Dançarina Das Marés escrita por A Garota do Capitão


Capítulo 2
Som de Gaivotas




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Não sei ao certo por onde começar, talvez deva dizer primeiro o que realizei, para tentar dar uma importância maior a minha existência, mas vejo que isso pouco importa agora. Meus ouvintes não parecem ser exigentes e não estão em condições aptas a me julgar, portanto, que sentido teria a mentir para eles? A única razão lógica que vejo é que seja para tentar convencer a mim mesma de que vali a pena, e que não merecia estar aqui. Mas sinceramente, na atual situação da minha vida, prefiro morrer com honra como um peixe que nada realizou, do que como uma humana mentirosa e hipócrita.

Honestamente, o mundo da superfície nunca me chamou muito a atenção, acredito que pelo fato do mar ser tão interessante, eu acabei me perdendo nele e fechando-me para o resto do mundo. Tudo o que conheço sobre a terra foi o que ouvi secretamente de conversas de marinheiros. No início, tinha muito medo de seus navios, suas vozes altas e redes de pesca, mas depois, quando fui me aproximando, acabei por me acostumar com eles, e aquilo tudo passou a me atrair, fazendo-me errôneamente achar que era inofencivo. Devido a isso, me descuidei demais, e é aí que voltamos a minha situação atual. Teria sido mais esperta se nadasse para longe ao ver o casco de madeira de um navio pela primeira vez.

Lembro-me de como ele era grande e do som abafado que a água fazia ao bater no casco de madeira coberto de cracas. O mar estava calmo e a água clara naquela manhã, o vento soprava fraco, o que quase não produzia ondas. O navio estava tão parado e sem vida que eu quase podia julgar ser uma baleia morta. Eu já havia visto baleias grandes antes, e pensei se tratar de uma recém-morta que ainda não havia afundado nem atraído predadores. Hoje rio ao pensar em minha ingenuidade ao crer se tratar daquilo. Ouvia um som distante, parecido com o gritar agudo de gaivotas, mas ao prestar mais atenção, notei que palavras se destinguiam dentre os sons. Só mais tarde descobri se tartar do gritar de ordens dos capitães e contramestres das embarcações para acertar velas e curso apropriados.

As vezes, subia a superfície quando a noite caía para observar melhor os barcos. A maioria deles tinha mastros altos e velas brancas, que se destacavam no céu negro da noite pontilhada de estrelas. Quando a lua estava cheia, me era possível enxergar tombadilhos, convéses e amuradas, assim como marujos, grumetes e oficiais, trajados com uniformes coloridos e perucas brancas.

Com o tempo, fui percebendo as diferenças entre as embarcações, e nos tipos de homens que as tripulava, alguns falavam línguas estranhas as quais eu nunca havia ouvido, outros navegavam tanto por aqueles mares que eu já até conhecia seus respectivos navios.

Edward, Henry, Jonh, William, Peter, Jack, James... todos eles nomes os quais eu ouvia sendo chamados enquanto os espionava, secretamente abaixada proximo ao casco dos barcos mercantes e de passageiros para escutar suas histórias, reclamações e cóleras da alma. Eu não sei ao certo porque trazia-me gosto ouvi-los, talvez seja porque faziam sentir-me mais humana, ou pelo menos, acabavam com a minha solidão e me davam uma falsa sensação de companhia.


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