Jasper levou a mão a testa confuso, como se brigasse consigo mesmo para não fazer aquilo, mas algo em si o forçava. Fraziu os lábios, tomando o ultimo gole da bebida em sua caneca, e em seguida secou os lábios com as costas da mão. Quando pensei que ele havia se decidido finalmente sobre o que fazer a respeito de seu dilema, um som de passos na madeira oca do convés, interrompeu seus pensamentos, e vi Lucius surgir, parando ao lado de seu companheiro.

–Não consegue dormir ? -Ele perguntou, sentando-se próximo ao outro pirata

Jasper negou com a cabeça, desanimado.

–Nem eu, aqueles vermes roncam como morsas no cio... -O outro comentou esboçando um sorriso, antes de completar: -Mas acredito que a sua insônia tem outro motivo...

–Você também não acredita em mim, não é ?-Jasper indagou sério, após alguns segundos

–Não é isso, é que essa história é muito surreal na minha opinião... -Ele respondeu, olhando nos olhos do companheiro.

–Você viu o que aconteceu com as jóias... -O pirata o relembrou -Que outra explicação existe ?

–Esqueça isso, Jasper ! Já passou, nada mais aconteceu ! -Lucius o repreendeu irritado, antes de acalmar-se para continuar:- Há mistérios inexplicáveis no mar, eu admito. Naveguei nele a vida toda e sei, mas ficar obsecado com histórias desse tipo levam homens a loucura, já vi acontecer antes, e não quero ver novamente...Quer um conselho ? -Ele colocou a mão no ombro do amigo- Esqueça a sereia...

–Vou tentar... -Jasper disse para não estender o assunto.

–Espero sinceramente que sim...Boa noite.-ajuntou ele- Tente dormir um pouco e tire esse assunto da sua cabeça -Lucius se levantou aconselhando-o, antes de fazer o caminho de volta ao convés inferior, onde a tripulação dormia.

Jasper deu um soco na amurada irritado. Ninguém acreditava nele, e esse quadro parecia não ter previsão para mudar tão cedo.

No momento em que iria mergulhar novamente, para passar a noite abrigada em um recife até a manhã raiar, ouvi-o praguejar, o que me fez permanecer.

–Espero que esteja feliz, criatura dos infernos ! -Jasper exclamou ao mar, jogando sua caneca vazia a alguns metros no escuro próximo a mim. -Mestiça sem alma !

Surpreendi-me com a atutide dele. Ou melhor, não fiquei apenas surpresa, fiquei irritada. Aquele pirata estava me culpando por sua própria falta de habilidade em convencer seus companheiros de que eu existia ? Aquilo era um absurdo !

Mergulhei pegando a caneca, antes que ela chegasse ao fundo. Tirei em seguida da cintura minha faca de ferão de arraia, que era presa por uma fita de couro trançada. Usei-a para arranhar o cobre de que era composto a caneca, escrevendo uma mensagem para aquele pirata abusado. Em seguida, lançei-a de volta ao convés, no momento em que ele se virava para sair. Gostaria de ter lher acertado na cabeça para repreende-lo, mas não havia jogado forte o suficiente para isso, portanto a caneca apenas caíu no chão do convés próximo a ele. Quando o homem se virou e viu o objeto, pareceu transtornado, ficando ainda mais quando se abaixou e pegou a caneca, onde estava escrito:

“Sem alma é você, pirata imundo”

Segurei o riso, ao ver a expressão dele, ficara pálido como uma vela. Pensei até que fosse desmaiar ou algo do tipo. Não temi que o pirata pudesse mostra-la a alguem, pois sabia que os outros não iriam mesmo acreditar, achando no máximo que ele próprio tivesse escrito.

Jasper olhou para o mar novamente, antes de voltar o olhar a caneca, para ter certeza de que aquilo estava mesmo escrito. Antes que ele pudesse dizer algo, o timoreiro surgiu no convés, perguntando que gritaria era aquela que ouvira.

Divertia-me, vendo Jasper balbuciar para responder, atrapalhando-se todo, para por fim inventar uma desculpa não muito convincente, a qual por sorte, o homem ainda sonolento acreditou.

Ele foi para o interior da embarcação em seguida, e eu decidi que era melhor eu ir descansar também. Pelo visto, ele teria muito para pensar pelo resto da madrugada.