Rise Again escrita por Fanie_Writer


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Olá Mockingjays nada rebeldes!

Estou amaaaando ler cada review com seus comentários, análises e palpites! Tem alguns do penúltimo capítulo que não respondi ainda e não respondi nenhum do último. Mas ainda essa semana responderei a todos ok?

Vamos a mais um pouquinho de Rise Again? Preparem seus coreçãoes (Team Gale e Team Peeta) pq aqui teremos um pouquinho dos dois. Embora... Bem, deixarei os comentários adicionais sobre o que acontece nas notas finais.

Boa leitura!



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– Está fazendo um ótimo trabalho. – olhei ao redor ao ouvir aquela voz. Me sentei sobressaltado, procurando pelas paredes do labirinto do arsenal.

Árvores balançavam tranquilas, permitindo que o vento sacudisse suas copas e a grama restelava as margens do lago.

Nada de máscara de gás, nada de fumaça entorpecente, nada de agressor misterioso.

Aquilo tudo me parecia muito familiar, mas era impossível eu estar ali naquele momento.

– Que lugar é esse?

– Relaxa, você ainda não morreu. Apenas eu estou morto.

Olhei para o meu interlocutor, que jogava pedras na água do lago tranquilamente. Apertei meus olhos enquanto analisava cada detalhe dele.

Cabelos loiros, olhos azuis, uma perna a menos substituída por uma prótese, pele tão queimada quanto a de Katniss.

– Peeta?! O que... O que... Como?

– Isso é um sonho, Gale. E acho que você tem bom gosto em escolher personificações para sua consciência. – ele apontou para si mesmo antes de voltar a jogar mais uma pedra no lago.

– Você. Está. Morto.

– Até aonde me lembro, sim. Afinal, de que outra maneira eu estaria falando com você?

– Isso é loucura.

– Loucura ou não, seu cérebro me conjurou. Então talvez você esteja realmente ficando louco.

– E eu que pensei que não tinha como meus pesadelos piorarem... – massageei as têmporas sentindo minha cabeça latejar. Se isso realmente era um sonho, talvez em breve eu acordasse dele por causa dessa dor de cabeça.

– Era isso ou ficar revendo a morte de Prim como você sempre faz.

– O que quer?

– Sou sua consciência. No momento sua consciência está alertando ao seu subconsciente sobre o que eu te disse ainda em vida.

– O quê?

Peeta se levantou e apoiou uma mão em meu ombro em um toque quente e reconfortante. O breve aperto que ele deu, entretanto, me mostrou o quanto aquele toque era um sinal de alerta também.

– Confie apenas nos seus instintos, Gale. E em Katniss. Tudo o que vocês conhecem está para ruir e ninguém mais é confiável.

– Como vou saber que isso é realmente a coisa certa a se fazer? Você está morto! – Peeta deu as costas para mim e caminhou em direção à floresta.

Ele sorriu sobre o ombro e então uma fumaça negra o envolveu. Só então percebi que a floresta, que antes estava verde e tranquila, agora queimava com chamas que pareciam que queimariam até o céu.

Gritei para que Peeta voltasse, mas ele continuou caminhando até que seu corpo foi completamente varrido pelas chamas.

– Suspendam o soro dele! – ouvi uma voz ecoando de algum lugar, mas eu senti que eu tinha que tentar salvar Peeta.

– Ele está com febre. Apliquem dez miligramas de antipirético. E tirem ela daqui agora!

Ela? Katniss estava aqui?

– Katniss! – ouvi minha voz queimando minha garganta em um grito arranhado. – Katniss, o Peeta... Ele está queimando. Eu tenho que salvá-lo! Você não vai me perdoar se eu o deixar morrer também.

– Ele está tendo alucinações, doutor.

– Me deixem ficar perto dele! – ouvi a voz de Katniss vencendo as camadas da minha dormência. Mas parecia que as chamas que queimavam a floresta no meu sonho, me tragavam de uma maneira que era quase como se eu conseguisse senti-las em meu corpo.

– Já falei para tirarem ela daqui! – a voz irritada do médico me trouxe de volta para a superfície da consciência.

De onde vinha esse calor todo?

Tentei tocar minha pele para afastar as chamas que tragaram Peeta e que agora estavam me alcançando.

Ao abrir os olhos e me acostumar um pouco com a claridade, vi que não havia chama alguma, embora minha pele estivesse empapada em suor e realmente muito quente.

Duas enfermeiras andavam de um lado para o outro enquanto um médico mantinha um estetoscópio contra meu peito e olhava para o monitor digital.

Logo atrás, vi mais duas enfermeiras tentando segurar Katniss, que se debatia e tentava contorná-las.

– Acho que o antipirético está surtindo efeito, doutor. – uma das enfermeiras ofuscou minha visão com uma lanterna.

– Katniss... – grunhi e então ouvi o barulho de coisas caindo e de alguma coisa, ou alguém, sendo estapeado antes de eu reconhecer o aperto em minha mão e o carinho em meu rosto.

– Eu estou aqui. Estou bem aqui.

– Tudo bem, deixem-na. – ouvi a voz do médico de algum lugar, com um tom cansado, mas profissional – Voltem a aplicar o soro para limpar o organismo dele e mantenham o oxigênio para os pulmões. Monitorem a temperatura dele a cada meia hora até que fique totalmente estável. Se voltar a subir, me chamem.

Pisquei e voltei a abrir os olhos. Um tubo pressionava a minha bochecha e jogava baforadas frescas de oxigênio por um respirador que envolvia minha boca e nariz.

Quando pendi minha cabeça para o lado, encontrei o olhar de Katniss. O rosto dela estava molhado e os olhos dela assustados.

– Peeta...

– Shhh... Não faz esforço. – seus dedos traçaram uma linha em minha testa e então a vi aceitando uma gaze de uma enfermeira, passando o pano na minha pele, limpando o suor e refrescando um pouco da sensação de calor escaldante. Aquilo me relaxou completamente.

– O que aconteceu? – minha voz saiu abafada pelo respirador e pela sensação de queimação na traqueia.

– Você foi encontrado desacordado no arsenal. Parece que foi intoxicação.

Pisquei algumas vezes, tentando clarear minha memória.

Havia Peeta e o lago no Doze. A floresta em chamas. Alguém no arsenal. Botas militares no escuro.

– Tinha alguém lá.

– Não vamos falar disso agora. Descanse.

– Fica aqui comigo? – pedi, sentindo minha voz ficando mais fraca conforme eu voltava a submergir na névoa de sono que me tragava.

– Não posso te deixar sozinho nem por cinco minutos mesmo. – ela forçou um sorriso, com as bordas trêmulas de preocupação. Tentei retribuir, mas não consegui manter os olhos abertos.

Não sei precisar quanto tempo se passou até que a escuridão foi cedendo espaço lentamente para vozes. Sussurros.

Abri meus olhos lentamente e não estava mais entre as paredes enjoativamente brancas do hospital. Não sentia mais agulhas em meu braço, os tubos apertando meu rosto ou o som de monitores cardíacos.

Movi a cabeça para o lado e reconheci o relógio de cabeceira. Ao rolar minha cabeça para o outro lado – que parecia mais pesada que o normal – reconheci a silhueta de Katniss, recostada de costas na porta do meu quarto.

Vi os pés de mais duas pessoas, mas não consegui identificar quem eram.

Quando tentei me sentar, senti minha mão direita ficar presa por algo pesado.

Ao abaixar os olhos, havia uma cabeleira loira apoiada contra meus dedos. Faixas largas de gaze umedecida refrescavam a pele do meu peito e minha testa.

Tentei puxar o mais gentilmente que consegui minha mão, mas quando a cabeça de Chelsea tombou para o lado, ela acordou assustada.

Ao me ver desperto, ela sorriu aliviada.

– Que bom que você acordou. – ela sussurrou, se aproximando mais de mim.

Como o quarto estava relativamente silencioso, isso chamou a atenção de Katniss e de quem mais estava na porta com ela.

Logo o cômodo pareceu pequeno para tanta gente.

Me concentrei nos rostos mais próximos, especialmente o de minha mãe, que veio se sentar na cabeceira e puxou minha cabeça para seu colo.

– Você tem noção do susto que deu em mim? – ela me repreendeu, mas sem deixar de acarinhar meus cabelos – Primeiro você ficou dias sem me dar notícias e depois isso!

– Estou lesado, mas me lembro de ter te ligado antes de ir para o Capitol. – resmunguei ainda meio grogue de sono.

– Eu sei... Mas então aconteceu aquilo com Plutarch. Eu fiquei tão assustada e aflita por notícias suas.

– Eu te avisei para procurar por ela. – Katniss ficou em pé, ao lado dela. Embora ela estivesse sorrindo, percebi que ela estava tensa, com os braços cruzados.

– Ah, então ele já estava sabendo que eu queria notícias e mesmo assim não me procurou? – minha mãe deu um tapa muito suave no meu ombro que, mesmo fragilizado, não doeu nem um pouco.

– Mãe...

– Não vem com essa de mãe. – ela imitou meu tom e dessa vez Katniss sorriu mais largamente. – Eu sei que você tem um trabalho a fazer e acredite, eu fico muito orgulhosa. Eu sempre tive muito orgulho de você. Mas não me deixa aflita desse jeito de novo, ok? Quando eu vi aquelas cenas, aquilo que fizeram e então eu vi o estado que você foi encontrado...

Ergui minha mão para tocar seu rosto, segurando firme seu queixo, mas deixando meus dedos fazerem um carinho em sua pele marcada de linhas pelo tempo. Fiquei admirando os traços, formas e cores de seu rosto tão belo, emprestados como herança para mim.

– Me desculpe, tá? Eu não quis te deixar preocupada de propósito. É que está tudo tão tumultuado e...

– Eu sei, querido... eu sei. – minha mãe segurou sua mão sobre a minha e me olhou firme e carinhosa. Seus olhos ficaram espelhados de lágrimas que ela impediu de caírem com um longo suspiro – Eu nunca vou me acostumar com isso... Você foi sempre tão independente e forte, desde pequeno, e então decidiu se arriscar todos os dias por nós. Primeiro para nos alimentar e agora nos proteger... Meu menino. Você me lembra tanto o seu pai.

– Pensei que Rory te fizesse lembrar o papai. – argumentei, numa tentativa de não deixar que meus olhos embaçassem na frente de todos ao ouvir o carinho de minha mãe.

Como pude deixá-la sozinha também por tanto tempo?

– Rory me lembra fisicamente. Mas de todos, você é o que mais se parece com seu pai. E isso às vezes me tira do sério. – ela passou a mão por minha testa, removendo a gaze de lá e prolongando o seu sorriso carinhoso antes de se mover – É melhor eu ir ver como as crianças estão.

Minha mãe depositou um beijo em minha testa e se levantou, pronta para acomodar minha cabeça nos travesseiros de novo, mas então Katniss tocou em seu braço. Antes que eu pudesse entender a troca de olhares entre elas, Katniss assumiu o lugar de minha mãe e depositou minha cabeça em seu colo.

Seus dedos se embrenharam em meus cabelos e reparei que a mão que Chelsea segurava agora formigava com a pressão maior que ela fez, como se quisesse chamar minha atenção.

Mas o carinho de Katniss no meu cabelo era parecido demais com o carinho de minha mãe. E isso me fazia lembrar das vezes que me aninhei no colo dela quando eu era pequeno.

Talvez eu ainda estivesse sob efeito do gás entorpecente, mas me lembrei de quando meu pai começou a me ensinar sobre como sobreviver na floresta.

Em uma noite de tempestade, tínhamos voltado mais cedo nem tanto pela chuva, mas porque acabei cortando minha mão ao manusear errado as lâminas de uma armadilha para coiotes.

Aquilo doeu, mas eu me lembro de ter segurado o choro com medo de meu pai não querer me levar de volta à floresta após o incidente.

Quando chegamos em casa, minha mãe cuidou de mim após nos dar uma tremenda bronca sobre o que estávamos fazendo. Mesmo cansada por trabalhar o dia inteiro com a barriga gigantesca da gestação de minha irmã, ela cuidou de mim, me deu um chá para conter minha agitação e me colocou em seu colo, acarinhando meu cabelo. Pouco antes de eu pegar no sono, meu pai entoou uma canção com sua voz grave e cansada.



Vá, vá pássaro livre

Voe por cima das árvores e sobre o mar

Seu canto de dor cessou

As correntes caíram, libertaram suas asas do cativeiro

Agora o céu é o seu lar



Quando as tormentas da noite chegaram

Sua voz se perdeu, foi roubada

No lugar deram-lhe aflição e dor

Mas aves fortes não se deixam cegar

A escuridão não lhes põe medo

Não se deixam abater

Não param de lutar



Vá, vá pássaro livre



Mesmo preso, mesmo cativo, mesmo com dor

Aves fortes não cessam seu cantar

Anseiam voltar a voar sobre colinas verdes

Anseiam planar sobre as ondas do mar

A liberdade é sua voz, a justiça o seu clamor



Vá, vá pássaro livre

Voe por cima das árvores e sobre o mar

Seu canto de dor cessou

As correntes caíram, libertaram suas asas do cativeiro

Agora o céu é o seu lar



Vá, vá pássaro livre



Não sei por que aquilo veio à minha memória naquele momento. A última vez que me lembrei tão claramente dessa letra que meu pai cantou foi no dia da cerimônia em homenagem aos mineiros mortos na explosão da mina de carvão.

Antes do sono me tragar naquela noite de caçada, eu ainda me lembrava da voz da minha mãe, vencendo as camadas de dormência que me tragavam enquanto ela repreendia meu pai por cantar aquelas palavras proibidas pelo Capitol.

– Já te disse para não cantar essas coisas perto dele.

– Um dia, Hazelle, nossos filhos vão viver num país livre.

– Não diga bobagens. Sabe o que pode acontecer se alguém escutar você cantando essas coisas. E se Gale sair cantando essas músicas por aí?

– Gale é forte. – eu me lembrei de ter sentido o cheio da fumaça do cigarro que meu pai comprava contrabandeado no Hob toda vez que tinha um dia de caça bom na floresta, após sua longa jornada na mina – Viu como ele não chorou uma única vez hoje? São jovens como ele que esse país precisa.

– Para trabalhar nas minas, isso se estiverem vivos até lá.

– Não, Hazelle. Jovens como Gale vão fazer muito mais do que trabalhar nas minas ou sobreviver ao Jogos. Vão fazer muito mais do que nós apenas sonhamos em fazer.

– Eu concordei em deixar você levar nosso filho para a floresta, mesmo conhecendo os riscos. Mas eu não quero que nosso menino fique cheio de ideias erradas.

– E se não forem erradas? E se essas ideias forem as certas? Talvez seja dessas ideias que a geração dele precise para não se entregar ao medo que nos deixou acomodados.

A voz do meu pai se perdeu no ar como a fumaça de seu raro e precioso cigarro.

– Que sorriso é esse? – Katniss perguntou ainda me acarinhando de um jeito que me fez desejar nunca mais ficar longe dela. Eu era de novo o pobre gato de rua carente por atenção e que estava quase ronronando por recebê-la.

– Estava me lembrando de casa... – suspirei me acomodando mais em seu colo - Pode cantar pra mim?

– Você quer que eu cante pra você?

– Você costumava cantar quando estávamos na floresta, lembra?

– Minha mãe odiava que eu cantasse aquelas canções em casa. – ela sorriu, perdida em alguma lembrança. – Prim uma vez me escutou assobiando uma música e pediu para que eu cantasse para ela. Até o idiota do Buttercup pareceu me repreender por cantar aquela música.

– Canta pra mim. – pedi mais uma vez.

Percebi que minha mão não estava mais presa pelos dedos de Chelsea porque consegui movê-la livremente. Olhei ao redor e não havia mais ninguém no quarto além de Katniss e eu.

Busquei os dedos de Katniss e entrelacei sua mão na minha enquanto a via tomar fôlego para cantar.

Sua voz saiu suave e preencheu o ambiente, cada nota batendo nas paredes e fazendo meu corpo vibrar por dentro, se aquecendo com um calor mais agradável do que o que senti como efeito do gás tóxico. Ao invés de atormentar, relaxava e ao invés de queimar meu corpo, me aquecia e renovava o sentimento que pulsava meu peito.

Surpreendentemente, ela recitou as mesmas palavras que meu pai cantou há tantos anos atrás e isso me deixou ainda mais atento a cada nota entoada.

Não fechei meus olhos porque eu quis gravar na minha memória cada mudança de expressão, cada movimento de sua boca para formar as palavras e o sobe e desce do seu corpo que fazia a mágica de transformar ar naquela melodia incrível.

Quando a última nota morreu no cômodo, Katniss abriu os olhos e voltou a me olhar. Seus olhos percorreram meu rosto como se ela também estivesse memorizando cada detalhe meu e eu senti meu pulso acelerando.

Ela voltou sua atenção para nossas mãos entrelaçadas, e então vi suas sobrancelhas se juntarem numa expressão dura.

– Odeio como ela adora te marcar com batom como se estivesse marcando território. – ela resmungou enquanto esfregava seu polegar contra a pele das costas de minha mão.

E então reparei na marca vermelha que desenhava o contorno dos lábios de Chelsea e que sumiam conforme Katniss esfregava seu dedo com vigor.

– Com ciúmes? – não consegui conter a curiosidade alegre que senti.

Levou muito mais tempo do que era necessário para ela responder.

– Não seria possível continuar na Noz se eu fosse sentir ciúmes de suas dúzias de namoradas. – é claro que ela não iria admitir. Não de maneira direta.

Mas isso foi resposta suficiente para mim.

Impulsionei meu corpo para a frente e, embora Katniss tivesse tentado me impedir de levantar, consegui me sentar. Ficar tão perto do rosto dela daquele jeito e com aquela conversa toda me motivava a pensar em fazer alguma merda que nos deixaria muito, muito, MUITO dolorosamente arrependidos depois.

O quarto todo deu um giro completo antes de eu sentir o peso da minha cabeça se estabilizando no eixo correto.

Fiquei parado por algum tempo até sentir que estava em perfeitas condições de arriscar algum movimento novo. Parecia que meu pulmão estava pesado também, como se estivesse bombeando o oxigênio num ritmo mais lento.

– Quanto tempo eu fiquei desacordado? – perguntei, massageando minha testa com uma mão enquanto a outra retirava as gazes grudadas na pele do meu peitoral.

Fiquei esperando pela resposta de Katniss, mas ao invés disso, senti seu dedo tocando em minhas costas.

Uma linha quente acompanhou a linha de uma de minhas cicatrizes. O rastro formigou minha pele do ponto onde a linha que Katniss acompanhava começava no meu ombro até o final da escápula. Bem ao lado, havia outra linha que cruzava com essa primeira, descendo até metade da minha costela. E assim se formava a teia de cicatrizes da pele que restou após as 40 vezes que fui açoitado na praça do Doze há mais de 15 anos.

E, uma a uma, Katniss foi desenhando as linhas grotescas com seus dedos. Era possível aranhas andarem ao redor da coluna vertebral?

Porque poderia até parecer estranho, mas aquela era a carícia mais íntima que uma mulher já fez em mim.

Mas, num momento de lucidez, em que relampejou pela minha cabeça que ela poderia estar sentindo algo como um asco curioso ao invés do que eu estava imaginando que ela poderia estar sentindo, Katniss me surpreendeu ao substituir seus dedos por seus lábios.

O contato úmido e quente me fez estremecer, meus olhos se fecharam e um gemido escapou por meus lábios. O gemido escapou pelo rombo na minha muralha, o buraco que ela conseguiu escavar dentro de mim.

Katniss parecia saber exatamente o que fazer para me desmontar completamente e parecia ter plena consciência das reações que provocava em mim.

Meu corpo estava completamente entregue a ela. Ela era a minha dona absoluta e cada beijo em cada cicatriz comprovava isso.

Sua boca acompanhou as linhas até a metade de minhas costas e então subiram de volta até minha nuca. Aonde seus lábios paravam, seus dedos assumiam.

Céus, o que ela estava fazendo? Testando minha sanidade?

Aquilo era mais viciante que qualquer droga e mais entorpecente que qualquer gás tóxico. E era igualmente mortal e destrutivo para mim.

Me encolhi para longe dela, antes que eu perdesse o controle de vez.

– Me desculpe... E-eu... Eu não sei o que deu em mim... – ela falou, mesmo quase sem voz.

– É melhor você voltar para o seu quarto. – eu disse, apertando meus olhos com força e prendendo meus dedos contra o cobertor para manter minha força de vontade.

– Gale, me desculpe. Eu não quis...

– Prim e Fin. É melhor você ir vê-los. – apelei para o instinto materno dela e as palavras saíram forçadas contra meus dentes trincados.

Eu juro que se ela persistisse em ficar, não conseguiria mais resistir às dezenas de ideias de tomá-la em meus braços que passavam como um filme em meus olhos fechados.

– Certo. – ela se levantou e eu consegui puxar ar para meus pulmões ao sentir a distância aumentando entre nós – Você vai ficar bem?

– Vou sim. Só preciso... ficar sozinho.

– Claro. – não sei se ela entendeu o que eu quis dizer, mas ela andou em direção à porta.

– Katniss. – a chamei uma última vez, mas com meus olhos ainda fechados. Como não ouvi o barulho da porta se abrindo, soube que ela ainda estava no quarto – Mantenha uma arma sempre perto de você.

– Claro. – ela repetiu – Boa noite, Gale.

Dizendo isso ela saiu. Assim que percebi que estava sozinho, cambaleei até meu banheiro e mergulhei em baixo do jato frio do chuveiro.

Se minha consciência estava assumindo o rosto de Peeta, então certamente essa noite minha consciência não ficaria nada satisfeita ao assistir os sonhos que povoariam minha mente após todos esses gestos de carinho de Katniss.


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Notas finais do capítulo

Boladão! Essa é a melhor palavra que define o Gale agora, hein!!!

Tá, Katniss, te compreendo amiga. Tbm não resistiria à tentação de tocar naquelas costas musculosas e tentar amenizar um pouquinho da dor que cada cicatriz representa para o Gale. Mas precisava beijar também???? Aí já foi maldade com o bofe, né gente???

E, como vocês viram, tivemos de tudo um pouco nesse capítulo: Memórias de infância, musiquinha para a playlist da guerra que se aproxima, momento mãe e filho, momento de disputa da Katniss com a Chelsea (Adianto que essas duas ainda vão se estranhar bastante daqui pra frente!!!) e tivemos um momento de interação do Gale com sua consciência. Consciência essa que resolveu se personificar justamente em Peeta!

As coisas não tão fáceis pra ti hein bonitão???? E lamento dizer que tendem a piorar viu!

Eu amoooo vc Gale, mas tenho que adiantar para meus leitores queridos que vc ainda vai sofrer muito, vai se estressar muito, e vai ficar muito perturbado e (com o perdão da palavra, mas essa é a que melhor define) PUTO com a Katniss.

SEM MAIS!

Já dei muitos Spoilers do que vem por aí e muita dica das pistas que estão nesse capítulo e que ajudam nesse mistério todo!!! =D

Mais uma vez quero agradecer a vocês todos que continuam não apenas lendo, mas também deixando sua participação por meio dos reviews com comentários, opiniões, palpites e hipóteses!

Tenham uma ótima semana e nos vemos no próximo capítulo (literalmente bombástico) que tentarei postar entre terça e quinta-feira da semana que vem!

Abraços!!!



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