Rise Again escrita por Fanie_Writer


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Aqui estamos nós em mais uma fic! Dessa vez, pela primeira vez, escrevo algo que não é inspirada na saga de Stephennie Meyer.
Apesar da traição ao meu lobo favorito, prometo compensá-las com o que eu imediatamente comecei a imaginar sobre o que aconteceu com a vida de Katniss Everdeen após o final dado por Suzann Collins.
Desejo uma boa leitura a todas e fico aguardando os comentários e indicações!!!
Lembrando que, como mencionado na área de avisos da fic, a postagem acontecerá uma vez por semana, mas peço que tenham um pouco de paciência porque possuo outras duas fics que estão com postagens atrasadas.



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O trem já viajava há quase um dia e, mesmo sem dormir há 48 horas, não consegui pregar o olho um minuto sequer desde que recebi a notícia. Observava a paisagem de cada distrito desde o Distrito 2 e procurava não deixar minha mente mergulhar nos questionamentos que sempre voltavam à minha mente toda vez que eu me via pensando no Distrito 12 e em tudo que eu havia deixado para trás.

Voltei a ligar novamente a tela portátil para me concentrar na programação do Capitol.

Como tantas outras vezes, meu rosto apareceu em um dos Propos de Plutarco Havensbee, detalhando o recém investimento do Capitol em novas tecnologias de armamento. Eu, como comandante das Forças Armadas de Panem, e uma das testemunhas da Grande Revolta, ainda era tido como um dos rostos mais influentes da nação.

Apertei o botão da tela com força, deixando ela apagar enquanto deslizava rudemente sobre a mesa ao meu lado.

Pensar nisso me fez lembrar do rosto que um dia foi o mais influente na nação. O rosto de Mockingjay que, nas noites solitárias, não me deixava dormir.

Tomei mais um gole da xícara de café que sacolejava tão levemente quanto o trem e voltei a olhar pela janela. Estávamos saindo do Distrito 11 e chegando ao 12, meu destino final.

Sem acabar o café, depositei a xícara na mesa e me levantei para me aprontar. Fiquei um bom tempo me entretendo com a limpeza de uma de minhas metralhadoras, embora eu soubesse que ela não seria necessária para onde eu iria.

Minha real preparação consistia mais em me recompor o máximo que conseguisse e fosse forte o suficiente para enfrentar o que estava por vir. Eu devia isso a ela. Não, na verdade eu devia muito mais, mas ingenuamente me enganava pensando que só a minha presença num momento difícil seria suficiente para minimizar minha dívida. Ao menos foi reconfortante para eu pensar assim para conseguir tomar a decisão de voltar para o 12.

Quando o trem começou a diminuir indicando que logo estaríamos na estação, guardei minha metralhadora na mala junto com todas as outras armas que sempre carregava comigo, e também onde estavam meus uniformes e itens de sobrevivência militar. Fui até o armário do quarto onde fui acomodado e peguei e medíocre mala de roupas normais, que eu tive que comprar para voltar a frequentar o meu passado.

Na estação, como de costume, os soldados que me recepcionaram bateram continência, homens civis abriam caminho para eu passar, crianças apontavam para mim e mulheres me lançavam sorrisos e acenos. Além da cor acinzentada dos uniformes de alguns deles – provenientes das minas onde trabalhei um dia – e da aparência bronzeada daqueles que trabalhavam no campo, nada havia mudado.

Claro que, quinze anos depois da Grande Revolta, eu sabia que o Distrito 12 havia sido reconstruído, literalmente, das cinzas, assim como todos os outros distritos do Panem, até mesmo o 13.

Dei um giro em meus pés para olhar tudo ao meu redor. O prédio da Justiça havia sido reconstruído com uma fachada mais sóbria e de cores neutras, diferente da antiga e amedrontadora arquitetura terrorista, e vários pontos de comércio pareciam ter sido construídos exatamente como seus escombros. A praça onde um dia eu fui o espetáculo da barbárie do governo regido com base nos Jogos Vorazes, estava no mesmo lugar de antes, mas a vegetação plantada, assim como as residências lhe davam um ar de renovo. Um ar de vida. Diferente da imagem que carreguei comigo da última vez que pisei nesse mesmo local, coberto de cinzas, escombros e crânios.

Olhei para a esquerda e, ao longe, avistei o conjunto de casas verdes. A Vila dos Vencedores. Ela havia sido contornada com casas e prédios comerciais, que, assim como o desenvolvimento da agricultura, fizeram o Distrito 12 se desenvolver e crescer forte. Mas eu ainda não estava pronto para ir até lá.

Virei para o outro lado e caminhei pela praça, batendo continência aos militares que passavam por mim e meneando a cabeça para o restante dos cumprimentos da população. Nenhuma palavra saía de minha boca desde que recebi a notícia.

Eu nunca gostei de Peeta Mellark e todos sabiam disso. Todos conheciam bem o motivo para isso. Mas, apesar de tudo, eu o conheci e, só por isso, já merecia minha vinda para cá. Mas ele fizera muito mais do que eu poderia ter feito. E até em seus últimos dias de vida, provou ter sido a melhor escolha do que eu poderia ter sido.

Depois de me registrar na pousada, que antes não existia no 12, fui para meu quarto. Tomei um banho e fiquei em pé, de toalha, diante da mala de roupas comuns por 20 minutos.

Era estranho depois de anos usando praticamente roupas militares, voltar a usar roupas como as de civis. Roupas de uma época que minhas preocupações giravam em torno de conseguir passar ou não pela cerca elétrica do Seam para caçar na floresta e alimentar minha família.

Pensando bem, era estranho estar de volta aqui. Ver que tudo havia sido reconstruído e que, apesar das tragédias do passado, as vidas seguiram em frente. E eu estava aqui. Era inevitável não relembrar o motivo que me manteve afastado todos esses anos.

Vesti uma calça jeans escura e uma camisa preta. Ao revirar a mala, vi de relance minhas antigas botas de caçada. Mesmo estando empoeiradas e um pouco apertadas, acabei enfiando elas na bolsa e eu ainda nem sabia bem o porquê. Acabei calçando um par de sapatos confortáveis, não tão assustadores como meus coturnos militares, mas não tão nostálgicos como as botas de caçada.

Olhei para meu relógio de pulso e soube que estava atrasado. Mas tudo bem, porque, sinceramente, eu não sabia bem o que eu deveria fazer durante a cerimônia.

No Distrito 12, pelo o que me lembrava, os funerais não costumavam ser acompanhados de velórios por causa das causas de morte. Não era recomendável e nem agradável velar corpos de acidentes nas minas, isso quando sobrava algum corpo para se enterrar.

Ao invés disso, a cerimônia transcorria entre familiares, amigos e um representante que agia como porta-voz da família silenciada pela dor. Após o tradicional gesto de reverência do distrito, colocando seus três dedos da mão esquerda sobre os lábios, apenas um representante da família ficava perto do caixão para o sepultamento. Geralmente era aquele mais próximo. Depois de enterrado, ao invés de flores, uma fogueira era acesa pela família representando as chamas do carvão produzido nas minas, como um último sinal de ligação com o lar.

Fui para o local indicado pela velha Greasy Sae de onde seria a cerimônia, em frente aonde era a padaria. A antiga padaria dos Mellark. Mas, como imaginei antes, cheguei tarde e não havia mais nada ou ninguém ali.

Quando dei meia volta, pude ver a linha de fumaça que subia o horizonte numa suave cortina cinza manchando o céu que partia do alaranjado ao púrpura. Ela estaria perto do caixão dele no final de tudo e eu não sabia se era forte o suficiente para ver isso.

Eu sabia que estava agindo como um idiota, mas talvez fosse melhor eu continuar andando de volta para a pousada, pegar minhas coisas e partir, deixando-a apenas com a imagem que ela pudesse ter de mim dos Propos de Plutarco. Um soldado de guerra bem sucedido e admirado pelo Panem. Um homem que seguiu em frente.

Mas e se ela não tivesse acesso às imagens? E se, ao privar-se da televisão, fosse mais uma maneira de se curar das sombras do passado que tanto lhe feriram?

Impossível. Soube que eles tiveram filhos e, diferente da minha época, as crianças de hoje adoravam a programação do Capitol. Ela os privaria disso?

Eu sabia que ela tinha motivos suficientes para privar seus filhos de todo o sofrimento que eu vi ela viver e ninguém podia culpá-la disso. Eu não podia culpá-la por nada.

Entrei em meu quarto e comecei a me trocar, voltando a vestir meu uniforme de comandante. Mas, ao enfiar minhas roupas comuns em sua devida bolsa, meus dedos tocaram novamente as botas de caça.

No segundo seguinte, os calçados estavam firmes em minhas mãos e eu podia sentir o aroma forte do couro macio, com resquícios de folhas de pinheiros em seu solado e uma mancha seca de sangue coberta com poeira na ponta. Provavelmente de algum coelho, ou ave ou até veado abatido num passado que mais parecia ser outra vida.

Sem me permitir pensar duas vezes, calcei as botas – que como previsto, estavam apertadas, afinal eu já não tinha as mesmas medidas de quando tinha 18 anos – e procurei em minha mala de armamentos o arco e flechas.

Não o meu arco projetado por Beetee, que ainda funcionava tão vivo como antes. Procurei por meu arco e flechas simples. Ainda não era o mesmo que eu usava no passado, mas já era reconfortante e acolhedor, como um velho amigo que reencontramos depois de anos sem nos ver.

Andei apressado pela cidade, como se eu tivesse voltado no tempo e a qualquer momento Pacificadores pudessem me apanhar e me açoitar novamente se soubessem o que estava prestes a fazer.

Não havia mais cerca elétrica, nem restrições ou Pacificadores e, apesar de uma área de cultivo aqui e outra ali, o caminho para a nossa pedra continuava o mesmo. Mas antes de chegar lá, eu parei e dei a volta, contornando pelas árvores até que avistei um brilho negro no chão de uma clareira, aos pés de uma casa de pesca. Era o lago onde eu recebi uma oferta no passado e recusei. A casa onde foi nosso refúgio enquanto o inferno desabava sobre o Distrito 12.

Eu sabia que não deveria ter vindo aqui, mas o instinto foi mais forte que a razão. Há anos eu sequer conseguia pronunciar o nome dela direito, apesar de sempre procurar por notícias quando o aperto em meu peito causado pela saudade superava o propósito que assumi de manter distância. Afinal, o mínimo que eu poderia fazer para compensá-la era oferecer meu respeito, já que não podia pedir por seu perdão.

Mas 15 anos de distância criaram um muro que me fez pensar estar protegido contra qualquer efeito que as memórias do Seam pudessem me causar. Mas ali, naquele lugar, senti os tijolos ruírem um a um.

Isso porque eu sequer tive coragem de ir ao local onde costumávamos nos encontrar e eu procurei afastar os possíveis sentimentos que isso me traria.

Quando eu me preparava para ir embora de vez, abandonando definitivamente a ideia de utilizar algumas das flechas que segurava em algum animal, um som na floresta me fez estancar em meu lugar e colocar o arco em posição.

Por um momento, pelo som, achei ser um animal grande, como um cervo ou javali. Mas, conforme se aproximava, meus olhos perceberam pela escuridão das árvores que não era um animal.

Me escondi  rapidamente atrás de uma moita densa, mantendo meu arco e flecha prontos para dispararem caso fosse necessário.

Sentia a adrenalina fluindo em minhas veias e meu coração retumbava forte no peito, quase me ensurdecendo.

O quão diferente era? – eu retruquei certa vez quando ela me questionou a diferença entre caçar animais e caçar humanos.

Na época, antes de tudo o que vivemos na Grande Revolução, não havia diferença para mim. Hoje, 15 anos depois, a diferença era tão gritante que sequer me deixava dormir nas noites que estava sozinho, atormentado pelas pessoas que matei.

O céu ainda estava sem luar, mas era fase de lua cheia. Em breve sua luz me auxiliaria nessa caçada.

A presa continuou vindo em minha direção e eu já estava quase soltando a corda, mirando a partir da medição que meus olhos fizeram de onde seria seu peito, quando, no último segundo, a pessoa virou para seguir em direção ao lago.

Por um momento eu pensei que tinha sido visto, e pensei em atirar pelas costas antes que fosse atacado. Mas isso era cruel demais, até mesmo para mim.

Fiquei observando a figura humana se afastar na escuridão e senti um arrepio familiar em minha espinha. Um arrepio que há anos não sentia, mas que tratei de ignorar pelo absurdo que a ideia parecia ser.

- Eu definitivamente preciso dormir um pouco. – murmurei para mim mesmo arregalando os olhos e piscando eles com força logo em seguida.

Seja quem fosse que estava lá, parecia estar preparado para passar uma noite de solidão ao luar. Pelos movimentos nas sombras, vi algo como uma toalha de mesa ser estendida diante do lago e a pessoa se sentou.

Uma voz em minha cabeça me sussurrava que eu precisava sair dali, mas algo mais no fundo queria gritar para eu ficar.

Não sei exatamente quanto tempo se passou, mas quando decidi me levantar e ir embora, a lua começou a surgir no céu, iluminando tudo com sua luz prateada. Inclusive o que meus olhos viam.

Por um momento pensei estar em um de meus sonhos malucos e perturbadores. A qualquer momento, a imagem perfeita seria desfeita e chamas tomariam seu lugar, me fazendo acordar suado e aos gritos.

Pisquei várias vezes e o reconhecimento quase me fez gritar. Mas eu me contive.

Fiquei observando a figura retirar as botas e desfazer sua trança. As curvas de seu corpo feminino permaneciam imutáveis, delicadas e firmes e eu lembrei que as marcas nele também deveriam ser as mesmas.

Como que se pudesse ler a minha mente e estivesse me desafiando a ver com meus próprios olhos, ela começou a se despir.

Estávamos no outono, mas aquela noite parecia estranhamente veraneia, com vagalumes e mariposas amantes do calor e brisas quentes que balançavam a copa das árvores e ondulavam a superfície do lago. Brisas que deveriam incomodar peles sensíveis.

Meu coração parecia querer rasgar meu peito a cada peça que caía na toalha e eu me amaldiçoei pela primeira vez por não ter permanecido com as roupas confortáveis, frescas e comuns ao invés desse odioso uniforme quente.

Quando ela estava completamente nua, parecia que tudo ao redor ficou em silêncio para observá-la. Ao som de seu corpo mergulhando na água prateada pela lua, eu voltei a respirar junto com as árvores.

Como um recorte maldoso de meu inconsciente, ela nadava livre e com movimentos lentos nas águas refrescantes. Ao vê-la lançando punhados de água sobre a pele de seu rosto, pescoço e ombros eu confirmei minha suspeita de que as cicatrizes ainda estavam lá e ainda permaneciam pulsantes, insuportáveis.

Era quase como se tudo estivesse bem de novo. Claro que isso significaria uma volta no passado em que Panem era governada pelo presidente Snow, mas, pela luz do luar eu quase pude contemplar um sorriso feliz no rosto dela.

Não era pleno, mas era quase Katiniss Everdeen. Não a Mockingjay. A Minha Katiniss.

Fiquei em um tipo de hipnose, seguindo continuamente seu corpo deslizar de um lado a outro do lado, emergir por uns instantes e então surgir novamente até que ela saiu.

A lua alta no céu me permitiu ver nitidamente suas curvas e até o brilho da água sobre sua pele. Essa seria mais uma imagem para me atormentar não somente nas noites solitárias, mas também nas noites que eu estivesse acompanhado.

- Maldição... – trinquei meus dentes conforme ela se enxugava em uma toalha.

Eu sabia que voltar para o Distrito 12 seria torturante, mas se eu soubesse que seria a esse ponto, teria apenas telefonado ou enviado uma carta. Coisa que, nesses 15 anos eu nunca fiz diretamente a ela.

Aproveitando seu momento de distração, eu me levantei para ir embora antes que a lua denunciasse minha posição. Mas fui traído pelas minhas pernas bambas, fraquejadas pela falta de sangue suficiente nelas.

Meus pés falsos pisaram em um galho que quebrou no meio, fazendo o estalo ecoar pela clareira. No segundo seguinte eu só tive tempo de voltar a me abaixar e deixar que a flecha de Katniss pendulasse presa no tronco da árvore logo atrás de mim. Bem aonde seria minha cabeça.

Espreitei pela moita e ela calçava o sapato com pequenos pulinhos, enquanto seu arco continuava firme em sua mão. Como eu não o vira antes? Ah, sim, lembrei: meus olhos estavam ocupados em reconhecer cada centímetro de seu corpo durante o show de streap tease dela.

Foi então que uma ideia veio em minha mente.

Deixar meu posto para trás e vir ao enterro de Peeta nunca foi minha maior motivação de voltar ao Distrito 12. A ideia de poder confortar Katniss após ser um dos causadores de seus sofrimentos foi o que me trouxe para cá. Que melhor maneira de confortá-la, que não fosse com uma boa caçada na nossa velha floresta?

Bem, aparentemente ela parecia pronta para isso e, apesar dos anos, não me sentia tão enferrujado assim.

Empunhei meu arco, pendurei a bolsa de flechas no ombro e corri na escuridão no instante em que ela vinha em minha direção. Estranhei o sorriso que surgiu imediatamente em meu rosto ao sentir a emoção da caçada, mas procurei me manter firme em minha corrida, certo de qual seria o local ideal para deixá-la me alcançar.

No meio do caminho, quando saltei um tronco caído, outra flecha passou zunindo por mim e senti o som da manga de minha jaqueta rasgando. Essa passou muito perto, o que significava que ela estava tão empolgada com a caçada quanto eu estava.

Sorri mais uma vez e me forcei a abrir uma distância maior entre nós. Contornei a nossa pedra por um caminho diferente de maneira que eu pudesse observar Katniss sem ela poder me ver.

Segundos depois, ela parou ofegante na pedra. Adoraria poder usar o apelido que lhe dera e caçoar sobre o quanto ela estava fora de forma. O que, obviamente, o vislumbre de seu corpo no lago negava.

Quando ela reconheceu o lugar houve uma mudança em seu olhar. Ela arquejou e então caiu sentada, quase como se fosse desmaiar e, diante de sua imagem de desespero, eu saí de meu esconderijo.

Quando desci a encosta e já estava alcançando suas costas, prestes a tocar em seu ombro, fui surpreendido por uma flecha bem entre meus olhos.

Por um momento demasiadamente longo, nossos olhares ficaram presos num do outro. Rugas marcavam o canto de seus olhos, mas eu acreditava mais que era consequência do passado do que castigo do tempo.

Vi uma fúria brilhar em sua íris acinzentada e acreditei que ela fosse atirar. Então eu entendi o quanto sua mente ainda estava fragilizada e ela pudesse estar acreditando que eu era uma alucinação ou mutação de Snow. Mas eu sabia que ela me reconheceria, ela tinha que me reconhecer.

Fechei meus olhos. O vento me trouxe o som fraco de sua voz.

- Gale? – ela sussurrou.

Abri o melhor sorriso que conseguia, voltando a encarar seus olhos.

- Olá Catnip.

Ela lentamente abaixou sua mira, mas manteve as mãos firmes na madeira do arco.

- Você não deveria estar aqui. Você deveria estar no Distrito 2... deveria estar na televisão, não aqui. Isso não é real.

Ela parecia falar mais para si mesma do que para mim. Sem pensar no perigo que ela representava quando empunhava um arco – uma sombra de seus tempos como Mockingjay – eu me lancei em sua direção.

Katniss deu um passo atrás e sua mira agora estava em meu peito. Sua flecha firme na abertura da jaqueta de meu uniforme, sobre minha camisa, bem ao lado do desenho do pássaro que um dia foi seu símbolo.

- Desculpe se te assustei. – larguei o arco no chão e deixei a bolsa de flechas caírem de meus ombros – Eu soube o que aconteceu e vim te ver.

Vi seus dedos tremerem e então ela afrouxou o aperto do arco, tirando a flecha da mira.

- Você demorou. – ela murmurou. Não soube bem dizer se ela quis dizer que demorei para o enterro de Peeta ou se demorei para voltar e vê-la.

- Me desculpe.

- Eu entendo. – ela me cortou – Cargo importante.

Katniss apontou com o queixo para meu uniforme e eu sorri, embora me sentisse constrangido.

- Como você está?

- Acho melhor voltar, antes que deem por minha falta. – ela cortou novamente, fugindo de meus olhos.

Apressei em segui-la de volta até o lago. Ela pisava forte no chão da floresta, não se importando em ser barulhenta, embora nenhum som saísse de sua boca.

Fiquei esperando ela juntar suas coisas e então retomamos o caminho de volta ao distrito. Eu não me arrisquei em ser o primeiro a quebrar o silêncio. Se ela estava quieta, era porque tinha motivos para isso.

Pouco antes de chegarmos à pousada – mesmo sem eu dizer que estava hospedado lá -, ela suspirou.

- Obrigada por ter vindo. - ela deu uma pausa e eu soube que tinha algo a mais que ela queria dizer, mas que segurou para si – Eu sei que você é ocupado, tanto no Capitol quanto nos distritos, então não precisava ter se incomodado em vir. – disse simplesmente.

- Não foi incômodo. E eu também precisava voltar.

- Não, não precisava. Até hoje minha mãe não voltou e eu entendo. Entenderia se você continuasse afastado e em silêncio.

Não foi preciso olhar em seus olhos para ver o brilho de dor. Eu sabia que a dor estava lá e soube que foi um erro nunca ter procurado por ela. Não diretamente como deveria ter sido.

- Posso passar em sua casa antes de partir? – pedi, já me preparando para sua recusa.

Mas isso parece ter pegado ela de surpresa. Katniss parou no instante que avistamos a fachada da pousada e seus dedos pareciam estar entretidos com a corda de seu arco. Seus olhos se perderam na direção da Vila dos Vencedores.

- Você quer ir lá? – não gostava muito de receber como resposta outra pergunta, mas não questionei sua posição defensiva. Acredito que nem mesmo ela gostava da ideia de ficar lá naquele lugar.

- Não sei quando poderei voltar, então acho que seria bom ver como você e as crianças vão ficar. – não como se eu pretendesse realmente voltar ou como se eu realmente estivesse disposto a ver os filhos de Peeta, mas eu queria tentar cumprir ao menos parte de seu último desejo e garantir que ela ficaria o melhor possível. Ou o melhor que sua condição mental lhe permitisse ficar, em suas próprias palavras.

Katniss pensou em minhas palavras por um segundo e então desviou de novo seu olhar para a direção de onde estava a Vila dos Vencedores.

- As crianças vão gostar de ver você e vão enlouquecer se você ficar para jantar.

Sem mais palavras ou sem qualquer outro gesto, ela começou a caminhar firme para longe de mim. Fiquei parado em frente à pousada, observando sua silhueta se perder no meio das pessoas que passavam pela praça àquela hora até que ela sumiu na direção das casas verdes.

Cada passo firme seu era um eco forte das batidas em meu peito, há tanto tempo adormecido.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram???
Quem leu os livros sabe o quanto a história é complexa e, constantemente, enquanto escrevo, tenho que parar e voltar a reler trechos dos livros e pesquisar coisas na internet para deixar essa fic o mais próxima possível das características criadas pela Suzann Collins, mas, claaaaro, com a minha perspectiva de pós-livro-final.
Decidi colocar no ponto de vista do Gale e não da Katniss porque ele é um personagem muito (tchutchuquinho) forte!
=P
Fico aguardando muitos comentários e indicações e até segunda-feira que vem!!!
Obs.: Aviso às leitoras de Sunshine: Peço mil desculpas pela interrupção na postagem. Vou postar todos os capítulos que faltam, desde onde parei até o capítulo final, no sábado.
Às leitoras de Blind Love, peço desculpas e um pouquinho de paciência porque estou totalmente sem inspiração para a continuação.