Dançarina Das Marés escrita por A Garota do Capitão


Capítulo 50
Um Olhar de Iluminar a Alma




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Quando saímos de volta para o convés, todos os olhos dos homens se voltaram para mim nos braços de Jasper. Abaixei o olhar sem querer fitá-los, enquanto cobria-me melhor com a blusa que o pirata me dera. 

Jasper tomou a palavra após me colocar sentada sobre um barril e ficar parado ao meu lado se dirigindo aos demais marujos do barco pesqueiro. O capitão disse a eles firmemente algumas coisas a meu respeito, sem entrar em muitos detalhes, porém sempre enfatizando o fato de que nenhum deles poderia encostar em mim daqui para frente e que não deviam ter agido daquela forma hostil inicialmente. Os homens da tripulação não eram muitos, apenas uns dez ou onze, eles perguntavam algumas coisas a meu respeito as quais Jasper respondia. Pareciam bem curiosos em relação a mim, o que fez meu medo ir passando aos poucos a medida que o capitão os tornava mais familiares comigo.

-E ela é perigosa ? -um dos homens perguntou ainda na defensiva, interrompendo Jasper em sua narrativa. 

-Ela parece perigosa, Philip ? -Jasper indagou 

-Não sei, já ouvi muitas histórias sobre sereias. Apenas não quero terminar no fundo do mar após ouvir uma música qualquer...- Philip falou, olhando de relance para mim. 

-Não se preocupe, isso não vai acontecer. -falei séria fitando-o. Minha voz pareceu surpreender a ele e aos demais que ainda não haviam me ouvido falar, o que fez haver um silêncio momentâneo. 

-A senhorita tem nome ? -um outro mais jovem perguntou, esboçando um sorriso simpático. 

-Solara. -me apresentei 

-Então era verdade, capitão ! -ele se virou surpreso para Jasper, que sorriu e assentiu com a cabeça para o seu marujo, que depois voltou novamente a palavra a mim-Desculpe senhorita, não queria ser rude, me chamo Alfred. Apenas me surpreendi pois o capitão havia me dito logo que embarquei nesse barco que ele procurava sua mulher perdida no mar e que o nome dela era Solara. No momento pensei que ele fosse lunático, mas agora vejo que me enganei...

-Disse a eles que sou sua mulher ? -perguntei surpresa virando-me para Jasper sem conseguir conter um sorriso

-Bom, pelo menos a parte sem escamas é. -Jasper respondeu brincalhão, fazendo os demais rirem e quebrando o último resquício de clima tenso no ar.

-Não sou mulher dele. -afirmei fingindo seriedade

-Se me permite dizer, a senhorita é muito bonita. O capitão tem bom gosto. - Alfred comentou em seguida, praticamente ignorando o que eu havia dito. 

-Obrigada, o senhor é muito gentil quando não tem um facão nas mãos -respondi fitando-o

-Ah, eu lamento por aquilo...-o homem disse meio constrangido

-Tudo bem, geralmente as pessoas que me conhecem inicialmente sempre querem me esfaquear...-comentei sorrindo e em seguida alguns dos outros marujos se desculparam pela hostilidade inicial. 

Me senti bem ao lado deles, nem pareciam mais ser os homens cruéis que aparentavam ser meus algozes de antes. 

Logo em seguida, recebi uma enxurrada de perguntas típicas que os marinheiros faziam, já as havia respondido em outras ocasiões até mesmo para o próprio Jasper quando nos conhecemos e também para Carter. Não me incomodava de responder, na verdade eu até gostava da atenção gentil que agora me era dada. Ser vista como eu realmente era conseguia trazer a mim uma felicidade que eu não sentia há muito tempo. 

Jasper se calou quando eu tomei a palavra, e apenas ouviu o que eu dizia, como se eu falasse pela primeira vez a ele. As vezes eu lançava um olhar para o pirata, que sorria revelando alguns de seus dentes de ouro e me incentivava com a cabeça para que eu continuasse falando. 

-Meu pai dizia que ele havia visto uma sereia há muito tempo atrás e que ela se apaixonou por ele e dali para frente seguiu seu navio pelos mares -Alfred comentou após eu dizer algo. 

-Deixe-me adivinhar, seu pai era baleeiro ? -perguntei olhando para ele

-Era. -ele afirmou surpreso por eu adivinhar 

-Algumas sereias nômades viajam com grupos de baleias, o navio de seu pai seguia as baleias, portanto a seguia. Não era ela que o perseguia e sim ele a ela. -expliquei

-Então quer dizer que ela não o amava ? -o homem indagou um pouco decepcionado

-Apenas porque uma sereia nada perto da sua embarcação não quer dizer que ela gosta de você... Vocês bípedes são tão convencidos ! -exclamei fazendo-os rir. 

-E quem garante que ela não o amava mesmo ? Sereias tem o péssimo costume de se apaixonar por marinheiros...-Jasper comentou encostado na amurada com um sorriso vitorioso no rosto.

-Apenas as burras, você quer dizer -falei, fitando-o 

-Não é burrice ir atrás daquilo que ama, e sim não fazê-lo. Você é corajosa nesse ponto, devo admitir. -Jasper sorriu, aproximando-se.

-Acha mesmo ? Eu fui pescada, puxada em uma rede e quase fui esfaqueada por pescadores, isso tudo não me faria ser considerada uma das mais inteligentes da minha espécie... -disse sorrindo irônica, sem conseguir desviar meus olhos dos dele. 

-Não importa o que os outros rabos de peixe pensam, de qualquer maneira tanto cuidado os fará acabando morrer devorados por algum animal marinho enquanto dormem. Todos deviam seguir seu exemplo, tirando o fato de você ter caído na rede, você é a peixinha mais corajosa que eu já conheci...-ele disse provocando-me, passando a mão sobre minhas escamas

-Pela milésima vez: Eu já falei que sou um mamífero ! Mamífero, não peixe !-exclamei em tom de falsa revolta, sem conseguir conter o riso enquanto batia contra a mão dele com a minha cauda em repreensão ao que o pirata havia dito. 

Naquele barco por entre a madeira que rangia baixinho com o balanço do mar e o barulho da brisa quente nas velas, eu me sentia completa. Sim, não era a mesma coisa como estar em um exuberante recife ao amanhecer, com as marés suaves a nos embalar, no entanto estar ali naquele barco se tornara tão belo quanto, pois afinal agora eu não estava mais sozinha vagando sem rumo definido pelos mares e sim finalmente podendo dizer que encontrei meu destino. 

Observar o sol que lentamente ia se pondo no horizonte escuro acompanhada por aqueles homens que eu acabara de conhecer e por Jasper, que agora falava-me de seus planos animadamente, juntamente acompanhado dos demais que riam e conversavam descontraídamente comigo, tudo isso fazia com que minha alma brilhasse. Assim como o olhar do capitão que parecia fazer meu espírito se iluminar na forma com que ele fitava-me, que parecia enxergar-me como eu realmente era. Talvez até mesmo melhor do que eu mesma podia ver...


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