Dançarina Das Marés escrita por A Garota do Capitão


Capítulo 15
Calmaria




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O espartilho que Jasper conseguira para mim no porão do “Libertá”, era vermelho-vinho vivo com detalhes em renda preta bem trabalhado. Tinha caimento justo no corpo, e deixava os ombros nus, formando um belo decote na frente e um trançado elegante nas costas após apertado.

Mal me reconheci após vesti-lo. Ele valorizava as curvas do meu corpo de uma forma diferente, mais sofisticada. Da cintura para cima, eu não me sentia mais uma sereia, mas sim uma daquelas belas mulheres que eu via retratadas nas figuras de prôa dos navios que tanto admirava. O colar de rubis que usava no pescoço combinou perfeitamente com o que eu trajava.

–E então ?-perguntei a Jasper, boiando de costas próxima ao bote

–Não ficou ruim...mas preferia mais antes...-o pirata riu provocador

Ignorei seu comentário, sentindo o que eu travaja me atrapalhar enquanto nadava.

–Detesto admitir...-comentei fitando-o - mas isso me aperta demais...-confessei

–Venha aqui, eu dou um jeito -ele disse fazendo sinal para que eu me aproximasse, puxando sua adaga do cinto em seguida

–O que vai fazer ? -perguntei desconfiada, olhando em seus olhos castanhos

–Venha logo, não vou te matar. Se fosse, já teria feito a muito tempo...

–Fico bem mais tranquila agora...-disse irônica, porém me aproximei do bote no qual ele estava.

O pirata se curvou em minha direção.

–Posso? -ele perguntou, indicando meu espartilho com a cabeça. Antes mesmo que eu pudesse responder, o pirata usou a adaga para desfazer a costura da parte inferior do espartilho, rasgando em seguida o pano na horizontal e cortando-o, deixando minha barriga á mostra.

O decote continuava belo e elegante na parte superior do corpo, no entanto, a parte que me atrapalhava a qual cobria minha cintura, Jasper cortou, liberando meus movimentos.

–E então ?-ele perguntou com o pano que sobrara em mãos -Está melhor ?

–Considerávelmente melhor, obrigada. -admiti sorrindo surpresa -Ah, já ia me esquecendo...-lembrei-me, entregando-o uma concha de ostra fechada em seguida.

–O que é isso? -Jasper perguntou confuso, com ela em mãos

–Abra -mandei sorrindo

Ele usou a adaga para fazê-lo, e quando viu seu conteúdo, se surpreendeu.

–Onde conseguiu ?-ele perguntou-me, pegando a pérola negra nas mãos e admirando seu tamanho

–Já disse que tenho meus segredos...-respondi

–Vou guardar com carinho, para me lembrar de você sempre que olhar para ela -ele disse sorrindo, voltando os olhos para mim

–Que nada, sei que vai vendê-la no próximo porto -brinquei, provocando-o

–É, essa também é uma boa opção...-o pirata concordou, colocando-a no bolso interno do casaco. -É melhor eu voltar á bordo antes que começem a me perguntar o que tanto limpo nesse casco, já que consigo até ver meu reflexo na madeira! -Jasper disse exagerado, por essa ser a desculpa mais usada para poder conversar comigo de perto.

–Au revoir.- me despedi dele, acenando brincalhona com a minha cauda

–Fique longe dos tubarões, hein -ele aconselhou-me rindo

–Não prometo nada...-falei, antes de mergulhar novamente e desaparecer de sua vista

Atualmente, ao pensar em Jasper, sinto tantas coisas que mal posso discernir. Alguns diriam que foi culpa dele por eu estar na minha situção atual, porém ao meu ver, a coragem que aquele pirata me deu para eu ser eu mesma, valeu seu preço. Neste momento, se o tubarão sobre o qual brincávamos viesse, ele me pouparia de sofrer meu destino doloroso quando a rede fosse puxada, mas eu sei que não virá, tenho de enfrentar meu destino de qualquer maneira...Apenas espero que meu fôlego acabe antes que eles tirem-me da água, afinal morrer afogada parece ser bem menos pior para mim. No entanto, enquanto espero, melhor continuar a narrar minha história...

Desde pequena, sempre fui ensinada que quando há muito tempo de calmaria sobre o oceano, brisas fracas e ondas pequenas, isso é apenas uma brincadeira feita pelo mar para enganar seus habitantes, escondendo que algo mais perigoso e fatal pode estar por vir de suas profundezas...algo tão forte que pode reclamar para si todos os seres, navios e homens que estiverem em seu caminho.


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