Dançarina Das Marés escrita por A Garota do Capitão


Capítulo 17
Marés Revoltas




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Eu nadava rápido, as ondas na superfície cresciam cada vez mais e a maré embaixo d água era forte e quase me arrastava. O céu estava completamente coberto de nuvens pesadas, e o dia estava estranhamente escuro e sombrio. Poucas vezes o mar me assustou tanto quanto naquela manhã, talvez seja porque pela primeira vez eu não preocupava-me somente comigo mesma. Logo que a chuva pesada começou a cair sobre o mar e os relâmpagos iluminavam o céu, a tempestade começou a ganhar proporção. Eu nunca nadava em meio a tempestades, sempre abrigava-me em recifes, pois mesmo para criaturas marinhas o mar pode se tornar perigoso as vezes.

Enquanto eu cortava as ondas, minha mente fervilhava em pensamentos. Jasper se encontrava na maioria deles, assim como o capitão e os tripulantes do “Libertá”. Apesar de não falar com nenhum deles exceto o Jasper, sentia-me cúmplice de certa maneira de suas ações, conhecia seus temores e suas vitórias, ouvia as conversas e estava a par do que se passava em suas mentes e corações. Estava relutante em abandona-los, para mim não simbolizavam apenas mais uma tripulação de marinheiros que seriam tragados pelo mar como as outras que já presenciara, eram mais que isso.

Parei por um momento, ouvindo o rugir do oceano que batia suas fortes ondas acima de mim. Mesmas ondas as quais estariam batendo no casco já danificado do “Libertá”, ondas que poderiam levá-lo ao fundo, assim como a seus tripulantes. Meu coração gelou, e meu corpo tremia tanto que nadar se tornara difícil.

Já havia visto muitos marinheiros morrerem afogados sem fazer nada, antes tinha medo de me arriscar salvando-os, afinal, o mais prudente era não intervir... Mas eu não queria mais ser prudente, não daquela vez. A história não se repetiria da mesma forma como sempre, eu não permitiria. Por aqueles piratas eu sentia no fundo da minha alma e com todas as escamas do meu corpo, que valia a pena me arriscar por eles, por ele.

Voltei pelo caminho que havia feito, nadava o mais rápido que podia, as ondas e a maré atrazavam-me, como se quizessem não eu não chegasse até eles. O mar parecia querer me punir, como se eu estivesse prestes a infringir uma de suas leis. Mas não recuei a sua vontade.

Quando finalmente vi a silhueta do casco do navio, subi até a superfície e a visão que tive preocupou-me ainda mais. As velas haviam sido completamente rasgadas pelo vento forte, o mastro principal havia caído sobre o convés, e metade da embarcação já estava cheia de água e afundava lentamente a cada onda forte que o atingia. Pareciam ter tentando colocar os botes ao mar, porém antes que pudessem embarcar neles, o oceano não permitira, lavando o convés com suas ondas e jogando os marujos ao mar. Eles tentavam ficar juntos, lutando contra as ondas altas para manter-se sobre a água.

–Jasper ! -exclamei seu nome, correndo o mar com os olhos para tentar encontra-lo. Não houve resposta, pois o barulho da chuva e das ondas sobrepunha a minha voz e não me tornava audível.

Alguns homens que já haviam se afogado após não conseguirem mais lutar para se manter á superfície. Via-os afundando e tratava de os puxar novamente para cima, levando-os até pedaços de destroços que flutuavam, enquanto ao mesmo tempo nadava á procura de Jasper. Os marujos se surpreendiam ao me ver, alguns deles assustando-se, porém não se afastavam, sobreviver ao mar naquele momento era a prioridade e pelo visto, qualquer ajuda era bem vinda.

Foi então que vi Lucius acompanhado de Jasper na água alguns metros longe de mim, ambos já pareciam cansados de nadar e já perdiam as forças. Mergulhei por baixo deles, segurando Jasper e o ajudando a se manter sobre a água.

–Solara !-ele exclamou ao me ver e percebi em seus olhos uma mistura de alívio e preocupação

–Onde está seu arpão ? -perguntei irônica fitando-o, esboçando um sorriso fraco

–Meu Deus ! -Lucius disse pasmo -Você tinha razão...-ele olhou para mim surpreso, antes de voltar o olhar a Jasper

–Eu disse que ela era real...

–Segure-se em mim -estendi minha mão para Lucius

Ele olhou para Jasper desconfiado, e este assentiu com a cabeça para que o companheiro fizece o que eu disse.

O outro pirata segurou minha mão e mantive ambos na superfície. Vi um dos botes flutuando a deriva próximo aos destroços do navio e nadei com os dois até ele. Jasper subiu primeiro e ajudou Lucius a sair da água em seguida.

–Vou tentar ajudar os outros, mantenha o bote próximo ao navio o máximo que puder. -disse a ambos, que pegavam os remos para tentar controlar a pequena embarcação, que era facilmente jogada pelas ondas.

–Solara, cuidado -Jasper disse sério

Assenti com a cabeça e mergulhei novamente. Embaixo d água, a maioria dos marujos já haviam se afogado e não havia mais o que fazer por eles, no entanto, logo vi Thomas, o imediato do “Libertá” afundando após não conseguir mais nadar. Segurei-o e o puxei até a superfície. Emergimos próximo de onde o contramestre segurava-se em um pedaço de madeira e exclamava preocupado o nome do outro pirata que afundara. Eu mesma o havia ajudado a chegar lá antes, e ao me ver novamente, uma expressão de alívio surgiu em seus olhos. Nadei até ele, que ajudou-me com Thomas, segurando-o para fora d água.

–Viu o capitão ? -perguntei preocupada

–Não -ele respondeu-me sério

–Está bem, o que importa agora é sairem da água. Venha comigo, vou ajudar os dois a chegarem ao bote -disse segurando a mão do contramestre, que segurava Thomas inconsciente com a cabeça fora da água da melhor forma que podia.

A força da água era grande e tive que lutar contra a maré e as ondas para chegar com ambos até Lucius e Jasper. Quando finalmente os alcansei, os músculos da minha cauda doiam tanto que eu mal aguentava nadar. Os dois os ajudaram a subir a bordo, enquanto eu me apoiava na pequena embarcação, tentando me manter na superfície.

–Não encontro o capitão -disse para Jasper, sentindo o ar faltar-me e meu corpo latejar

–Isso não importa agora, suba á bordo -ele mandou percebendo meu cansaço, fazendo sinal para eu juntar-me a eles.

Olhei para água por um momento, pensando no que fazer.

–Não posso deixá-lo, Jasper...-falei, fazendo meus olhos encontrarem-se com os dele novamente.

A chuva ainda caía forte sobre nós, eu podia ver o medo nos olhos dos homens, eles não tinham mais esperança de ver mais ninguem dali vivo, continuar parecia ser inútil.

–Me obedeça Solara, vai acabar morrendo afogada -o pirata disse sério

–Da ultima vez que vi o capitão, ele estava no convés, mas agora o navio já está praticamente todo inundado, provavelmente já deve ter se afogado, senhorita -disse Lucius, advertindo-me - Melhor fazer o que Jasper diz...

Olhei por entre as ondas altas, vendo o que restava flutuando do convés do Libertá, que estava a alguns metros de distância de nós, afundando mais a cada minuto.

Mesmo com os protestos de Jasper, mergulhei novamente nadando com dificuldade até lá. Passei pela amurada destruída, e percorri o convés, onde a água já batia no peito.

–Richard ! -exclamei preocupada, olhando em volta, precisava segurar-me na embarcação para não ser levada quando ondas mais fortes acertavam o navio, e devido a isso, era ainda mais difícil a tarefa de encontrar o capitão. Quando estava quase para desistir, imaginando que ele já haveria de ter se afogado, finalmente o vi.

Richard estava com a perna presa por uma corda, e a água já estava quase ultrapassando seu pescoço, enquanto ele tentava inutilmente se soltar desembolando-a, que parecia enrrolar-se ainda mais nele como uma serpente marinha a cada movimento que o pirata fazia para se desvencilhar.

Fui ao seu encontro, mergulhando para tentar soltar a corda que o prendia, porém não tive mais sucesso que ele. Passei meus braços ao seu redor, ajudando-o a se manter com a cabeça fora d água para respirar.

–Está tudo bem capitão, vou ajudá-lo a sair -disse fitando-o em seus olhos preocupados. Tentei passar-lhe calma, porém eu estava tão assustada quanto ele. O pirata surpreendeu-se ao colocar os olhos em mim, no entanto, não hesitou em aceitar minha ajuda.

–Não consigo me soltar !-ele disse sério puxando a perna, tentando libertar-se.

A água subira ainda mais, inundando completamente a embarcação. Em alguns minutos, tudo iria ao fundo.

–Fique parado e prenda a respiração, eu tentarei cortar a corda - o informei, puxando minha faca e submergindo novamente ao seu lado.

O capitão fez o que eu disse, o que afroxou a corda e eu pude cortá-la, libertando-o. Ele respirou ofegante ao voltar a superfície. Estava cansado e lutava para se manter respirando.

–Segure-se em mim -disse aferecendo-lhe minha mão

Ele segurou-a fortemente com sua mão coberta de anéis. Lutei contra as ondas que nos jogavam de um lado para o outro com facilidade, tentava desesperadamente chegar até o bote com ele, enquanto ouvia Jasper gritar o meu nome ao longe e os outros marujos tentando controlar a pequena embarcação, para que ela não se afastasse demais de onde estávamos.

Todos os músculos do meu corpo doíam de tanto nadar contra a força da água, eu estava extremamente cansada e mal conseguia manter-nos na superfície. Richard ajudava-me, batendo as pernas o mais rápido que podia, mas aquilo era de pouca valia devido a força do mar. Quanto mais nadava, mais distante pareciamos estar. Meu corpo estava tão pesado, que eu sentia que iria afundar. Usei as ultimas forças que tinha, para finalmente chegar de encontro ao bote.

Richard foi ajudado pelos homens a subir á bordo. No entanto, eu mal conseguia manter-me flutuando, minha respiração estava ofegante, o ar parecia faltar-me, então sem ter mais de onde tirar forças, deixei meu corpo afundar, sentia-me agora sem peso com a água ao meu redor. Meu corpo ia de encontro ao fundo e eu não lutava contra, apenas esperava inerte que chegasse a areia no leito, que para minha surpresa, não veio de encontro a mim.

Antes que pudesse afundar mais, senti braços segurarem-me fortemente pela cintura e me puxarem para cima novamente. Ao chegar a superfície, vi Jasper levando-me em direção ao bote.

–Ajudem-me aqui -o pirata disse para os homens

Richard e o contramestre rapidamente ajudaram, segurando-me pelos braços, e puxando-me para dentro da embarcação, enquanto ao mesmo tempo, Lucius dava a mão a Jasper para subir á bordo.

–Você está bem ? -o pirata perguntou-me ofegante, após embarcar.

–Estou. -respondi, fitando-o exausta

–Quem tem fôlego de golfinho morto agora ?-ele deu um sorriso convencido de sempre.



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