Rise Again escrita por Fanie_Writer


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Olá Mockingjays Rebeldes!

Aí vai mais um capítulo especial para vocês!!!

Gostaria de agradecer aos reviews, com comentários e análises incríveis de todas as pistas! É muito bom saber que vocês estão envolvidos nessa história, tanto quanto eu estou para montar cada peça desse quebra-cabeças!

Tenham uma ótima leitura e nos vemos nas notas finais!



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Acordei com meu próprio grito. Imagens de um leão alado devorando Katniss voltaram vívidas diante dos meus olhos. Olhei ao redor, tentando controlar minha respiração e me convencendo de que tudo fora apenas um pesadelo.

Pela primeira vez, desejei poder voltar para o hospital apenas para me livrar desses pesadelos que desapareciam completamente quando eu estava sob o efeito da morfina.

Sacudi a cabeça enquanto me levantava para lavar o suor do meu rosto, afastando essa ideia. Era idiotice buscar válvulas de escape que resultariam em vícios incontroláveis. Haymitch e Enobaria eram provas vivas disso.

Me lembrei de um dia, pouco tempo depois de eu acordar do tiro, em que a enfermeira me colocou para caminhar um pouco nos corredores do hospital. Num determinado momento, minha enfermeira disse para eu continuar andando enquanto ela checava o estado de outro paciente.

Do jeito como eu estava todo dolorido, ela poderia ter demorado duas horas e eu teria caminhado apenas dois metros. E assim, arrastando os pés e trincando os dentes para conter os gemidos causados pelo peso do meu corpo ao pressionar o ferimento, parei em frente a uma sala de medicação. Reconheci a silhueta magra e um tanto apática de Enobaria, que vasculhava com as mãos enérgicas o armário com várias ampolas de remédios e enfiava algumas delas na sua bolsa. Quando ela me viu, primeiro seu rosto adquiriu um discreto rubor sob a pele sempre tão branca e então suas sobrancelhas se juntaram num misto de raiva e medo.

Nunca tive muita conversa com essa tributo, mas eu sabia sobre o seu vício.

Balancei minha cabeça como se apenas estivesse dizendo “olá” para uma velha conhecida e segui meu rumo por mais alguns passos arrastados pelo corredor, o suficiente para dar a privacidade que ela queria.

De uma coisa eu sabia: Não era esse tipo de vida que eu queria para mim e eu seria forte o suficiente para não sucumbir a essa vontade de voltar a me entorpecer de morfina, sem a devida orientação médica.

Pensando nisso, acabei vestindo meu uniforme decidido me apegar a uma coisa mais saudável e útil que o vício de morfina.

Posicionei minha mão sobre o leitor biométrico para abrir a porta do quarto. Caminhei até o fim do corredor escuro, tateando a parede até encontrar o painel de controle daquele setor.

Digitei o código de segurança e fiquei esperando o sistema habilitar a saída dos alojamentos que eu havia permitido burlar o toque de recolher.

Não demorou muito e resmungos sonolentos ecoaram pelo corredor, junto com pés sendo arrastados para fora das camas e bocejos.

- Bom dia, soldados. Sejam bem vindos ao primeiro dia de treinamento especializado. Sou o comandante Hawthorne e serei responsável pela capacitação de vocês a partir de hoje. Vocês têm cinco minutos para se apresentarem uniformizados antes que eu os puna por desacato, descontando tempo de seus horários livres e de refeições.

Percebi algo vindo em minha direção no escuro, me dando pouco tempo de reação. Por poucos centímetros o travesseiro voador não me acertou em cheio no rosto.

- Tão bonito, mas tão mandão... – Johanna resmungou com a voz grogue voltando para seu quarto.

Fiquei esperando todos se apresentarem. Com passos lentos, os tributos formaram uma fila ombro a ombro no corredor. Alguns ainda terminavam de ajeitar as fardas, alternando bocejos com reclamações dirigidas a mim. A última a se apresentar foi Katniss, que teve que fazer as crianças voltarem para a cama.

- Pensei que estivéssemos sob toque de recolher. – Nereu comentou esfregando o olho.

- O comando pode suspender alguns protocolos para situações de treinamento. – recitei enquanto ajustava o painel de controle para travar as portas dos alojamentos novamente.

- Mas às três da manhã? – Haymicth falou.

- Nossos inimigos não dormem, soldado.

- O problema é deles se não dormem. Eu durmo!

Rolei os olhos para as reclamações e segui até o elevador no fim do corredor. Os tributos me seguiram em silêncio e então os levei até a Área de Combate Quatro.

Quando chegamos até a AC Quatro, todos já estavam mais despertos. O imenso hangar com a cúpula de cristal no meio chamou a atenção de todos.

Segui até a cúpula, acionando os dispositivos de treinamento, mas sem nenhum módulo holográfico ativado. Deixaria para que eles lidassem com selvas e pântanos mais para a frente.

Gavetas e armários emergiram do chão revelando o arsenal que utilizaríamos para o exercício de defesa, além de uma arena especial para combate.

- Abernathy e Odair deem um passo até o ringue. – Quando mãe e filho seguiram junto de Haymitch, corrigi – Apenas Nereu.

Quando os dois se posicionaram, pedi para que os outros aguardassem do lado de fora do tablado, elevado alguns centímetros do chão.

- Todos vocês já tiveram experiências de combate nas vezes que estiveram na arena dos Jogos Vorazes. Tanto corpo a corpo quanto com arsenal branco ou de fogo. Mas tudo o que vocês fizeram para sobreviver foi mais por instinto do que por técnica.

- Discordo. – Nereu se manifestou – Alguns de nós crescemos tendo contato com as armas que acabaram ajudando a vencer os Jogos Vorazes e, mais tarde, ajudando os rebeldes na tomada do Capitol durante a Grande Revolução.

Me lembrei de Finnick, seu pai, empunhando habilmente um tridente.

Caminhei até uma das mesas com armas e peguei dois tridentes. Lancei um na direção de Nereu e sinalizei para que Haymitch se afastasse um pouco.

Imediatamente o garoto entendeu o que eu pretendia e me atacou. Realmente, ele tinha um talento nato para empunhar o tridente e soube como arrancar suor de mim.

Virei o meu tridente por trás do pescoço, desviando de uma investida de Nereu e, ao mesmo tempo, acertando seu peito com a ponta não letal da arma. Ele se desequilibrou e caiu de costas no tablado. Antes que pudesse reagir, a tripla ponta letal do meu tridente estava a centímetros do seu nariz.

- Meu pai me ensinou a caçar com arco, flechas e facas. Mas e se durante uma situação de combate eu tiver acesso apenas a uma espada? Não vou deixar de usá-la porque ela não é minha especialidade? – ofereci minha mão para ajudar Nereu a se levantar.

- Continuo a discordar. Em uma situação de combate, com apenas uma espada à mão, vou ser obrigado a me virar com ela.

– O objetivo desse treinamento é fazer com que vocês saiam daqui preparados não para se virarem com o que estiverem à mão, mas atacarem com destreza e precisão para enfrentar o que for e com quem for. Não apenas por instinto, mas por técnica. Agora...

Sinalizei para que Haymitch tomasse meu lugar junto de Nereu. Ensinei aos outros, demonstrando com os dois, os movimentos mais eficazes de ataque e defesa com o tridente, que era a arma que já estava em mãos.

Depois, deixei que os dois se virassem sozinhos, corrigindo uma coisa aqui e outra ali, antes de dividir as outras duplas.

Deixei Annie com Beetee e, como estávamos em número ímpar, Enobaria me enfrentaria enquanto Katniss enfrentava Johanna e então revezaríamos para fazer uma rodada de combate com facas.

Apesar de desgastante, depois de algum tempo, os tributos começaram a pegar ritmo no treinamento. Já estávamos na cúpula há duas horas e nenhum deles dava sinal de que estava disposto a parar, embora estivessem cansados. Até mesmo Annie, que no começo parecia delicada demais para o imenso tridente, já conseguia desferir alguns bons golpes de ataque que eram bem defendidos por Beetee – cuja habilidade sempre foi criar armas, não empunhá-las – e depois por Enobaria.

- Muito bem soldados. – chamei interrompendo a rodada de combate que rolava – Vou dar uma introdução sobre as técnicas de combate frontal, mas vamos continuar amanhã. Daqui a uma hora vocês precisarão se apresentar para o Módulo de Planejamento Tático com o Capitão Ross.

Chequei a programação no sistema de dados da cúpula enquanto eles se hidratavam e escondi um sorriso ao ouvir alguns muxoxos.

Fui até o centro do ringue, carregando um saco de pancadas para prendê-lo a um suporte.

- Everdeen, um passo à frente.

Katniss atendeu meu pedido prontamente. Ela estava suada, com mechas de sua trança frouxa grudando na pele, e possuía um pequeno corte na mão de um golpe não desviado da luta com Johanna. E eu precisei me concentrar mais do que deveria no saco de pancadas para não me permitir ser hipnotizado por sua imagem. Aquele olhar de agitação dela era como de um lince que desfruta e se diverte da caçada de sua presa: selvagem, letal e sexy.

Por que ela tinha que ser assim? Por que ela tinha que ficar tão bem nesse uniforme preto se ajustando tão bem às suas curvas  me fazendo desejar...

Foco. Se concentra.

Fiquei atrás do saco de pancadas, segurando para que ela o batesse.

- Faça o seu melhor, soldado. – instiguei.

Ela cerrou as mãos em punho e depositou toda sua força nos golpes. Eu fui sacudido a cada impacto, mas não era o que eu esperava.

- Tudo bem, pare. – ela obedeceu, abaixando suas mãos e resfolegando por ar.

- O que eu fiz de errado?

- Você tem força, Everdeen. Mas precisa corrigir sua postura. – me lembrei de como a derrubei na floresta. Mesmo estando motivado pela raiva e o sentimento de vingança, ela tinha a guarda baixa e isso facilitava qualquer movimento de ataque adversário.

Rodeei o saco de pancadas e fiquei em posição de defesa.

- Me ataque.

- O quê?

- Me ataque. E isso é uma ordem direta.

Katniss olhou indecisa para mim e então para nossos espectadores. Pela visão periférica, vi que eles haviam se sentado e tive certeza de que estavam todos ansiosos para assistir aquilo. Não me espantaria se estivessem apostando quantos golpes Katniss acertaria em mim e quantos eu a deixaria acertar.

Finalmente se decidindo, Katniss cerrou seus punhos novamente e veio em minha direção. Ela golpeou na direção do meu rosto, mas eu desviei e direcionei meu punho em sua barriga, sem realmente acertá-la.

- Corrija sua postura para conseguir se defender enquanto executa um ataque direto. – voltei à postura inicial e fiquei esperando ela me atacar.

Dessa vez ela pareceu um pouco mais empenhada, mas ela errou vários golpes, nitidamente com receio de me machucar.

Ficamos circulando na frente um do outro ao redor do ringue, seus olhos fixos nos meus enquanto tentava uma estratégia de ataque diferente.

- Não fique pensando em como atacar. Apenas ataque.

Ela saltou na minha direção, fingindo ir para um lado e me golpeando com o cotovelo por outro. Aquilo foi bom, mas poderia ser melhor.

Segurei seu braço, torcendo ele às suas costas apenas o suficiente para detê-la.

- Se quiser, posso te estimular para começar a me atacar de verdade. – encostei meus lábios em seu ouvido. O cheiro acre de sua pele me fez querer segurá-la contra meu corpo por mais tempo do que era necessário – Eu ainda me lembro bem do quanto você consegue atacar sob pressão.

Minha intenção era fazê-la se lembrar de como lutou durante a Grande Revolta. Mas não consegui conter o estalo de meus lábios em sua pele, logo abaixo do lóbulo.

Aquilo não era nada profissional, eu sei.

Senti o corpo de Katniss estremecer e arrepiar com meu beijo e, no instante seguinte, fui golpeado no pé.

Soltei seu braço em reflexo à dor e ela girou já me golpeando com altivez na altura do rosto. Claro que eu desviei de seus golpes, mas já estava bem mais difícil do que antes. Teve um momento que recuei até bater de costas no esquecido saco de pancadas, tendo tempo apenas para colocá-lo entre mim e o soco raivoso de Katniss.

- Canalize suas emoções e não perca o foco. Ataque, mas também se defenda, Katniss. – girei, ameaçando acertá-la com meu cotovelo, mas ela deteve meu braço no último segundo.

Continuamos naquele embate, e ela estava conseguindo me cansar, me golpeando a esmo só para me obrigar a defender-me dela. Ela era boa quando se dedicava a me golpear. Mas ainda faltava muito treinamento para ela conseguir me vencer.

Quando ela tentou atingir meu abdômen, num movimento esperto para tentar me imobilizar pelo ponto mais frágil do meu corpo no momento, que era a região aonde eu tinha sido baleado, a segurei pelo braço, puxando ela para a frente. Ao mesmo tempo, passei minha perna entre as suas, repetindo o movimento que fez ela cair na floresta do Doze.

Mas dessa vez, ao invés de deixar ela ir ao chão, amparei suas costas com meu outro braço.

- Não se esqueça de utilizar todo o seu corpo como arma de ataque e não apenas os punhos.

Disse próximo de seu rosto. Nossas respirações estavam entrecortadas e eu via uma ponta de raiva brilhar na expressão de Katniss por ela ter perdido. Mas durou muito rápido porque logo ela percebeu o quanto estávamos próximos.

Lentamente aquela faísca que eu vivia tentando conter dentro de mim desde que voltei a conviver com Katniss começou a acender um pavio que não resultaria em algo bom.

- O que está acontecendo aqui? – uma voz ecoou pelo hangar.

Ajudei Katniss a ficar em pé, ao mesmo tempo em que obtive o controle do desejo que havia ameaçado despertar em mim, e ignorei a marcha de Effie Trinket ao lado do tenente Iran Blake.

Caminhei até a mesa de controle e comecei a desligar as plataformas de treinamento, guardando todo o arsenal e a arena de combate.

- Fui acordar os Mockingjays para mais um grande dia de trabalho e o que encontrei? As camas todas vazias! – Effie reclamou gesticulando no ar e então seus olhos caíram em Katniss – Olha só o estado que você deixou meus tributos! Poderia ao menos ter chamado a equipe de filmagem para acompanhar esse treinamento!

- Que eu me lembre, comandante, ainda estamos sob toque de recolher. – O tenente Blake deu um passo à frente, me encarando e cortando as reclamações de Effie – A presidente não vai ficar feliz de saber que o senhor andou roubando os diplomatas na calada da noite para...

- Para fazer um treinamento que foi solicitado por um dos tributos e autorizado por ela. – o cortei – Pode ir verificar, se quiser. Eu estou autorizado a treinar os Mockingjays quando eu pudesse. Diante das atuais circunstâncias, o único horário disponível na minha agenda era de madrugada. Mas isso não será por muito tempo, porque estou pensando em te dispensar dessa grande responsabilidade de treiná-los e deixar que volte ao seu antigo posto, no Centro de Controle de Perímetro Distrital.

Diante de minha ameaça de rebaixamento, Blake recuou, mas não deixou de me encarar com raiva.

Passei por ele, mas nossos ombros acabaram se chocando com força. Cerrei meus punhos e voltei a encará-lo, mas meus olhos caíram em Katniss. Ela meneou a cabeça para os lados, me pedindo para não fazer aquilo.

Respirei fundo e saí da cúpula de cristal. A adrenalina ainda queimava em minhas veias, se misturando à raiva pela afronta do tenente Blake.

Eu não sabia quanto tempo iria conseguir controlar minha vontade de quebrar o nariz petulante dele.

***

Os dias se transformaram em semanas. A neve já recobria grande parte de Panem e permanecíamos focados na programação de aproximação dos diplomatas à população.

E estávamos conseguindo o efeito desejado.

Viajamos entre os distritos, colocando os tributos vencedores ainda vivos em contato com a população em eventos comuns dos moradores.

Em uma manhã, eles ajudaram na colheita nos campos do Distrito 11, antes da chegada do inverno.

Num outro dia, visitaram pacientes no Hospital do 8. E numa outra manhã, ajudaram a limpar as ruas do Distrito 5 o que acabou numa brincadeira de guerra de bolas de neve com as crianças do distrito.

Ou seja: a centelha de medo fora apagada para que a semente de confiança geminasse na população, exatamente como Paylor queria.

Entre essas programações, mantínhamos firme o cronograma de treinamento. Agora, quando eu não estava ocupado com as investigações dos atentados, me dedicava integralmente à preparação dos Mockingjays.

E isso, de certa forma, me aproximou mais de Katniss.

De vez em quando, compartilhávamos brincadeiras e piadas que só nós dois entendíamos ou, mesmo que estivéssemos em ocupações diferentes, ao cruzar-nos pelos corredores, trocávamos um olhar amigável sempre acompanhado de um sorriso.

Quando os tributos me acompanharam até a AC Quatro para a aula de arco e flechas, abdiquei mão do meu título e desfrutei da rara oportunidade de ver Katniss ensinando as técnicas que seu pai havia ensinado a ela anos antes.

Aquilo era algo tão espetacular quanto vê-la caçando.

Enquanto isso, nossas mães já estavam morando na Noz para nos ajudar a tomar conta das crianças. Em alguns dos meus intervalos, tratei de orientá-las quanto à segurança das crianças para deixá-las preparadas em situações de emergência.

Mas, ao que parece, a relação de Katniss com a mãe permanecia complicada, embora a senhora Everdeen estivesse se esforçando para se reaproximar dos netos.

Quando fomos ao Treze para dar início à segunda parte do treinamento, que envolvia toda estratégia de combate e infantaria nuclear, roubei Katniss e as crianças na calada da noite e os levei até o laboratório de Beetee para mostrar a eles algumas das invenções que desenvolvemos ao longo dos anos.

Prim e Fin ficaram encantados com uma mariposa espiã e ficaram se acotovelando por um bom tempo sobre quem deveria ficar com o controle remoto.

Aproveitando a oportunidade, mostrei para Katniss algo que há 15 anos a esperava. Enquanto Beetee distraia as crianças com mais alguns animais robôs, puxei Katniss para uma ala mais afastada do laboratório. Depois de digitar o código que apenas eu e Beetee conhecíamos, um tubo de vidro surgiu do chão e dentro havia um manequim com as medidas exatas de Katniss.

A expressão em seus olhos ao rever seu uniforme Mockingjay perfeitamente intacto no manequim ficará para sempre em minha memória. Sua mão tocou o vidro e ela sussurrou o nome do estilista que projetou seu uniforme.

- Eu não posso usá-lo? – seus olhos brilhantes quase me fizeram dizer sim.

- Ainda não. Ninguém sabe que guardamos seu uniforme. É melhor esperar pela oportunidade certa.

Ainda me lembro da sensação de ter seus dedos entrelaçados aos meus e de seu sorriso de agradecimento, antes das crianças nos encontrarem e sermos obrigados a nos separar.

Passei o restante daquela noite ajudando Katniss a retomar as aulas que ela havia iniciado na floresta do Doze com seus filhos, passando a eles tudo o que eu sabia sobre armadilhas e improvisação de armas de caça com um programa holográfico que recriava todo o ambiente selvagem dentro do laboratório de Beetee. Não era a mesma coisa que estar ao ar livre, aplicando tudo aquilo com animais de verdade e não as criações robóticas e artificiais, mas aquele tempo fez Prim baixar um pouco a guarda a meu respeito.

Entretanto, apesar de tanta preparação e do reforço na segurança, não tivemos nenhum novo atentado.

Alguns começavam até a dizer que havia sido um grupo de loucos que tentou assustar o governo, mas que recuraram ao ver o reforço na segurança.

Tudo estava estranhamente pacífico. Como o oceano, antes de uma grande tempestade. E eu temia que alguém relaxasse na segurança exatamente nesse momento, porque eu tinha a impressão que essa calmaria tinha esse objetivo.

A população aceitava bem as armas apresentadas pelo governo que garantiriam sua segurança, mas eu tinha sérias dúvidas se o governo pensava em sua própria segurança estrutural. E as dúvidas em torno desses atentados martelavam minha cabeça cada dia mais.

Conforme fui investigando – por conta própria –, descobri que os mapas rasgados deixados por Peeta para mim eram similares aos mapas que encontrei na biblioteca abandonada do Treze, antes de eu levar um tiro.

A região geográfica era conhecida, muito tempo antes dos Dias Negros, como Europa.

De acordo com os poucos jornais que consegui acessar na biblioteca do Treze, o planeta passou por um período de colapso ambiental e as enchentes, terremotos e erupções vulcânicas mudaram o mapa mundial para sempre. Me lembrei até de ter encontrado um mapa embolorado de Panem, antigamente conhecido como América do Norte, com grande parte territorial ocupada por um país chamado Estados Unidos da América.

Até aí, tudo fazia sentido porque eu já tinha ouvido histórias sobre isso. Algumas acrescentando mais detalhes, outras omitindo bastante os fatos que eu descobri. Mas o que chamou muito a minha atenção foi que a região, antigamente chamada Europa, se assemelhava com a memória que eu tinha das fotografias aéreas que a Presidente Paylor mostrou para mim, levando em conta que, devido às catástrofes naturais, alguns países haviam desaparecido enquanto que outros haviam se juntado em uma faixa territorial salpicada de ilhas ao redor.

Mas era apenas isso.

Até agora eu não havia descoberto qualquer outro indício que comprovasse a efetiva existência dessa área, ou quais motivos levariam eles a querer atacar Panem. E tinha aquele maldito emblema de leão alado. Seria um brasão dessa região? Ou possuía um significado a mais? Que porcaria de animal era aquele afinal?

- Comandante Hawthorne, o senhor está sendo solicitado na sala de conferências. Comandante Hawthorne, sala de conferências.

O sistema de auto falantes ecoou fora do meu quarto. Esfreguei os olhos, desgrudando um pouco a visão das pilhas de papéis velhos que eu analisava. Guardei tudo, desde os mapas até as páginas de livros antigos que eu havia rasgado, junto dos itens que Peeta deixou para mim, no fundo falso do compartimento de munições, dentro do fundo falso da minha mala de armamento. Respirei fundo antes de recolocar meu comunicador, estrategicamente desligado.

Quando cheguei à sala de conferências, todos os tributos estavam reunidos, junto com suas equipes de preparação, Effie Trinket, além de Cressida e sua equipe de filmagem.

Effie disse alguma coisa em seu comunicador e então a grande tela à nossa frente se iluminou com a imagem de Paylor, Plutarch e Garry Collins.

- Boa noite a todos. – ela saudou – Desculpem retirá-los de suas atividades, mas gostaria de convidá-los para um jantar público de comemoração da chegada do ano novo.

Tive que fazer muita força para não rolar os olhos.

- Nos reunimos e decidimos que vocês precisam de um momento de descontração depois de tanto tempo de trabalho duro. – Garry disse, com um sorriso gentil.

- Isso é uma maravilha! – Effie bateu palmas.

- Não, não é uma maravilha. Isso é arriscado. – me manifestei – A ausência de ataques não significa que estamos completamente em paz. Um jantar poderia ser a oportunidade perfeita para um novo atentado.

- Comandante, apreciamos sua preocupação. Como sempre, você é muito dedicado ao seu trabalho. Mas há quase um mês não acontece mais nada. Toda essa tensão só tem servido unicamente para isso: deixar todo mundo tenso.

- Me desculpe, presidente, mas acho que vocês não estão sendo sensatos.

- Comandante Hawthorne, não se preocupe. Você mesmo me assegurou que a guarda nacional está totalmente reforçada em todos os distritos e perímetros possíveis. Os relatórios detalhados de suas equipes não mostram nenhuma atividade anormal desde o incidente na praça do Dois. Não podemos viver à base do medo o resto de nossas vidas e a população precisa ver isso também.

- Mas...

- Já está decidido, comandante. – fui obrigado a bater continência diante do tom autoritário da presidente que indicava que aquela discussão havia encerrado – O jantar será na noite de 31 de dezembro, na mansão presidencial. Até lá, continuem com o cronograma de treinamentos e a programação de eventos junto à população.

Dizendo isso, Paylor desapareceu de vista. Pude jurar ter visto o meu olhar de revolta refletido no rosto de Plutarch antes de sua imagem ser desligada também.

Gostaria que a sensação ruim que aquele convite me trouxe também pudesse ser facilmente desligada como a grande tela projetora.

Mas ao retornar ao meu quarto para continuar a analisar o material que eu havia recolhido, percebi que aquela tensão que Paylor tanto queria evitar só estava começando.

Por mais que eu tivesse vasculhado cada centímetro da mala de armamento e também todo o meu quarto, não encontrei um resquício sequer dos papeis que eu havia pegado na biblioteca e sequer dos itens que Peeta havia deixado para mim.

Ou tudo tinha evaporado no ar como se nunca tivesse sequer existido ou, o mais provável, eu estava sendo vigiado de perto e alguém não queria que eu investigasse sobre os atentados.


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Notas finais do capítulo

Uaaaau!!!

Me desculpem, mas não consegui resistir à vontade que eu estava de colocar um pouquinho do Quatro de Divergente no Gale!!! *0*

Sentiram a tensão no ar? Será que sai faísca desses combates do Gale com a Katniss???? Garanto que esses treinamentos ainda vão dar o que falar!!

E o tenente Iran Blake vai contribuir para jogar gasolina nessa fogueira!!!

Mas isso vocês verão nos próximos capítulos...

E esse jantar PÚBLICO de ano novo??? Tá na cara que vai dar merda, né? Mas parece que Paylor não está muito preocupada com isso...

Alguém aí tem algum palpite sobre o que pode acontecer???

E o sumiço de todo o material que Gale havia juntado com suas investigações, inclusive o mapa rasgado e o pedaço de pano com o leão alado deixado por Peeta????????

Na boa?! Eu não queria estar na pele do Gale... E nem na de ninguém nessa história!!!

Bom, espero que estejam gostando e, se não estiverem, comentem o que não gostaram tbm!!! É sempre muito bom ler a opinião de vocês!!!

Tenham uma ótima semana!!!

Abraços