Dançarina Das Marés escrita por A Garota do Capitão


Capítulo 52
Selado o Destino que se Repete


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo extra o qual eu não consegui deixar de escrever.
Espero que gostem.
Mil beijos para todos.



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Quando eu era pequena, há quatorze anos atrás, minha mãe me contou uma história sobre sua irmã. A história de como uma sereia se apaixonou por um homem e com ele foi viver percorrendo os mares. Na época tudo aquilo me fascinou, afinal aos olhos de uma sereiazinha tola aquilo tudo parecia emocionante. A tal ponto que não falei em nada diferente por semanas; sempre mencionando sobre Solara e o seu doce pirata, o que deixava meu pai furioso. Ele sempre brandava: "A culpa é sua por ela só ficar pensando nessas besteiras e devaneios, Lika." Porém minha mãe nada mais podia fazer pois a semente da curiosidade já estava plantada em mim.

Agora que estou mais velha entendo a preocupação de meu pai. No entanto, apesar de entender, algo parece puxar-me para longe das suas palavras, como uma corrente marítima forte com a qual é impossível lutar contra...

Minha mãe dizia que o amor nem sempre é como imaginamos, e que ao conhecermos um tritão podemos não nos apaixonar por ele imediatamente, e sim somente depois de um tempo convivendo juntos como um clã. Apesar de dizer isso, eu sei no fundo que ela não amava meu pai, no início realmente deve ter pensado que poderia vir a amá-lo, mas isso não aconteceu e ela pareceu perder o brilho que havia em sua alma. E isso era algo que eu mais temia que acontecesse comigo.

Quando eu atingi a idade certa de partir do clã, na despedida pude sentir o olhar da minha mãe sobre mim. Ela por sua vez não disse uma palavra sobre o assunto, apenas me desejou boa sorte e que eu fosse feliz independente do caminho que eu escolhesse. No entanto, seu olhar gritava, era como se me incentivasse, me desse coragem para ir atrás daquilo que eu acredito...E é isso que planejava fazer.

Ao passar alguns meses após deixá-los, nadando sozinha pelo atlântico, tive uma visão que poderia fazer qualquer sereia nadar para longe para evitar problemas...Ele boiava agarrado a um destroço que parecia já ter feito parte do casco de uma embarcação. Estava desmaiado, era jovem e tinha cabelos castanho-claros, caídos sobre a face vermelha devido ao sol. Não sabia se estava morto ou inconsciente, porém a certeza me veio quando ele se moveu incomodado, ainda sem abrir os olhos. O sangue manchava de vermelho sua testa, a qual parecia ter sofrido uma pancada forte.

Me aproximei lentamente, fitando-o com mais atenção, ainda sem coragem de chegar mais perto. No entanto após alguns segundos observando-o, não julguei que aquele rapaz pudesse fazer algum mal a mim, afinal estava ferido e fraco.

Fiquei ao seu lado por algum tempo, até ele começar a murmurar alguma coisa inaudível. Aproximei-me lentamente para tentar ouvir o que dizia, no entanto surpreendi-me ao vê-lo abrir os olhos, os quais imediatamente pareceram dar um choque em mim, fazendo meu coração disparar tanto que qualquer criatura marinha poderia ouvi-lo há quilômetros de distância. Eram verdes profundos, que apesar do estado fraco do corpo do rapaz, ainda mostravam um brilho intenso. Brilhavam como se nada pudesse abalar seu olhar, ao mesmo tempo em que no fundo estava disfarçada uma inexplicável tristeza de partir a alma. Nunca havia visto olhos como aqueles antes, e jamais fora vista por tais.

Não sei ao certo, mas acredito que fora naquele momento que percebi que havia perdido minha alma para ele. Como para um predador, com o qual sem chance de lutar nos entregamos, eu agora estava incapacitada de fugir, hipnotizada pelos olhos verdes de um leviathã em forma de homem.

–Você é real ? -ele me perguntou com voz fraca, como quem acabara de acordar de um devaneio.

Demorei alguns segundos para responder, pois sua voz parecia ecoar na minha mente.

–Sim, e você ? -indaguei ainda relutante.

–Sou... -o rapaz respondeu sem desviar os olhos de mim -Qual seu nome ? -ele perguntou após alguns segundos de silêncio, quebrando a última barreira existente entre nós.

Agora dependia de mim, era minha escolha. Nadar para longe ou responder aquele que poderia selar o meu destino. Não hesitei.

–Malaika.


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