Dançarina Das Marés escrita por A Garota do Capitão


Capítulo 37
Punições




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Após o contramestre me dar a última chibatada, senti meu corpo tão fraco, a medida que lentamente minha visão começou a embassar e passei a não ouvir mais nada que se passava ao meu redor. Desmaiei.
Quando acordei estava novamente em minha cela, deitada de bruços sobre uma manta no chão. Ao lenvantar o olhar, vi Carter sentado no outro canto da mesma próximo as barras. Ele estava sem camisa e pude ver os ferimentos em suas costas, percebi que ele tinha um olhar perdido, quase melancólico.
Ergui o corpo lentamente, sentindo a dor dos cortes provocados pela chibata. Meus cabelos longos estavam caídos para frente, cobrindo meus seios. Levei meus braços de encontro ao corpo para me cobrir, enquanto vasculhava a cela em busca do meu espartilho, porém não o encontrei.
-Jogaram ao mar, não vai o encontrar mais. -Carter disse sério, antes de pegar sua camisa e a jogar para mim. -Tome. Pode se cobrir com isso.
Peguei-a e coloquei na frente do corpo. Aquele espartilho me fora dado por Jasper, era a única lembrança que eu tinha dele, e agora estava perdida para sempre. Mais uma coisa que Richard fez questão de tirar de mim.
-Obrigada.- agradeci ao pirata.
Ficamos alguns segundos em silêncio, antes de eu tomar a palavra novamente.
-Me desculpe. Foi por minha causa que você punido.
-Tem razão. A culpa é sua. -ele disse rudemente, sem fitar-me.
-Mas não entendo porque lhe prenderam também -disse surpresa por vê-lo dentro da cela juntamente comigo
-Ah, não entende ?! Então deixe-me eu lhe dizer porque. Foi porque eu assinei minha sentença de morte ! Foi isso ! -ele exclamou nervoso em tom sarcástico
-Como assim ? O que quer dizer ?-perguntei confusa
-Quero dizer que eu dei um soco na cara do Richard e quebrei os dentes da frente dele -Carter explicou
-Você o que ?-perguntei incrédula, enquanto um sorriso involuntário surgiu no meu rosto
-Foi exatamente isso. Dei um soco na cara daquele maldito.- Carter disse irritado -Além de não entender absolutamente nada de navegação ele ainda perde tempo punindo aqueles que não são responsáveis pelo seu próprio infortúnio, afinal, foi ele mesmo que decidiu fazer aquele espanhol de prisioneiro. Até parece que açoitar uma sereia muda alguma coisa ! Sabe o que eu acho ? Acho que um babuíno pulguento seria melhor capitão do que aquela besta !
-Então isso quer dizer que estamos do mesmo lado agora... -falei, sorrindo
-Não, não estamos do mesmo lado. -ele negou - Foi um lapso de insanidade que me abateu por um momento quando eu o bati.
-Tá, e você acha mesmo que Richard vai lhe perdoar se você lhe pedir desculpas e se retratar dizendo que foi apenas um "lapso de insanidade" ? -indaguei irônica
-Não. Mas não custa tentar. -Carter revidou
-Custa sim, custa um tiro na testa. -respondi
-De qualquer forma, pensarei no que fazer. Agora como os prisioneiros fugiram, Richard decidiu se afastar um pouco desta localização do tesouro afundado, para não correr o risco de uma embarcação inimiga aparecer. Afinal, o espanhol sabia da nossa localização, e certamente iria relatar a mesma assim que chegasse em terra. Acho que o capitão está tentando se previnir para não ir parar na forca antes de conseguir botar as mãos em seu amado ouro.
-Ainda não acredito que bateu nele. -ri, retomando o assunto anterior -E ainda quebrou seus dentes ?! Essa vai entrar para a história !
-Ah, está se divertindo, não é? -ele indagou irônico, tentando fingir seriedade -Está bem, ria ! ria ! Vai ser muito divertido quando ele descer aqui e dar um tiro em nós dois ! Hilariante ! - o pirata começou a fingir que ria, porém no fundo dava para perceber que seu riso não era tão falso assim.
-Quem me dera não estar inconsciente para ver essa ! -comentei, sem levar a sério suas palavras
-Se tiver sorte, quem sabe antes de nos matar ele dê um sorriso para mostrar seu novo estilo...-Carter completou
Sorri ao ouvi-lo dizer seu comentário, voltando a deitar de bruços sobre a manta. O pirata olhou para mim por alguns segundos, antes de perceber o que fazia e desviar o olhar.
Ele esqueceu-se por um momento do ferimento em suas costas e se recostou contra a parede, reclamou de dor praguejando, antes de se afastar dela.
-Venha, deixe eu ver como está. -falei erguendo-me novamente, prendendo a blusa com os braços na frente do corpo
-Não precisa, estou bem. -ele se recusou
-Ande logo. -falei séria, e ele revirou os olhos antes de obedecer e se sentar na minha frente, de costas para mim.
As dez chibatadas foram severas para ele, não aparentava estar bem. Se infeccionasse o pirata não estaria em uma situação muito boa. No entanto, não tinha muito o que fazer já que eu não tinha água para lavar os ferimentos, nem ataduras.
-Deite-se aqui de barriga para baixo -falei, abrindo espaço para ele se deitar sobre a manta ao meu lado
-Cuidado, começarei a pensar que se importa comigo... -o pirata disse, antes de deitar-se em seguida
-Apesar de você ser um brutamonte, rude, ignorante, que vive me ameaçando e gritando comigo, eu não sou uma sereia desalmada... -falei fitando-o com um sorriso irônico no rosto
-Se continuar citando minhas qualidades, eu ficarei convencido...-ele comentou, abrindo um sorriso vitorioso
-Acredite, não foi um elogio -ri com a sua expressão
-Bom, para mim soa como um...
-Por ser um pirata acredito que não deva ter recebido muitos elogios em sua vida...-comentei
-E você por acaso recebe ? -ele indagou
-Claro, os marinheiros sempre me dizem que eu sou linda -falei brincando com algumas mechas do meu cabelo
-Marinheiros chamariam até mesmo uma foca de linda se ela lhes desse atenção -o pirata revidou
-Eu não dou atenção a marinheiros -rebati, olhando-o séria
-Tá, então me explique o que há entre você e aquele Jaspion o qual Richard falou -Carter indagou irônico, em tom de provocação
-Pela milésima vez, o nome dele é Jasper. E eu não vejo motivo para ter que dar explicações sobre ele para você. -respondi
-Apenas quero dizer, que se ele te chamou de linda estava mentindo, pois em terra já vi mulheres bem mais bonitas que você e com uma qualidade bem melhor; pernas.- ele riu
-Então peça para elas cuidarem das suas costas -revidei severa, desviando o olhar
-Eu não havia nem ao menos pedido para você cuidar, você que tratou de se oferecer -Carter rebateu
-Quer saber, você é o homem mais ingrato e rude que eu já conheci ! -exclamei
Neste momento, ouvimos o som de passos se aproximando. Logo temi que pudesse ser algo ruim, porém vi surgir Peter com ataduras e uma bacia com água nos braços.
-O que quer aqui seu vermezinho covarde ? -Carter indagou irritado
-Bom, eu apenas queria dizer que...-O grumete começou, como se em uma tentativa de se desculpar, porém eu o cortei:
-Nos poupe das suas palavras. -disse séria
-Não fiz aquilo por mal, apenas não queria ter o mesmo fim que vocês, só isso.- ele respondeu, abaixando o olhar -Tentem entender. O capitão mandaria me açoitar também se eu a deixasse escapar.
-Então que você aceitasse sua punição como homem, não curvasse as vontades dele como um cão e muito menos viesse aqui agora pedir perdão a nós como um cristão arrependido ! -Carter vociferou- Agora suma da minha frente ! Vamos, Suma !
O rapaz apenas colocou no chão o que trouxe, e subiu escada a cima rapidamente.
-Pegue. -pedi para Carter
-Por que eu ? -o pirata indagou como uma criança birrenta
-Porque eu não posso andar -revidei. indicando minha cauda -Pegue logo.
-Você acabou de dizer que não irá cuidar de mim, já está voltando atrás na sua decisão ? -ele indagou, indo até a bacia e passando-a pelo vão que havia debaixo da porta da cela
-Isso é para mim. Não quero que minhas feridas infeccionem. -falei enquanto ele trazia o que pedi
-Boa sorte em tentar fazer um curativo em suas próprias costas -ele riu, voltando a deitar sobre a manta
Ignorei o que ele disse, começando a tentar tratar dos ferimentos em minhas costas, porém não tinha posição e nem jeito de conseguir fazê-lo.
-Quer ajuda ? -ele perguntou com um sorriso superior
Revirei os olhos rendendo-me, apenas me virando de costas para ele em resposta.
O pirata ergueu o corpo sentando-se e em seguida começando lentamente a limpar os ferimentos. Seu toque era estranhamente delicado apesar das mãos grossas e rudes. Podia sentir o olhar dele sobre mim enquanto ele colocava as ataduras cuidadosamente, enfaixando-me o tronco.
Quando terminou, eu apenas me virei fitando-o, e fazendo sinal para o pirata se virar de costas para agora eu cuidar dos ferimentos dele.
-Como eu vou saber se você está fazendo direito ? -ele indagou resmungando, no entanto já se virando de costas -Que eu saiba sereias não entendem muito de medicina...
-Apenas me diga o que eu devo fazer que eu farei, doutor. -falei por cima de seus ombros, brincalhona.


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