Acordei no outro dia cansada e indisposta, Ciel estava certo, eu havia ficado resfriada depois daquele dia de chuva.

Desci alguns degraus, e dei de cara com a empregada ruiva e baixinha, se equilibrando na cadeira para ajeitar as cortinas azuis de uma das janelas nos corredores principais.

–Meirin. –Chamei, com a cara amassada de sono e nariz vermelho. Resfriada? Com certeza.

–S-Sim, Lady Alice . –Ela disse, perdendo o equilíbrio e quase caindo.

–Tome mais cuidado, por favor. –Disse, segurando a cadeira. –Sabe, pode avisar a Ciel que irei ficar de repouso hoje? Acabei ficando resfriada.

–Sim, L-Lady Alice, comunicarei a Sebastian para que ele leve a notícia até Ciel. –Ela disse, descendo da cadeira de madeira que estava a ajudando a arrumar as cortinas.

–Não. Não precisa avisar nada a Sebastian, conte diretamente a Ciel, por favor, Meirin . –Eu disse, pensando em ontem e lembrando, que mais tarde eu tenho que ter uma conversa com ele. Mas não quero que ele me veja doente. Seria...Desconfortável pra mim.

–Como quiser, Lady. –Ela disse, sorrindo e ajeitando seus óculos de alto grau.

–Obrigada. –Agradeci e andei em direção a meu quarto.

Eu me sentia muito fraca a cada passo. Então, estava quase chegando no quarto, acabei desmaiando.

Eu não era fraca o tempo inteiro, mas com tantas coisas acontecendo, não poderia evitar. Cansaço, estresse, Sebastian e Ciel. Eram meus problemas principais.

Não sei por quanto tempo fiquei desacordada e quando estava despertando, por um olhar embaçado, consegui ver alguém, com cabelos negros.

–Demorou para acordar, Alice. –Uma voz grossa e limpa disse.

Minha visão melhorou um pouco, e consegui ver quem era.

–Se...bastian? –Disse, inclinando a cabeça para o lado.

–É, parece que acertou o meu nome. –Ele disse, brincando um pouco.-Bem, sua febre diminuiu, acabou ficando resfriada...Ninguém mandou sair ontem naquela chuva.

–Você...estava mesmo lá, não é ? –Perguntei desviando o olhar e lembrando da imagem que vi de Sebastian.

–Eu estava. –Ele desviou seus olhos rubros. –Posso contar uma coisa, Alice? –Ele perguntou, ainda sentado do meu lado ,em quanto eu estava deitada.

–Pode...Sebastian. –Disse, olhando-o.

–Eu não...gostei de ontem. Do que vi ontem. –Sebastian disse, ainda olhando para baixo.

–O-O que exatamente você viu? –Perguntei.

–Você beijando meu Jovem Mestre. –Ele disse.

–Sebastian...Bem, isso não foi alg- Fui interrompida por ele.

–Por favor, Alice. –Ele disse, sorrindo torto. –Você não precisa me dar explicações, você é noiva dele. E eu...sou só um ser...sujo. Um demônio , nojento e desprezível, condenado a servir outro demônio. Por toda a eternidade.

–Não diga isso, Sebastian. Você não é sujo, nojento e desprezível. O que te faz pensar assim? -Disse, indignada.

Ele passou a mão em meus cabelos.

–Nada. Apenas esqueça isso... –Ele disse, levantando-se e andando em direção a porta. –Creio que não respeitei a sua vontade de não me ver, então, me perdoe. Mandarei algum dos empregados trazer seu café. E comunicarei ao meu Jovem Mestre sua indisposição.

Então, ele saiu do quarto e eu fiquei olhando para o nada, ainda com febre.

–Sebastian...

Levantei-me, com febre mesmo, e andei com dificuldade até a cozinha, onde Sebastian estava.

Eu andei com dificuldades, e me encostei na porta.

–Lady Alice! Não deveria estar aqui, você está com a febre muito alta .-Disse Sebastian, chegando perto e me segurando, como um abraço, quente e confortável.

–Sebastian, porque faz isso consigo mesmo? -Disse, enquanto minha visão ficava escura e...

Bem, eu acordei da mesma forma de antes, só que...Eu estava com a cabeça no colo de Sebastian, e com um pano úmido na testa.

–Finalmente acordou... Será que não sabe ter responsabilidades? –Ele perguntou.

–Ah...Cale-se chifrudo. –Disse, brincando um pouco.

–Não me chame assim, me magoa profundamente. –O demônio disse, fazendo um bico irresistível.

Eu sorri, desviei o olhar e perguntei novamente.

–Sebastian...Porque diz aquelas coisas pra si mesmo? –Perguntei, mudando a expressão.

–Alice... quando Ciel resolveu o casamento dele contigo, eu pensei que você seria minha forma de escapar. –Ele disse, levantando-se. –Você não merece saber isso ainda. Eu preciso...Te preservar.

–E a história de demônios ? Você...E ... Ciel? -Perguntei, finalmente ficando com um pouco de medo.

Os olhos de Sebastian ficaram mais vermelhos do que o normal, era um brilho diferente e totalmente infernal.

–Apenas...Acredite. –Ele falou, sorrindo.

Eu não sei como eu acabei aqui, envolvida com dois demônios.

Não sei como beijei Ciel ontem e como me apaixonei por Sebastian.

Minha vida virou totalmente de cabeça para baixo desde que minha avó decidiu fazer aquela viagem.

Eu realmente, acho que não conheço o suficiente sobre eles, e isso, complica ainda mais essa paixão demoníaca.