Rise Again escrita por Fanie_Writer


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Olá amores!!!

Desculpem a demora na atualização! Estava ocupada com um novo projeto que, em breve divulgarei para quem me segue no Facebook.

E então, preparados para mais um capítulo? O anterior foi bem curtinho, mas esse vai ser compensador porque tem muita emoção e muita coisa acontecendo para vocês lerem. E o circo vai começar a pegar fogo de verdade porque o cheiro de guerra já está no ar!

Tenham uma boa leitura e nos vemos nas notas finais!



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Era um dia frio, mas a floresta estava cheia de vida. E eu ficava feliz com isso porque não voltaria para casa sem nada como ontem.

Por causa do período de chuvas, era mais difícil de caçar, ainda mais para alguém não tão experiente como eu.

Mas mesmo sem tanta experiência, soube diferenciar o som novo que ouvi. Saltei da árvore onde estava escondido observando as armadilhas que armei e fui atrás do vulto que vi abrir caminho na folhagem

Num instante de lucidez, estanquei meus pés. E se fossem Pacificadores?

Eu nunca tinha visto um na floresta, mas isso não significava que eles não entravam aqui. E se me pegassem caçando? Com certeza me matariam e então meus irmãos morreriam de fome junto com minha mãe.

Me escondi e procurei andar o mais silenciosamente possível. Olhei ao redor rapidamente caçando uma rota de fuga, caso fosse preciso.

Quando me aproximei mais, vi que a figura era muito baixa e magra para ser um Pacificador. E também não usava o uniforme branco de Pacificador. E tinha uma trança em seu cabelo castanho escuro.

A garota se abaixou na direção de uma moita e então reparei na bolsa de flechas que carregava no ombro. Com o arco em mãos, ela cutucou a moita e a armadilha que eu tinha montado lá para capturar coelhos foi desfeita.

– Hey! Essa armadilha é minha! – deixei meu esconderijo e ela tirou uma faca de algum lugar de sua jaqueta.

Ela era alguns centímetros menor do que eu, mas tínhamos uma certa semelhança. Além das características físicas comuns de quem morava no Seam, ela possuía o mesmo olhar desesperado e feroz que eu via todos os dias no espelho, antes de vir para a floresta buscar alguma coisa para matar minha fome.

Mas eu a conhecia. Eu já tinha visto ela no Seam... E também na escola. E há pouco mais de cinco meses, na solenidade que o prefeito fez para homenagear os mineiros que morreram na explosão da mina de carvão.

– Quem é você? – ela mantinha a faca na minha direção quando perguntou.

– Meu nome é Gale. Gale Hawthorne.

– Hawthorne? Você é um dos filhos de Hazelle?

– O mais velho.

– Oh. – ela abaixou a faca, mas a manteve firme entre os dedos por um longo minuto antes de voltar a guardá-la dentro da jaqueta de couro. – Desculpe pela armadilha.

Ela não disse, mas pude ver que as imagens do memorial em honra aos nossos pais passaram diante dos seus olhos e, de alguma maneira, ela partilhou minha dor e, automaticamente, entendeu o que eu estava fazendo na floresta. Era a mesma coisa que ela fazia.

A garota virou em seus calcanhares e seguiu mais adentro na floresta, antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa. Armei rapidamente a armadilha que ela tinha desfeito e cobri com galhos e folhas – afinal, não poderia desperdiçar qualquer oportunidade de conseguir um mísero esquilo que fosse -, e então segui na direção que ela tinha tomado.

Depois de alguns minutos em uma caminhada apressada, finalmente a alcancei.

– O que foi? – ela resmungou, caminhando rápido e mesmo eu tendo as pernas mais longas que as dela, precisei me esforçar para acompanhá-la.

– Você não me disse seu nome.

Ela resmungou uma resposta que eu não entendi.

– Catnip?!?! – repeti.

– É KATNISS. – ela disse um pouco mais alto e mais lento. Depois ela bufou e parou. – Por que está me seguindo?

– Se tem alguém seguindo aqui, essa é você porque eu cheguei aqui primeiro.

– Me desculpe, mas ninguém me avisou que a floresta era propriedade dos Hawthorne.

– Não é propriedade da minha família. Mas sem a comida que eu consigo tirar daqui, com certeza já teríamos morrido de fome.

Ela desfez sua carranca e deixou os ombros caírem.

– Me desculpe. Eu... eu não quis ser grosseira. – ela respirou fundo e jogou para trás algumas mechas soltas da franja que caíam em sua testa - Tive medo que você pudesse me dedurar.

– Te dedurar num crime que eu também cometo? Isso não seria muito inteligente da minha parte.

Eu esperava que ela respondesse rindo, ou até mesmo voltando a andar. Ao invés disso, ela empunhou seu arco e uma flecha zuniu na altura de minha orelha.

– O que você fez? – me assustei, tocando minha orelha. Eu pude jurar ter sentido a flecha passar raspando por ela.

– Prim detesta que eu mate esquilos, mas é o que teremos para o jantar hoje. – ela passou por mim quase saltitando de felicidade enquanto ia buscar seu prêmio.

Enquanto via ela tirar a flecha do olho do esquilo – o que me surpreendeu, já que nem eu conseguia acertar sempre um tiro limpo desses e num movimento tão rápido quanto o dela -, uma ideia foi surgindo em minha cabeça.

– Hey, Catnip...

– Meu nome é Katniss.

– Você tem uma boa mira. – ignorei sua correção.

– Obrigada. E você tem boas armadilhas. Quantos coelhos consegue pegar com uma armadilha daquelas?

– Quando nenhuma garota curiosa a desarma, consigo pegar até três coelhos de uma vez. Um ou dois perus, ou quatis, num dia de sorte.

Ela mordeu o lábio para conter um sorriso.

– Você não vai me perdoar mesmo por ter feito aquilo, não é?

– Talvez. Você aceitaria me ajudar a caçar? Você tem boa mira, sabe empunhar bem uma faca...

– O que eu ganho em te ajudar?

– Em dois podemos conseguir muito mais caça do que conseguiríamos em um único dia solitários. E eu posso te ajudar a vender o que conseguirmos a mais no Hob. – ela franziu o cenho e acrescentei – Já vi você tentando fazer negócio por lá. Posso te ajudar nisso, se quiser...

Ela considerou por alguns segundos, enquanto limpava a ponta da flecha suja com o sangue do esquilo em um pedaço de pano velho. Depois que ela colocou o esquilo em uma bolsa de couro vazia, ela me encarou.

– Metade, metade? – ela perguntou e me estendeu a mão.

– Metade, metade. – apertei sua mão. Seus dedos eram longos, finos, frios e alguns com calos. Na base do polegar havia um corte em processo de cicatrização. Mas isso não a impediu de apertar minha mão com firmeza.

Senti meu ombro sacudindo levemente. E então de novo e de novo. Não era dolorido, mas era incômodo.

Quando eu pisquei, já não existia mais floresta. Eu não olhava mais para a Katniss jovem e inexperiente do meu sonho. A que estava diante de mim tinha muito mais dores no olhar e cicatrizes no corpo do que aquelas que a levou para a floresta do meu sonho-memória.

– Bom dia. – ela sorriu.

Me sentei, ainda sentindo minha costela reclamar. Já tinha passado duas semanas desde o atentado e hoje seria minha alta. Por mim, já teria saído daqui.

A presidente Paylor tinha suspendido os eventos dos tributos junto à população, mas quando ela veio me visitar a fiz prometer que retomaria a programação inicial.

Mesmo com o toque de recolher instaurado, mesmo com a restrição de tráfego entre os distritos e mesmo com a guarda nacional reforçada em cada lugar imaginável de Panem, a população estava ainda mais em pânico depois do tiro que eu levei. Afinal, se nem o comandante da Segurança Nacional estava seguro, como um humilde cidadão estaria?

E quanto mais eu ficava nesse quarto de hospital e mais os tributos permanecessem escondidos, mais a situação pioraria.

Eu odiava ter que expor Katniss assim, mas eu precisava pensar de maneira profissional também. E, no momento, o melhor a fazer era introduzir Panem à convivência com seus novos diplomatas e pacificadores.

– Que horas são? – perguntei afastando o sono e o efeito da morfina que me fazia apagar ou ter esses sonhos-memória. A falta de pesadelos era a única vantagem que eu via de continuar nesse lugar.

– Oito. Tem certeza de que está bem o bastante para receber alta? – ela me analisou e eu fiz um som com a boca enquanto colocava meus pés para fora da cama e ficava em pé.

– Estou ótimo. E vou ficar melhor ainda quando eu colocar meu uniforme e voltar ao trabalho.

– Gale...

– Eu estou falando sério. Estou bem, Catnip. – mentira. Parecia que quando eu ficava em pé, todo o meu peso esmagava a minha costela fraturada. O ferimento de entrada do tiro não doía tanto, mas eu precisava ser cauteloso na frente de Katniss e dos médicos. Qualquer movimento excessivamente rápido e eu não conseguia conter a careta de dor.

– Se você diz... – ela nitidamente não tinha acreditado em mim, mas não me impediria de voltar ao serviço. Pelo menos não ainda. – Seu uniforme está aqui e Beetee me mandou seu novo colete.

– Novo colete?

– Você achou mesmo que deixaríamos os médicos te liberarem para voltar a usar o colete que te deixou assim?! – ela abriu uma caixa preta que estava aos pés da cama. Havia uma estrutura com base em neoprene, mas com um tipo de revestimento em algum metal pesado – Beetee fez os testes com todos os tributos. Parece que essa coisa só não protege em caso de explosão nuclear.

Fui até a caixa e me abaixei para pegar o colete. Tive que morder o lábio inferior para conter meu gemido de dor por me abaixar tão rápido.

A estrutura não era tão pesada quanto eu tinha pensado. Pelo contrário, era até leve. Me enfiei dentro e mesmo com o pijama ridículo do hospital, já me sentia melhor.

– Eu... Ergh... Vou esperar você lá fora com os outros.

– Estão todos aí?

– Inclusive Effie com a equipe de câmeras e a sua legião de fãs que estão acampadas na porta desse hospital desde ontem, quando vazou a notícia de sua alta.

A acidez no tom de Katniss era ciúme ou eu estava ainda drogado de analgésicos?

Decidi mudar de assunto antes que uma esperança doentia brotasse dentro de mim.

– As crianças estão lá fora também?

– Não. Não se preocupe. Eles já foram para a escola com a escolta. Depois eu queria conversar com você sobre isso.

– Algum problema com a escolta?

– Não. Os soldados parecem ser bem protetores... me passam segurança. É sobre a outra escolta que você tinha providenciado, antes disso tudo acontecer.

– Oh... Sua mãe. Ela já chegou?

– Me ligou ontem à noite.

Fiquei esperando ela continuar, mas Katniss ficou com um olhar perdido no espaço entre nós.

– Foi... estranho... Fazia muito mais tempo do que parecia desde a última vez que ouvi a voz dela. Mas não foi saudade que senti quando a ouvi novamente.

Não tinha certeza se ela falava comigo ou consigo mesma.

– Quando ela virá?

Katniss piscou voltando a prestar atenção em mim e percebendo que tinha devaneado.

– Hoje. Já consegui a liberação para o transporte dela.

– E as crianças?

– Estão ansiosos.

– Contou a elas por que sua mãe ficou tanto tempo longe?

– Não. – ela esfregou a testa - Não tudo. Eu não quero que eles pensem que você...

– BOM DIA! BOM DIA! ESSE É UM GRANDE, GRANDE, GRANDE DIA! Você ainda está vestido assim? – Effie Trinket quase arrombou a porta do quarto no momento em que Katniss me diria o que não queria que seus filhos pensassem e que me envolvia. Embora eu fizesse ideia do que se tratava. – E você, Katniss? Pensei que já estivesse pronta!

Katniss olhou para si mesma e então para Effie.

– E não estou?

Effie comprimiu os lábios para conter qualquer resposta que veio à boca e então empurrou Katniss pelos ombros porta afora.

– Apenas me faça o favor de procurar Keira, sua estilista, sim?

Quando ela fechou a porta, seu olhar caiu sobre mim. Eu acho que deveria estar ridículo com aquele colete super reforçado por cima do frágil pijama do hospital. Mas mesmo assim, ergui meus ombros e coloquei minha melhor expressão desafiadora.

– Por favor, me diga que não é assim que você pretende sair desse quarto. – ela analisou meu figurino com uma cara que beirava o desespero.

– Isso seria muito divertido, mas não. Eu conheço bem as responsabilidades do meu cargo e não arruinaria tudo apenas para te ver histérica.

Ela colocou a mão no coração de maneira dramática e então uma agenda eletrônica surgiu no ar entre nós. Effie passou os próximos quinze minutos me fazendo decorar o letreiro digital com os horários, locais e eventos programados para hoje. Detalhe: eu tinha que decorar também a posição que eu deveria aparecer diante das câmeras a cada passo dos tributos e tinha um breve discurso preparado caso eu fosse chamado a falar publicamente.

É claro que eu concordei com tudo que ela me mandava repetir e decorar. E é claro que eu só fiz isso para me ver livre dela e que eu não me lembraria de nada disso daqui a cinco minutos.

Quando ela finalmente saiu, gritando com alguém em um comunicador sobre o quanto era vital encontrar Plutarch – infelizmente deixando para trás um cheiro enjoativo de cerejas que vinha de seu perfume caro do Capitol -, fiz minha higiene, tomei um rápido banho no quarto de hospital e então vesti meu uniforme.

Eu estava certo. Só em poder tirar aquela roupa de hospital eu já me sentia melhor. Me olhei no estreito espelho do banheiro, terminando de ajeitar meu uniforme negro.

Passei meus dedos pelo “Hawthorne” bordado em meu peito, logo abaixo das insígnias douradas que me qualificavam como comandante. Lentamente o peso da patente foi dominando meus ombros e gelando meu estômago. A morfina já estava totalmente fora do meu organismo porque eu sentia o quanto isso me afetava.

Esse frio na barriga vinha toda vez que eu começava a pensar nas pessoas que poderiam morrer caso eu cometesse o mínimo erro. E era isso que estava em jogo hoje, não o espetáculo que Paylor queria.

Mas senti um novo arrepio. Do tipo que se sente quando nosso instinto, ou nossa intuição falava mais alto quando algo ruim estava prestes a acontecer. Sacudi a cabeça afastando esse pensamento negativo e terminei de ajustar meu novo colete protetor, que iria por cima do uniforme, ao contrário do antigo.

O corredor estava menor do que eu esperava. Os dois cameramans que estavam recostados no batente de minha porta jogaram as luzes das filmadoras na minha cara assim que saí do quarto. Tentei ignorá-los e segui em direção ao grupo de tributos que estava apinhado entre estilistas e a Effie.

– Espere comandante, precisamos que responda às perguntas olhando para a câmera. – a mulherzinha responsável pelas entrevistas aos tributos me deteve. Eu me lembrava vagamente dela de algum lugar.

Quando me virei, reconheci as tatuagens de videiras verdes. Cressida havia cuidado das gravações de Katniss durante a revolução. Sua cabeça não estava mais raspada como eu me lembrava, mas sim com uma cabeleira artificial verde. Sua assistente, que tinha os cabelos quase pálidos de tão loiros e sobrancelhas cor de rosa, segurava uma prancheta digital e uma garrafa d’água.

Cruzei meus braços no peito.

– Como se sente com sua alta?

– Sinto minhas forças renovadas e estou ainda mais motivado para pegar quem pensou que poderia me intimidar ao tentar me matar. – Apontei o dedo indicador para a câmera que estava mais à frente, fazendo um close do meu rosto – Se você tem a ousadia de tentar me matar, oferecendo risco à vida da Mockingjay também, então te desafio a tentar agora que eu vou estar prestando ainda mais atenção em cada passo seu.

– Okey! Okey! Podem cortar! – Effie apareceu no pequeno espaço entre a câmera e eu. – O que conversamos a respeito de não dizer o que foi preparado para você? – ela cantarolou entredentes.

Bufei e dei as costas a ela e à equipe de filmagem.

Me juntei aos tributos, que dividiam reações com meu discurso de bom dia diante das câmeras.

– É bom tê-lo de volta. – cumprimentou Nereu – As coisas são muito monótonas quando você não está por perto! – Annie acotovelou sua costela e o garoto acrescentou um “comandante”.

Comprimi os lábios para não rir porque, apesar de ele ser um subordinado e não poder se dirigir a um oficial daquela maneira, eu havia gostado do garoto. Confesso que mais do que eu gostei de seu pai, quando o conheci.

– Obrigado, soldado. É bom estar de volta. – olhei rapidamente para todos e parei em Katniss. Ela sorriu em apoio.

Enquanto passava aos Mockingjays as instruções de segurança que eles precisariam seguir à risca durante a primeira parte da programação para o dia, não consegui deixar de reparar que Katniss estava mais linda do que eu tinha reparado sob efeito da morfina e do sono.

A julgar pelas maletas de produtos que cada estilista carregava com a ajuda de um assistente de preparação, soube que ela usava maquiagem. Mas era algo discreto e que valorizava o olhar atento dela às minhas palavras.

Eu nunca fui bom em decorar nome de produtos de uso feminino, mas era alguma coisa que realçava o olhar dela, num traçado sensual. Era um toque sutil que destacava a mulher vestida na farda que transmitia a força do soldado que estava se tornando. Era difícil desviar o olhar dessa imagem.

Quando o grupo dispersou para iniciar as visitas externas à escola do Distrito 2, Haymitch ficou ao meu lado desatando a pulseira de seu comunicador e atando de novo.

– Ao menos disfarce...

– O que? – pedi para ele repetir.

– Já falei para ela ser discreta também.

– Está bêbado?

– Um pouco. – ele limpou a garganta e, embora ele tenha colocado a mão na boca enquanto tossia, pude sentir um leve cheiro de licor no ar entre nós – Apenas disfarce. Lembre-se que esse não é o momento e que ela não está pronta pra isso.

Dizendo isso, ele foi atrás de Enobaria, falando alguma coisa que a fez rir.

Decidi lidar com as maluquices de Haymitch depois e me concentrar no meu trabalho.

Depois de verificar pelo comunicador se estava tudo acertado e de Plutarch finalmente aparecer e acalmar Effie, enfrentamos a multidão que nos aguardava do lado de fora do hospital.

Como meu estado era grave, fui trazido para o hospital civil e, depois do primeiro atendimento para me estabilizar, fui atendido pelos médicos militares da Noz, que estavam acostumados a ocorrências como a minha. Mas eles temeram me mover do hospital civil enquanto minha costela ainda estava se curando dos estilhaços e escoriações.

Eu não esperava ver o alvoroço que vi. Constatei que Katniss havia sido vaga em sua descrição sobre fãs acampadas, quando vi a dimensão daquilo.

Não eram apenas garotas – que carregavam até cartazes de motivação -, mas também soldados que pareciam estar satisfeitos de finalmente me ver depois de alguma espera.

Por quê?

Eu apenas tinha levado um tiro. O que essas pessoas pensavam que eu era?

Não. Aquilo tudo não era para mim como parecia ser.

Okey, talvez as garotas com cartazes estivessem ali por mim. Mas e os cidadãos comuns? E a mãe que esticou o garoto na direção minha e de Katniss até que eu pudesse tocar a pequena mão que acenava na minha direção?

Não... Estavam todos ali pelos tributos. Nossos pacificadores. Nossos Mockingjays.

Soltei a mão do garotinho no instante em que senti uma das câmeras às minhas costas.

Continuei caminhando, dando atenção a um senhor de idade mais avançada, que mantinha a seus pés um saco médio de grãos, e que bateu continência na minha direção. Quando Nereu se posicionou ao meu lado e respondeu ao gesto, o acompanhei.

– Relaxe, cara. – ele sussurrou dando um leve tapa em meu ombro antes de voltar a acompanhar a mãe.

– É bonitão. Todo mundo aqui te ama e está feliz por te ver bem! Apenas acene em agradecimento e seja atencioso. Eu sei que você consegue quando quer. – Johanna sussurrou para mim depois de assinar números do que parecia ser um telefone na farda de um cara que havia pedido por seu autógrafo.

O fato é que quando me sentei dentro do blindado e as câmeras desligaram no instante em que nos afastamos da multidão, respirei aliviado. Sempre odiei ser o centro das atenções e quando era por algum tipo de espetáculo, me sentia mais desconfortável ainda.

Não tinha percebido que estava rígido, com os punhos sobre os joelhos e os olhos fechados, até que senti uma mão tocar a minha.

– Está tudo bem? – Katniss perguntou aumentando a pressão de seus dedos em minha mão. Relaxei um pouco os músculos e prendi seus dedos nos meus.

– Claro. Estava apenas pensando em ter um programa de tevê só meu quando tudo isso acabar. – tentei soar divertido, mas a ideia de ficar em frente às câmeras estava começando a me deixar com fobia.

– Você se saiu bem. E se sairia bem com um programa só seu. – ela brincou – Relaxa que tudo acaba antes de você perceber.

– Se você diz...

– E os ferimentos?

Bati com os nós da mão livre na carapaça intransponível que protegia a cada um de nós.

– Tudo em seu devido lugar. – Katniss olhou mais firme para mim e eu rolei os olhos – Prometo que se doer, você será a primeira a saber.

Correspondi ao sorriso que Katniss me deu, junto com um último aperto na minha mão entrelaçada à sua, antes de alguém pigarrear. No instante que ela retirou sua mão da minha eu senti falta dos dedos dela tão bem encaixados nos meus.

– Não se esqueçam pessoal: Concentração, gentileza e segurança! Essas são as três palavrinhas chaves para que essa operação de hoje seja um sucesso! – Effie orientou de seu assento.

– Sucesso você quer dizer sem ninguém mais sendo baleado, certo?! – Enobaria perguntou, mas nesse instante o carro havia parado e Effie desceu junto de Cressida, sua assistente e os cameramans para capturarem nossa chegada à escola.

Depois de tirar fotos com as crianças, de ver Annie e Katniss sendo atenciosas ao contar histórias e responder pacientemente às perguntas dos pequenos e de Plutarch discursar para as câmeras em nome do gabinete presidencial garantindo que todos os esforços eram realizados para manter os civis em segurança, fomos para o mercado a pé. Infelizmente não avistei Fin e Prim durante a visita à escola e concluí que eles estavam em algum local protegido pela escolta.

O tempo todo eu tinha que dividir atenção entre as orientações sobre a movimentação das escoltas ao nosso redor e as câmeras e pessoas ao meu redor.

No mercado do Dois, em frente à praça principal, havia um palanque especialmente montado onde eu faria um discurso – já preparado – sobre minha recuperação, e em seguida seria Katniss em nome dos Mockingjays, apresentando rapidamente cada um e garantindo à população que eles estavam bem protegidos.

Foi difícil ler as palavras do tele prompter holográfico, ver a multidão, ver nos telões espalhados pela praça meu próprio rosto forçadamente seguro – escondendo o nervosismo real que estava querendo saltar à tona –, e ainda prestar atenção na movimentação das tropas no perímetro e ouvir as atualizações em meu comunicador de cada equipe de segurança em cada zona para a qual foram designados.

Mas eu consegui.

Assim que vi que não era mais o foco das câmeras, respirei fundo enquanto voltava ao meu lugar e via Katniss andar até o microfone.

Pedi para que as equipes ficassem atentas e deixei minhas mãos em uma posição estratégica, caso fosse preciso alcançar minha arma no coldre da cintura e correr para proteger – ou socorrer – Katniss ao mesmo tempo.

O tele prompter holográfico já estava mostrando as palavras que Katniss tinha que ler e a multidão terminava sua salva de palmas pela sua entrada. Quando ela abriu a boca para começar a falar, a introdução do hino de Panem ecoou dos alto falantes.

– Quem liberou o hino antes da hora? – ouvi Effie reclamando em seu comunicador, com canal exclusivo a ela e à equipe técnica.

Vi algum alvoroço na cabine de som. Um técnico esbarrava no outro em nervosismo.

E então as coisas pioraram de vez.

A letra do hino começou a soar e todos ficaram em silêncio. Não por respeito, mas por pavor por ouvir as palavras que soaram a última vez há quinze anos. Era a versão do hino que tocava desde o Tratado da Traição que instituiu os Jogos Vorazes.

E então os telões chiaram antes de começar a mostrar imagens das edições de cada um dos tributos vencedores que estava ali ao meu lado. E não eram as cenas de vitória.

Johanna apareceu mais nova, com os cabelos no bonito tom de castanho natural, apanhando de um garoto que era o dobro do seu tamanho e que enfiou a lança que tinha nas mãos em um dos braços dela.

Seu rosto em dor foi substituído por o de um garoto que corria para tentar salvar uma garota que teve sua garganta cortada por um golpe fatal de espada. Olhei para o lado e vi Haymitch estremecer ao rever a morte de sua companheira de distrito em sua edição dos Jogos.

– Beetee? Você está aí? – sussurrei no meu comunicador.

– Beetee na escuta. – eu sabia que ele estaria com uma das equipes de apoio técnico na operação de segurança.

– Tenta hackear e ver de onde isso é transmitido.

– Já estou fazendo isso.

Um a um, cada tributo teve sua vez. Para Annie foi demais e ela ficou em cócoras com as mãos nos ouvidos quando todos viram as imagens de Finnick na ilha do Quarter Quell durante o ataque de Jabberjays que Katniss havia mencionado antes de atirarem em mim. Como se não fosse o bastante, atingiram Nereu, deixando-o paralisado em horror, ao transmitirem a imagem de Finnick nos esgotos do Capitol quando foi apanhado por uma das mutações de Snow.

A Katniss estava reservado o pior. Além de mostrar Peeta sofrendo nos piores momentos da primeira vez que estiveram na arena, pegaram um bom ângulo da parada cardíaca dele ao se chocar contra o campo de força do Quarter Quell. Por último deixaram a imagem de uma câmera de segurança que captou a explosão que matou Prim.

Era possível ver as chamas engolindo Prim e Katniss se arrastando no chão ao canto da tela quando as chamas a atingiram e, numa fração, foi possível ver Peeta sofrendo também.

As chamas permaneceram por um longo segundo e um símbolo apareceu sobre o símbolo do Capitol manchado em sangue. Era o leão alado que estava no uniforme do atirador e na peça de roupa que Peeta deixou para mim.

Logo depois veio o silêncio. O sistema de som ficou crepitando enquanto todos ainda estavam perplexos com o que viram. As imagens de nossa saída do hospital seriam editadas e transmitidas no noticiário, mas da escola em diante era tudo ao vivo. O país inteiro havia assistido àquela sessão de tortura coletiva.

Lentamente Effie caminhou na direção de Katniss. A princípio, ela conseguiu girá-la pelos ombros para afastá-la do microfone, mas então Katniss se soltou e voltou a segurar o aparelho com força.

Ela passou a mão no rosto, limpando com raiva as lágrimas que tinham escapado.

– Ainda está gravando? – Um cameraman deu sinal de positivo – Ótimo. Quero que todos saibam que isso não vai me intimidar. Venho convivendo com o horror que cada uma dessas imagens causou em mim desde o momento em que tive que vivenciá-las. E cada um dos tributos vencedores também.

Katniss sinalizou com uma mão na direção dos tributos para enfatizar. Haymitch foi o primeiro a dar alguns passos à frente e então se posicionar ao lado de Katniss. Em seguida, um a um, os tributos tomaram seus lugares na linha de frente que se formou.

– Viram? É assim que vamos vencer esse terrorismo que estão fazendo com cada um de nós. A partir de hoje, divido o título de Mockingjay com meus irmãos de luta. Assim como a ave, não vamos nos calar, nossa voz vai cantar esperança a cada cidadão de Panem e não vai ser tão fácil acabar com nossa espécie. Vão precisar mais que os pesadelos que sonho toda a noite para me assustar.

Dizendo isso, ela deu as costas à multidão e andou em direção ao que antes era conhecido como Edifício da Justiça nos distritos e que hoje era a sede do prefeito e do capitão do Dois.

Infelizmente ela e nem os tributos que a seguiram não viram quando uma pessoa ergueu os três dedos do meio de sua mão esquerda e levou aos lábios sendo logo imitado por toda a multidão na praça, no gesto de respeito e apoio do Doze que virou um dos símbolos da rebelião há quinze anos. Katniss não viu, assim como ninguém mais de Panem porque as câmeras já estavam desligadas.


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Notas finais do capítulo

Estão todos bem aí? Ninguém com o coração na mão ou o queixo caído???

Como vocês viram, quem quer que esteja por trás de tudo, quer fazer um terrorismo mental, além dos ataques com artilharia - que vão continuar acontecendo. Será que as teorias levantadas por Gale até agora estão certas? Ou é algo totalmente imprevisível???? Existem algumas dicas nesse vídeo torturante... quem for atento vai captar essas dicas e reservá-las para juntar nesse grande quebra-cabeças mais tarde!

E já se preparem que vem um atentado e tanto por aí! Vai desestabilizar todo mundo e todas as teorias já formadas!!!!

Hehehehehe.... Desculpem, mas Tia Suzzie despertou o que há de pior em mim e estou ficando craque em tortura a leitores!!!! kkkkkkkkkkkk

Muito obrigada pelos comentários! Leio todos e, sempre que possível, respondo!!! Adooooro ler suas análises e ver vocês tentando desvendar esse mistério todo!!!

Tenham uma ótima semana!!!

Miiiil beijos GALEliciosos!!!



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