Encrenca Em Dobro escrita por Ikuno Emiru


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Vingança feita! Mas parece que Debrah não soube esperar antes de aprontar outra...



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            No outro dia, acordei incrivelmente bem. Nathaniel havia me proporcionado sensações maravilhosas e eu nunca havia sentido. Se não estivéssemos em um espaço público e aberto, tenho certeza que teríamos ido adiante... Mas fiquei feliz por não termos tido nenhuma interrupção, haha, eu ficaria extremamente envergonhada se acontecesse! Eu enrolei um pouco na cama, o que me fez chegar atrasada. Entrei na sala de aula nas pressas e todo mundo parou para me olhar, enquanto eu passava pelas cadeiras, as pessoas falavam comigo, me cumprimentavam, outras me olhavam atravessado, eu não entendi muito bem. O que estava acontecendo?

            – Está fazendo o maior sucesso! – Rosalya jogou o jornal para mim assim que me sentei.

            – O quê? – Na manchete estava escrito, maior impossível, “Merui, a novata, mostra suas ‘verdadeiras cores’ ao incriminar Debrah” – Mas caramba, a Peggy distorceu tudo!

            – Foi o que eu disse a ela, mas ela disse “só estou dando aquilo o que o povo quer!” – Pelo jeito que as pessoas estavam me olhando, acho que o plano havia dado certo e as pessoas haviam escutado o que Debrah havia me dito. Um sorriso apareceu em meu rosto, queria encontrar Nathaniel para ver como ele estava levando aquilo... ou melhor, como as pessoas estavam o tratando após descobrirem a verdade! Passei o resto das aulas distraídas, até que o sinal do intervalo me acorda. Eu saí para procurar Nathaniel, mas sinto uma mão me puxar pelo braço com força.

            – Você acha que vai ficar assim? Todos me odiando enquanto você leva as coisas numa boa? – Era Debrah, as pessoas que estavam passando abriram uma roda ao nosso redor. – Pois você está muito enganada! Me aguarde, Merui Sakurai, porque eu tenho muitas surpresinhas para você! – Eu não falei nada, apenas fiquei quieta e ela foi embora. Se eu me senti ameaçada? Nem um pouco! Depois de aguentar de ter duas pestes como Aishe e Ambre, eu com certeza fiquei mais tolerante a tudo, além do mais, essa vitória havia me deixado bem mais confiante.

            As pessoas estavam nos olhando, curiosas, alguns até estavam querendo provocar uma luta corporal entre nós duas, mas eu não me rebaixaria tanto assim! Assim que ela saiu, continuei a seguir o meu rumo original e tentar encontrar Nathaniel. Olhei nas salas de aula, na sala dos representantes, no pátio, no ginásio, no clube de jardinagem, mas ele não estava em lugar nenhum! Comecei a procurar de novo, começando pelo pátio e voltando aos corredores, mas como de costume, eu esbarrei em alguém.

            – Me desculpe! – Olhei para cima e era Nathaniel – Eu te procurei pela escola inteira!

            – Talvez se você ficasse parada, eu teria achado você. – Ele riu – Obrigada pelo seu plano, várias pessoas já vieram me pedir desculpas por não terem acreditado em mim. – Ele beijou minha testa.

            Eu me lembrei do que Aishe havia me falado um dia “Você poderia tentar infernizar a vida de alguém, só assim você veria como é divertido”, bom, não foi nada divertido, mas foi muito satisfatório saber que todo mundo  estava se desculpando com ele. Até mesmo o Castiel veio se desculpar, mesmo que ele tenha feito isso do jeito dele.

            – Ela não está muito satisfeita comigo, mas se eu consigo aturar Ambre e Aishe, por que eu não conseguiria aturar Debrah?

            – Eu não falaria isso com tanta certeza, Rui. Você viu do que ela é capaz.

            – Sim, eu vi! Mas toda a escola está contra ela, eu duvido que ela faça algo tão ruim assim.

            – Só tome cuidado e evite problemas.

            – Não se preocupe. – Ele me puxou para um banco.

            – Eu quero te perguntar algo, mas não precisa responder se não quiser...

            – Vai em frente! – Falei.

            – O que você achou de ontem a noite?

            – Foi... – Fiz uma pausa para me lembrar de todos os momentos e de tudo o que aconteceu, Nathaniel tocou minha coxa. Seu toque e as lembranças me fizeram arrepiar por todo corpo. – Foi incrível... foi... maravilhoso... ter você bem mais perto de mim... – As palavras saiam de minha boca conforme as cenas de ontem passavam em minha cabeça.

            – Eu sei... – Ele sussurrou e deu um sorriso meio malicioso. Eu senti vontade de pular em cima de Nathaniel ali mesmo, mas eu consegui me lembrar de que eu estava na escola antes que isso acontecesse! Controle os hormônios, Merui.

            – É melhor nós voltarmos para a aula. – Entramos no corredor e tomamos direções diferentes, cada um seguiu para uma sala. Me sentei no meu lugar.

             – É melhor você ficar de olhos abertos. – Castiel apareceu em minha frente. – Debrah não está nada contente. – Ele deu aquele sorriso de canto que eu estava vendo com mais frequência.

            – Oh, disso eu sei. Mas ela bem que mereceu... você não... não iria com ela se ela te chamasse de novo, não é mesmo?

            – Eu teria ido. – Eu não pude evitar e bati a mão na mesa, um pouco mais forte do que eu desejava. As pessoas ao redor estavam nos encarando. – O que foi? – Exclamei, cada um voltou a fazer o que estava fazendo. – Mas e a Aishe, você a deixaria assim? – Falei baixo – Que droga, Castiel, você não percebe quem gosta de você de verdade.

            – Você não pode decidir as coisas por mim, Merui!

            – Eu só estou tentando te ajudar! Eu me importo com você, Lysandre, principalmente, se importa com você, minha irmã se importa com você, até Ambre se importa com você. Tem muita gente nessa escola que gosta de ti e que não quer te ver indo embora. O Lys me disse o como você havia ficado mal quando Debrah partiu, ninguém gostaria de ver isso se repetindo. Ninguém gostaria de te ver caminhando para uma pior, Castiel, nem mesmo Nathaniel, só a Debrah, que não está nem aí pelos seus sentimentos. Você não percebe isso? – Eu estava mais calma, mas meu coração estava acelerado. A expressão dele mudou, ele parecia convencido, mas quando menos esperei, ele se levantou e saiu da sala. Acho que eu nunca conseguiria me comunicar com Castiel em paz, mas ainda assim, eu tenho grande afeição por ele.

            Talvez eu tenha pegado pesado demais com Castiel, talvez eu precisasse ir me desculpar...? Não, eu não fiz nada demais, eu fiz o que era certo! Ele acha que está sozinho, quando na verdade não está, eu só... eu só queria fazê-lo perceber isso! Mas ele era orgulhoso demais para se dar conta. As outras aulas passaram mais devagar que o normal, eu não estava nem um pouco concentrada na professora, eu estava perdida em meus próprios pensamentos, uma vez ou outra eu conseguia escutar  fragmentos da explicação da professora, formando frases desconexas que eu não me dava o luxo de tentar decifrar. Os estudos já não eram mais prioridade para mim naquela escola, e sim, tentar salvar o pescoço dos meus “companheiros”.

            Saí da sala após o término das aulas e fui direto para a saída, fiquei sem saber se eu tinha ajudado Castiel ou simplesmente piorado a situação, então decidi ir para casa de uma vez por todas, antes que eu fizesse mais alguma besteira. Eu podia ver o portão se aproximando e abri um sorriso, eu estava feliz de poder ir para casa, mas essa felicidade foi substituída por ânsia quando senti alguém pular em cima de mim e me levar ao chão. Tentei usar meus braços para amortecer a queda, mas foi tarde demais, minha face atingiu a grama. Eu tentei levantar, mas o mesmo alguém que havia me derrubado, estava sentado em minhas costas e estava me golpeando ali mesmo. Os golpes eram poucos, mas eram fortes.  A única solução que achei foi  virar o meu corpo de lado para derrubar quem quer que fosse, e deu certo. Eu me levantei rapidamente e me afastei, me virei para ver quem era o agressor e dou de cara, literalmente, com Debrah. Nossos rostos estavam mais pertos do que nunca, ela me encarava com um sorriso, ela ria, mas não se aproximava.

            – Você achou mesmo que iria se dar bem? Como você é patética! – Eu vi seu braço se levantar, mas ela não me atingiu, alguém havia a impedido.

            – Você está maluca?! – Castiel havia puxado Debrah para longe e havia gritado com ela, mas ela não reagiu, apenas continuou sorrindo. Ele correu até a mim.

            – Merui? – Eu não conseguia falar, meu corpo inteiro estava tremendo.  Ele segurou o meu pulso e nivelou o seu rosto com o meu, de modo com que a única coisa que eu pudesse ver eram seus olhos – Você está bem? – Eu tentei balbuciar algo, mas minha voz não saía, eu tentei respirar, mas o ar parecia não preencher meus pulmões. Eu nunca havia me envolvido em brigas, a ideia de bater em alguém e alguém me bater de volta era aterrorizante. – Me responda, droga! – As lágrimas estavam se acumulando nos meus olhos, eu podia enxergar a preocupação nos olhos de Castiel, mas eu não queria mais ver aquele olhar vindo de ninguém... fiz um pouquinho mais de força e consegui falar algo.

            – Bem... estou... bem. – Balancei o meu pulso e ele me soltou. – Obrigada... – Eu me afastei dele e saí correndo para fora da escola com rapidez, ninguém tentou me seguir, o que foi um alívio. Eu continuei correndo, mesmo que minha visão estivesse se tornando embaçada, mesmo que as lágrimas estivessem escorrendo sem parar. Eu lembrei do sorriso de Debrah, ela sorria ao me ver chocada, sorria, mesmo que Castiel gritasse com ela, ela sorria, não importava as circunstâncias, e aquele sorriso me amedrontava. Eu não aguentava mais correr, minhas pernas doíam, meu corpo estava cansado, tive que parar, por mais que eu não quisesse. Me encostei em um muro e respirei fundo, mas foi em vão, o ar ainda não preenchia meus pulmões. A medida em que eu me esforçava para respirar, eu sentia meu estômago revirar e doer, e como doía. Apertei minha barriga com as mãos e a sensação de náusea continuava, apertei minha barriga com mais força, a dor não passava, mas senti tudo o que havia dentro de mim subir pela minha garganta e sair por minha boca, vomitei. Eu queria chorar mais e mais, eu estava em desespero, precisava de companhia, mas eu estava sozinha. Sentei no chão e abracei minhas pernas, desejei que aqueles sentimentos fossem embora, mas eles não iam.

            Senti um toque leve em meu joelho, quando abri meus olhos, vi a imagem de Nathaniel abaixado em minha frente. Eu joguei meus braços em cima dele e ele me abraçou.

            – Está tudo bem. – Ele alisou meu cabelo – Suba em minhas costas, eu te levo para casa.

            Eu montei em suas costas sem protestar e deitei minha cabeça em seu ombro. Ele percorreu o resto do trajeto me carregando sem reclamar uma vez sequer. Quando chegamos no apartamento, ele estava vazio, tentei descer, mas Nathaniel  não deixou e me carregou para o quarto.

            – Tome um bom banho, você vai se sentir melhor. Eu vou estar aqui esperando por você, está bem? – Ele soltou minhas pernas com delicadeza e eu desci.

            – Obrigada. – Falei e entrei no banheiro. Tomei um banho demorado, lavando todo o meu corpo, principalmente onde Debrah havia tocado. Lavei o meu rosto, sentindo minha bochecha dolorida por causa do impacto. Tentei não lembrar do rosto de Debrah tão próximo do meu, mas era difícil... Saí do banho e me enrolei na toalha, Nathaniel estava sentado em minha cama, encarando o chão, mas ele olhou para a porta assim que saí. Dei um sorriso para mostrar que estava tudo bem. Peguei meu pijama e uma calcinha no guarda-roupas, Nathaniel veio até a mim.

            – Me deixe vesti-la. – Meus olhos se arregalaram – Eu não farei nada mais do que vesti-la, eu prometo. – Demorei um tempo para aceitar a ideia, eu confiava em Nathaniel, eu sabia que ele não faria nada para se aproveitar da minha situação.

            – Tudo bem. – Sussurrei, ele assentiu com a cabeça. Eu fiquei parada, apenas olhando para o seu rosto, que não expressava nada mais além de calma. As linhas tensas de mais cedo em seu rosto não existiam mais. Nathaniel tomou de minha mão a ponta da toalha. Ele olhou o meu rosto uma última vez e eu assenti. Com minha permissão, ele desenrolou a toalha do meu corpo vagarosamente, me deixando completamente nua. Os olhos de Nathaniel percorreram o meu corpo, ele se pôs atrás de mim e tocou minhas costas, onde Debrah havia atingido, soltei um gemido de dor.

            – Me perdoe. – Ele sussurrou – Ela... ela te deixou marcas, assim como as minhas.  – Marcas? Ele havia marcas no corpo?

            Nathaniel se pôs em minha frente novamente e respirou fundo antes de pegar a calcinha de minha mão. O seu corpo se abaixou um pouco para alcançar minhas pernas, para que ele me vestisse, precisei levantar uma perna de cada vez, a sensação não foi ruim, ele não fez aquilo com malícia, estava apenas cuidando de mim... ele subiu o delicado traje por toda a extensão de minhas pernas até o meu quadril, sem fazer nada mais, como ele havia prometido. Depois, ele pegou a camisola e pediu para que eu levantasse meus braços, eu o fiz. Com o cuidado de não encostar em minha pele novamente, ele me vestiu.  Ele estava cuidando de mim, pensei, o que eu estaria fazendo agora se eu não tivesse Nathaniel? Inclinei o meu corpo até ele e selei seus lábios como agradecimento, tomei sua mão e o levei para minha cama, pedi para que ele se deitasse comigo.

            – Castiel me contou tudo... Rui, não é a primeira vez que você fica em choque por causa de Debrah, isso pode ser mais do que medo.

            – É pânico. – Citei – Eu tenho ataques de pânico em situações como essas... Não se preocupe, não é nada grave.

            – Sua família já sabe? – Ele perguntou, eu assenti com a cabeça. – Me desculpe, eu deveria estar lá com você... – Nathaniel acariciou o meu rosto, ele parecia culpado.

            – Ei, não se culpe... Eu queria tanto ir para casa que acabei me esquecendo de Debrah, esqueci do seu “aviso” de hoje cedo. Não é sua culpa. – Repeti.

            – Durma um pouco, pequena, eu ficarei do seu lado até você dormir. – Nathaniel começou a alisar meus cabelos, eu adorava aquilo... minha mãe costumava mexer em meus cabelos quando eu não conseguia dormir. Minhas pálpebras começaram a pesar e o sono a chegar... não demorou muito e eu adormeci.

            Quando acordei, Nathaniel não estava mais ao meu lado, me levantei da cama com certa dificuldade, devido a dor nas costas e caminhei até a sala, onde todos estavam reunidos.

            – E aí? Deu umas boas porradas? – Meu irmão brincou e me puxou pela mão, me dando um abraço depois.

            – Se com “deu” você quis dizer “levou”, então sim, Derek. – Suspirei – Cuidado com minhas costas...

            – Ah, me desculpe! – Ele exclamou e me soltou. Minha mãe veio em seguida, desesperada.

            – Merui! Merui! Você está bem? Se machucou? Não quebrou nada? – Ela estava prestes a segurar o meu rosto, eu a impedi.

            – Não! – Falei um pouco alto demais – Eu bati com o rosto no chão... Eu estou bem, um pouco dolorida, mas estou bem. Eu tive mais um ataque de pânico, mas eu estou bem.

            – Por que a menina fez aquilo com você? – Minha mãe estava indignada.

            – Porque hoje a Merui mostrou pra toda a escola que a menina era uma pestinha. E ah, eu filmei a briga de vocês e coloquei no youtube, tá o maior sucesso na escola! – Aishe falou com sua voz enjoada, eu fiquei de cara, eu não esperava que ela me ajudasse, mas filmar e divulgar...

            – Isso eu quero ver! – Derek exclamou e foi atrás de Aishe.

            – Mas como vocês sabem disso? – Perguntei, curiosa.

            – O Nathaniel estava aqui quando chegamos, ele explicou a situação da melhor maneira que pode.

            – Entendo. – Eu comi algo e o pessoal evitou de conversar sobre a briga novamente, o que me deixou muito bem. De vez enquanto, Derek fazia algumas piadas, mas nada que fosse de mau gosto. Meu humor havia melhorado desde os cuidados de Nathaniel até agora, eu já estava até rindo e esquecendo da dor. Já estava ficando tarde, me deitei na cama e comecei a pensar. Os olhos de Castiel vieram em minha mente, aqueles olhos penetrantes... ele realmente havia ficado do meu lado e não de Debrah. Peguei o meu celular na cabeceira e o mandei uma mensagem.

Obrigado por ter me defendido e desculpe por ter saído correndo feito louca, eu estava em uma crise de pânico.

 No mesmo instante, recebo sua resposta.

Feliz por ter ajudado.

            Aquilo era o suficiente, Castiel não era um homem de muitas palavras, pelo menos quando não queria, soltei o celular e me aconcheguei na cama para finalmente encerrar aquele dia.


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