Dançarina Das Marés escrita por A Garota do Capitão


Capítulo 41
Reencontro




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Viajei rápido juntamente com um grupo de golfinhos que encontrei. Nesta época do ano vários animais se juntavam rumo ao mesmo lugar que eu estava indo agora. Baleias e golfinhos sempre foram espécies muito ligadas a nós, ao ponto de clãs recém formados com apenas três ou quatro indivíduos chegarem a viver anos na companhia dessas espécies até que os mais jovens de seu grupo se desenvolvam. Compartilham o alimento e passam a utilizar as mesmas rotas de migração, o que nos tornam quase espécies irmãs. 

As ondas na superfície não estavam muito altas, entretanto o mar estava um pouco agitado e a brisa estava forte. Os golfinhos nadavam próximos a superfície em um ritmo acelerado, de tempos em tempos subindo para respirar, constantemente pegando impulso e lançando o corpo para fora d'água, ao mesmo tempo em que emitiam sons de comunicação uns com os outros. É uma frequencia diferente da das baleias, mais acelerada e complicada de entender. No entanto, era fácil perceber o que queriam dizer entre si. Chamavam uns aos outros para uma brincadeira, como se desafiassem os demais a saltar mais alto para fora d'água. 

Aquela cena me fez lembrar imediatamente da minha irmã Lika, de quando éramos pequenas e vivíamos competindo uma com a outra para quem conseguia tirar o corpo todo para fora da água no salto. Ela sempre vencia, e depois de um tempo parei de tentar superá-la na brincadeira. Depois que nos separamos cada uma partindo para formar seu próprio clã eu nunca mais a vi. 

A distância era longa, portanto nadamos por semanas constantemente parando em recifes para descansar. No entanto, meus companheiros de viagem tinham um ritmo bem mais rápido que o meu e com os cardumes de sardinhas cada vez mais próximos, isso os fez ficarem ainda mais apressados para ir de encontro a elas. Devido a isso, eu não demorei muito para ficar para trás. Felizmente não faltava muito pela frente e apesar de nadar mais devagar eu chegaria em breve. 

Antes de continuar, parei para descansar em um pequeno recife próximo. Haviam alguns peixes de tamanho médio os quais seriam ótimos para pegar, e como eu ainda não havia comido nada, era uma boa oportunidade. O problema seria capturá-los, afinal tudo o que eu tinha comigo era uma faca curta feita de ferrão de raia, a qual eu havia confeccionado a pouco tempo. 

Espreitei-os por alguns minutos, decidindo o que poderia fazer. Optei pela proximidade para tentar lançar o ferrão afiado na direção de um deles. Quando finalmente um dos peixes se pôs numa posição favorável e eu preparei-me para atacar, velozmente uma lança comprida bem esculpida feita de osso de baleia passou por cima do meu ombro e o arpoou.

Olhei para trás e vi um tritão não muito jovem, de cabelos castanhos e olhos escuros, usando uma espécie de cinto feito com couro de foca cruzado na frente do peito, onde estavam presas pequenas facas feitas de conchas afiadas.

-Aquele peixe era meu. -falei séria fitando-o, enquanto o mesmo passou por mim ignorando-me e pegando seu prêmio. 

-Não vi nenhuma lança sua nele. -o tritão revidou rudemente, sem me olhar enquanto avaliava o tamanho do peixe. 

-Sim, isso porque eu ainda não o tinha pegado. -rebati 

-Então se não pegou, não era seu. -desta vez ele olhou-me nos olhos antes de continuar -E por sinal, este não é seu território...Portanto, quem é você ? 

-Solara. -falei

-Faruk. -ele se apresentou severo -Melhor sair daqui antes que a matriarca a veja, senão vai estar em apuros. -aconselhou-me em tom de ameaça -Apesar de ver que você parece gostar de apuros...-ele olhou desconfiado a cicatriz ao redor da base da minha cauda que havia sido feita pela corrente com a qual fiquei presa -Isso não me parece ter sido feito por lutas com outras sereias...-comentou desconfiado

Por ser uma sociedade matriarcal, cada clã é governado por uma sereia em especial, no entanto se outra nômade surgir e vencer a mesma em um duelo, a vencedora assume o clã para si e a outra é expulsa. Faruk parecia temer pela sua fêmea, no entanto, se eu escolhesse duelar e por acaso a vencesse, ele não poderia fazer nada a respeito a não ser aceitar.

Apenas ignorei-o, e antes que o tritão pudesse novamente dizer algo para que eu fosse embora, uma pequena sereia surgiu. Devia ter uns sete anos de idade ou menos, possuia um cabelo castanho-claro na altura dos ombros e olhos verdes. Em seu pescoço vários cordões de conchas pendiam. Ela veio e ficou perto dele, com certa timidez em relação a mim. 

-Malaika, volte para a sua mãe. - Faruk mandou sério, ainda na defensiva. 

-Quem é ela ? -a pequena perguntou curiosa, fitando-me

-Não interessa. Me obedeça. -Faruk disse severo 

-Sim, papai. - Malaika obedeceu, antes de voltar apressada na direção da qual havia vindo. 

-Escute aqui, nômades como você só trazem problemas portanto vá embora o quanto antes. -o tritão disse em tom de ordem após sua filha se afastar.

-Escute aqui, e escute com atenção; Eu não quero tomar o seu clã. -anunciei 

-Outras já disseram isso antes mas não era verdade, por que eu haveria de confiar na sua palavra ? -ele indagou 

-Porque você não tem outra alternativa já que eu não vou a lugar nenhum. -falei séria 

-Ah, você irá sim. -Faruk disse em tom de ameaça 

-Sua fêmea a tão fraca assim que precisa que você a defenda ? -indaguei em tom provocador. 

O tritão abriu a boca para revidar, quando uma voz feminina o interrompeu.

-Deixe Faruk, eu me entendo com ela. -uma sereia ruiva de olhos verdes se aproximou acompanhada de perto por Malaika. Haviam várias tranças ao longo do seu cabelo comprido presas por finos pedaços de algas e pérolas de vários tamanhos diferentes que o enfeitavam. Ela empunhava uma lança afiada feita de osso.

Eu a reconheci na hora. Estava mais velha e séria, mas era a mesma de antes. No primeiro momento ela pareceu não me reconhecer, no entanto alguns segundos depois a sereia fitou-me com mais atenção e sua expressão mudou da tensão que antes estava. 

-Solara ? -ela perguntou esboçando um sorriso, aproximando-se como se para ter certeza de que era mesmo eu.

-Oi Lika. -sorri fitando minha irmã.


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