaco de estampa esquisita que eu havia ganhado da minha prima e foi o primeiro que eu vi. Estava parecendo uma louca, na verdade.

Entramos no carro e o CD era do Ed Sheeran, o que me fez começar a cantar e fazer Remus rir e me acompanhar. Paramos no farol e, ao nosso lado, parou um carro bem caro, preto, impecável. Os vidros estavam fechados eram escuros, mas assim que eu olhei, eles baixaram. Era o Potter. E uma loira aguada ao lado dele.

–Hey, Remus! – ele falou sorrindo – E aí, ruiva? – olhou pra mim e eu fechei a cara. Antes que o farol pudesse abrir, ele disse que ia deixar a “Mel” na casa dela, uma quadra a frente, pra nós pararmos porque ele queria falar com o Rem.

–Tudo bem por você, Lil? – ele perguntou, assim que o carro de James já fora.

–Claro, não quero te atrapalhar. E também estou adiantada pra aula, a essa hora estaria pegando metrô ainda!

Ele sorriu fechado e encostou o carro a tempo de a vermos sair do carro. Okay, ela tinha um corpão, mas a cara dela não era tão bonita. A quem eu estou enganando?! Ela era linda! Parecia que tinha saído da televisão, e eu fui obrigada a ver o Potter dar um beijo nela de tirar o fôlego. E eu soltei uma droga de lágrima que não fazia sentido nenhum, afinal, eu não precisava dele, eu tinha Amos. Claro que Amos nunca me beijou assim... Mas isso não vem ao caso.

Ele veio andando ao nosso encontro e eu ainda estava dentro do carro, só Rem tinha saído. Antes de ir falar com o amigo, o que, supostamente, era isso que ele queria, veio na minha direção e se abaixou, a ponto que seu rosto ficou na altura do meu.

–Bom dia, ruiva. Você está linda – ele falou e eu revirei os olhos – Desculpa pela cena ali, por mim, seria você. Mas, sabe, você é muito marrentinha e um homem tem necessidades... – ele fez uma cara de “é comum” e eu levantei as sobrancelhas – À propósito, é muito injusto que Remus possa te dar carona e eu não.

–Ele não é um cleptomaníaco tarado – falei enquanto ele se levantava e pude ouvir um risinho.

Eles falaram sobre alguma coisa qualquer, que eu não ouvi e demorou um pouco mais de cinco minutos. Remus entrou no carro quieto, mas sorridente, e não me disse sobre o que a conversa tinha sido. Potter me deu tchau de longe e mandou um beijo, mas eu mostrei o dedo em resposta. Começamos a andar de novo e faltava pouco pra chegar à faculdade.

–O James ficou um pouco bravo que você não aceitou a carona dele e aceitou a minha – ele disse e eu bufei – Acho que magoado...

–Ele me chantageou por uma carona! E você é meu amigo, eu você eu posso confiar – ele deu uma risadinha – Posso, certo?

–Claro, Lily! É só engraçado. Porque vocês dois falam merdas um do outro. Mas os dois falam um do outro. – eu fechei a cara e fiquei pensando nisso. Em dois minutos tínhamos chegado e as meninas estavam na porta em esperando, como sempre.

Saí do carro e elas me olharam confusas, como quem diz “Quem te trouxe, sua pobretona louca?”, mas aí viram Remus saíram e relaxaram. Quer dizer, a Lene. Porque a Dorcas arregalou os olhos, deu um sorriso tímido e, de repente, ficou muito interessada nas suas unhas.

–Oi, gente! – falei, cumprimentando as duas – Conhecem o Remus já?

–Não dignamente – Lene disse e o cumprimentou, assim como ele fez com Dorcas, que estava mais vermelha que meu cabelo.

–Ele foi me ver hoje e resolveu me trazer pra faculdade! – falei – Mas eu tenho que ir até a reitoria agora. Vem, Lene, vamos comigo...

–Ah, mas eu não quero e... AH, OK! REITORIA, UHUL! – Lene nunca é discreta, mas funcionou e eu a afastei de lá.

E ficaram os dois.