Conversar com Lika pareceu trazer novas esperanças e coragem ao meu coração. O valor que minha irmã dava a felicidade era algo admirável, de acordo com ela, não importa a quantidade de anos que se vivia, e sim se foi feliz no tempo em que os viveu. Acredito que no fundo ela sabia que apesar de tudo que passei, eu não me arrepedia de ter chegado perto daquele navio pela primeira vez. Acho que foi justamente por perceber isso ela julgou que eu não conseguiria ser feliz de outra forma. 

Minha irmã logo tratou de me convidar para comer algo junto com eles. Faruk por sua vez não gostou nada disso, mas mesmo assim acatou a decisão dela e ficou apenas emburrado sem pronunciar uma palavra em nenhum momento. Malaika ao contrário do pai não parava de falar, agora já mais a vontade com a minha presença a pequena se empolgava a falar sobre suas brincadeiras. Após todos terminarmos de comer, Faruk logo se afastou, se mantendo distante e apenas vigiando a filha que agora nadava por perto entre os corais em busca de conchas coloridas. 

Eu e Lika passamos a noite conversando, em alguns momentos Malaika vinha e nos fazia companhia enquanto confeccionava colares de conchas. A água estava clara devido a luz da lua que penetrava radiante sobre o recife, enquanto as marés quentes faziam um ambiente agradável para nós. 

Agora vivendo minha situação atual, penso nestes momentos vividos entre nós duas tanto com alegria como com pesar de nunca mais poder voltar a tê-los. Enquanto ainda espero nesta tortura silênciosa a rede ser finalmente puxada, Lika é uma das figuras que não param de passar constantemente pela minha cabeça. Acredito que este não era o final que ela esperava para a minha história com Jasper, na verdade, não era o final que nem eu mesma esperava. No entanto, espero que quando ela contar minha história para Malaika daqui a alguns anos, invente um final melhor que esse. Quem sabe ela diga a filha que eu finalmente encontrei Jasper e vivi feliz ao lado dele, dobrando juntos os mares a nossa vontade. Esse sim seria um final digno, não terminar sendo morta por pescadores. De qualquer forma, ainda torço para que minha irmã tenha boa criatividade. Continuarei minha narração para ocupar o tempo que ainda me resta, tentando esclarecer como fui cair nesta armadilha do destino logo no momento que me achava tão perto de encontrar minha tão almejada felicidade.  

Na manhã seguinte bem cedo, após despedir-me de minha irmã com o coração pesado parti novamente sem rumo definido. Eu podia sentir que ela apesar de me incentivar, temia pela minha segurança. A confirmação me veio quando ela disse enquanto nos abraçávamos: 

-Se nada sair como o esperado, nade o mais rápido que puder. 

Assenti com a cabeça, lhe dando um último abraço antes de finalmente partir rumo ao desconhecido. 

Nadei a manhã toda em busca de alguma embarcação, afinal se eu iria procurar precisava começar de algum jeito. Iria rumo ao porto em que vi Jasper da última vez e procurar em cada navio que encontrasse no caminho. Quem sabe eu poderia reconhecer a voz dele ou vê-lo no convés de alguma embarcação por ali por perto. 

O dia se passou rápido e não obtive nenhum sucesso, nem ao menos um único navio sequer eu avistei. Tentei não desanimar, porém quando a noite caíu e eu parei para descansar, tornei a pensar se o que eu fazia era certo. Mais uma vez as palavras de Lika ecoaram na minha mente. 

Brinquei com os colares de conchas que pendiam em meu pescoço, os quais a pequena Malaika me deu de presente ao partir. Perdi-me por um momento em devaneios confusos e os mesmos logo me carregaram de rumo ao sono.