Rise Again escrita por Fanie_Writer


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Olá meus Mockingjays Rebeldes!

Preparados para ver o que se passa na cabeça de nossa Katniss???

Então se preparem para entrar em um túnel de emoções e memórias. Além disso, uma nova forte emoção está para acontecer nesse capítulo e que vai pegar todo mundo de surpresa!

Ou quase todos, porque já era algo anunciado!

Mas chega de conversa! Tenham uma ótima leitura!



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Katniss

- Confie em mim. É só você continuar andando como se nada tivesse acontecendo. Vai dar tudo certo, Garota em Chamas.

Keira me abraçou, levando para longe o roupão que me escondia do olhar de todos e eu respirei fundo, tragando para mim a confiança que ela me transmitia em seus cálidos olhos verdes.

Olhei para Johanna, que ajeitava a gola do terno de seu acompanhante, um soldado do Distrito Dois com quem ela vinha saindo nos últimos dias.

- Katniss, respira. – ela disse me olhando – Não vai ser legal se você vomitar no meio da escada.

- Eu estava pensando em desmaiar, mas obrigada por me dar mais uma ideia de como extravasar meu nervosismo.

- Não tem como você dar vexame com um vestido desses. Eu queria que Keira tivesse sido minha estilista... Por que você sempre pega os estilistas mais legais?! – Johanna fez um bico vermelho que me fez rir um pouco no instante em que Cressida a empurrou para a frente, poucos segundos antes de Effie anunciar sua entrada.

Agora eu estava sozinha.

A gola alta e as mangas compridas pinicavam minha pele. Eu imaginava que Keira fosse me vestir com algo diferente, mas estava satisfeita por me sentir um pouco mais protegida no vestido fechado – e que seria até casto, se não fosse tão moldado ao meu corpo e com uma fenda na perna direita.

Espiei por uma fresta e vi Johanna vacilar um pé, mas seu acompanhante a sustentou de uma maneira que parecia que ninguém mais, além de mim, tinha percebido.

Me arrependia pela primeira vez por ter dispensado o Tenente Blake.

Para começo de conversa, me arrependia por ter convidado ele só para provar para Gale que eu sabia levar meus blefes a sério. Especialmente depois de vê-lo convidar uma das militares mais bonitas da Noz para ser sua acompanhante.

Eu não sabia se Gale já estava no saguão assistindo nossa entrada e senti minhas mãos suando de nervosismo, me fazendo torcer os dedos na falta de um pedaço de corda para dar nós que pudessem me distrair.

Decidi não pensar nisso, porque logo me vinha a imagem dele abraçado àquela sargento loira, incrivelmente exuberante, mesmo de toalha. Com certeza ela estaria de tirar o fôlego em um vestido de gala essa noite. Não o culparia se sequer estivesse atento à minha entrada, porque com certeza o decote da sargento deveria ser um espetáculo à parte para qualquer homem.

Respirei fundo e meneei a cabeça afastando esses pensamentos.

Desejei ardentemente que Peeta estivesse aqui para segurar minha mão e dizer que tudo daria certo. Ele era bom nisso. Em me acalmar e em lidar com o público. Com certeza ele teria gostado de estar nesse jantar estúpido da Paylor.

– Por último, mas não menos importante, Katniss Everdeen, a eterna Garota em Chamas.

Cressida me empurrou pelos ombros e eu atravessei as cortinas vermelhas em direção à ofuscante luz.

O holofote não me permitia enxergar muito bem à distância, mas pude perceber que o saguão estava lotado. Senti câmeras me acompanhando e comecei a descer as escadas.

Um passo de cada vez. Respire. Um passo de cada vez.

A qualquer momento Keira acionaria o dispositivo secreto do meu vestido.

Apenas continue caminhando, como se nada estivesse acontecendo.

O salão estava silencioso demais. Nem mesmo Effie comentava sobre meu desempenho como havia feito com os outros.

Por que eu aceitei participar dessa droga de jantar?

Queria muito que Keira tivesse me dito o que ela tramou para esse vestido, mas ela me fazia me lembrar demais de Cinna.

Ergui o queixo para transmitir segurança e força, como se não estivesse afetada com as imagens que passavam em minha memória: o meu desfile de apresentação com Peeta na cidade circular, o meu vestido em chamas conforme eu rodopiava na entrevista com Caesar Flickerman e meu vestido de noiva que se queimava até me transformar num Mockingjay.

Todos surpreendentes e todos me faziam queimar de alguma maneira.

No meio da escada que parecia não ter fim, ouvi o som de algo se partindo e crepitando e então uma pequena fumaça se formou aos meus pés.

Olhei rapidamente para baixo e uma após a outra, as escamas negras do meu vestido foram caindo e entrando em combustão para dar lugar a uma elaborada trama dourada. Cada lantejoula negra que se queimava, era uma nova renda de ouro que surgia, como se os poros de minha pele o estivessem exalando.

Olhei discretamente uma última vez para algumas escamas que caíam em cascata, estranhando como não queimavam o tapete vermelho, apenas imitavam chamas e fumaça.

Igual à roupa de mineiros em chamas que Cinna fez para mim e Peeta no desfile no Capitol, logo após a Colheita, em nossa primeira exibição pública.

Mais uma vez, desejei que Peeta segurasse firme minha mão, exatamente como fez naquele dia. Quente, firme, seguro e destemido.

- Não tem por que voltarmos a essa discussão, Katniss. – parecia que eu ouvia nitidamente sua voz, na memória que parece ter vindo de um túnel que me transportava para outra vida.

- Ainda acho isso ridículo e desnecessário. – segurei o papel ainda quente pela impressão em minha mão enquanto analisava a tinta moldando meu nome: Katniss Everdeen. Não Katniss Mellark, mas Katniss Everdeen.

- Eu já disse o que eu acho disso.

Ótimo, ele estava chateado de novo com minha reação a tudo isso.

Olhei uma última vez para o pequeno posto que funcionava como cartório do Distrito Doze, espremido entre uma banca de mercadores ambulantes e andaimes de um canteiro de obras que reconstruía o Prédio da Justiça. Se eu me concentrasse, ainda me lembrava do cheiro de cimento, fuligem e poeira se misturando ao de ervas e frango frito que eram comercializados a céu aberto.

Entrelacei meus dedos em sua mão quente, que estava com pequenas crostas da massa do pão que ele fez para nosso café da manhã antes de virmos para cá.

- Hey... Eu não quis dizer que acho ridículo e desnecessário estar com você.

- Eu entendi o que você quis dizer.

Paramos em uma esquina lamacenta para esperar que um dos caminhões que transportavam os entulhos do que restou do bombardeio ao distrito passasse.

- Nós já estamos juntos e não é segredo para ninguém. Não entendo por que é tão importante essa coisa burocrática. E também não entendo por que você disse ao tabelião para manter meu nome de solteira.

Peeta apertou seus dedos nos meus no instante que nosso caminho estava livre. Enquanto atravessávamos a rua, ele fazia círculos com o polegar em minha pele e eu podia sentir os grãos de farinha.

- Por mais que a gente queira, tem certas coisas do nosso passado que simplesmente não podemos deixar para trás. – ele me puxou até que eu ficasse de frente, seus braços envolvendo minha cintura. Eu não sabia se ele se referia ao ato de registrar nossa união civilmente ou se era algo mais profundo. – Eu prometi uma vida nova para você. Sem conflitos, sem guerra e com o mínimo de dor possível.

Peeta fez um carinho no meu queixo, deslizando seus dedos na pele queimada do meu pescoço.

- Estou sentindo um mas na sua fala.

Ele riu e então prendeu minha nuca para que meus olhos não se desviassem da profundidade azul de sua alma.

- Mas seu nome é o seu maior legado, Katniss. E eu não posso tirar isso de você.

Busquei por seus lábios e Peeta retribuiu ao beijo de um jeito calmo, que me fez permitir desfrutar do gosto de pão de canela que ele comeu mais cedo.

- As coisas nunca são completamente fáceis como desejamos, não é? – Colei minha testa na dele e ele apertou seus braços ao meu redor me sufocando de uma maneira que me fazia realmente pensar em quão bom seria morrer daquele jeito, naquele instante – O passado nunca vai nos deixar completamente.

- O passado nunca vai nos deixar. Nós é que precisamos a construir nosso futuro aprendendo a construí-lo a cada dia, deixando que cada ferida tome seu tempo para ser cicatrizada. E eu quero construir o meu futuro com você, Katniss, mas sem tirar os pequenos pedaços que ajudaram a construir o que você é e o que significa para mim.

Continuei caminhando enquanto a voz de Peeta sumia na luz ofuscante dos holofotes e cada escama se incendiava e dava lugar a um pedaço do novo vestido, que se moldava em mim diante dos olhos de todos.

Quando cheguei ao final da escada, percebi que as mangas do meu vestido tinham desaparecido e minhas costas estavam desnudas. Meu pescoço, que antes estava coberto pelas lantejoulas negras que se pareciam com escamas, agora parecia adornado com um elaborado colar de renda em fios de ouro que se fundiam ao restante do vestido.

O colo estava levemente à mostra dando a falsa impressão de o vestido ser um tomara que caia. A renda possuía um forro invisível que amenizava a aparência de minhas cicatrizes, destacando apenas a beleza dos desenhos elaborados da renda dourada.

Era como se minhas cicatrizes estivessem completamente expostas a todos, porém reluzindo em fios dourados que formavam desenhos complexos em minha pele. Me sentia de certa forma nua, mas pela primeira vez em anos não me senti incomodada ou envergonhada com isso.

Respirei fundo e me lembrei da conversa que tive com Keira num intervalo que Octavia, Venia e Flavius deram há dois dias durante minha sessão de depilação. Tentar arrancar à cera os pelos que conseguiam emergir das camadas de pele queimada tinha sido mais torturante para eles do que para mim.

- Não posso dizer que faço ideia de como você se sente. – Keira admitiu quando eu falei sobre o quanto sentia vergonha de mostrar minhas cicatrizes. O assunto surgiu quando Keira veio me falar, superficialmente, sobre sua ideia de vestido – Mas eu sempre achei você linda, independente de suas cicatrizes.

- Muita gente acha grotesco. E eu não tiro a razão deles. Olha para isso. – abri um pouco do roupão para mostrar meu pescoço e parte do colo.

Os desenhos fora do padrão formavam trilhas e rastros por minha pele, deixando-a em relevo em alguns lugares enquanto que em outros, onde as chamas conseguiram ir mais fundo, ficaram depressões disformes que se mesclavam ao restante de pele que estava intacta.

- Sabe o que eu vejo quando olho para você? Uma mulher corajosa, que não tem medo de nada e que é capaz de enfrentar o que for pelos seus ideais e por aqueles que ama.

- Metade das pessoas que diz essas coisas para mim confirmaria todas essas palavras depois de ver no que eu me tornei.

Keria segurou meu queixo com firmeza.

- Então que tal mostrar a eles quem você realmente é?

E era isso o que eu estava fazendo naquele instante. Sacudi meu corpo para que as escamas negras do vestido que restavam se soltassem de vez.

Atravessei a camada de fumaça aos meus pés e me posicionei no lugar ensaiado, no centro.

Quando parei em meu lugar, uma chuva de flashes me cegou enquanto repórteres nos enchiam de perguntas. Finalmente recobrando a capacidade de fala, Effie relembrou os detalhes que deveria ter falado enquanto eu descia, como a autoria da maravilhosa criação que eu usava.

Eu até entendia o impacto que meu nome causava nas pessoas, eu apenas não aprenderia nunca como lidar com isso.

Peeta amaria estar aqui posando ao meu lado e acenando para o público, com aquele sorriso bobo e fácil dele que fazia com que eu sustentasse o meu sorriso diante das câmeras sem tanto esforço.

Effie deu abertura para o início da festividade. Uma banda começou a tocar uma música animada de algum lugar, mas eu fui arrastada para uma sessão de fotos. Logo em seguida, Cressida me puxou para que eu falasse com alguns ministros em uma conversa de “amigos” diante das câmeras.

Fiquei sendo jogada de um lado a outro durante toda a noite e vi que os outros tributos não estavam em situação melhor. Nereu pelo menos conseguiu roubar um pouco de comida enquanto era arrastado por Effie para tirar fotos com o prefeito do Distrito 4.

Senti minha cintura ser puxada e fui presa por braços fortes.

- Não pensei que diria isso, mas foi bom você ter me dispensado e entrado sozinha. Você estava deslumbrante. Aliás, você é deslumbrante. Como um cometa no céu. – Blake me embalou de um lado a outro acompanhando o ritmo da música que tocava. Ele estava impecavelmente vestido em um terno preto com uma gravata dourada.

- Me desculpe se te magoei.

- Magoar? Eu fiquei feliz! Ok, não completamente feliz, mas eu estou aqui, não estou? Não perderia a oportunidade de te ver tão linda assim.

Ele me olhou como se desejasse me devorar, e isso me incomodou. Num momento ele era gentil com coisas como “cometas no céu” e depois voltava a fazer coisas que, certamente, fariam até Peeta querer se levantar do túmulo para socá-lo.

- Como conseguiu entrar? – desconversei.

Ele me esticou para longe e então me puxou de volta.

- Tenho alguns contatos no governo. Uma ex-namorada é conhecida de alguém importante, ou algo do tipo.

Ri da explicação dele – mais pela careta que ele fez com a pronúncia de “ex-namorada” – e isso o motivou a ficar conversando comigo por mais um tempo sobre amenidades até eu ser puxada por Cressida para mais uma sessão de fotos. Olhei para trás para pedir desculpas, mas Blake já havia desaparecido no mar de convidados vestidos de preto e dourado.

Ao me perceber finalmente sozinha, não pude evitar percorrer os olhos pelo saguão algumas vezes procurando ansiosa por um par de olhos cinzentos.

Ao longo dos dias, ensaiei algumas vezes pedir desculpas para Gale pela maneira como agi, especialmente depois de quase o chutar e o ferir com uma acusação do passado que eu já tinha prometido ter esquecido. Mas então ele cruzava comigo no corredor, me lançando um olhar tão fechado e magoado que eu não sentia qualquer abertura para me aproximar.

Eu estava errada em muitas coisas. Mas a culpa de tudo o que aconteceu foi dele.

Ele não precisava ter agido de maneira tão imatura com relação ao Tenente Blake. Eu estava enganada a respeito dele e não custava nada Gale tentar conhecer seu colega de profissão melhor também.

Na primeira vez que Blake me abordou, interessado em saber como eu estava e como andava os treinamentos, claro que fiquei desconfiada. Mas com o passar dos dias, fui percebendo que ele não era uma pessoa tão ruim quanto sua primeira impressão havia me passado.

Enquanto me lembrava da maneira como as acusações vieram fáceis em minha boca, me lembrei de algo que Johanna me disse e que ficou martelando por muito tempo na minha cabeça.  Enquanto iniciavam a contagem regressiva para o ano novo, não entendi ao certo por que voltei a me lembrar daquilo.

Eu havia acabado de fugir da AC Quatro e, por mais que eu já estivesse arrependida por gritar com Gale, insinuando que ele me explodiria caso eu não o obedecesse, eu não estava disposta a voltar depois da cena que ele fez após o treino de camuflagem com Blake.

Me sentia num turbilhão de emoções que me deixavam instável. Se eu voltasse para tentar pedir desculpas naquele momento, certamente pioraria tudo.

Já estava no meu alojamento e iria aproveitar o tempo que teria sozinha enquanto todo mundo estava dormindo para extravasar, esfriar e pensar um pouco.

Então Johanna bloqueou a porta magnética do quarto, antes que ela se fechasse, com uma barra de metal e entrou.

- Agora não, Johanna.

- Agora sim. O que foi aquilo no treinamento?

- Nada.

- É. Todo mundo viu que não aconteceu nada entre você e seu primo bonitão.

- Ele não é meu primo! – rosnei.

- Mais um motivo para você explicar o que diabos vocês estão fazendo um com o outro.

- Nós... Ele... Argh. – Joguei os braços para cima e empurrei Johanna para fora do quarto quando percebi Fin se mexendo no sono.

- Não faz isso com você Katniss.

- Eu não estou com clima para lição de moral. Como se não bastasse Haymitch, Annie, Keira, Hazelle e até minha mãe, agora você também?

- Se tanta gente está dando palpites sobre sua relação com Gale, talvez fosse bom você parar para ouvir.

Bufei impaciente e Johanna resmungou.

- Por que você é sempre tão irritantemente determinada? Quando você quer uma coisa, você luta até o fim. Inclusive quando sua luta é contra sua felicidade.

- Não há nada pelo o que lutar. Não vou fazer Gale passar por tudo o que Peeta passou. Isso o que eu acabei de fazer para ele não é nada perto do que já disse ao Peeta. Mas Peeta aprendeu rápido como lidar com isso, Gale não. Além disso, Peeta não merece essa traição.

- Cala a boca e se escuta por um minuto, ok?! Peeta está morto. E pelo o que você me disse, seu último pedido era que você fosse feliz. Droga, Katniss... Seu marido providenciou para que o rival dele voltasse para sua vida! Você acha que isso não significa alguma coisa?

- Gale é apenas meu melhor amigo. Idiota e impulsivo, mas meu melhor amigo.

- Eu desisto... – Johanna rolou os olhos – Juro que eu não entendo. Nem você e nem o Comandante-linha-dura-que-baba-feito-um-cãozinho-quando-você-está-por-perto. Eu acho que vocês dois deveriam... Quer saber? Vocês dois são adultos, vocês é que se entendam. – ela me deu as costas, mas acabou voltando com o indicador apontado na minha direção – Se Gale te perdoar pelo o que você disse, ele é muito mais idiota do que eu esperava... E talvez te ame mais do que você imaginava.

Dez, nove, oito...

Eu não conseguia parar de pensar em tudo isso e me lembrar que eu havia passado quinze anos sem falar com Gale, convivendo apenas com a distância que ele deixou em minha vida e com os demônios meus e de Peeta. Agora ele estava tão perto de mim e eu ainda sentia esse mesmo vazio da distância e do silêncio.

Tudo por minha culpa.

Peeta aprendeu a não dar ouvidos às minhas acusações e mágoas, toda a vez que eu perdia o controle de minhas emoções. Mas isso não significava que essas coisas não o feriam.

Eu me odiei, me esforcei e prometi não ferir mais as pessoas ao meu redor com os demônios que se manifestavam em palavras rudes quando eu tentava exorcizá-los de mim. Dizia a mim mesma: Esses demônios, medos e pesadelos são meus. Unicamente meus. Eu sou a única que tem que lidar com isso.

Mas lá estava eu novamente machucando quem me amava.

E Gale não era Peeta.

Cinco, quatro...

O que havia acontecido com nós dois?

Três, dois...

Olhei para a direita e vi algo que me rasgou por dentro. Finalmente eu encontrei o par de olhos que eu tanto procurei durante a noite no jantar e eles estavam fixos nos olhos azuis da exuberante garota loira à frente dele.

Exatamente como eu havia dito a ele para fazer.

Era a coisa certa, ele estava fazendo aquilo que eu sempre achei que ele deveria ter feito: encontrar uma garota legal, se casar com ela, ter filhos, ser feliz.

Ter a vida que Peeta havia me dado. Isso seria o melhor para Gale e não todo esse sofrimento que eu o fazia viver.

Um!

Mas por que eu não conseguia me sentir feliz por ver que Gale finalmente havia seguido meu conselho e encontrado alguém capaz de amá-lo como ele merece?

Porque estava nítido que aquela garota sentia algo por ele. Mas só de pensar nisso, eu sentia vontade de afastá-la o quanto antes dele.

O que estava acontecendo comigo?

Enquanto todos brindavam ao meu redor, eu permanecia parada, olhando na direção dele, mesmo que algo se apertasse dentro de mim ao ver a garota lançando os braços em seu pescoço e o puxando para um abraço que ele retribuiu.

Aquele abraço era meu.

Aquele momento de carinho era meu.

Gale me pertencia e eu não conseguia mudar isso, não importa o tempo que passasse ou o quanto isso me tornava egoísta ou o quanto eu lutasse contra.

Eu sentia meu peito se apertando ao perceber isso. Era simplesmente doloroso demais vê-lo em braços que não fossem os meus. Tanto braços apaixonados de outra mulher, como os aconchegantes braços da morte.

E então seus olhos encontraram os meus.

Eu senti algo queimar dentro de mim e toquei o vestido com medo de que ainda restassem escamas negras que o estava deixando em chamas. Tive medo de abaixar o olhar e perder os olhos de Gale para sempre.

Vi ele sussurrando algo para a garota, sem desprender seus olhos de mim. E então ele abriu espaço entre as pessoas, vindo na minha direção.

Apenas alguns passos nos separavam e eu até conseguia distinguir seu aroma na multidão de cheiros ao meu redor.

Puxei o ar para absorver aquele cheiro fresco de pinheiros e couro que eram tão únicos dele, misturados ao de sua colônia de barbear.

Seus olhos me desvendavam, perfuravam, queimavam. Reluziam como holofotes, tentando me gritar algo que eu tentava ignorar em respeito ao que eu ainda sinto por Peeta.

Seus olhos tão intensos me faziam afogar com a quantidade de palavras que ficaram engasgadas em minha garganta, digladiando entre si para que a coisa certa fosse dita para que tudo entre nós fosse acertado. Tudo precisava ser acertado.

Eu não suportava a compressão do meu peito pela culpa de ferir tanto aquele homem que me olhava com aquele olhar forte e firme que desnudava minha alma.

Eu precisava dele.

Mas o momento foi corrompido com um grito estridente e agudo, cheio de pânico e quase animalesco que ecoou pelo saguão, silenciando-o.

Olhei para onde todas as pessoas estavam olhando. Algumas boquiabertas, outras com a mão sobre a boca e outras apenas estáticas na posição que estavam antes.

Tentei digerir cada detalhe daquela cena: O sangue coagulado manchando os balões que flutuavam ao nosso redor. A corda presa ao pescoço. Um corpo que pendulava.

O choque de reconhecer as feições mortificadas do rosto tombado sobre o nó sufocante.

Letras de uma caligrafia demoníaca gravadas em brasa na pele do peito desnudo do cadáver, acusando-o de traição. Seu crime e sua sentença ali, diante de meus olhos.

Só soube que aquilo que eu via não era um dos meus sonhos bizarros, porque eu senti mãos grandes e cálidas envolverem a minha, antes da voz firme e segura de Gale sussurrar:

- Preciso te tirar daqui.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acham que aconteceu? Quem será que chamou a atenção de todos ao aparecer morto no jantar? Façam suas apostas!

E esses pensamentos da Katniss... Vimos que ela é atingida quase que o tempo todo por memórias, do passado mais remoto e do passado mais recente, que a fazem viver num constante estado de emoções conflitantes e até emoções sensoriais - ao reviver com tanta clareza os cheiros, cores, texturas e sons de suas lembranças -, mas que, de certa maneira a ajudam a enfrentar o que quer que ela precise.

As team Peeta de plantão ficaram com vontade de comer pão de canela??? =P rsrsrsrsrsrs #GostoDoBeijoDoPeeta

E esse reencontro da Katniss com o Gale após tantos dias sem se falarem? Parece que algumas coisas mudaram dentro dela hein???? *-* O que a culpa e o suave toque do ciúmes de ver seu boy magia com uma sargento bonitona não fazem né?
=P rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs

Bem, espero que tenham gostado desse capítulo tão especial. Confesso que fiquei mudando e acrescentando coisas até o último instante antes da postagem, para dar o máximo de emoções para vocês conseguirem sentir o mesmo que Katniss sentia.

Muito obrigada a todos que continuam comentando e participando da fic! Eu sempre fico quicando de felicidade ao ver que tem comentários de vocês aqui! =D #EscritoraBobaQuicando kkkkkkkkk

Ah, já respondendo a possíveis pedidos ou perguntas, eu não postei nenhum link a uma possível imagem do vestido porque essa imagem simplesmente não existe. Ou, no caso, teríamos mais links de imagens do que história em si.
Isso porque eu peguei referência de vários modelos de vestido que eu vi e fui juntando com a ideia do efeito que eu quis criar.
Então o decote frontal eu peguei em um, o falso efeito tomara que caia em outro, as lantejoulas negras em outro e a abertura nas costas em outro. O resto foi tudo criado por mim: a renda simulando um embelezamento das cicatrizes de Katniss, o efeito da gola que imita um colar alto, como o vestido negro se moldava ao corpo dela para dar o efeito de água escorrendo por sua pele...

Opa... Esse último efeito era para vocês verem pela visão do Gale, só no próximo capítulo!!! =P

Tenham uma ótima semana e nos vemos no próximo capítulo, com a maneira que a entrada de Katniss impactou Gale e nos detalhes desse corpo pendulante que apareceu no jantar!

Abraços aPEETAdos para as leitoras Team Peeta e beijos GALEciosos para as leitoras que amam o Gale tanto quanto eu! *0*