Lobos Do Norte escrita por Raquelzinha


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo!
Pretendo postar toda a sexta-feira, mas, esta história está exigindo um pouco mais de cuidado e pesquisa, então, vou postar com calma, espero que o capítulo esteja satisfatório!!!



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Sir Charles caminhou pela enorme sala vazia por horas, o sol já se pusera e os candelabros começavam a ser acendidos pelos empregados quando ele decidiu buscar por sua esposa e filha que naquele horário deveriam estar bordando na sala acima daquela onde se encontrava.

Silenciosa e pesadamente subiu os degraus de pedras, desejando evitar a conversa que teria com Isabella.

Sentadas lado a lado, Isabella e sua madrasta bordavam tendo os bastidores diante de si, um dos painéis retratava a figura de um guerreiro em toda a sua majestade, em roupas de batalha, empunhando a espada, símbolo da honra e força de um homem nobre.

Assim que a pesada porta de madeira se abriu, o homem pode vê-las com clareza, sob a luz vinda dos candelabros, os longos cabelos castanhos trançados de Isabella brilhavam dando-lhe um ar quase angelical.

Sua pequena Isabella, sua menina, sorria enquanto conversava com a madrasta, aquele ambiente familiar tão tranquilo estava prestes a receber uma notícia capaz de criar grandes revoltas e tristezas.

– Pai! – ouviu o pequeno Alfred chamar sentado a um canto brincando com pequenos cavalos de madeira.

Tentando aliviar a preocupação de seu semblante o homem estendeu os braços e acalentou entre eles o menino de sete anos.

– Charles! – Miriam chamou erguendo-se da cadeira e tomando a direção do marido – Como foi a reunião?

Ela já o conhecia bastante para saber que sua expressão demonstrava apreensão e certo nervosismo.

– Consideravelmente boa! – foi a resposta.

– Como eles são? – Miriam chegara aquela localidade após o casamento e soubera dos fatos através das histórias contadas por seu marido, pela enteada ou pelos empregados, mas nunca vira um dos componentes do bando de Lobos do Norte.

Por alguns segundos o conde pensou, não havia nada de tão diferente assim naqueles homens e foi muito sucinto na explicação.

– Pessoas normais, como eu e você... Conversei somente com o líder deles. E depois dessa conversa, posso considerá-lo como um homem inteligente, bastante determinado, de voz firme e olhar seguro.

– Eles o ameaçaram? – perguntou apreensiva.

– Não houve ameaças minha cara! Mas, ele sabe e eu sei que se essa guerra permanecer como está, ninguém ganhará, porém, quem mais sofrerá somos nós.

– Nosso povo está passando por várias necessidades. – a voz de Isabella ecoou firme no ambiente trazendo a mente de seu pai a lembrança da proposta.

– E qual será a solução para esse empasse meu querido? Os condes não voltarão atrás na decisão de expulsa-los daquele território.

– O que é uma insensatez! – bradou Isabella ao ouvir a madrasta falar, largando o bordado e também ficando em pé – Creio que neste momento não devamos pensar em nós mesmos, mas no bem daqueles que vivem sob nossa proteção.

Sir Charles levemente sorriu sentindo-se afortunado em ouvir a filha falar daquela forma.

– Belas palavras minha filha!

– Aprendi com o senhor, meu pai, que um homem nobre não é nada sem aqueles que o ajudam e servem. Se não dermos a devida importância a esse fato acabaremos definhando nestas terras que já não são mais as mesmas.

O conde suspirou pesadamente afastando-se dos braços de Miriam, caminhou alguns segundos pela sala, diante das palavras apaixonadamente sinceras ditas por sua filha, ele finalmente tomara coragem para seguir em frente e dizer o que deveria.

– Billy Black me fez uma proposta...

– Eis uma boa nova! – exclamou Miriam unindo as mãos em sinal de agradecimento.

– Essa proposta talvez seja a solução, mas sempre haverá a possibilidade de que os outros nobres não a considerem válida, entretanto, ela garantiria ao nosso condado a tão almejada paz, além da proteção dos Lobos do Norte.

– Então é realmente uma boa nova! – desta vez a expressão alegre partiu de Isabella – Diga-nos meu pai. De que se trata?

Sir Charles ainda desviou o assunto por um momento antes de dar a notícia final.

– O maior impasse desta situação se resume ao fato do bando não possuir sangue nobre, não há entre eles alguém que possa dar-lhes herdeiros considerados dignos de comandar aquelas terras que sempre pertenceram a nobreza.

– É esse raciocínio estupido tem nos mantido nesta interminável guerra! – clamou Isabella – Se houve um tratado feito e firmado por nossos antepassados com esse povo, não há porque contestá-lo agora! Nossa palavra não vale mais?

– Penso como você minha querida. – concordou Miriam segurando a mão da enteada.

– Esse assunto já foi demasiadamente discutido minha filha, você acompanhou minhas tentativas de fazê-los entender esse fato tão claro. Mas, como faço parte de um conselho que toma decisões em conjunto, devo acatar a resolução da maioria. Sou uma única voz contra aqueles que não veem a situação desta forma.

– E qual foi a proposta oferecida pelo líder deles?

Miriam perguntou observando detidamente o rosto do marido.

– Uma união. – foi a resposta simples.

Aquela frase poderia ser compreendida da forma que a condessa compreendeu: uma união entre o condado do sul e os Lobos do Norte como um território único.

– Será possível que os outros condados aceitarão tal união?

Sir Charles, sem compreender onde sua esposa queria chegar retrucou:

– Não vejo como eles possam interferir em uma decisão que cabe somente a mim e a minha filha tomar.

Os olhos verdes de Miriam se estreitaram diante da resposta, agora era ela quem não compreendia onde seu marido pretendia chegar.

Silenciosa Isabella meditava nas palavras proferidas por Sir Charles, essa união só poderia se tratar de um casamento, e para que seu pai estivesse tão cuidadoso em contá-la provavelmente dizia respeito a ela.

– Com quem devo me casar? – pronunciou altiva.

Dois pares de olhos tomaram a direção do rosto sereno da jovem mulher, um demonstrando surpresa e o outro alívio.

– Com o filho de Billy Black.

Foi a resposta clara.

Ainda não acreditando no que ouvira da boca do marido Miriam saiu em defesa da enteada:

– Você não deve aceitar Charles! Isabella não pode pagar pela inconsequência de nobres esnobes.

A defesa apaixonada de Miriam calou fundo no coração de Isabella, silenciosamente a garota lembrou que elas se deram bem desde o dia em que a mulher, apenas doze anos mais velha do que a enteada, chegou ao seu lar. Sozinha, afastada de sua família e casada com um nobre mais velho que tinha uma filha, a condessa demonstrara generosidade para com os criados, e muito carinho para com a adolescente, transformando-se logo em mãe e confidente da jovem.

– Isabella decidirá qual a resposta a ser dada...

Foi o comentário inseguro do conde.

– É um absurdo pensar que sua filha possa aceitar semelhante proposta! Casar-se com um homem do qual nada se sabe, exceto que seus antecedentes foram mercenários que viviam pelas florestas.

– Pensando assim estaremos reforçando a crença dos outros nobres. – foi o primeiro pronunciamento de Isabella – Se esse casamento se realizar, haverá um sangue nobre entre eles, e num futuro próximo, descendentes de sangue nobre e assim, a principal causa de contendas acaba-se.

– Esse é o pensamento de Billy.

Explicou Sir Charles.

– De qualquer forma é um absurdo! – Miriam não parecia satisfeita com as explicações dadas por pai e filha.

– Penso que não teremos alternativas que possam suprir esta... nosso povo está sofrendo com a fome e doenças provocadas pela guerra, já não temos guerreiros suficientes para proteger adequadamente nossas fronteiras, e em breve nada haverá pelo que valia a pena lutar.

A voz sonora de Sir Charles colocou a situação claramente para a esposa e a filha, essa seria a forma de aliar-se aos Lobos do Norte e também de acabar com a guerra.

– Você o viu? – foi a pergunta que saiu dos lábios de Isabella, inesperadamente a curiosidade era a emoção que se salientava dentro dela naquele momento.

– Sim, ele esteve aqui.

– Ele está favorável a essa união?

– O rapaz permaneceu calado, ouvindo tudo o que foi dito, mas não creio que a proposta tivesse sido feita sem sua aprovação.

– Qual foi sua resposta Charles? – Miriam ainda esperava que Isabella e seu marido decidissem pela recusa.

– Pedi tempo para pensar e consultar minha filha... – aproximou-se da jovem tomando as mãos delicadas entre as suas, encarando carinhosamente os olhos cor de chocolate da jovem – Isabella sabe que jamais imporia um matrimonio que ela não aprovasse.

Pai e filha permaneceram se observando por algum tempo, havia serenidade nos rostos de ambos, Isabella herdara muito do temperamento ameno e ponderado de Sir Charles, mas também havia dentro dela força e determinação para realizar aquilo que fosse necessário pelas pessoas que amava.

Aliado a esse temperamento nato, havia a constituição de caráter que seu pai tanto prezava em um nobre e fizera questão de passar para a única filha: a lealdade ao povo, a generosidade, a honra, a moral. Características que Isabella muito admirava e se orgulhava de ter recebido de seu genitor.

– Nada há que pensar. – ela disse por fim – O senhor pode enviar um emissário com a resposta.

– E qual será ela?

– Positiva.


Quando o emissário de Sir Charles chegou ao território dos Lobos do Norte, já sabia como agir entre aquele povo simples, era sua segunda visita em poucos dias, muitos aldeões ao verem sua indumentária portando as cores e o brasão do condado do sul, o receberam com alegria. Aquela figura orgulhosa montando um alazão branco representava sua possibilidade de finalmente viver em paz.

Assim que leu o pequeno documento enviado por Sir Charles, Billy mandou chamar o filho que estava treinando com um amigo na luta de espadas.

– Seu pai pede que vá a sala de reuniões. – o jovem mensageiro anunciou aproximando-se com cautela dos homens que lutavam.

– Algum problema? – Jacob perguntou puxando os longos cabelos para trás.

– O emissário do conde Swan regressou com a resposta.

Sem dizer qualquer palavra Jacob colocou a espada na armação de madeira fixa na parede e passou as mãos por uma toalha de algodão pendurada no estrado lateral.

– Qual terá sido a resposta? – seu amigo perguntou curiosamente.

– Vinda daquelas pessoas pouco me admiraria de que fosse negativa, não creio que uma jovem nobre queira casar-se comigo.

– Você aceitou essa união. O que a levaria a recusar?

Samuel não conseguia imaginar como alguém pudesse cometer tamanha insensatez de evitar deliberadamente a melhor oportunidade de conceder paz a seu próprio povo.

– Eles não são como nós meu amigo! Pensam apenas em si mesmos e em seus títulos de nobreza. Se ela for como todos os outros, não deverá sentir-se atraída por essa proposta.

– Nem mesmo para aliviar o sofrimento de seu povo?

– Você, assim como eu, viu a penúria na qual vive a população daquele condado depois de tantos anos de guerra, mesmo assim a única proposta de paz veio de nosso líder. Não Samuel, não vejo qualidades nessa gente e acredito que meu pai foi ingênuo em propor esse casamento.

Passou a camisa de algodão sobre o corpo e sem fechá-la tomou a direção da sala onde seu pai o esperava, seguido de perto pelo amigo.

Assim que cruzou a porta viu o homem sentado na grande mesa de madeira, os cabelos longos e grisalhos a quase esconderem sua face.

– Mandou chamar-me?

– Ah Jacob! Tenho ótimas noticias para todos nós!

Estendendo a mão Billy passou ao filho a pequena correspondência enviada por Sir Charles confirmando a pronta aceitação da proposta de casamento e marcando um novo encontro para uma conversa aberta entre os dois líderes.

Sem ainda acreditar no que lia Jacob releu as poucas palavras várias vezes, a jovem havia realmente aceitado se casar ou o conde assim impusera sem dar-lhe chances de recusa? A memória lhe trouxe clara a figura de Sir Charles, também tudo o que já escutara a respeito dele, e mesmo que isso contrariasse seu pensamento anterior, não acreditava que o conde tivesse imposto algo.

– Então está tudo acertado afinal. – foi o comentário que Billy ouviu.

– Será um grande sacrifício para você meu filho, mas o bem de toda uma população depende disso.

– Tenho clara consciência disso meu pai... só espero que ela saiba respeitar e honrar este povo pelo qual estou me sacrificando.

– Tive algumas informações a respeito dessa moça, e tudo o que foi dito me parece bastante satisfatório...

Jacob desejou perguntar mais, mas ele sabia, que entre seu povo, quando o pai acerta o casamento de um filho, não faz a menor diferença se há ou não interesse dos jovens em ficarem juntos, se eles sabem ou conhecem algo um do outro. Entretanto, as mulheres de sua raça estavam acostumadas a esse tipo de união e geralmente eram preparadas para portarem-se como deveriam, enfrentando com seus maridos toda a espécie de provação e necessidades em tempos de guerra ou paz, sabendo que os interesses do povo estavam acima dos seus.

Como essa jovem, vinda de cultura tão diferente poderia adaptar-se a ele e a seu povo?

– Sua espada finalmente terá um nome. – Jacob ouviu Samuel comentar alegremente assim que o amigo contou-lhe a novidade.

Caminhando a passos rápidos Jacob não respondeu ao comentário brincalhão do outro, precisava de solidão para pensar, e a melhor maneira de fazer isso seria dar uma longa volta pela região a cavalo, distrair seus pensamentos com uma caçada.

– Aonde você pretende ir?

Samuel perguntou enquanto tentava acompanhar os passos largos do amigo.

– Cavalgar! Caçar alguma coisa para o jantar, você vem ou fica?

– Vou com você.

Passaram na sala de armas de onde cada um saiu munido de arco e flechas, depois, tomaram o rumo dos estábulos, uma caçada sempre ajudava a aliviar a mente e o coração, ao menos para Jacob era assim, desde criança.



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Notas finais do capítulo

Qual a visão que vcs fizeram deles?
Como será a reação do casal quando se conhecer?
Obrigada a todas vcs que leram e comentaram, foi com grande alegria e prazer que li cada um dos comentários, eles servem de imenso incentivo para uma escritora amadora como eu!!
bjs e até o próximo!!!
ahhhh e FELIZ ANO NOVO PARA TODAS NÓS, COM MUITAS ALEGRIAS E REALIZAÇÕES!!!