Rise Again escrita por Fanie_Writer


Capítulo 25
Capítulo 25


Notas iniciais do capítulo

Olá meus tributos amados!

Dessa vez não vou chamá-los de rebeldes, porque a rebelde fui eu né?

Me perdoem pela demora na postagem! Me perdoem mesmo! Primeiro eu atrasei por desânimo com umas coisas que aconteceram na minha vida offline... Mas aí quando eu resolvi que uma coisa não tinha nada a ver com a outra, decidi mudar uma coisinha no capítulo... Na vdd, foi mais é um acréscimo, mas eu explico isso nas notas finais.

O importante é que tem Rise Again pra vocês e eu gostaria de dedicar esse capítulo a cada um e todos vocês, meus leitores! Em especial às Team Peeta que recentemente leram a fic e disseram estar gostando! É uma honra escrever para todos vocês e uma honra maior ainda saber que estou agradando vocês, independente de quem seja seus personagens favoritos!

Então, tenham uma boa leitura e nos vemos nas notas finais!



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– Se o senhor não ficar quieto, serei obrigada a aplicar anestesia geral. – a médica que cutucava meu ouvido reclamou.

– Eu já disse que eu estou bem.

A médica olhou para a minha guarda à porta da ambulância. Katniss meneou a cabeça para os lados, sinalizando-a a continuar com o atendimento.

Depois que levaram Garry para o Corredor, tentei ir atrás, mas assim que cruzei com Katniss, ela me obrigou a receber atendimento médico. Tentei resistir, mas quando dei as costas, ela me ameaçou com seu arco Mockingjay.

– Eu estou louca para usá-lo, Gale. Então não me obrigue a usá-lo contra sua perna. – quando me virei para encará-la, ela realmente mantinha a mira contra mim.

Agora ela estava diante de mim, na porta da ambulância, numa inversão de papeis que seria engraçada se não fosse tão irritante.

– Nunca mais faça uma idiotice dessas. – ela resmungou após vários minutos de silêncio, apenas me fuzilando com uma carranca séria.

– Foi graças à minha idiotice que conseguimos um informante.

– Ok, parabéns por isso. Mas não precisava se arriscar para tentar bancar o herói.

– Eu agradeço sua preocupação, Katniss. Mas você está exagerando.

Num movimento só, ela subiu na ambulância, me puxou pela alça do colete e apontou o dedo indicador contra meu rosto. A médica bufou irritada, mas ficou aguardando para terminar de consertar meu ouvido.

– Você não sabe o que eu senti quando te vi ensanguentado após o tiro ou quase sem respirar depois que te encontraram no Arsenal. Então não venha me dizer que estou exagerando!

Dizendo isso ela me soltou e virou de costas. A médica voltou a cutucar meu ouvido com pinças e pistolas cirúrgicas, mas eu agora prestava atenção na reação de Katniss.

Ela desceu, se apoiou contra a porta da ambulância por cinco segundos, ameaçou ir embora e então puxou o ar com força para dar um gancho de direita contra a maçaneta antes de voltar a me encarar.

Sua íris cinza estava com reflexos úmidos de lágrimas que se acumulavam, mas que ela lutava em não deixá-las cair. Abrir a boca para me defender seria inútil com ela naquele estado.

– É sério, Gale... Você não pode mentir mais para mim e se arriscar desse jeito. Já não está sendo fácil lidar com a ideia de ver todo mundo morrendo por minha causa. Tudo acontecendo de novo. E eu ainda tenho que me preocupar em não pirar com a possibilidade de te perder também. Eu já perdi tudo, já perdi Prim, já perdi Peeta... Não posso te perder.

Quando ela disse a última frase, não passou de um ofego cansado. Mas sua voz ecoou alto dentro de mim, fazendo algo em mim se quebrar.

Eu deveria estar horrível com o pescoço pendurado feito uma coruja, mas lhe ofereci o meu mais sincero olhar.

– Me desculpe. – sussurrei. – Eu odiei mentir pra você. Mas eu tive que fazer.

Katniss permaneceu com seu olhar duro por um segundo. Apenas um segundo e então ela deixou os ombros caírem.

Ela subiu na ambulância e se jogou no assento perto de uma prateleira de medicamentos. Meu quepe e meu arco, que antes estavam no assento, agora estavam em suas mãos e nossos joelhos se encontravam, mas por um longo minuto os únicos sons eram dos equipamentos que a médica usava em meu ouvido.

– E se fosse o contrário? – Katniss perguntou – Se fosse eu lá naquele palco, em pé como um alvo vivo, o que você teria feito? – ela olhou para mim. Sua cabeça tombou meio para o lado, imitando a posição da minha, como se isso a ajudasse a encontrar meus olhos com mais facilidade.

– Eu não teria ficado só na ameaça como você fez e teria atirado na sua perna. – bati meu joelho no dela.

Seu lábio se curvou num sorriso que ela nitidamente não queria que tivesse escapado. Mas então depois ela sorriu mais largamente.

– Eu deveria ter tido essa ideia antes. – ela chutou meu pé com a ponta da sua bota – E deveria ter realmente atirado.

Isso, tecnicamente, não significava que ela tinha me perdoado por mentir para ela. Mas era um sinal de que ela havia aceitado meus argumentos. Ou pelo menos entendia.

– Somos uma bela dupla de egoístas e covardes. – repeti o que ela disse na AC Quatro, quando relembramos que nenhum de nós cumprimos com o combinado de atirar um no outro. Mesmo se a vida um do outro dependesse disso.

Katniss fez um som com a boca, deixando o ar escapar num misto de riso e lufada cansada. Depois disso ficou em silêncio, deixando a médica trabalhar em paz em mim.

Quando a médica terminou, eu me sentia como se estivesse ouvindo em baixo d’água. Ela explicou que era efeito da anestesia local e que quando passasse eu precisaria ir até um especialista no Capitol para a restauração completa.

– O que acontece agora? – Katniss perguntou da porta da ambulância, com o olhar perdido no tumulto na praça enquanto eu pegava minhas coisas e agradecia à médica.

Depois que o campo eletromagnético da Ratoeira foi desligado e as pessoas se acalmaram o suficiente para entender o que aconteceu, a imprensa reassumiu o controle e tentava conseguir o máximo de imagens e informações sobre a operação.

– Paylor já deve saber sobre o Garry. Preciso chegar ao Corredor para interrogá-lo antes dela. – saltei do veículo, seguindo em direção ao caminhão militar que nos aguardava.

– Eu ainda não estou acreditando que ele fez tudo aquilo... Os vídeos. Plutarch.

– Não foi ele que matou Plutarch.

– Como sabe?

– Eu não sei ainda o que o levou a ajudar a invadir a rede e transmitir aqueles vídeos ou atacar hoje na praça, mas eu sinto que ele é apenas uma peça de um jogo muito maior. – falei o mais baixo que consegui.

– Então isso ainda não acabou?

– Garry era apenas um peão. Acho que ainda deve ter muitas peças nesse tabuleiro, mas ter perdido alguém tão importante é algo que, certamente esses terroristas não esperavam.

– Você acha que eles vão revidar o ataque de hoje.

Não foi uma pergunta, mas eu acenei positivamente com a cabeça, sem dizer mais nenhuma palavra. Apoiei minha mão na base das costas dela, a ajudando a subir no caminhão que nos levaria de volta à Noz, dando o assunto por encerrado momentaneamente.

A cidade estava em polvorosa com o que aconteceu. Durante o percurso percebi que os comerciantes desinformados que não faziam ideia do que tinha acontecido na praça resolveram fechar seus estabelecimentos. A mesma confusão estava estampada nas expressões de cidadãos comuns do Dois enquanto mais veículos da imprensa chegavam para apurar o que realmente tinha acontecido.

Quando ultrapassamos a barreira de repórteres que ficou de prontidão na Noz, percebi, ainda de dentro do caminhão militar, que havia um aerobarco na área de pouso emergencial. Ao nos aproximarmos, vi o emblema do Capitol que indicava que aquele não era um aerobarco qualquer.

– Equipe alfa, atualize Comando sobre situação do prisioneiro. – pedi no comunicador e Katniss e os outros Mockingjays olharam atentos para mim.

– Equipe Alfa para Comando: O prisioneiro já está no Corredor. A Presidente Paylor se aproxima do perímetro.

– Mantenham posições e impeçam o acesso da presidente ao prisioneiro.

– Alfa para Comando: instruções impossíveis de serem executadas.

Respirei fundo e tentei ser mais firme.

– Comando para Alfa: Mantenham posições e não deixem a presidente entrar na cela. Já estou a caminho. Comando desliga.

– Quanto tempo até a Presidente furar o bloqueio? – Johanna perguntou.

– Não muito. – respondi no instante em que o caminhão parou. – Vou deixar que vocês acompanhem o interrogatório, mas vocês não podem interferir em nada. Não importa o que vejam ou ouçam dentro daquela cela, entendido? – orientei olhando para cada um deles. Todos concordaram com um aceno de cabeça.

Segui o mais rápido que pude até o Corredor, o sistema carcerário da Noz, que ficava nos subterrâneos. No meio do caminho ouvi Katniss tentando buscar informações com a escolta de seus filhos para saber como eles estavam, mas no nível onde estávamos havia picos de interferência nos sinais de comunicação.

Quando ela desistiu de tentar entender o que os soldados falavam entre os chiados e palavras cortadas, tentei lhe dar um sorriso para que ela se sentisse melhor quanto a segurança das crianças. Não sei se funcionou porque nesse instante o último elevador que pegamos abriu as portas e ouvi o barulho de uma discussão.

A voz da presidente Paylor se sobressaia no tumulto, ecoando nas paredes cheias de infiltração do Corredor.

– Como você ousou me impedir de entrar nessa cela? – ela atacou assim que me viu – Não importa quantas medalhas você tenha ou quantas vezes tenha salvado Panem, eu ainda sou a autoridade máxima desse país!

– Com todo o respeito, mas são as minhas medalhas e a experiência que adquiri salvando Panem que me fizeram impedir que a senhora entrasse. Não posso permitir que interfira no interrogatório.

Eu tentei falar de maneira mais firme, mas o mais profissional possível para acalmar os ânimos. Mas aquilo apenas deixou Paylor ainda mais exasperada.

Eu nunca a vi dessa maneira.

– Não pode?! Ok, não pode. Quero ver quem vai me impedir. – ela riu de maneira raivosa, sem humor algum e então tentou furar o bloqueio de soldados à porta da cela de Garry.

Os soldados se mantiveram firmes num primeiro momento, mas quando perceberam que a presidente não estava disposta a desistir – o que poderia colocar o posto de cada um deles, inclusive o meu, em risco –, eles abriram passagem.

Segui atrás dela e os tributos entraram comigo.

Garry estava em uma cela diferente daquela que foi utilizada para prender o suspeito do último ataque na praça. Mas todos os cubículos se assemelhavam de alguma maneira.

As mesmas paredes reforçadas, as mesmas câmeras nos mesmos lugares, a mesma mesa com utensílios para a aquisição de informações.

Quando Garry viu Paylor entrando, se ajeitou em seu lugar e vi o que poderia ser o mais próximo de arrependimento que ele poderia expressar.

Havia um filete de sangue que escorria pelo canto da boca dele, indicando que o dente com solução venenosa que ele tentou utilizar para cometer suicídio fora removido. A flecha que eu havia atirado no ombro dele foi partida ao meio e isso parecia estar bem incômodo, já que o círculo de sangue em sua camisa parecia mais brilhante e pulsante a cada movimento.

– Paylor, eu posso te explicar exatamente o que aconteceu. – Garry se moveu, tentando encontrar uma posição cômoda para as algemas, a dor no ombro e uma melhor visão do rosto da presidente. – Apenas eu e você. Tira essa gente toda daqui que eu te explico exatamente quais foram meus motivos.

Paylor caminhou alguns passos adiante. Por um momento eu pensei que ela cederia a ele, mas a maneira como seus punhos estavam cerrados e trêmulos me indicaram que a última coisa que ela pretendia fazer era abrir brechas para mais mentiras.

O que eu não previ foi o golpe certeiro que ela desferiu contra o queixo de Garry.

Passado o choque inicial – e a vontade que me deu de aplaudi-la pelo ato –, fiz um sinal para que dois soldados a afastassem de Garry antes que ela decidisse continuar descontando sua raiva e decepção.

Mas Paylor era muito forte e foi preciso que eu ajudasse os soldados a afastá-la.

– Era por isso que eu não queria te deixar entrar. Há envolvimento sentimental entre vocês e talvez seja melhor...

– Não me venha dizer o que vai ser melhor para mim, comandante Hawthorne! Se você me colocar para fora dessa cela eu juro que vou assinar sua baixa assim que esse cretino for executado!

Segurei mais firme em seus ombros, dando uma firme chacoalhada nela e não me deixei intimidar. Ok, ela era a presidente e isso era um tipo de desacato. Mas a água acumulada em seus olhos me mostrou que ela ainda era, acima de tudo, uma mulher e estava perdendo o controle da razão diante da mágoa e decepção por ter sido enganada pelo homem que amava.

– Presidente, pode ter certeza que quando tudo isso acabar eu mesmo vou te entregar meu pedido de baixa. – Isso a fez parar – Mas apenas quando todos os responsáveis por esses atentados estiverem presos. Para isso eu preciso da sua cooperação e compreensão. Temos um trabalho a fazer aqui e não posso permitir que a senhora fique, se eu perceber que está perdendo o controle.

Paylor respirou fundo, segurou em meus braços e então os empurrou para longe de seus ombros. Depois ela olhou para cada um dos soldados que a segurava e eles prontamente a soltaram e voltaram para suas posições.

– Ok. Prossiga, comandante. – ela disse, voltando a retomar a postura firme e segura de combatente que eu conhecia e admirava.

Dei uma última olhada nela e, quando me senti seguro de que ela não atrapalharia meu interrogatório, me virei para Garry.

– Você conhece os procedimentos para esse tipo de situação Garry. – tentei usar do tom amigável, porque tentar ser duro logo de cara deixaria todo mundo ainda mais tenso.

Garry balançou a cabeça para os lados, fazendo uma careta que não soube dizer se era de dor ou de desprezo pela minha oferta de facilitação.

Seus olhos vasculharam os rostos em toda a sala, olhando para cada Mockingjay, para Paylor e cada soldado da escolta.

– A única maneira de sair dessa é falando a verdade, Garry. – disse.

– Vá em frente, garoto... – Garry endureceu sua expressão e voltou a me olhar. Uma bola de cuspe e sangue estourou contra minha bota, respingando em minha calça, quando ele desprezou minha tentativa de ser diplomático – É isso mesmo o que você quer fazer não é? Mostrar o quão eficiente você é, não é? Você pode usar esse uniforme, pode se armar todo, mas para mim não passa de um garoto medíocre que não suportava mais sustentar sua família de pobres e esfomeados do Distrito Do...

O estalo de osso contra osso ecoou na cela, quebrando o breve silêncio deixado pela frase inacabada. Mas isso só me fez mover o punho da mandíbula de Garry em direção ao seu estômago.

As correntes tilintaram e cortaram a carne dos pulsos de Garry enquanto ele se curvava sobre o tronco, gemendo de dor e arquejando por ar.

A raiva ainda fluía quente em minhas veias, as palavras ofensivas de Garry reverberando em minha cabeça. Eu estava me lixando para o que esse cretino dissesse de mim. Esses cretinos sempre diriam coisas a meu respeito. Mas não admitiria que um rato como Garry ofendesse minha família.

Caminhei até a mesa onde repousavam alinhados o material que oficialmente era chamado de Equipamento para Aquisição de Informações. Mas eu estava impaciente demais para termos técnicos, então peguei um dos alicates que usávamos para tortura.

Parecia que a sala estava obscurecida em minha visão e tudo o que eu via era Garry e a raiva que me cegava.

Apertei as bochechas de Garry. Em uma situação normal, aquilo machucaria. Mas Garry teve um dente arrancado, levou um soco de Paylor e – com o grito que ele deu sob meu aperto – posso jurar que trinquei sua mandíbula.

Quando ele abriu a boca, pincei a língua dele com o alicate.

Seus gritos ecoavam pelo Corredor e se eu não soubesse que as paredes eram reforçadas e que estávamos bem fundo no subterrâneo, me preocuparia em como as pessoas na Noz reagiriam a esses berros.

– Eu realmente preciso que você comece a falar tudo o que sabe, mas há sempre a opção de te fazer escrever. Hein, Garry? – apertei um pouco mais o alicate e surgiu um filete de sangue em sua língua – Gostaria de passar o tempo que te resta de vida, o que aliás não vai ser muito, como um Avox?

Ele mexeu a boca e sua garganta emitiu sons desconexos misturados aos gemidos e gritos de dor. Aliviei o aperto do alicate, mas continuei segurando o seu rosto.

– Você não sabe com quem está lidando, garoto.

Teria soado ameaçador, se Garry não estivesse com a aparência tão miserável e com a boca contorcida como a de um peixe em um aquário.

– Então por que você não me diz com quem eu estou lidando?

Perguntei.

E ali, tão perto de Garry, pude ver quando suas sobrancelhas se uniram seu olho se encheu de água.

Mas antes que eu pudesse sequer abrir a boca para mandar ele parar com a encenação, três sons atrapalharam minha linha de raciocínio.

Pá-tu-dum.

A cela inteira estremeceu, as paredes de aço reforçado vibrando como folhas de papel. As luzes piscaram, apagaram por um instante e retornaram com metade de sua potência.

Tudo em míseros três segundos que pareceram três horas antes de uma nuvem de poeira invadir o Corredor e tomar os blocos de celas, nos engolindo em uma densa cortina de fumaça e pó.

– O que foi isso?

A voz de Paylor destacou na sequência de ecos da mesma pergunta.

Minha mão já estava no rádio comunicador, na esperança de ter sinal suficiente em meio a esse caos para me conectar com o Centro de Comando no primeiro nível. Mas a resposta à pergunta que todos fazíamos não veio do rádio comunicador.

Veio de Garry:

– Isso foi uma implosão. Até onde eu sei, apenas os setores leste e norte da Noz foram afetados. Vocês têm cinco minutos até que os pilares sejam implodidos.

Garry tombou a cabeça contra o peito, como se dizer isso tivesse roubado energia que ele estivesse tentando manter guardada.

Olhei para os lados, tentando identificar onde Paylor estava para ver a expressão dela e tentar entender se o que o traidor dizia era verdade ou não. Tudo o que encontrei foram silhuetas encobertas pela grossa camada de fumaça que custava a dissipar aqui no subterrâneo.

Mas, como que para confirmar o que Garry tinha dito, a sirene soou quatro vezes. E então uma vez mais longa. E mais quatro vezes.

Era o sinal de bombardeio.

Eu estava preso na armadilha que eu mesmo criei tantos anos atrás para a Noz.

Só que eu não tinha tempo para pensar em ironias.

Imediatamente ordenei aos soldados e aos tributos que colocassem seus dispositivos de respiro que funcionavam como máscaras de gás portáteis. Quando terminei de dar a ordem, cacei o dispsitivo nos milhões de bolsos do meu uniforme e coloquei o meu próprio respirador, lutando contra o pó que arranhava minha garganta rumo aos meus pulmões recém agredidos com gás tóxico.

Feito isso, acionei o holo em meu pulso para mostrar a saída de emergência pela qual eles deveriam escoltar a presidente e os Mockingjays.

A luz azul e verde das projeções aliviou um pouco a escuridão da luz alimentada pelos geradores e pela fumaça.

E essa era a vantagem de ter tido a ideia de detonar com a Noz antes, porque deu a chance de prepará-los para esse tipo de ataque surpresa. Todos os sistemas foram melhorados ao longo dos anos e, na reconstrução, os pilares foram reestruturados com o que de melhor a tecnologia poderia proporcionar: uma liga de concreto, ósmio e nanotitânio.

Mas mesmo com tudo isso, até onde eu sabia, a Noz foi reprojetada para dar tempo de escape aos habitantes durante um ataque como aquele que eu idealizei durante a Grande Revolta. Tempo de escape e não não de resistência estrutural.

E se Garry estava falando a verdade, tínhamos menos de cinco minutos até implodirem os pilares e tudo vir a baixo.

Pelo sistema de transmissão de dados wireless, transmiti o mapa das rotas de emergência para o soldado que estava mais próximo de mim.

Um soldado perguntou:

- O que faremos com ele, senhor?

Olhei para a direção onde deixei Garry, sem conseguir enxergá-lo na escuridão. Antes que eu pudesse dizer para deixá-lo esquecido onde estava, Garry disse:

- A chave, comandante. - ele ofegou e tossiu - A chave está bem diante dos seus olhos.

O holo apitou.

Assim que a transferência foi concluída segundos depois, a tela do holo iluminou o rosto do soldado a quem eu havia dado a segurança da presidente e dos Mockingjays e eu me esqueci definitivamente de Garry.

Tentei voltar atrás e mandar o tenente Iran Blake calar a boca e não ficar dando ordens para os meus soldados, mas ele já seguia pelo túnel que levaria ao sistema de esgotos, com a escolta da presidente logo atrás.

Nesse mesmo momento ouvi a voz de Haymitch no meio daquele caos. Usei meu ouvido bom para seguí-lo.

– Não seja estúpida, eu tenho certeza de que eles estão em segurança! Agora venha!

Pelas formas indistintas entre a fumaça, vi ele tentando puxar Katniss pelo braço. A reconheci pelo movimento que sua trança fez quando ela se soltou e correu em direção ao elevador – que, é claro, não estava funcionando.

– Eu não posso deixá-los para trás, Haymitch! – ela gritou comigo quando a segurei, voltando a tapear a parede em busca do botão do elevador.

– Eu sei que não pode. Mas você tem que sair daqui, Katniss.

Ao ouvir minha voz, ela deixou o botão esquecido na parede e grudou suas unhas no meu antebraço.

– Gale, por favor. Por favor.

Eu não podia ver seu rosto, mas sabia exatamente que formas a compunham naquele momento. E só de imaginar seu desespero quase latente, tive vontade de deixá-la ir atrás dos filhos.

Mas eu não podia fazer isso. Não isso.

Peguei três flechas da aljava que as mantinha estáveis e transferi para a aljava de Katniss.

– Vá com eles, mas por tudo o que você mais ama... – arfei e suguei o ar de novo – Por favor, por mim... Não. Confie. No. Blake. – Segurei seu rosto com uma mão tentando enxergar seus olhos – Você me entendeu? Mantenha sempre algo a mão para se defender.

Ela balançou a cabeça confirmando e me joguei para a frente. Eu queria poder acertar seus lábios, mas me contentei com sua testa, pressionando tempo o suficiente para ela saber o quanto era importante para mim. Mas não tempo o bastante para mantê-la sob minha segurança como eu queria.

Me afastei assim que ouvi Haymitch se aproximando de novo para alcançar Katniss, e dessa vez pude ouvir a voz de Nereu e Annie junto dele. Mas não tinha tempo o bastante para ficar e vê-los acompanhando-a até a segurança dos túneis do sistema de esgoto.

Os primeiros quatro lances de escadaria foram fáceis. Subi num ritmo só, me concentrando em contar os degraus ao invés dos segundos que passavam até a próxima implosão.

Mais ou menos na metade de cada contagem de degraus eu tentava entrar em contato com a equipe responsável pela segurança dos filhos de Katniss.

Os chiados de interferência e estática que tive como resposta serviram para manter minhas pernas em movimento.

Depois de mais duas escadarias, entrei em um dos níveis que já estava completamente evacuado.

Dali para a frente seria uma subida por corredores que se encontravam como uma teia de aranha, todos traçando uma subida labiríntica até o nível onde ficavam as salas de treinamento teórico.

Meu peito doía, minhas costelas rangiam, a pressão em meu ouvido aquático parecia que explodiria minha cabeça e os músculos das minhas pernas queimavam.

Eu tentei me concentrar na contagem de degraus, mas minha mente calculou sem minha permissão que eu tinha menos de três minutos para encontrar os Prim e Fin e voltar até o Corredor, que era minha melhor opção de escape no momento.

Enquanto eu corria, as paredes pareciam dançar ao meu redor, se dissolvendo enquanto imagens de uma memória distante se formavam diante de meus olhos. Balancei a cabeça, me negando ceder à loucura e continuei a correr.

A fumaça estava em todos os lugares e era difícil de enxergar até as luzes de emergência que guiavam meu caminho.

Cheguei a um entroncamento e virei à esquerda do corredor que levaria ao complexo hospitalar da Noz, tomando a direção do refeitório. Não era certeza, era apenas uma tentativa muito propensa ao erro, mas eu tinha esperança de encontrá-los por lá.

E então meu rádio ganhou vida.

– ...ando. – estática – Dois, três. Tem... – mais estática – aí?

– Mãe? – acionei o comunicador no meu ouvido bom sem parar de correr – Mãe é você?

Sem resposta.

Apertei minha mandíbula para conter a dor nos músculos da perna e corri até que ouvi os chiados cedendo para o som de voz humana entrecortada pela estática novamente.

– ... está ferido. Estamos... Mas preci... tório.

Parecia confuso, mas era tudo o que eu precisava ouvi. Derrapei na curva que fiz à direita, sorrindo aliviando quando vi o letreiro luminoso do refeitório. Não era possível ler com clareza, mas eu sabia que era o refeitório no final do longo corredor.

Mas algo pareceu errado. As paredes dançaram e eu ouvi um miado de gato.

– Prim! – o desespero que corria vívido em minhas veias e pulsava as imagens de minha memória me fizeram gritar. – Prim onde você está?

Parei no meio do enorme salão repleto de mesas. Seria reconfortante me sentir de votla à realidade se tudo não estivesse num perfeito caos.

As mesas, antes perfeitamente alinhadas, estavam em desordem e reviradas. Pratos de comida de um almoço inacabado esquecidos, derrubados, pisoteados, desperdiçados.

Bolsas deixadas para trás e as lâmpadas que não estavam estouradas, piscavam com as variações de fase do gerador. Um grande pedaço do teto caiu e bloqueou a porta que levava à grande cozinha industrial, onde além dela existia uma série de corredores depois dos depósitos de grãos que levariam às saídas de emergência. Do buraco que se formou era possível ver parte do andar superior, que levaria aos níveis de dormitório e às Áreas de Combate.

– Ele chegou!

Ouvi a voz de Fin, antes de sentir o impacto contra uma de minhas pernas.

O garoto estava coberto de poeira da cabeça aos pés, mas não foi isso que me assustou. Foram as marcas de sangue em suas pequenas mãozinhas que me fizeram erguê-lo.

– Onde está sua irmã? E os outros? Minha mãe e a sua avó?

– Estamos aqui. – a voz da senhora Everdeen soou no fundo do refeitório.

Corri na direção e então vi a proteção improvisada com o réchaud onde era servida a comida.

Primeiro eu vi a cabeleira escura de Prim. E então a mistura de cabelos loiros e prateados da senhora Everdeen. Logo em seguida duas cabeças raspadas de dois dos soldados da escolta e uma cabeleira de um loiro muito vívido e familiar.

Pensei em perguntar o que Chelsea fazia ali e como havia chegado ou onde ela havia se metido durante toda a operação na praça, mas eu vi tudo ficando vermelho.

Vermelho no chão, vermelho nas roupas, vermelho na poeira ao nosso redor, vermelho nas pernas de sustentação do réchaud onde dedos igualmente vermelhos tentavam se agarrar.

Vermelho nas mãos da senhora Everdeen e de Chelsea enquanto trabalhavam. Vermelho nos dedos miúdos de Prim, que tentava ajudar como podia.

Vermelho jorrando de onde antes deveriam estar as metades inferiores das pernas de minha mãe.



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Notas finais do capítulo

Ok, ok, ok... Eu já sei! Mexer com a mãe é golpe baixo.
Mas eu tinha que afetar Gale de alguma maneira, gente!!!
Pra começar, vou revelar uma coisa a vocês: a pessoa que estaria envolvida no atentado na praça do Dois não seria Garry, o braço direito de Paylor. Seria um dos irmãos do Gale.
Mas depois pensei bem e percebi que a participação do Garry vai ter muito mais sentido mais para a frente e então foi a primeira coisa que mudei. Mas isso foi capítulo 24...
Nesse capítulo, eu já começaria direto no Corredor, com o interrogatório ao Garry. Mas aí decidi acrescentar duas coisas: Chelsea nessa cena final ajudando a salvar a mãe do Gale e Katniss no começo descontando sua raiva no Gale antes de se reconciliarem (ou quase isso).
Tudo isso tem um por que e essa é uma super dica que estou dando a vocês só porque vocês deixam os reviews mais perfeitos que uma autora de fic poderia desejar! *-*
Prometo que responderei a todos que estão atrasados!
E prometo que não vou sumir de novo (afinal, não se mexe com a mãe de alguém e some deixando todo mundo na aflição enquanto a coitada tá esguichando sangue no chão né??? Tá, parei! Agora parem de chorar!!!!kakakaka)

Tenham uma ótima semana e nos vemos no próximo cap... Ou o que restar de sobreviventes da Noz para contar a história no próximo capítulo! Hehe!

Mil abraços Galeciosos!