Alguns meses se passaram. Lola veio morar aqui em casa. Reynolds mudou bastante, parecia outra pessoa. Estava proibido falar sobre Lorien, Garde, Mogs ou qualquer outra coisa do tipo. Cada dia ele parecia mais gordo porque raramente treinava comigo. Em nossos últimos treinos juntos, minha telecinese havia melhorado bastante já conseguia levantar nosso carro por dois minutos, já não me teleportava sem querer, nem parava em lugares que não queria e minha força e velocidade estavam absurdas. Conforme Lola foi ficando mais intima, nossos treinos juntos foram ficando cada vez mais raros e tive que começar a treinar sozinho. Reynolds não me chamava mais de Oito ou magrelo, somente Naveen. Dedicava toda sua vida a Lola. Em vários momentos tive desentendimentos com Lola que também havia mudado. Apesar de não confiar nela, ela sempre foi uma pessoa agradável, mas depois que veio morar aqui em casa ela começou a querer me controlar. Sempre queria saber sobre nosso passado, queria saber onde eu estava e o que estava fazendo. Varias vezes a peguei bisbilhotando nosso computador e varias vezes me perguntava sobre minha Arca, que depois daquele dia que ela havia tocado eu a escondi e só abri com Reynolds uma única vez para treinar. Em meu ultimo treino com Reynolds, eu havia pegado o “Duplicador” e usei varias vezes para escapar de Reynolds e Lola para treinar.

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Estou sozinho em casa, Reynolds havia saído com Lola pela manhã e ainda não havia voltado, estava preocupado. Enquanto esperava por eles segui meu treinamento com o teletransporte e a telecinese. Tarde da noite vejo Reynolds entrando em casa com Lola que parecia que tinha visto um Mogadoriano. Ela sobe para o quarto e não fala nada.

– O que aconteceu? – pergunto.

– Oito nós precisamos conversar. - diz Reynolds.

Para ele ter me chamado de Oito a coisa era seria, fazia meses que não me chamava assim.

– Contei a verdade a Lola. – disse.

– Que verdade? – pergunto assustado.

– Ela sabia que estávamos escondendo algo me pediu para dizer a verdade. E acabei contando tudo. Sobre Lorien, os Gardes, seus legados, os Mogadorianos. Mas está tudo bem porque ela acreditou e ainda vai nos ajudar.

– Como assim está tudo bem? Você está louco Rey, como você pôde fazer isso? – digo gritando.

– Abaixa a voz pra falar comigo. Sou seu Cêpan.

– Faz muito tempo que você não é mais meu Cêpan – digo indignado – Você nem me treina mais, olha pra você a cada dia que passa está ficando mais gordo.

– Seu segredo está bem guardado comigo. – diz Lola descendo as escadas.

– Cala sua boca, porque tudo isso é culpa sua. – digo descontroladamente.

Estou tão nervoso que alguns móveis e objetos da casa estão flutuando.

– Rey você está cego, estamos numa guerra, estamos sendo caçados.

– Calma Oito eu só quero ajudar. – disse Lola com uma voz sarcástica parecia que queria me irritar mais.

– Você não tem o direito de chamar assim. – digo apontando o dedo pra ela e reparo que Lola está alguns centímetros do chão.

– Me desde daqui garoto.

– Oito pare com isso. – diz Reynolds segurando meu braço. – Eu sei que é difícil para você entender, mas Lola está do nosso lado.

– Você me traiu Rey, você traiu Lorien, traiu todos...

Reynolds me da uma tapa na cara. Olho para Reynolds com os olhos cheios de lagrimas e digo:

– Você disse que nunca me trocaria por ela. Você está completamente cego.

Vejo os olhos de Reynolds se encherem de lagrimas.

– Descul...

Me teleporto para fora de casa e corro para a floresta antes dele terminar sua frase. Estou tão nervoso que com telecinese arranco algumas arvores do chão, algumas se quebram aos meus socos e chutes. Parei no meio da floresta, chorei e gritei muito. Não posso voltar para casa nesse estado, poderia fazer alguma besteira com Lola ou até mesmo a Reynolds e acabo buscando algum lugar na floresta para esfriar a cabeça e dormir. Acabo caindo no sono e tenho flashes com a mesma garota de olhos cinzentos que sonhei alguns meses atrás. Vejo-a em uma cela, tentando cavar um buraco com as unhas sem sucesso, vejo uma mulher sendo torturada e essa mesma garota dizendo para um Mog que era a numero Oito. Acordo no meio da noite com Reynolds me cutucando.

– Hey, acorda estava preocupado com você.

Só o encaro me levanto e começo a andar sem dizer nada.

– Oito me desculpa pelo tapa mais cedo, não queria ter feito aquilo.

– O tapa não foi nada comparado ao que você fez. – digo.

– Lola está conos...

– Eu não quero mais ouvir o nome dela nem sua voz por hoje, pode ser? – digo deixando Reynolds para traz.

Quando chego em casa vejo Lola na porta e me teleporto para o quarto para não ter que encontra-la. No quarto, deito na cama e começo a refletir como chegamos a esse ponto, Reynolds e eu éramos tão unidos que o via como meu pai e ele me via como filho. Na mesma hora, penso que fui muito duro com ele, nunca brigamos dessa maneira, ele chegou até a me bater. A culpa era toda dela, tudo mudou quando ela apareceu. De repente escuto alguém bater na porta.

– Oito deixe-me entrar, por favor. – diz Reynolds com a voz arrependida.

Destranco a porto com minha telecinese e ele entra e se senta ao meu lado.

– Eu sei que nos últimos meses eu me afastei um pouco de você. Confesso que estava cego por Lola, só pensava nela. Não te treinei e estou aqui para pedir o seu perdão. – diz Reynolds chorando.

Olho para ele e o abraço fortemente.

– Claro que te perdoo e quero que me perdoe também pelas coisas horríveis que falei pra você. Não era verdade. – digo chorando também. – Rey, me escuta, nós estamos muitos expostos aqui na Índia. Primeiro foi aquela noticia que um garoto podia levantar coisas com a mente, agora você conta nossa historia para uma humana. Os Mogs não nos encontraram por sorte. Estamos sendo muito descuidados. Se você me ama e ama a Lola temos que ir embora e deixá-la, se os Mogs nos encontrarem ela será a primeira a morrer. – digo.

Reynolds faz silencio por um momento e diz:

– Você está certo. Aqui está muito arriscado. Lola está um pouco chateada por nossa briga e sugeriu para fazermos uma trilha e acamparmos nas montanhas, ela disse que tinha um lugar perfeito. Essa pode ser nossa despedida da Índia e da Lola. Quer ir?

Ao principio achei estranho o plano de Lola para nos reconciliar, mas acabo aceitando.

– Ok, mas depois desse acampamento vamos embora. – digo.

– Fechado. – concorda Reynolds.

No dia seguinte quando acordo, chamo Reynolds para guardarmos o Duplicador outra vez na Arca. Lola já havia feito as malas para acamparmos. Colocamos as malas nas costas e Reynolds leva minha Arca nas mãos.

– Os anciões bem poderiam ter colocado suas heranças numa mochila trancada. – brinca Reynolds.

Rio, mas ainda não estou acostumado de Lola saber nosso segredo. Ela está diferente hoje parece mais nervosa, sempre olha pros lados e para trás. A subida levou seis horas, estávamos exaustos.

– Chegamos. – disse Lola.

– Finalmente. – disse Reynolds.

Começamos a montar o acampamento. Lola me pede ajuda para levantar a barraca e a ajudo usando minha telecinese. De repente sinto uma sensação ruim na boca do estomago parecia que algo ruim estava para acontecer.

– Oito pode pegar um pouco de água, mais a frente tem um lago. – disse Lola.

Não gosto quando ela me chama de Oito, apesar de ser praticamente meu nome parece que ela está me ofendendo.

– Amor pega você, ele precisa me ajudar aqui. – diz Reynolds todo amarrado nas cordas da barraca.

Lola faz uma cara de decepção, parece que ela queria que eu fosse pegar a água. Ajudo Reynolds terminar de montar a barraca. Acendemos o fogo e assamos um coelho preto que Reynolds havia caçado mais cedo. Coitado do coelho, pensei. Passados algumas horas Lola chama Reynolds para dar um passeio, mas ele não aceita por que queria que ficássemos todos juntos, foi para isso que estávamos ali.

Lola estava inquieta passou dois dias tentando de todas as maneiras me separar de Reynolds. Na terceira noite ela estava muito agitada, caminhava de um lado pro outro. Sempre olhando as horas.

– Está tudo bem? – pergunta Reynolds.

– Sim, sim está tudo bem. – responde Lola apreensiva quando seu telefone toca.

– Seu telefone tem sinal aqui? Quem é? – disse Reynolds.

– Meu chefe querendo saber que dia voltarei ao trabalho.

Quando saio da barraca, sinto outra vez uma sensação terrível, tenho desejo de sair correndo dali.

– Uuuuu, está frio. – digo passando as mãos sobre os braços.

– Bastante. – Reynolds responde.

– Eu vou buscar mais lenha para fazermos uma fogueira. – Disse Lola indo para floresta.

Olhei para cara de Reynolds e estranhamos essa iniciativa de Lola por que ela nunca quis buscar a lenha.

– Você já disse pra ela que vamos embora? – digo.

– Ainda não, mas vou dizer, fique tranquilo. – disse Reynolds. – Está tudo bem? Você parece preocupado. – me pergunta.

– Estou me sentindo estranho, algo não anda bem, tenho uma sensação ruim.

– Você percebeu que Lola está diferente hoje? – disse Reynolds.

– Sim, um pouco, Por que?

– Ela acabou de me contar uma mentira.

– Shiiii problemas no paraíso. – digo irônico. – Como sabe que ela está mentindo?

– Nós somos os reis da mentira esqueceu? – disse Reynolds com seu sorriso torto.

Assento com a cabeça.

– Acho melhor nós descermos. – digo.

– Também acho. Vamos esperar Lola voltar e vamos descer.

Não muito tempo depois Lola volta com a cabeça abaixada.

– Sabia que você não ia conseguir trazer a lenha. – disse Reynolds sorrindo.

– É o garoto. – disse Lola apontando o dedo pra mim.

De repente uma dúzia de Mogadorianos muito bem armados sai detrás das arvores e nos apontam suas armas. Lola nos havia traído e estávamos cercados.