Dançarina Das Marés escrita por A Garota do Capitão


Capítulo 35
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Anita demorou para acalmar-se o suficiente para conversar comigo. Eu não a culpo, deve ter passado por muita coisa em um dia só.
-Como eles a capturaram ? -ela me perguntou timidamente
-Eu fui burra, confiei em quem não devida. Agora tenho que pagar o preço. -respondi com certa melancolia na voz.
-Temos que dar um jeito de escapar daqui -disse Santiago após um tempo de silêncio
-Não há como. Richard sempre deixa alguns homens de guarda no convés, iriam atirar em vocês antes mesmo que cheguem até a amurada. -falei séria.
-Mas aquele garoto ? O grumete o qual nos falou ? -Santiago perguntou- Ele poderia ajudar...
-Peter ? Ele está mais assustado que nós. Não faria nada contra o capitão por medo de ser morto. O que certamente ocorreria se ele descobrisse. -informei
-E o que a senhorita sugere então ?- Pablo, o imediato de Santiago perguntou aproximando-se das barras.
-Eu sinceramente não sei -respondi
A tarde avançou rapidamente, e a medida em que a noite caía, mais minha fome aumentava. No entanto, eu não estava disposta a comer aquilo que me trouxeram. Por raiva, Richard mandou não darem nada aos outros prisioneiros, nem mesmo água.
Carter veio em seguida averiguar se eu já havia comido algo.
-Estou falando sério, coma já ! -ele mandou rudemente
-Não. -neguei -Só comerei se me permitir entrar na água para eu mesma pegar o que eu quero. -tentei negociar
-Sem chance ! -ele não permitiu
-Ora, comigo presa na corrente não tenho como escapar. Você mesmo a segura, eu desço como o que quero e depois volto a superfície. -argumentei
-O capitão não vai permitir isso -Carter disse sério
-É só não contar a ele -falei, fitando-o
-Richard irá mandar me açoitar se descobrir que eu estou fazendo coisas pelas suas costas. -o pirata disse
-Pois bem, então fale com ele que eu não posso pegar o resto do ouro pois estou muito fraca para nadar -revidei
-Tenho uma idéia melhor, eu mesmo coloco a comida pela sua garganta a baixo, que tal ?-ele disse severamente sarcástico
-Não tem coragem de fazer isso comigo -falei
-Ah, é ?! Me teste. -ele disse rude -Coma por bem, ou irá fazê-lo por mal.
-Por favor, Carter. -pedi calma, fitando-o nos olhos
Ele parou por um momento.
-Maldição ! -ele disse irritado, desviando o olhar -Está bem, vou ver o que posso fazer. Mas se o capitão não permitir, eu voltarei aqui e enfiarei um peixe por sua garganta a baixo.
-Obrigada, é muito gentil. -falei, dando-lhe um sorriso triste.
-E vocês, seus vermes ? Estão olhando o que ?! -Carter exclamou para os três homens da cela ao lado -Tem sorte de não terem ido parar no fundo do mar ainda, torçam para que o capitão continue de bom humor ! -então voltou seu olhar para Anita -E quanto a gracinha aqui, tenho certeza que o capitão encontrará uma boa utilidade pra ela...-Carter riu
-Se ele encostar na minha mulher, eu o mato ! -Santiago exclamou nervoso, o que fez o pirata rir ainda mais.
-Quem pode culpar o capitão ? Sabe, a ultima moça que conseguimos não é muito bem o tipo que gostamos...-ele olhou de relance para mim, fitando minha cauda -Mas a sua garota...Bom, posso dizer que ela dará um ótimo brinquedinho de viagem...-Carter desviou o olhar para Anita, rindo.
Santiago protestou como podia, porém era em vão. O pirata apenas se afastou e subiu de volta ao convés.
Voltou apenas algum tempo depois acompanhado de Peter, que abriu a cela em que eu e Anita estávamos. A moça afastou-se assustada, mantendo-se o mais longe que podia de Carter. No entanto, o que o pirata viera fazer não era a respeito dela.
-Venha, vou deixar você descer para comer algo -o pirata informou, dirigindo-se até mim -Mas já aviso, se fizer alguma bobagem vai se ver comigo.
-Não irei fazer nada. -afirmei
Carter me pegou no colo em seguida, e Peter trancou a cela logo atrás, entregando as chaves ao outro pirata que as pendurou no cinto.
Ele me levou até o convés, onde pude ver o céu escuro da noite iluminado pela lua cheia, que clareava o mar. Não havia sinal de Richard, e logo julguei que ele devia estar na cabine. No convés, apenas alguns marujos estavam trabalhando.
Carter tratou de me prender com o grilhão e colocar-me no bote que foi baixado até a água, juntamente com ele a bordo, que segurava a corrente que me prendia. Quando alcansamos a água eu rapidamente mergulhei.
Debaixo d água eu podia ver com clareza devido a luz da lua que iluminava o mar. Os destroços do Libertá pareciam espectros dançantes no leito marinho, que chegaram até a me deixar desconfortável, como se algo me espreitasse. Porém logo tratei afastar essa sensação da minha mente e pensei em meu estômago, que já doía.
Havia alguns recifes próximos, onde eu encontrei alguns crustáceos e ostras que me serviram como uma boa refeição. Depois, já me senti bem melhor, como se as forças voltassem ao meu corpo. Estar no mar novamente me fazia muito bem, refazia-me.
Voltei a superfície após sentir dois leves puxões dados por Carter na corrente.
-Se já comeu o que queria, vamos voltar a bordo. -ele disse sério
-Espere. Vamos ficar mais um pouco. -pedi, boiando de costas
-Não tenho tempo para isso, sereia. -ele resmungou
-Solara -corrigi
-Como ? -o pirata perguntou confuso
-Meu nome é Solara. -falei
-Como se isso fosse fazer alguma diferença...-Carter revirou os olhos.
-Como se tornou um pirata ?-perguntei curiosa, após uns segundos de silêncio
-Não lhe interessa. -ele repondeu rude
Calei-me, desviando o olhar. Ele respirou fundo, antes de dizer:
-Começei como um marinheiro honesto, mas logo percebi que com a pirataria conseguiria em um mês o que ganharia em um ano de trabalho honesto. Isso faz qualquer homem mudar de opinião sobre seus princípios. Trabalhei em várias embarcações, e aprendi o ofício de forma brutal. Naveguei com homens os quais nem mesmo o próprio diabo ousaria navegar com. -Carter continuou -E quando o capitão Richard apareceu mencionando esta fortuna afundada, logo vi que poderia ser um jeito fácil de lucrar alto. Por isso estou aqui.
-Você confia em Richard ? -perguntei, fitando-o
-Eu não confio em ninguém, Solara. -Carter disse sério, falando meu nome. No entanto, quando percebeu que o havia dito, tratou de se apressar; -Vamos, vamos subir de volta á bordo, sereia ! -ele mandou, puxando-me de volta ao bote, para voltar ao Destiny.


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