Lobos Do Norte escrita por Raquelzinha


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Mais um, pretendia postar mais cedo, mas foi impossível, acontecimentos extras a minha vontade evitaram q isso acontecesse, desculpem!!!!
Mexi e remexi neste capítulo, espero q tenha ficado bom!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/307898/chapter/11

O grupo de cavaleiros seguia pela área mais firme do terreno, perto de áreas pedregosas onde era mais seguro, a dificuldade em transitar por lugares onde a neve já existia dobrava a possibilidade de haver perigos escondidos sob a relva recoberta pelo cobertor branco.

Totalmente protegidos por capas grossas, cada homem meditava em seus próprios pensamentos, desejando que aquelas poucas horas até o bosque não se demorassem a passar, e que a noite não os pegasse no meio do caminho.

Jacob não tivera a oportunidade de conversar com ninguém sobre o que acontecera em seu quarto horas antes da partida, não havia dúvidas em seu coração, Isabella recebera noticias pouco agradáveis e não mostrava interesse em lhe contar. Ela não confiava em si ou tinha coisas a esconder?

Após suas várias conversas com a jovem, percebera na esposa o desejo de partilhar sua vida, seus conhecimentos. Ela passava tempo razoável com Sarah, atendia as crianças com carinho, era generosa com o povo e, mesmo tendo o interesse claro pela estufa, reversava a ela apenas uma parte do dia.

Diante de todas essas observações, Jacob pode finalmente ceder as investidas de sua mãe e de Samuel, bem como as de seu próprio coração e abrir-se para que Isabella pudesse se mostrar mais claramente a si.

Entretanto, era claro que algo a incomodava, a carta fora novamente um divisor entre eles, depois de sua chegada, os olhos de Isabella sempre tão firmes, estavam arredios, palavras sempre prontas e muito corretas não surgiam com a mesma espontaneidade. Ela mentia, ele tinha certeza, e esperaria por uma revelação ao seu retorno a casa, caso contrário toda a boa vontade em aproximar-se seria encerrada.


**************************************


Os cavaleiros contornavam o último morro no fim da estrada quando Isabella retornou ao quarto para escrever uma mensagem à madrasta, seu coração apertado só conseguia pensar em como contar a Jacob o que estava fazendo, ou na tentativa de encontrar solução para um assunto sem solução.

Em sua última esperança escreveu a Míriam mesmo tendo consciência de que não receberia a resposta da mensagem antes que Jacob tivesse retornado da viagem, essa era tão somente uma forma de aliviar os sentimentos confusos e culpados.

Releu a carta da madrasta em busca de um auxílio, uma luz qualquer que trouxesse paz ao seu espírito conturbado. Por fim escreveu, considerando melhor não criar mais aflições em seus parentes, garantiu estar feliz e praticamente adaptada ao novo lar e ao temperamento arredio e desconfiado do marido que apesar disso a tratava com respeito.

Salientou a boa vontade de Sarah e Leah em aproximá-la das pessoas com as quais convivia, explicando que esta postura das mulheres facilitava grandemente seu convívio com os Lobos, finalizou confessando saudades e vontade de rever a família.

Ao encerrar a carta, assinou, dobrou meticulosamente o papel e colocou sobre as bordas da dobra o selo de sua mãe incrustado no anel que carregava sempre consigo pendurado em uma corrente de ouro.


*******************************************


O período de ajuda ao pequeno grupo de Lobos que se resumia a mulheres, crianças e velhos, foi mais curto do que Jacob esperava, sendo assim, ele e seus guerreiros logo estavam livres para retornarem ao lar, cansados, mas ao mesmo tempo satisfeitos por poderem realizar aquela função, auxiliando tantas pessoas necessitadas.

– Calado outra vez Jacob?

Samuel perguntou enquanto encilhavam os cavalos na manhã do último dia, antes da partida.

– Estou cansado. – foi a resposta sucinta.

– Se é assim que você deseja considerar seu comportamento aceitarei sua palavra, entretanto, depois de tantos dias em que o velho Jacob parecia ter voltado, agora o vejo taciturno e cabisbaixo novamente, algo deve estar errado para que se desse tal regressão.

Como resposta o jovem recebeu apenas o silêncio. Soltando um suspiro cansado voltou ao trabalho, de nada adiantava tentar ajudar quem não se ajuda, pensava ele quando a voz rouca de seu amigo finalmente confessou:

– Ela está mentindo para mim Samuel.

A confissão aconteceu sem que Jacob tivesse pensado nela, apesar de não ser adepto a abrir seu coração com frequência, precisava de uma opinião, mesmo que esta viesse de Samuel, um declarado defensor de sua esposa.

– Como sabes?

Largando sobre o cavalo seu pequeno bornal contendo um cobertor de lã e algumas peças de roupa, o amarrou com força antes de explicar o que o afligia:

– Antes de nossa partida ela recebeu uma mensagem de casa... depois que a leu houve uma grande mudança em seu comportamento... havia algo naquela carta que a afligiu, preciso saber o que é ou não terei paz novamente.

– Já pensaste que tua esposa está em nosso lar há mais de um mês, a saudade da família para alguém tão carinhoso quanto ela deve ser um sentimento bastante dolorido, principalmente para quem não pode contar com a atenção de...

– A quem te referes Samuel?

A pergunta mostrava um tom desafiador.

– De um marido. – respondeu Sam sem desviar o olhar do rosto do amigo.

Jacob era um adulto, mas seu temperamento continuava sendo o mesmo de quando tinha dezesseis anos, pensou Samuel e, se ele insistia em agir desta forma, seria tratado como o tratava naquela época.

Segundos de indecisão se seguiram a fala de Samuel, Jacob dividia-se entre a vontade de falar e o velho e costumeiro hábito de resguardar seus pensamentos apenas para si.

– Eu tenho tentado... e em alguns momentos sei que houve entendimento entre nós, um entendimento que não imaginei que pudesse existir algum dia, mas se ela estiver me enganando de alguma forma... não sei se conseguirei aceitar...

– A melhor forma de saber é conversando...

– A conversa se dará quando retornarmos, e peço aos céus que Isabella seja sincera... há em mim um desejo incontrolável de estar com ela, mas se houver mentiras entre nós, nada me fará tentar uma nova aproximação... isso, posso lhe garantir Samuel.


*********************************************


Quando soou dentro do castelo o aviso acionado nas guaritas pelos vigias, Isabella sentiu seu coração bater apressado, eles estavam retornando e com isso o tempo conseguido pela viagem se fora, e ela ainda não decidira o que fazer.

Observou a noite que caía, ela seria bem vinda pois Jacob deveria encontrar-se com seu pais e outros membros do conselho dos Lobos depois do jantar para relatar todo o procedimento realizado durante a ação. Era assim que se portava sempre que designado para alguma função importante, portanto nada levava a crer que desta vez seria diferente. E se assim fosse ela ganhava uma noite, pois desejava que seu marido não buscasse por esclarecimentos no momento em que eles se recolhessem. Acima de tudo estava saudosa, saudosa dos braços e do corpo quente de Jacob, de sua presença protetora e acalentadora de todas as noites.

Quando se viram, ela pode perceber o quanto sentira sua falta e também que o olhar dele permanecia igual, era inquisidor, desconfiado, e muito se assemelhava aquele que lhe dirigia logo após o casamento.

Como previsto, logo após a chegada dos guerreiros, o grupo se reuniu a Billy e os outros anciões na sala perto da entrada, ficaram naquele lugar mais horas que o costume, provocando apreensão no já cismado coração de Isabella.

Percebendo a agitação presente em cada gesto de sua nora, Sarah tentou uma aproximação, mas as respostas vagas e pouco pertinentes de Isabella muito a surpreenderam. Tentando crer no melhor, a mulher creditou essa súbita mudança na ausência prolongada de seu filho, mesmo assim, disse a si mesma que deveria permanecer atenta a este casal tão intempestivo para evitar problemas.

O jantar transcorreu com uma tranquilidade habitual, não havia coisa alguma que pudesse mostrar aos presentes a crescente apreensão que se formava entre Jacob e sua esposa. A espera pelo momento em que eles deveriam ficar a sós e finalmente trocar as palavras desejadas por um e indesejadas pelo outro, tornava aquela angustia lancinante e ao final da refeição Isabella sentia como se seu coração estivesse sendo esmagado dentro do peito.

Na sala, a conversa de Leah não atraiu sua atenção como costumeiramente acontecia, e a vontade de estar a sós com Jacob era grande apesar do medo crescente de não ter tomado a decisão correta.

Horas mais tarde, enquanto caminhavam de mãos dadas pelo longo corredor gelado, rumo ao quarto, Isabella remontou em sua mente a breve estratégia que esperava, surtisse efeito e ela não fosse obrigada a contar a verdade.

Os movimentos de aproximação esperados por ela não chegaram, Jacob não pretendia se achegar a sua esposa caso esta não lhe contasse a verdade e, quando ele se dirigiu silencioso como sempre para apagar as velas, ela tomou o primeiro passo:

– Acreditei que teríamos uma conversa quando você retornasse...

Surpreso, ele voltou-se ficando de frente para a esposa, retrocedendo na intenção de fazer o que pretendia.

– Se você estiver pronta para uma conversa clara... e sincera.

– Estou. – afirmou provocando um sorriso irônico nos lábios do marido.

Com um gesto calmo Jacob sentou-se na ponta da cama, de frente para a garota que acabara de trançar os longos cabelos, a espera de que ela falasse.

– O que desejas saber?

– O real conteúdo daquela carta.

A forma direta com a qual ele se pronunciou abalou levemente as certezas recém firmadas em Isabella.

– Míriam escreveu-me contando realmente sobre o que lhe falei... – começou timidamente - Mas, também falou de uma visita que considerou estranha e que para mim, soou tão estranha quanto para ela.

O rosto de seu marido gesticulou negativamente enquanto seus olhos se apertavam, ele não compreendia, a esposa não estava sendo clara.

– A condessa Cullen visitou minha família logo após o casamento, em busca de informações sobre nós.

Aquela explicação não o ajudou a compreender onde Isabella pretendia chegar.

– O que ela pode querer conosco? O que pode haver entre nós que lhe atraia a atenção?

Nervosamente Isabella movia as mãos apertando o cabo da escova entre seus dedos.

– A família Cullen foi a única que claramente se colocou contra a nossa união... por mais de uma vez eles se pronunciaram contrários a aceitação de meu pai a proposta de Billy.

– Por isso Edward a interpelou no dia do nosso casamento? O que ele pretendia? Que você de alguma forma escapasse de mim?

Desta vez o olhar confuso partiu do outro membro do debate, percebendo o gesto tão natural no rosto da esposa, Jacob compreendeu que permitira a seu espírito de revolta um momento a mais de estupidez.

– Ele nunca me propôs algo assim! – respondeu ela ofendida – Apenas sugeriu que você não era um homem digno de confiança para casar-se comigo.

Jacob riu alto, um riso irritado e sonoro que ecoou pelo cômodo quase como um decreto do ciúme que começava a brotar dentro de si.

– Deixe-me adivinhar o motivo de tal ato nobre... Ele a quer para si.

– Não creio que Edward Cullen tivesse algum interesse romântico para comigo senhor meu marido. Se por acaso ele me quisesse, seria apenas para que as terras de meu pai se unissem as dele, pois como filho único será o herdeiro do conde, desta forma teria mais poder do que qualquer outro nesta região.

Ficando em pé ela continuou a falar desafiadoramente, pois o último comentário pronunciado por seu marido a exasperou.

– Caso o senhor não saiba, esta terra onde vivem os Lobos, também faz parte dos interesses dele, nossa união deve ter feito seus planos desmoronarem. É completamente compreensível que eles busquem alguma forma de reverter este quadro pouco favorável que nosso casamento lhes trouxe.

Pensativo Jacob parecia ter acatado as explicações de sua esposa, mesmo assim, o olhar era desconfiado, ele ainda via nela um gesto nervoso, apreensivo indicando talvez que Isabella guardasse algo dentro de si.

– Devo informar-lhe senhora minha esposa, que por dez longos anos lutei para defender este lugar de pessoas como ele, não fomos, como bem sabes, os reais prejudicados. Portanto, se seu medo se refere a que eles realizem uma tentativa de tomar posse destas terras, fique tranquila, não irá acontecer. – encarando-a firmemente perguntou: - Isto é tudo?

– Gostaria de ver a carta de minha madrasta?

– Sempre esperarei as respostas de você, caso não possa confiar nelas, como poderemos viver como um casal?

As palavras dele invadiram seu coração como um punhal, a jovem tinha conhecimento de que estava omitindo um fato importante e se sentia culpada por isso. Interiormente se perguntava: Se esta circunstância viesse a tona qual seria a reação de Jacob? Diante de tal dúvida Isabella chegou a entreabrir os lábios para contar o que ainda escondia, mas no último minuto desistiu amedrontada.


************************************

Naquela manhã, após a noite conturbada, Jacob deixou Isabella adormecida sob o grosso cobertor de lã como há várias semanas não fazia, tomou a direção da sala de armas ainda meditando na conversa pouco cordial que tiveram e nos momentos de paixão agressiva que trocaram no leito. Estava sendo consumido pela desconfiança e esta não o permitia voltar a anterior condição.

Samuel o esperava com paciência, sentado no chão de madeira o rapaz amarrava na canela o cadarço de couro do sapato de exercícios. Sem dizer palavra Jacob passou por ele retirando a camisa, pelos passos do outro Sam percebeu que a situação não mudara, o amigo continuava sendo teimoso tentando descobrir motivos para escapar de suas emoções, escondendo silenciosamente atrás de sua relutância um sentimento que era claro para todos que os viam juntos. E, para Samuel, enquanto essa situação perdurasse, a expressão diária do jovem guerreiro voltaria a ser de irritação e descontentamento como aquela.

Jacob descalçou as botas e sentando no chão como o amigo, pôs-se a amarrar os sapatos de exercício, esgueirando-se pela porta uma figura magricela entrou no enorme salão e sentou-se longe da dupla, era Seth, irmão de Leah.

Sem darem por conta da presença do menino os homens passaram alguns minutos fazendo exercícios variados, só parando quando seus corpos já mostravam gotas de suor espalhadas pelos músculos firmes.

– Estás pronto?

Samuel ouviu Jacob perguntar empunhando a espada onde o nome de sua esposa estava talhado.

– Estou sempre pronto.

Foi a resposta imediata, ficando em pé Sam puxou a trança de seu cabelo para trás e passou a mão na espada que também continha o nome da noiva já que o casamento se realizaria em poucos dias.

Os amigos oponentes ficaram de frente um para outro, bateram as pontas das espadas em sinal de cumprimento e deram inicio ao treinamento; com movimentos rápidos andavam em círculos movendo com agilidade as peças de metal que tiniam toda a vez que se encontravam.

O som alto da risada de Samuel, alternado pelos urros proferidos por Jacob ecoavam pelas paredes de pedra e a cada novo golpe mal sucedido as brincadeiras se intensificavam.

Aquele era um hábito diário desde que eram meninos, e agora o treinamento mais agressivo era assistido frequentemente por Seth que desejava aprender com o primo e com o cunhado a manejar com tanta destreza uma espada. O menino não via a hora de ter um oponente a sua altura assim como os dois amigos eram um para o outro.

Num silêncio respeitoso, evitando ser escorraçado do lugar, o garoto apenas via os movimentos da dupla e tentava memoriza-los.

– Está lento hoje Jacob! – Sam provocou sorrindo – A noite foi muito agitada?

Irritado pelo fato do comentário feito pelo amigo ter trazido a sua mente a imagem de Isabella dormindo encostada em seu corpo após a discussão sem frutos ou vencedores. E, ao perder o equilíbrio e a concentração, instantaneamente sentiu a lâmina da espada de Samuel cruzar-lhe a pele do ombro abrindo um ferimento superficial que de imediato começou a sangrar.

A espada foi largada no apoio de madeira e sem fazer comentários o rapaz pegou a camisa e a pressionou contra a parte superior de seu ombro direito tentando estancar o sangue que já escorria pelo braço e pelo peito. Estupefato com o acontecimento, Samuel ainda estava parado observando o amigo agir como se nada tivesse acontecido.

Do outro lado da sala, apavorado diante da visão do acidente, Seth saiu correndo da peça tomando a direção da saleta onde as mulheres ficavam pela manhã, entrou esbaforido gritando que Samuel ferira Jacob durante os exercícios.

Minutos depois os dois rapazes cruzaram a mesma porta, Jacob ainda mantinha a camisa pressionada contra o ombro ferido, Sam surgiu logo atrás com uma expressão de culpa estampada no rosto.

– Como isso aconteceu? – Sarah perguntou nervosa.

– Foi culpa minha... – Sam começou, mas Jacob logo o interrompeu:

– Você não deve levar a culpa pela minha distração... me distraí mãe, foi apenas isso.

– Esse braço precisa de bandagens Jacob! – a mulher comentou se aproximando mais do filho para poder olhar o ferimento.

Jacob sabia quem deveria fazer isso, mas não esperava que sua esposa demonstrasse interesse ou aptidão, principalmente depois da discussão da noite anterior.

– Vou para os meus aposentos cuidar disto. – ele respondeu mordendo a ponta do lábio mostrando irritação.

Antes que tivesse a oportunidade de sair Isabella surgiu no corredor, vinha apressada, os cabelos longos soltos balançando ao lado do rosto delicado. A expressão preocupada estampada nos olhos agradou ao marido que já julgava ter de cuidar sozinho do ferimento.

– Benjamim disse que você se feriu...

Os olhos dela caíram sobre a camisa branca e o braço ensanguentado, a voz de Sarah a chamou dissipando a emoção provocada pela imagem:

– Isabella... É preciso que você faça os curativos nesse corte, vou mandar Margarite levar as bandagens aos aposentos de vocês.

– Obrigada Sarah. – falou rapidamente enquanto seu marido passava por ela a passos firmes.

Como resposta a garota viu o sorriso sempre carinhoso de sua sogra incentivando-a e, seguiu Jacob que sem olhar para trás, subiu os dois lances de escada como se estivesse fugindo dela. Era compreensível, ela pensava enquanto caminhava, Jacob ainda estava inseguro, mostrava isso em cada gesto, sua explicação não conseguira dissipar a desconfiança dele. De certa forma nem chegava a culpá-lo, já que seu próprio coração lhe apontava o erro exigindo que falasse finalmente a verdade.

Alheio aos pensamentos que afligiam sua esposa, Jacob entrou rápido no quarto topando com a tapeçaria de Isabella estendida no bastidor em frente a lareira, há duas semanas ela começara a fazê-la mas ele ainda não sabia qual era o desenho que sua esposa bordava.

Sentando perto da tina ele retirou a camisa de cima do ferimento sem olhar na direção da porta onde Isabella o observava, os olhos dela pareciam queimar-lhe a carne provocando o bater acelerado de seu coração.

O corte longo não era profundo e ainda sangrava, poucos segundos depois, antes que Isabella tivesse se aproximado do marido para olhar o ferimento, uma garota entrou carregando uma jarra de água que foi colocada em uma bacia, outra trazia uma caixa de madeira contendo bandagens e infusões.

Observando os vidros Isabella não fazia ideia para que eles serviriam, porém, pedir ajuda a Jacob estava completamente fora de seus pensamentos. Interiormente acreditava que aquele homem a testava em cada acontecimento e estava certa de que fora reprovada em praticamente tudo, precisava mostrar segurança ao menos neste caso.

– Pegue o vidro com a boca mais larga. – ele avisou contrariado, percebendo a indecisão da mulher.

Dentro do vidro informado havia um líquido verde de aroma forte, Isabella pingou um pouco daquela solução em um tecido limpo e o colocou ao lado da tina, antes de passá-lo no ferimento, retirou todo o resquício de sangue com a água morna trazida pela criada.

Seus olhos tentavam manterem-se fixos na ferida aberta, que após limpa, foi estancada com o pano embebido na infusão, mesmo assim ela tinha certeza de que seu marido avaliava cada um de seus gestos, analisando detalhadamente seus movimentos que a cada segundo se tornavam mais seguros.

Talvez essa fosse realmente a intenção de Jacob incialmente, mas após poucos segundos os olhos passaram a observar outros pequenos detalhes que normalmente o atraíam mesmo que indesejadamente, e com tamanha proximidade era-lhe impossível fingir não vê-los como fizera pela manhã ao se retirar do leito.

Cada traço ou detalhe era medido e sentido com prazer, como a pele da mão dela era macia, como as maçãs de seu rosto tinham uma tonalidade rosada, os lábios eram atrativos, os cabelos exalavam aroma intenso de morangos silvestres, igual aqueles que sua mãe recolhia no verão quando ele era ainda uma criança.

Se Isabella mentia, muitas vezes esse fato, real ou não, não possuía qualquer importância, principalmente quando estava ao lado dela, observando os detalhes que o subjugavam facilmente.

Os movimentos produzidos por Isabella eram lentos e suaves, não havia dor física, mas algo doía dentro dele quase o impedindo de respirar.

O processo cuidadoso levou pouco tempo, após proceder com a limpeza e curativos, Isabella passou a bandagem pelo ombro na tentativa de mantê-lo imobilizado.

– Não posso me mover! – ele reclamou imediatamente puxando a ponta da bandagem.

– Se continuar se movendo assim o sangramento voltará! – retrucou ela desafiadora e inesperadamente afastando a mão insistente do marido.

– Então costure, não posso ficar imobilizado desta forma.

Os olhos cor de chocolate encararam os de Jacob, ajudar a cuidar de feridos era um trabalho que não se refutava a fazer e muito o realizara nos dez anos de guerra, mas costurar ela nunca tinha feito.

– Nunca fiz isso Jacob! – anunciou com voz trêmula.

Os olhos dele se desviaram dos dela parecendo irritados, um suspiro agitado surgiu antes que ele ficasse em pé e fosse em direção a caixa contendo material médico, voltou poucos segundos depois trazendo agulha e uma linha grossa, estendeu a mão para ela ordenando:

– Costure!

Sem opções Isabella pegou o material da mão do marido enquanto ele sentava no mesmo lugar.

– Retire esta bandagem, passe um pouco daquela infusão amarela que está no vidro comprido e costure. Não tenho problemas com cicatrizes, se você sabe como bordar aquela tapeçaria saberá fechar esta ferida.

Tentando manter-se focada no que estava fazendo, ela começou, deu os primeiros pontos com insegurança, acreditando que ele sentia cada um de seus movimentos, mas Jacob não parecia sentir dor; talvez a infusão fosse anestésica ela pensou, e o trabalho se tornou mais fácil, principalmente quando ela tentava não pensar em quem o fazia.

Quando terminou passou novamente o líquido de aroma forte sobre a pele agora costurada encerrando com a bandagem, agora numa posição que liberaria seu marido para se mover com facilidade.

Finalmente um sorriso de satisfação surgiu no rosto bronzeado provocando um sentimento de prazer na jovem esposa, era a segunda vez que Jacob lhe dirigia aquele tipo de cumprimento, era bom fazer algo que ele considerasse como correto.

– Obrigado! – ele disse por fim erguendo o braço e testando o movimento e o sangramento.

Ficando em pé o rapaz se dirigiu ao quarto na busca de uma camisa limpa, parada no mesmo lugar Isabella tomou ar e anunciou num ímpeto de coragem:

– Há outro motivo para preocupações quanto a visita da condessa à minha família...

Desta vez Jacob não voltou-se, sentiu pelo tom de voz de sua esposa que finalmente ela lhe contaria o motivo da apreensão causada pela mensagem de Míriam. Contendo a respiração, esperou.

– Você não confia em mim... – ela começou.

– Parece que você também não confia em mim. – ele retrucou.

Afastando-se da tina Isabella completou:

– Não posso realmente condenar você por isso já que confiança não parece ser uma característica da qual possamos nos orgulhar de possuir.

Jacob sorriu interiormente, Isabella era alguém que o desafiava toda vez que conversavam, e quando discutiam um assunto não era raro perceber como encontrava uma forma de coloca-los no mesmo patamar.

– Concordo. – afirmou finalmente encarando a mulher.

– Por não confiar em você busquei entre as curandeiras do condado de papai uma erva usada para evitar a gestação até que tivéssemos nos conhecido melhor e... Míriam teme que os Cullens tenham conhecimento deste fato. - enquanto falava, a jovem sentia-se como liberta, o peso da culpa se fora e seu coração finalmente batia livre apesar do medo.

Parecendo perplexo com a revelação, Jacob desviou o olhar silenciosamente, e aquele silêncio foi mais perturbador para Isabella do que a discussão da noite. Controlando a impaciência, ela esperou por um gesto, por perguntas, por acusações, porém, estranhamente seu marido nada fez além rumar para o baú onde pegou uma camisa limpa, vestiu-a e segundos depois saiu do aposento, deixando-a estática e confusa, ainda no mesmo lugar.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O silêncio é mais preocupante do que um grito? Talvez... sinceramente naõ sei qual será a reação dele agora... ou melhor, faço uma ideia...kkkkk
neste capítulo nada de Cullens, kkkk, vamos dar uma folga para esses maquinadores do mal!!!
Gente, desculpem não ter respondido todos os reviews, confesso q tenho tido bastante trabalho agora no recomeço das aulas, mas vou responder tá bom? espero colocar isso em dia agora no final d semana, afinal, se vcs deixam um comentário, merecem uma resposta principalmente pq eu amo ler o q vcs escrevem!!!
OBRIGADA A TODAS PELOS COMENTÁRIOS, FICO FELIZ DEMAIS COM CADA UM DELES, E PODEM TER CERTEZA D Q ME INCENTIVAM GRANDEMENTE!!! bjs amadas... esse capítulo ficou maior do q eu esperava, mas não tinha como dividir nada aí!!!